Pense no Haiti, reze pelo Haiti, como canta Caetano Veloso na música Haiti. Faça isso por motivos diversos. O país, que sofreu um terremoto avassalador em janeiro de 2010, busca a reconstrução. Reconstrução que já seria complicada caso se limitasse aos assuntos tangíveis aos engenheiros. Mas que é ainda mais dramática ao tratarmos dos traumas deixados por um evento que desencadeou o desencarne de mais de duzentos mil indivíduos, sonhos, famílias. E a gravidade só faz aumentar na medida em que nos deparamos com a profunda probreza que assola a república centro-americana.
Pense no Haiti, reze pelo Haiti e, futebolisticamente falando, inspire-se no Haiti. A seleção haitiana veio ao Rio de Janeiro, enfrentou a tetracampeã mundial Itália (que carrega o peso e a relevância da segunda maior vencedora na história das Copas) e... deu show. Sim, deu show. Um show de superação, de ousadia, de alegria. De jogar futebol. São Januário, estádio do Clube de Regatas Vasco da Gama, sede de tantas partidas válidas pelo calendário oficial brasileiro, recebeu o genuíno jeito de jogar tupiniquim. Ofensivo, valente, alegre. O Haiti empatou (com) a Itália. O Haiti é aqui!
Cesare Prandelli, treinador da Azzurra, disse que o resultado (2a2) foi vergonhoso para os italianos. Penso que não. O empate numa partida beneficente diante de uma seleção inexpressiva no futebol mundial não é uma vergonha. A vergonha reside, isto sim, na maneira de jogar. Por que os comandados de Prandelli não atuaram de maneira mais solta e envolvente? Tudo bem, não era um jogo oficial, etc e tal. Mas se o jogo teve alguma graça esportivamente falando, devemos todas as alegrias da tarde de terça-feira ao desempenho dos haitianos. Torço para que tenha sido deixada, naquele gramado de São Januário, uma semente no fértil solo do futebol brasileiro. Semente que, se Deus quiser, fará brotar em troncos fortes a autenticidade da seleção amarela, cinco vezes campeã mundial, e hoje entregue a indivíduos que não condizem com essa grandiosidade. E, da sombra dessa árvore imponente, que possamos voltar a saborear os frutos do futebol arte.
Obrigado pela bela lição, Haiti. Mostrou a nós algo que alguns dessa geração talvez tenham esquecido que existe: a alegria em se jogar futebol. Como se fosse... por música.
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