E a página que se escreve em 2017 há de reservar letras garrafais para figuras como Marcelo Grohe (principalmente pelas duas grandes defesas no primeiro tempo no jogo de ida), Arthur (um gigante diante do Botafogo e nomeado o melhor em campo nessa partida final), Geromel (o "Capitão América") e Luan (o mais bem dotado tecnicamente e autor de um gol desconcertante na decisão).
Também não se pode esquecer do trabalho realizado por Renato Gaúcho. Embora o time tenha oscilado ao longo da temporada, é fato que, nos momentos mais inspirados, o Grêmio jogou a bola mais redonda entre todos os times da Série A nacional. Lembrando que trata-se de um elenco com diversos jogadores que atravessavam momentos de declínio em suas carreiras, mas que Renato abraçou motivacional e esportivamente, como Leonardo Moura (tratado por alguns como "ex-jogador em atividade"), Cortez (alguém lembra que ele já foi convocado para a seleção brasileira?), Fernandinho (de jogador emprestado pelo clube a autor do primeiro gol nessa final em Buenos Aires) e Lucas Barrios (ex-Borussia Dormund e atual campeão da Libertadores).
São muitos elementos que tornam a conquista justa, mostrando que o Tricolor Gaúcho tem força suficiente para voar alto. A meu ver, nem precisaria de um veículo aéreo não tripulado - vulgo drone - para alcançar as alturas. Próxima parada: Emirados Árabes Unidos.
O jogo
Fernandinho celebra o êxito de sua jogada individual. Foto: Reuters. |
Conseguindo chegar ao campo de ataque com uma rotina e envolvimento maior do que no jogo em Porto Alegre, o Grêmio deixava os donos da casa desconfortáveis na partida. A saída de bola do Lanús, característica marcante no time de Jorge Almirón, mostrava-se falha e até mesmo perigosa para dar mais chances ao adversário recuperar a posse. Tudo isso fruto, também, da postura do Grêmio de não abdicar de uma marcação desde as proximidades da baliza adversária, ao ponto de em plena reposição de linha e fundo serem vistos pelo menos três jogadores cercando a grande área defendida por Esteban Andrada.
Ainda no primeiro tempo, a vantagem, que já era boa, ficou ainda melhor: Luan recebeu no comando de ataque, carregou a bola sem receber um combate mais ativo e esbanjou calma e categoria para concluir o lance numa cavadinha que caprichosamente rumou para o canto direito do gol. 2a0, aos quarenta e um.
Na volta do intervalo, o Lanús cresceu. Não era um crescimento grande o bastante para ameaçar a margem de gols construída pelo time visitante, mas pelo menos serviu para trazer alguma emoção ao jogo: aos vinte e cinco, Jaílson cometeu pênalti na condição de último homem, puxando o adversário que ficaria em totais condições de finalizar. O árbitro paraguaio Enrique Cáceres errou acertando e acertou errando: marcou a penalidade mas não expulsou o infrator, limitando-se a um cartão amarelo que recebeu protestos dos donos da casa. Na cobrança, Sand converteu e isolou-se na lista de goleadores na competição, com nove.
Houve algumas outras chegadas da equipe argentina, mas sem muita contundência. A expulsão de Ramiro aos trinta e sete reacendeu a esperança num novo milagre para um clube que, na semifinal, conseguiu uma virada épica sobre o River Plate, em um cenário similar ao da final com o Grêmio. Mas o Grêmio manteve-se firme. Resistiu, embora tenha se abdicado de atacar como outrora. Talvez estivesse faltando fôlego. Talvez fosse o componente emocional - Renato era visto às lágrimas abraçado com Léo Moura aos quarenta e oito de um jogo que iria até os cinquenta. Deve ser porque, no fundo, eles já sabiam que estavam além dos cinquenta. Estavam na eternidade de uma conquista histórica.