domingo, 18 de janeiro de 2015

Vitória De Orgulharsenal

Foto: Reuters.
Na prévia da partida, estatísticas que sentenciavam o favoritismo do Manchester City. Afinal, o jogo com o Arsenal (perdão, podemos chamar de clássico) reunia um time invicto há doze partidas (com direito a nove vitórias no período) e outro que tem o pior aproveitamentos nos chamados "jogos grandes".

Durante a partida, um confronto de gigantes. Se o desfalque de Yaya Touré pesava para os donos da casa (a equipe empatou nas três vezes em que o marfinense não atuou nessa temporada), há que se considerar o impacto positivo pelo retorno de Sergio Agüero, jogador com melhor relação gol/minuto na história da competição (o argentino só precisa de 108 minutos, de média, para deixar sua marca). Do lado visitante, novamente muitas lesões impediram a "formação ideal". Mas todos que entraram, deram conta. O jovem Coquelin, na incumbência de acompanhar feras como David Silva e Jesús Navas, saiu-se fenomenal. Atuação daquelas pra contagiar o grupo.

Mas, se é pra destacar atuações individualmente, vamos falar dos espanhóis do Arsenal. Primeiramente, o jovem Bellerín, que aos dezenove anos esbanjou maturidade numa partida de alta responsabilidade. Sua jovialidade residia na disposição e na fisionomia de garoto. De resto, foi um veterano. No flanco oposto, Monreal. Um monstro. Permitam-me o trocadilho: Monstreal. Obrigado. Qualquer adjetivo menor, seria subestimar o nível de atuação de alguém que ganhou praticamente todas as divididas que disputou. E que ainda sofreu o pênalti que originou o primeiro gol. Então, vamos falar do terceiro espanhol do Arsenal: Santi Cazorla. Abriu o placar cobrando a penalidade no canto esquerdo. Detalhe: nos outros cinco pênaltis que cobrou, converteu quatro (três no canto direito e um no centro) e perdeu o único que direcionou para a esquerda. Encarou as estatísticas e superou Hart. Mas o pênalti convertido foi mero detalhe perto da atuação sensacional do camisa dezenove. Dribles desconcertantes. Arrancadas alucinantes. Passes precisos. Desarmes incisivos. Um gigante. Gigante Cazorla.

Foi necessário tudo isso e algo mais para superar o qualificado time do City. Por exemplo, a boa atuação de Aaron Ramsey, tanto ofensiva quanto defensivamente. A eficiência de Giroud, que deixou sua marca e incomodou bastante com sua presença de área. A zaga com Koscielny e Mertesacker beirou o impecável. Sánchez, que costuma ser o destaque individual da equipe de Wenger, saiu-se bem como coadjuvante. Chamberlain também contribuiu, acelerando as jogadas pelas beiradas. Rosicky, que entrou no segundo tempo e trouxe consigo o gol de Giroud, distribuiu passes e lançamentos dignos de um futebol que se jogava décadas atrás e que deixa saudades até para quem não assistiu. Que elegância! Que capricho! Que visão de jogo do tcheco! Mais pro final, Gibbs e Flamini aumentaram a solidez do que já era sólido e garantiram os três pontos.

Se o Manchester City deve se desesperar com a derrota e a distância de cinco pontos para o Chelsea? Diria que não, em hipótese alguma. E digo isso tanto pela qualidade da equipe comandada por Pellegrini quanto pelo fato de, na próxima rodada, haver um confronto direto diante do líder.

Se é para o Arsenal traçar sonhos maiores na temporada? Matematicamente, diria que o título no Campeonato Inglês é uma realidade distante. Mas se essa atuação na cidade de Manchester virar um marco para daqui em diante, não se pode descartar nada com relação a esse time. Nada.

Bendito seja o futebol, que nos possibilita partidas como essa.

Je Suis Rico Com Futebol Pobre

Sabe quando você vê um jogo entre um clube multi-milionário (talvez não o clube, mas seu proprietário) e outro de orçamento modesto, e aí se pergunta: onde está, no desempenho dentro de campo, toda essa diferença de poder econômico?

Pois bem, esse é o retrato de Paris Saint-Germain e Evian Thonon Gaillard, no Parque dos Príncipes. O time de Lucas, Pastore e Ibrahimovic, que se dá ao luxo de colocar os indisciplinados Lavezzi e Cavani no banco de reservas (ambos atrasaram na reapresentação e foram punidos pelo treinador Laurent Blanc com três jogos de afastamento, retornando no segundo tempo aos jogos oficiais) não conseguia envolver um adversário que contava com Barbosa, Benezet e N'Sikulu. Sejamos francos: você conhece algum desses três nomes? Provavelmente, ouviu falar de Barbosa, goleiro da seleção brasileira na Copa de 1950. Mas e de Cédric Barbosa, camisa 14 do Evian? Pois vai ouvir falar agora: foi dele, aos 14 minutos, o gol que abriu o placar na capital francesa.

Precisando da vitória, ambos os times estavam. O Evian para tentar sair da zona de rebaixamento. O PSG, para diminuir a diferença para o topo da tabela. Para se reafirmar. Para justificar o investimento. E os donos da casa iam para o ataque. Às vezes com tanta sede que se expunha aos contra-ataques oponentes, quase sempre perigosos. Acredite: o Evian TG sabia rodar a bola com mais inteligência que o Paris SG. Era veloz e objetivo. Causava dificuldades. Mas, na defesa, não tinha muitos recursos para aguentar o monte de craques que vestiam azul. Aliás, tinha um grande recurso: o goleiro Leroy, que teve atuação sensacional. Suas intervenções em chutes de David Luiz, Ibrahimovic e Lucas foram algo extraordinário. Leroy já era o herói com menos de meia hora de jogo. Mas a bola parada castigou o Evian e seu ótimo arqueiro: Thiago Motta cobrou escanteio pela direita e David Luiz, que acabara de cumprimentar Leroy pela defesa em chute de Lucas (defesa que gerou esse escanteio), cabeceou firme uma bola indefensável. E olha que Leroy quase conseguiu espalmar para além do travessão. Um a um no placar.

Se com bola rolando nada feito, foi novamente na bola parada que o PSG achou o caminho da rede. Dessa vez, foi de Verratti o gol da equipe mandante. Ida para o vestiário com maior tranqüilidade, pois o placar era favorável. Porém, se formos pensar na atuação, o time de Blanc tinha todos os motivos para se preocupar. E não deu outra: aos dezessete, após cruzamento, Van der Wiel mandou contra o próprio patrimônio e marcou um irônico belo gol de cabeça. Consciente, diria, para incrementar a ironia. Consciente que, a partir dali, jogar melhor que aquilo virou uma questão de dignidade para o PSG. Imagine no final-de-semana seguinte à vexatória derrota de virada por 4a2 para o Bastia, um tropeço diante do Evian em pleno Parc des Princes? Com todo respeito ao Evian, é claro. Mas é aquela conversa do início do texto: "Sabe quando você vê um jogo entre um clube multi-milionário (talvez não o clube, mas seu proprietário) e outro de orçamento modesto, e aí se pergunta: onde está, no desempenho dentro de campo, toda essa diferença de poder econômico?"

Blanc resolveu mexer. E optou por colocar Cavani no lugar de Matuidi. Dessa forma, Verratti e Motta protegiam a defesa enquanto Ibrahimovic ganhava um companheiro de área. Matuidi era mais participativo que Pastore, mas o prêmio para o treinador por manter o meia argentino veio cinco minutos após a alteração: aos vinte e oito, Lucas fez o passe a Pastore mandou para a rede. Comemorou homenageando o filho, colocando a bola sob a camisa e simulando a gravidez. Talvez anunciando que estava para nascer uma boa atuação do PSG naquele jogo. Aos quarenta e três, já sem Lucas (que saiu de campo ovacionado pela torcida) e Pastore (entraram Lavezzi e Rabiot), brilhou a estrela de Cavani, que simplesmente empurrou a bola para a rede após boa jogada de Ibrahimovic.

Agora, o "poderoso" PSG vai torcer. Com 41 pontos e a quatro do líder Lyon, o clube mais rico da França torcerá pelo Rennes diante do Saint Éttiene e, mais tarde, para o Guingamp diante do Olympique de Marseille. É que Saint Éttiene e Olyimpique aparecem com 39 e 41 pontos, respectivamente. Mas, mais importante que essa "torcida contra", é torcer a favor. Torcer a favor do futebol. E isso quer dizer o seguinte: começar a jogar de maneira condizente ao nível técnico do elenco montado para essa temporada. Coisa que, pelo visto diante do Evian, parece estar longe de nascer.
Imagem extraída de Goal.com.