domingo, 27 de setembro de 2020

Campeonato Inglês - Obrigado Pela Presença, Ancelotti E Bielsa!

Estamos na terceira rodada no Campeonato Inglês e até o momento assisti um total de quinze partidas - benditos sejam os serviços de streaming, não é mesmo? Se eu continuar nesse ritmo, até o final do ano estarei fluente no idioma árabe - por enquanto, sequer descobri o nome do canal, mas já o considero pacas.

Pensei em fazer uma publicação falando rapidamente sobre cada um dos quinze jogos que acompanhei. Ou então fazer um resumo sobre cada equipe que vi jogar. Mas achei mais interessante tomar outro caminho: vou abordar especificamente dois times - o Everton e o Leeds United. 

Há dois motivos preponderantes para essas escolhas: o primeiro, é que eu assisti todos os três jogos de cada um deles; o segundo, é pelo fato de ambas as equipes terem me encantado pela forma como atuam. Então, sem mais delongas, segue breve análise sobre as primeiras percepções que tive de Everton e Leeds.

Everton (vitórias por 1a0 sobre o Tottenham, 5a2 sobre o West Bromwich e 2a1 sobre o Crystal Palace).

Carlo Ancelotti chegou nessa temporada e já conseguiu dar um perfil altamente competitivo à equipe. Com algumas contratações interessantes que qualificaram o setor de meio de campo, os azuis da cidade de Liverpool apresentam uma forma de jogar altamente propositiva e com grande dinamismo entre os setores.

James Rodríguez encaixou perfeitamente no esquema de jogo - ou, talvez, o esquema de jogo é que se encaixou nele. O fato é que Ancelotti tem conseguido um desenho tático onde James possui grande participação. E o meia colombiano vem atendendo muito bem, se apresentando pro jogo, se movimentando bastante e trazendo para si a responsabilidade de ser o principal articulador das jogadas.

Mas o êxito de James nesses três jogos na Premier League se deve não apenas ao talento desse ótimo jogador: no sistema montando pelo técnico italiano, Doucouré, Allan e André Gomes trazem bastante consistência para a segunda linha. Tal consistência aumenta a proteção a uma defesa que vem sendo composta por Coleman, Mina, Keane e Digne - Pickford é o goleiro. E essa proteção permite a James uma dedicação que o torna praticamente um terceiro atacante. 

E por falar no ataque, é aí que está a grande atração desse time do Everton até o momento. O brasileiro Richarlison mostra-se fundamental nessa equipe. Ele consegue carregar a bola e impôr velocidade pelos flancos, além de se apresentar como excelente opção tanto para infiltração quanto para chutes de média distância. E, de quebra, o outro nome do setor ofensivo é Calvert-Lewin. Calvert quem? Pois é, eu não conhecia esse jogador. Para ser sincero, seu futebol não me convenceu. Mas esse camisa nove merece atenção: marcou gol em todas as três partidas, com direito a um hat-trick diante do West Brom. Bonito ou feio, todos os gols contam igualmente. E a vocação desse centroavante de cinco gols em três rodadas já está explícita: colocar a bola para dentro.

O Everton é um time a se acompanhar. Eu não me surpreenderei se eles pintarem na próxima Liga dos Campeões da Europa. Ao contrário: estou até botando fé que isso possa acontecer. Mas mais importante que tentar adivinhar o futuro do Everton é saborear o presente, pois a equipe de Ancelotti está dando gosto de ver jogar.

Foto: Alex Livesey/Getty Images

 

Leeds United (derrota por 4a3 para o Liverpool e vitórias por 4a3 sobre o Fulham e 1a0 sobre o Sheffield).

Eu sou suspeito para falar do Marcelo Bielsa. Admiro o trabalho desse técnico desde décadas atrás. E o fato é que, no Leeds, "El Loco" Bielsa está fazendo mais uma intervenção genial num time de futebol. Bom para o Leeds, que está de volta à primeira divisão inglesa, e bom para quem gosta desse esporte, por poder assistir uma equipe tão bem dirigida naquela que é a liga de pontos corridos mais forte do mundo.

Sem jogadores badalados no elenco, o time tem conseguido jogar de igual para igual com todos os adversários. E quem assistiu a partida de estréia, com o atual campeão Liverpool, sabe o quanto isso é verdadeiro: o Leeds buscou o empate três vezes, frequentou o campo de ataque mantendo a bola circulando, e somente saiu derrotado por uma infelicidade num pênalti cometido nos últimos minutos em Anfield Road.

O desenho tático mostrou algumas variações entre um jogo e outro: uma linha de defesa com Ayling, Koch, Struijk e o incansável Dallas; o combativo Phillips fazendo a proteção imediata; e uma outra linha mais à frente, onde merece destaque o talento do português Hélder Costa, que atua pelo flanco direito. Outros atletas que atuaram por aquela faixa do gramado foram Pablo Hernández (na partida de estréia), Klich (nos três jogos), Harrison (também nas três partidas) e Rodrigo (que é mais utilizado como atacante, mas que não costuma ser aproveitado nos noventa minutos). No ataque, a referência é Bamford, um camisa nove bastante interessante: ao mesmo tempo em que se movimenta pelos lados, consegue ser boa opção também no jogo aéreo. Não por acaso, marcou gol em todas as rodadas - às vezes fazendo dupla com Rodrigo, às vezes com Roberts, às vezes mais isolado, mas sempre eficiente.

Aliás, o termo "isolado" para o atacante Bamford é meramente ilustrativo. A equipe do Leeds se aproxima do seu goleador trazendo jogadores para tabelas e triangulações, conseguindo por muitas vezes impôr dificuldades nas defesas oponentes. Trata-se de uma intensidade de caráter filosófico, pois ocorre independentemente do contexto do resultado da partida. É essa a maneira de jogar do Leeds e ponto. Se há alguém "isolado" no Leeds, esse alguém é o goleiro Meslier - que, por sinal, fez duas defesas fabulosas na partida de hoje.

É muito difícil cravar que o Leeds possa se manter nessa divisão, pois se trata de um campeonato onde muitas equipes possuem grande capacidade de investimento e acabam dispondo de elencos tecnicamente mais qualificados. Porém, em termos de nível de jogo - tanto do ponto de vista da capacidade de proposição das ações quanto de organização -, a equipe de West Yorshire já é uma vencedora. Já estou torcendo para conseguirem uma boa posição na classificação - quem sabe na primeira metade da tabela? Seja onde for, que seja jogando bola da forma como vem jogando. Essa é a maior conquista em qualquer modalidade esportiva - encantar.

Foto: Reuters