As semifinais na Liga dos Campeões da Europa na presente temporada permitem fazermos comparações entre dois treinadores muito badalados no futebol atual. Um é Josep Guardiola, do qual sou grande admirador. Outro é José Mourinho.
A maior semelhança entre ambos - além da grande quantidade de troféus levantados - está na grafia do primeiro nome: são quatro letras idênticas. Só que se o talento fosse medido dessa forma, poderíamos afirmar que a letra "P" é muito mais poderosa que o acento agudo.
Explicando e comparando. Mourinho e Guardiola viajaram para a capital espanhola. O Chelsea visitou o Atlético no Vicente Calderón e, no dia seguinte, o Bayern enfrentou o Real no Santiago Bernabéu. Tanto os Azuis de Londres quanto o Gigante da Baviera carregam consigo elencos milionários, que em nada devem aos adversários. Vale lembrar que esses dois clubes se enfrentaram na final continental apenas duas temporadas atrás (então treinados por Roberto Di Matteo e Jupp Heynckes). Ou seja, talento é o que não falta nesses plantéis. Saca só o nível: Cech, Neuer, Terry, Boateng, David Luiz, Dante, Lampard, Schweinsteiger, Ramires, Lahm, Willian, Robben, Hazard, Müller, Oscar, Götze, Ribèry, Schürrle, Torres, Mandzukic, Demba Ba, Kroos etc. Com esse material humano, Mourinho e Guardiola podem buscar diversas maneiras de jogar. E a cidade de Madrid viu bem isso.
Na terça-feira, um Chelsea covarde foi montado com uma linha de quatro na defesa (Azpilicueta, Terry, Cahill, Cole) e uma linha de cinco no meio (Willian, Mikel, David Luiz, Lampard, Ramires) e Torres na frente. Na frente e isolado, pois Willian e Ramires mais acompanhavam os laterais oponentes do que se aproximavam do atacante espanhol. Resultado: zero a zero numa partida com poucas emoções. Diria que beirou o entediante. Triste para o esporte.
Já na quarta-feira, outra conversa. O Bayern atuou com a posse de bola e ofensivamente, mesmo diante de um adversário fortíssimo nos contra-ataques (há que se respeitar um time que conta com Modric, Cristiano, Di María e Benzema, além de Bale). Mas covardia não é palavra para o vocabulário de Pep. A equipe atuou com Rafinha e Alaba se apresentando ao ataque de modo a deixar somente Boateng e Dante como autênticos defensores; Lahm e Scheinsteiger encostavam na trinca de meias (Robben, Kroos e Ribèry) enquanto Mandzukic, ao contrário de Torres no dia anterior, tinha com quem conversar. Resultado: um a zero para o Real numa partida repleta de alternativas. Tivemos um jogo. Um grande jogo. Ótimo para o esporte.
No final, os placares na Espanha dão aos times de Diego Simeone e Carlo Ancelotti a vantagem do empate na volta. Teoricamente, melhor para o italiano, que pode perder por um gol de diferença caso marque pelo menos uma vez. Porém, vejo mais possibilidades de sucesso para o argentino. O motivo? Seu adversário é Mourinho. Será muito mais difícil sobreviver ao Bayern de Guardiola. E olha que nem precisa de coragem para afirmar isso: basta ter algum bom senso. Coisa que por vezes falta para aqueles que têm medo.
Discordo. Não é questão de coragem, é questão de estratégia. Sem dúvidas o Mourinho poderia adotar outra postura tática, mas optou por não se expor sabendo da força do contra-ataque e da dificuldade de criação do Atlético. Estão fazendo muito burburinho em cima de uma estratégia de jogo. Não que o jogo tenha me agradado ou esta postura seria a minha escolhida com tamanha qualidade dentro do elenco, como você citou, mas não se pode crucificá-lo por isso - ainda mais não tendo o Hazard e não confiando em nenhum dos seus centro-avantes. O compromisso dele não é entreter o telespectador, é conquistar títulos para o clube.
ResponderExcluirSier
A coragem influencia na estratégia. Atuar ofensivamente ou com uma retranca não dão garantias de sucesso a ninguém, até porque o futebol tem diversas variáveis que transcendem a esfera tática. Mas o fato é que o forte elenco do Chelsea tinha diante de si um adversário modesto. Seria muito melhor para a qualidade do jogo se o time mais forte estivesse disposto a jogar futebol. Não esteve e o que tivemos foi um time jogando a bola na área / chutando de longa distância e outro satisfeito com o transcorrer dos segundos, minutos, horas, eternidade. Provavelmente, será diferente em Londres. Independentemente do que ocorra em Stamford Bridge (Chelsea avançando ou sucumbindo com atuação atrativa ou retrancada), fato é que jamais saberemos o resultado no Vicente Calderón se as qualidades do plantel à disposição de Mourinho fossem exploradas. Era um Chelsea com cara de time pequeno. E que, como time pequeno, tem que festejar o sucesso do zero a zero. Pra jogar assim, não acho que seja necessário tanto investimento em atletas e comissão técnica. Dá pra ser campeão fazendo melhor que isso.
ExcluirAbraços.