sábado, 3 de julho de 2021

Itália E Bélgica Fazem Grande Jogo E Azzurra Avança À Fase Semifinal

No encontro entre duas seleções invictas no torneio, tivemos um ótimo jogo de futebol em Munique. Uma partida dinâmica, de muita movimentação, explícita objetividade na transição ao ataque e notória capacidade técnica tanto no trato com a bola quanto na realização da marcação.

Há muito o que se aprender com essas duas seleções. Tanto Bélgica quanto Itália mostraram força ofensiva sem dar indícios de qualquer sinal de fraqueza em seus sistemas defensivos. Se cometaram erros? Sim, cometeram. Alguns deles, inclusive, foram "punidos" com gol. Mas, em se tratando da estrutura de jogo e da proposição tática, temos aí duas fortes seleções a levarmos em conta rumo à Copa do Mundo 2022.

Nesse dois de julho de dois mil e vinte um, vitória italiana. E vitória do futebol. É sempre um prazer assistir jogos como esse.

Logo aos doze minutos, a rede balançaria e os italianos comemorariam: Lorenzo Insigne cobrou falta pela direita, e ambos os zagueiros italianos participaram do lance. Primeiro, Giorgio Chiellini com desvio sutil. Por último, Leonardo Bonucci, mandando pro gol. Só que a comemoração foi frustrada pela revisão tecnológica, que identificou impedimento na posição de Chiellini.

Esse gigante zagueiro de sobrenome Chiellini, que esteve ausente nos jogos anteriores após lesão ainda na primeira fase, voltou e voltou da forma que o conhecemos. Implacável na marcação e acreditando em todos os lances. Foi assim que, aos dezesseis minutos, Kevin De Bruyne viu seu chute forte ser bloqueado num cabeceio de Chiellini. Sim, Chiellini tratou de colocar a cabeça na rota de uma bola chutada com força por De Bruyne, evitando o que poderia ser o primeiro gol do jogo. Na sequência do lance, tanto o italiano quando o belga riram entre si, provavelmente admirando mutuamente o ato de coragem na interceptação. Felizmente, tudo bem com Chiellini.

O jogo era disputado arduamente no setor de meio de campo. Ambos os conjuntos procuravam espaços e tinham, sem a bola, o zelo de intensificar o confronto na zona da bola. Dois cartões amarelos em um intervalo de um minuto ilustraram a relevância da disputa na meiuca. Primeiro, Marco Verratti parou contra-ataque puxado por Youri Tielemans com falta intencional. O árbitro esloveno, Slavko Vinčić, corretamente aplicou o primeiro cartão no jogo. Praticamente na sequência, a reciprocidade: dessa vez, Tielemans cometeu a infração sobre Verratti, recebendo a mesma punição do árbitro.

Aos vinte e um minutos, uma grande arrancada em contra-ataque de De Bruyne tornou o outrora povoado meio-campo em uma avenida de trânsito livre para a Bélgica. E o próprio camisa sete tratou de finalizar, chutando firme no canto direito e com Gianluigi Donnarumma fazendo bonita defesa.

Na marca de vinte e cinco, novamente um contra-ataque para os belgas e novamente ele, De Bruyne, conduziu o time ao ataque: ele arrancou em velocidade e abriu na direita para Romelu Lukaku, que chutou cruzado e viu Donnarumma buscar no canto direito com uma ótima intervenção.

Após essas duas grandes chances de a Bélgica inaugurar o placar, a Itália reagiu. Aos vinte e cinco, Federico Chiesa foi acionado pela esquerda, chutou, a bola desviou em Toby Alderwireld e foi segura por Thibaut Courtois. No minuto seguinte, Insigne tentou de fora da área e a bola viajou perto do ângulo esquerdo. Na marca de trinta, o gol: em erro de saída de bola belga com Jan Vertonghen, Verratti recuperou a bola no ataque e passou para Nicolo Barella, que chutou cruzado no canto esquerdo. Um a zero Itália em Munique.

Nicolo Barella é festejado: a Itália abre o placar diante da Bélgica. Imagem extraída de El Litoral.

 

Se o primeiro tempo terminasse naquele momento, já teria sido ótimo pela qualidade do que foi apresentado. Mas havia mais guardado para ainda antes do intervalo. Aos trinta e nove, após escanteio pela direita, Chiesa pegou a sobra e mandou à esquerda. Aos quarenta e três, saiu o segundo gol italiano. Aliás, um golaço: Insigne carregou pela esquerda, trouxe para dentro driblando Tielemans e chutou bonito, no melhor estilo que o importalizou com a camisa do Napoli, mandando no canto esquerdo de um Courtois que saltou, esticou o corpo de cento e noventa e nove centímetros de estatura, ergues os braços em direção à bola, mas não alcançou. O destino do remate de Insigne era a rede. Dois a zero.

Desfalcada de um de seus principais jogadores - Eden Hazard não foi sequer listado para o banco de reservas -  e com desvantagem de dois gols, a Bélgica não tinha tempo para lamentações. E, numa jogada individual pelo lado esquerdo, o hábil Jeremy Doku foi derrubado dentro da área por Giovanni Di Lorenzo. Pênalti que Lukaku cobrou no meio, com Donnarumma se deslocando para a direita. Era o quinto gol do atacante da Internazionale em cinco jogos diante do goleiro do Milan. A provocação era bônus.

Se o primeiro tempo foi ótimo, o segundo também não decepcionou. Com um minuto, Verratti tinha a bola pelo lado esquerdo e rolou para Chiesa, que chutou à esquerda. Aos seis, Barella avançou e abriu na direita com Chiesa, que cruzou rasteiro com força demais e Ciro Immobile não conseguiu alcançar.

Não é trivial substituir Eden Hazard nos onze iniciais. Na primeira fase, vimos o técnico Roberto Martínez optar por Yannick Ferreira Carrasco, que até teve algumas participações interessantes. Mas se teve uma agradável surpresa nesse Bélgica e Itália foi a escolha de Martínez por Jeremy Doku. Um jovem de dezenove anos de idade, preferencialmente destro e que atua com extrema desenvoltura pelo flanco esquerdo. Tinha sofrido o pênalti convertido por Lukaku no final do primeiro tempo, mas tinha mais a oferecer.

Aos dez minutos, Doku driblou a marcação pela esquerda, foi à linha de fundo e cruzou rasteiro, com Donnarumma abafando em dois tempos e impedindo a saída da bola em escanteio. Na marca de quinze, em rápido de contra-ataque, Doku avançou nas costas de Di Lorenzo e passou para De Bruyne na jogada de ultrapassagem. De Bruyne conseguiu descolar passe para Lukaku que, sem goleiro, completou para o gol. Só que havia um Leonardo Spinazzola no meio do caminho, salvando a pátria italiana.

A Itália via a Bélgica crescer na proporção em que Doku era acionado. Àquela altura, já não se viam jogadas de infiltração no time de Roberto Mancini. Mas os italianos possuem outros recursos. Aos vinte e três, de fora da área, Insigne deu outro belo chute, dessa vez espalmado por Courtois no canto esquerdo.

Martínez trocou Tielemans por Dries Mertens aos vinte e três. E já no minuto seguinte, o meio-campista companheiro de Insigne no Napoli participou de ótima chegada belga: Mertens arrancou, rolou na esquerda para Nacer Chadli (que também acabara de entrar, substituindo Thomas Meunier), Chadli cruzou, a bola foi desviada e por pouco não foi alcançada por Lukaku nem por Thorgan Hazard, com Donnarumma já fora do lance.

Para infelicidade de Chadli, uma lesão não permitiu que ele ficasse mais do que cinco minuto no campo, forçando Martínez a substituí-lo. O técnico optou por Dennis Praet, mesmo tendo Carrasco, Batshuayi e Benteke à disposição.

Com uma Itália totalmente dedicada a se defender, a Bélgica via poucas alternativas para penetração na defesa adversária. Mancini já tinha trocado Verratti por Cristante, Immobile por Belotti e Insigne por Berardi, incrivelmente mexendo em três peças entre meio e ataque sem trazer para jogo Manuel Locatelli, que faz ótima Eurocopa. São coisas assim que dificultam eu criar qualquer admiração por esse treinador, mesmo quando monta equipes funcionais e interessantes como essa italiana. Simplesmente escapa da minha compreensão. Aos trinta e quatro, por motivo de força maior, precisou tirar Spinazzola por motivo de lesão (infelizmente, as notícias posteriores foram de ruptura no tendão de Aquiles daquele que foi possivelmente o melhor lateral esquerdo nessa edição da Euro). Se Roberto Mancini finalmente trouxe Locatelli? Que nada: escolheu Emerson Palmieri.

Aos trinta e oito minutos, a Bélgica apelou para aquele que era o mais insinuante de seus jogadores: Doku. O camisa vinte e cinco recebeu no flanco esquerdo, foi enfileirando marcadores enquanto trazia a bola pro centro e descolou chute forte, que passou perto do travessão.

O pavor da Azzurra com Doku se traduziu na última substituição de Mancini: saiu Chiesa para a entrada de Rafael Tolói. Com os três ítalo-brasileiros em campo e um time praticamente inteiro concentrado na defesa, a Itália já não mais atacava e tinha como dedicação exclusiva fazer o relógio correr mais do que o Doku. Para se ter uma ideia de a que ponto isso chegou, aos quarenta e sete minutos o goleiro Donnarumma ficou aproximadamente dezessete segundos com a bola na mão. Acho que não fui avisado sobre a supressão da "regra dos seis segundos"...

Com o apito final, a Itália avança para a semifinal, quando enfrentará a Espanha. 

A Bélgica, por sua vez, retorna para casa. Foi uma bela campanha, certamente prejudicada pela lesão de Eden Hazard e pela limitação física do valente e dedicado De Bruyne. Mas há uma ótima notícia para os belgas: Jeremy Doku. Olho nesse jovem. Provavelmente será a maior oxigenação dessa geração que já encanta e que, agora, passa a ter um novo elemento para chamar de seu.

Com muita velocidade e habilidade, Jeremy Doku foi um dos destaques na partida. Foto: Reuters.

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