Se você for torcedor do Arsenal, essa pergunta, mesmo sendo feita em pleno ano de 2018, oferta resposta fácil: um.
Arsène Wenger assumiu o comando técnico do Arsenal vinte e dois anos atrás e simplesmente revolucionou a maneira de se jogar futebol em toda a Inglaterra. Se hoje a Premier League é a liga mais prazerosa de se assistir (e muitos concordam que sim, é), parte significativa disso é legado desse francês nascido em 1949.
Particularmente, tornei-me fã do Arsenal numa época em que Bergkamp e Henry eram os atacantes da equipe. E meu deslumbramento não se limitava ao ilimitado talento da dupla. Fui me dar conta, mais tarde, que o que mais gostava no Arsenal transcendia a soma das partes: era o todo. Um todo que era rotineiramente elaborado, construído e treinado, sessão a sessão, dia a dia, pelo Wenger.
Nas mais de duas décadas que acompanho futebol, vi muitos timaços serem formados, mantidos e desfeitos. Nenhum que se compare aos Invencíveis de 2003-4. Lehmann, Lauren, Touré, Campbell, Cole, Vieira, Gilberto Silva, Ljungberg, Pirès, Bergkamp e Henry, juntos e misturados traduziam a essência da filosofia de jogo de Wenger. O Arsenal foi ali, mais do que nunca, Arsène. Um time de contra-ataques arrebatadores. Que, de qualquer lugar do campo - principalmente se o gramado fosse o de Highbury Park -, conseguia chegar dentro da área adversária em cerca de meia dúzia de toques na esfera. Com tal performance encantadora, não importaria (ou pelo menos não deveria importar) se o time era campeão ou não. Mas os deuses da bola premiaram aquele maravilhoso plantel com o título invicto na mais difícil competição no formato de pontos corridos. E marcou-se uma Era.
No esporte em geral e no futebol em particular, vitórias, empates e derrotas são ocorrências difíceis de prever. Veja por exemplo as páginas de apostas: a tendência é o indivíduo, por melhor informado que seja, perder dinheiro em vez de ganhar. A banca se favorece da imprevisibilidade. Do contrário, ser um apostador de favoritos equivaleria a um investimento em renda fixa. Não é. Longe de ser.
Infelizmente, muitos torcedores de diversos clubes (afirmo com segurança de que estejamos nos referindo à esmagadora maioria) preferem um time que "jogue feio para vencer" do que uma equipe treinada para "jogar bonito". Evidentemente, a feiúra ou a beleza de um estilo de jogo não são garantias de que o resultado será positivo ou negativo. E se o futebol tem algum valor enquanto entretenimento, é obrigação do fã de esporte valorizar a filosofia por trás de um trabalho técnico e tático. E a filosofia de jogo implementada por Wenger no Arsenal é uma bênção ao esporte mais popular deste planeta que orbita ao redor do sol.
Sem Wenger, o mundo da bola perderá bastante de sua luz. Espero e torço para que o anúncio de sua despedida do Arsenal não seja o sinônimo de uma aposentadoria precoce. Mas, independentemente de para onde irá o professor, já lamento pela seperação entre Arsène e Arsenal.
Tirando A R S È N E do A R S E N A L, restará ao clube somente A L. Algo que não sabemos exatamente o que é. Na melhor das hipóteses, será um legado filosófico e procedimental de jogar futebol com a beleza que nos acostumamos a ver ao longo dos últimos vinte e dois anos. E, no pior dos cenários, estaria o Arsenal rumando para se tornar mais um clube sedento meramente pelo resultado. Que talvez conquiste o troféu que lhe falta. Mas que corre o risco de cair na vala comum de tudo aquilo que é perecível. Coisa que uma ideologia jamais será. Pois esta é imortal. Assim como Wenger, a quem ofereço respeito e reverência.
E encerro com as palavras dele:
Para todos os que amam o Arsenal, tomem conta dos valores do clube. O meu amor e apoio para sempre.
Obrigado!
Busto de Arsène Wenger no estádio Emirates: toda homenagem é insuficiente para a histórica trajetória do francês no clube. |
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