domingo, 23 de agosto de 2020

Num Mundo Que Chora Mortes Na Pandemia, Bayern É Incontestável Campeão Continental

Manuel Neuer levanta a taça: o Bayern de Munique é pela sexta vez o campeão europeu. Foto: Reuters/Matthew Childs/Pool.
 

É um mundo diferente daquele de menos de um ano atrás. E uma rápida olhada para a Liga dos Campeões da Europa ajuda a ter a noção do quanto as coisas se modificaram em questão de meses.

Olhe para o estádio que sediou a final do maior torneio de clubes europeus de futebol: ninguém nas arquibancadas. Felizmente, ninguém nas arquibancadas, pois se houvesse aglomeração, seria uma gigantesca negligência em tempos de pandemia viral.

O coronavírus (SARS-CoV-2 ou COVID-19) foi, sem nenhuma dúvida, o elemento que mais marcou essa edição da UEFA Champions League. Há quem diga (inclusive infectologistas) que o confronto entre Atalanta e Valência, na cidade italiana de Milão, em 19.02.2020, foi uma bomba viral. Explica-se: a Itália vinha somando muitos casos de infecção e morte no norte do país e, com o deslocamento de dezenas de milhares de torcedores desde a cidade de Bérgamo (cidade sede da Atalanta) até Milão (local do jogo), é bastante provável que naquele momento estava sendo levado o coronavírus para uma nova região do país. As semanas que sucederam o jogo deram a dimensão da tragédia, com a Itália se tornando o epicentro europeu de contágios e mortes. Cenário que veio a atingir, também, a Espanha, país onde ocorreu o jogo de volta entre aquelas duas equipes: a Atalanta venceu novamente e celebrou a classificação (sabe-se lá espalhando quantas gotículas carregadas de vírus entre os dois países)...

Mas, evidentemente, não há que se responsabilizar um único confronto futebolístico pela enormidade das mazelas. Os maiores responsáveis pelos danos causados são os chefes de governo que fazem pouco caso do isolamento social. São aqueles que bradam que "a economia não pode parar" (como se o capital tivesse vida e a vida fosse desprovida de qualquer sentimento). Enfim, aqueles que sobreviveram, puderam assistir o Bayern de Munique campeão europeu pela sexta vez em sua história. Um título que é esvaziado pelo momento de dor que vive a humanidade (somente mentes de psicopatas podem achar que este ano de dois mil e vinte é como outro qualquer). Mas, ainda assim, há que se dizer: parabéns ao Bayern pela espetacular campanha na competição, tendo vencido todas as partidas disputadas - antes e durante o coronavírus. Foram 43 gols em 11 jogos. E uma atuação maiúscula na final, quando superou a qualificada equipe do Paris Saint-Germain por 1a0, gol de Coman (que é cria do PSG), e com grandes atuações de Neuer e Thiago Alcântara. Ainda assim, certamente, a partida que mais será lembrada nessa trajetória épica terá sido a implacável goleada de 8a2 sobre o Barcelona, na fase de quartas de final, nove dias antes de levantar o troféu, também em Lisboa, também com portões fechados ao público.

Que a festa esportiva seja feita com responsabilidade na Alemanha e em qualquer lugar. Há, nesse momento, famílias em luto. Pessoas que trocariam o êxito do seu time por simplesmente poder voltar ao convívio de seus entes queridos. Vidas que economia nenhuma poderá trazer de volta.

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