Gabriel, o Pensador já dizia em sua música que
futebol não se aprende na escola / é por isso que Brazuca é bom de bola.
A biografia do menino pobre e favelado, cantada pelo rapper, é um hino que nos faz lembrar daquilo que jamais deveríamos ousar esquecer: herdamos, habitamos e nos reproduzimos num país campeão da desigualdade social.
E é nesse persistente cenário, que se retroalimenta impiedosamente no sistema econômico capitalista, que temos hoje, em 2023, os seguintes preços para a final da Copa do Brasil a ser disputada pelo Clube de Regatas Flamengo e pelo São Paulo Futebol Clube, no estádio do Maracanã:
Setor Norte - R$400
Setor Sul - R$700
Setor Leste Superior - R$1000
Setor Leste Inferior - R$1200
Setor Oeste Inferior - R$1500
Setor Maracanã Mais - R$4500
Fonte: página oficial do Clube de Regatas Flamengo.
Lembrando que estamos falando de futebol, o esporte mais popular deste país que ajudou a internacionalizar tal modalidade esportiva.
Lembrando que estamos falando de Flamengo, clube mais popular neste mesmo país.
Paralelamente a essa extorsão que se pratica na comercialização de ingressos para a partida entre Flamengo e São Paulo, temos outro caso absolutamente repugnante.
Trata-se do Clube de Regatas Vasco da Gama, segundo clube mais popular no Rio de Janeiro, um dos mais populares do país e que tem em sua mais do que centenária história uma marca de enfrentamento ao racismo.
Em pleno 2023, o estádio de São Januário, clássica sede do Gigante da Colina, está há três meses interditado por decisão judicial. O motivo original até era plausível, dada a confusão que ocorreu na ocasião da partida entre o Vasco e o Goiás, em 22 de junho, naquela que era a 11ª rodada no Campeonato Brasileiro deste ano. Só que a punição foi ampliada sob a esdrúxula e preconceituosa alegação sobre a "localização" do estádio.
Localização de São Januário é Rio de Janeiro, Brasil. Muito prazer, Rio de Janeiro. Muito prazer, Brasil. Procurar criminalizar a prática do futebol em um estádio baseado na proximidade de locais perigosos é o puro suco do racismo. Somos um país onde o 1% dos mais ricos detém perto de 50% de toda a renda nacional. Os outros 99%? Que se virem com a outra metade!
Essa é uma realidade que não é pontual, esporádica ou caso isolado. Ela é regra dentro do sistema capitalista de produção e consumo. As grandes fortunas se alimentam da miséria. Uma miséria que, nesse país de passado fortemente escravagista, tem cor muito bem definida. É a mesma cor que lota o sistema prisional. E é a mesma cor que, em pleno 2023, não consegue ir ao estádio ver o seu time jogar. Seja por causa dos preços dos ingressos, seja por proibição judicial.
Em síntese:
A interdição do estádio São Januário por motivos de "localização" e os preços astronômicos dos ingressos pra final da Copa do Brasil no Maracanã dizem muito sobre a mesma coisa: a elitização e o preconceito contra pobre que estão tomando de assalto o esporte mais popular do país.