Foram dois jogos interessantes. E vamos por partes. Primeiramente, tanto o 1a1 no primeiro jogo (vitória neo-zelandesa nos pênaltis) quanto o 2a0 no segundo foram justos. Uma justiça de precisão quase matemática. Explico daqui a pouco. Em segundo lugar, foi interessante observar o quanto o futebol está aberto a mudanças. Como tudo na vida, aliás. Aquelas imagens pré-concebidas de azarões e favoritos são negligenciadas quando soa o apito e tem início a prática esportiva - o que acho ótimo. Muitos poderiam imaginar que o Cruz Azul, por ser uma equipe do México enfrentando alguém lá da Oceania, venceria o jogo sem maiores transtornos. Enganaram-se. Muitos poderiam imaginar que o Real Madrid, com todo o seu poder financeiro, passaria fácil pelo modesto San Lorenzo. Enganaram-se. Quer dizer, em parte até que foi relativamente fácil. Explico daqui a pouco.
Retornando à "justiça de precisão quase matemática", o jogo entre Auckland e Cruz Azul teve um tempo de cada time. Surpreendentemente, a equipe da Nova Zelândia foi amplamente superior na primeira parte regulamentar e abriu o placar pouco antes do intervalo, em lance com direito a lançamento espetacular de Tade e conclusão consciente de De Vries. De dar gosto. Só que no segundo tempo o cenário mudou. Ambas as equipes mudaram de atitude e o que se viu foi um Cruz Azul sufocando o adversário. Veio o empate em gol de Rojas e só não pintou a virada por causa da grandiosa atuação do goleiro Spoonley.
Precisariam das penalidades para desempatarem definitivamente a disputa de terceiro lugar. E se as primeiras cobranças foram convertidas, coube a Irving desperdiçar a sua. Logo Irving, que fez ótima partida até então. Seria injusto com o defensor, que inclusive evitou gol oponente com bola rolando, que caísse sobre as suas costas o peso da derrota nos pênaltis. Não caberia a expressão "justiça de precisão quase matemática" nessas circunstâncias. Então, Fórmica perdeu sua cobrança logo na seqüência, igualando o número de desperdícios. Duas séries depois, foi a vez de Valadéz não aproveitar. E caiu nos pés do nigeriano Issa a cobrança histórica: bola na rede e, pela primeira vez em todos os tempos, uma equipe da Oceania faturava o terceiro lugar na Copa do Mundo de Clubes. Uma festa para lá de Marrakech.
Imagem extraída de Enlasgardas. |
Auckland City celebra o feito histórico: com vitória nos pênaltis, clube neo-zelandês sagrou-se terceiro colocado no Mundial de Clubes 2014.
Se a disputa de terceiro lugar teve um tempo de cada time, a final do torneio teve dois tempos de uma equipe só: o Real Madrid. Por uma questão de "justiça de precisão quase matemática", o clube espanhol marcou um gol em cada parte e faturou o caneco. Só que, por maior que tenha sido a superioridade da equipe branca, é fato que houve dificuldades na construção do resultado. Os gols do jogo sentenciam isso. O placar foi inaugurado em lance de bola parada: após escanteio cobrado por Kroos, Ramos cabeceou para a rede. Pós-intervalo, Bale recebeu de Isco e chutou bola defensável, que passou por baixo de Torrico.
Mas seria simplista dizer que o Real conquistou o troféu intercontinental por causa de um lance de bola parada e de uma falha do goleiro. É claro que, não fossem esses gols, a equipe poderia se complicar e o San Lorenzo, quem sabe?, crescer a ponto de construir a vitória. Mas o time comandado por Carlo Ancelotti mostrou-se hábil em diversas situações. Uma delas, a bola parada que abriu a contagem. Os contra-ataques, rápidos e produtivos, renderam outros bons momentos. E a posse de bola é explicitamente superior a dos tempos de seu antecessor, o português Mourinho. Por falar em lusitano, quem teve atuação abaixo do que se espera foi Cristiano. E, pra coroar sua performance em Marrakech, sequer cumprimentou Platini na premiação e ainda se recusou a dar entrevista. Quando se é mais estrela (no sentido opaco da palavra) do que profissional (no sentido humano do termo), acontece dessas coisas. De resto, parabéns para a sensacional torcida do San Lorenzo. Possivelmente, os adeptos argentinos foram os personagens mais marcantes nesse evento disputado no Marrocos. Ao lado do Auckland, claro, que conseguiu fazer história.
Foto: Christoph Ena / AP. |
Elenco do Real Madrid celebra o título mundial: equipe chegou à 22ª vitória consecutiva diante do San Lorenzo e está perto de recorde histórico.
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