O futebol respondeu essa pergunta hoje: campeão da Eurocopa.
Foi sem seu principal astro e capitão que a seleção portuguesa enfrentou a França durante mais de 80% do tempo de jogo na final em Paris. Esbanjando aplicação tática e força coletiva, os comandados de Fernando Santos foram bem-sucedidos na famigerada estratégia de "jogar por uma bola". Na covarde postura de reagir em vez de propôr, a bola do "golo" saiu no segundo tempo da prorrogação, em chute de Éder, de fora da área.
Éder, que entrou no lugar de Renato Sanches, comemora o gol do título. Foto: Christian Hartmann / Reuters. |
O futebol enquanto esporte e o futebol enquanto arte oferecem respostas distintas para essa indagação.
No sentido da estrita competitividade, Portugal é campeão europeu com justiça. Jogou pelo regulamento. Já no sentido da qualidade do entretenimento, da diversão, do prazer em assistir um jogo desse tão antigo esporte bretão, o título português é de uma injustiça tremenda. Pelo futebol apresentado, poderia ter se despedido na fase de grupos, quando empatou três partidas numa chave onde era apontada como a maior força. Mas viu a Islândia e, principalmente, a Hungria encantarem naquela etapa da competição. A própria Áustria, que perdeu para aquelas seleções, conseguiu conter os lusitanos. Senhoras e senhores de todas as idades, se o primeiro critério de desempate fosse o número de vitórias, Portugal estaria eliminado com a campanha de três empates. Classificou-se com saldo zero. Graças, por exemplo, à goleada da seleção espanhola sobre a Turquia. Ou à vitória francesa sobre a Albânia. Coisas do futebol (e do regulamento).
Passou pela Croácia na prorrogação, em jogo onde viu o adversário criar as maiores chances de gol. Passou pela Polônia nos pênaltis. No tempo regulamentar, somente conseguiu superar o País de Gales, que sucumbiu na ausência de Aaron Ramsey. Mas pior que os placares em si, era o desenvolvimento dos jogos: a seleção portuguesa resumia sua produtividade a sair em velocidade e colocar a bola na área.
Talvez o grande mérito de Portugal tenha sido o de conseguir manter seu nível de jogo sem o seu jogador mais badalado - embora, diga-se, o nível de jogo português não é lá grandes coisas. Prima, isto sim, pela competitividade e pela capacidade de dar à partida uma feição que lhe ofereça condições favoráveis para "brigar" pelo resultado. Não duvido que possa haver uma "inspiração" na Grécia de 2004, um dos maiores traumas de Portugal, e seleção que teve recentemente como treinador o próprio Fernando Santos. Ao futebol, um presente de grego.
Faltou à França o futebol que apresentou em outros momentos no torneio. Os primeiros 45 minutos diante da Islândia, por exemplo, foram mais convincentes que a soma de cada segundo português na Eurocopa inteira. Mas o que fica registrado é o resultado. Brasileiros em geral (incluindo aí parcela majoritária e quase unânime da mídia) eram satisfeitíssimos com o "trabalho" de Dunga. Baseavam-se nos títulos na Copa América, Copa das Confederações e primeiro lugar também nas Eliminatórias. Até cair para a Holanda nas quartas do Mundial. A partir daí, Dunga já não mais prestava. Mas o mundo gira, e se Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari também não prestam mais, chamemos o Dunga de novo. Dessa vez, os resultados não "permitiram" que fosse mantido até uma eventual Copa do Mundo em 2018. Só que o que pouco se aborda é que, no jeito de jogar, a seleção de Dunga ficou na fronteira da mediocridade nas vitórias, nos empates e nas derrotas. Acontece que, nas vitórias, tá tudo bem quanto ao fato de ser medíocre... Enquanto essa cultura do resultado sentenciar que um treinador seja bom ou ruim em função de placares e posições, estaremos fadados a vermos gente afirmar que Portugal mereceu o título. Se mereceu, então, o futebol é que não merece Portugal. Com ou sem Cristiano Ronaldo.