sexta-feira, 2 de julho de 2021

Yann Sommer Brilha No Jogo E Unai Simón Se Consagra Nos Pênaltis: Espanha Joga Muito E Elimina Suíça

Precisará ser muito criativa a pessoa que quiser criticar a seleção espanhola. Já li e ouvi comentários insanos sobre a Espanha desde a primeira rodada nessa Eurocopa, quando a seleção comandada por Luís Enrique empatou em zero a zero com a Suécia, num jogo de domínio flagrante espanhol pela quase totalidade do jogo. Depois do novo empate - dessa vez por um a um com a Polônia -, mais críticas pesadas ao "rendimento" da seleção. Coloquei "rendimento" entre aspas porque o que essa gente analisa não é o "rendimento", mas o resultado. Teve jornalista esportivo (?) que chegou a declarar que 'a Espanha tem nojo de fazer gol'. Após essa frase totalmente fora da realidade, tivemos uma sapecada de cinco a zero sobre a Eslováquia e um cinco a três sobre a Croácia. Resultado: o ataque mais efetivo na Eurocopa 2020 é o espanhol. Aí passaram a elogiar a Espanha. Como se a Espanha tivesse mudado muito dos dois empates para as duas vitórias. Não, não mudou. Ela permanece soberana na posse de bola. Insinuante no último terço. Com fome - e não nojo - de gol. O que mudou foi, meramente, o resultado.

Mas, não vim aqui para falar de resultado. Vim aqui para analisar o jogo de hoje, pela fase quartas de final, em que a Espanha enfrentou a Suíça na bela cidade russa de São Petersburgo. Foi um jogo em que a Espanha abriu a contagem cedo: já aos sete minutos, após cobrança de escanteio pelo lado direito de ataque, a bola viajou ao encontro de Jordi Alba, que pegou de primeira e contou com desvio em Denis Zakaria para que a bola entrasse no canto direito.

O gol, como era de se esperar, não mudou a forma da Espanha jogar. Porque a Espanha não atua em função de um resultado - ela é movida por uma filosofia de jogo que consiste, fundamentalmente, em atacar a bola e, a partir de seu domínio físico, exercer o domínio territorial que permita atacar o adversário.

Aos dezesseis, Koke cobrou falta perto da quina da área e colocou pouco acima do travessão. Nada de gol de falta nessa Euro até o momento. Aos vinte e quatro, Ferran Torres cruzou da direita e Nico Elvedi cortou antes que a bola pudesse chegar até Álvaro Morata. No Escanteio daí originado, César Azpilicueta deslocou Manuel Akanji com um empurrão e cabeceou, com o goleiro Yann Sommer pegando no alto. Para não dizer que somente a Espanha finalizava, a Suíça teve um escanteio pela direita que Silvan Widmer cabeceou para fora.

Há um detalhe interessante a ser levado em conta: a Espanha, que até aquele momento era a terceira seleção que mais finalizou na Euro 2020, enfrentava uma equipe que era a quarta nesse mesmo quesito. Então, passar o primeiro tempo inteiro sem praticamente ser ameaçada por um conjunto que fez três gols na seleção francesa não é algo meramente trivial. Claro que a capacidade criativa suíça foi abalada pela ausência de Granit Xhaka. A suspensão do meio-campista pelo segundo cartão amarelo no torneio foi um duro golpe no equilíbrio de um time acostumado a ter Xhaka atuando. Para se ter uma ideia, o capitão que veste a camisa dez havia jogado todas as vinte e oito partidas da Suíça desde o término da Copa do Mundo 2018, disputada ali mesmo, na Rússia. Havia ficado de fora de somente dois jogos nos últimos sessenta e um compromissos na Suíça. Então, sua ausência é, de fato, impactante. Mas nada é mais impactante do que a imposição espanhola em deter a posse de bola.

A Espanha voltou do intervalo com Daniel Olmo no lugar de Pablo Sarabia, que havia ainda no primeiro tempo reclamado de uma situação física. Dani Olmo já mostraria serviço com um minuto, só que o chute que parou em defesa de Sommer já estava irregular devido à posição anterior de Morata.

Aos quatro, sem impedimento, Olmo tinha a bola pela esquerda, entortou a marcação e cruzou à meia altura, com Koke cabeceando por cima.

A Suíça tentava ser mais presente no ataque, mas entre ter a bola e criar uma chance de finalizar ia uma longa jornada. Aos seis minutos, Xherdan Shaqiri resolveu literalmente tentar sozinho, cobrando escanteio pela direita de forma a surpreender todo mundo numa tentativa de gol olímpico. A cobrança até foi interessante, mas se direcionou à rede externa. Na marca de dez minutos, novo escanteio para os suíços, dessa vez pelo lado direito: após o levantamento na área, Zakaria cabeceou cruzado e a bola passou perto da trave direita. A Espanha respondeu aos treze, em lance também de bola parada: Sergio Busquets cobrou falta pela direita levantando na área, Ferran Torres ajeitou no peito e chutou uma bola que bateu nas costas de Haris Seferović. Reparou como essa foi a primeira vez que apareceu digitado nessa publicação o nome do maior goleador suíço? Isso dá a dimensão do quanto a Espanha era dominante: o camisa nove, que faz ótima Eurocopa, aparecia mais para ajudar a defesa do que efetivamente para concluir alguma jogada de ataque.

Aos dezoito minutos aconteceu aquela que talvez tenha sido a primeira oportunidade suíça com bola rolando: Ruben Vargas, que havia entrado no lugar de Breel-Donald Embolo ainda no primeiro tempo, carregou pelo lado esquerdo e acionou Steven Zuber com passe entre as pernas de Azpilicueta, que chutou para defesa de Unai Simón no canto direito.

Vladimir Petković tinha planos de mexer na equipe, com Kevin Mbabu e Mario Gavranović se preparando para entrar. Só que, para felicidade do técnico bósnio, um lance aos vinte e dois minutos o fez desistir das substituições naquele momento: após descuido de Pau Torres e Aymeric Laporte, Remo Freuler recuperou a bola em plena área espanhola e tocou para Shaqiri, que mandou um chute devagarzinho, cruzado, tocando na trave direita antes de entrar caprichosamente. Tudo igual no placar em São Petersburgo.

A Espanha, que é movida muito mais por um ideal do que pelas circunstâncias, manteve seu estilo. Aos trinta, em jogada pela esquerda, Olmo recebeu na área e chutou travado por Widmer. No minuto seguinte, um carrinho duro de Freuler em Gerard Moreno (que entrara no lugar de Morata) acabou sendo um duro golpe para a Suíça: o árbitro inglês Michael Oliver não pestanejou e aplicou o cartão vermelho ao agressor.

Se jogar com a Espanha já é difícil em igualdade numérica de jogadores, imagina com o déficit de um homem. Aos trinta e oito minutos, Moreno recebeu perto da área e tratou de chutar de primeira, com a perna esquerda - Sommer defendeu no meio do gol. Dois minutos antes desse lance, Gavranović finalmente entrou em campo, substituindo Seferović. Nos últimos minutos do tempo regulamentar, a Suíça mexeu mais uma vez (Zuber por Christian Fassnacht) e a Espanha outras duas (Ferran Torres por Mikel Oyarzabal e Koke por Marcos Llorente).

A partida foi para a prorrogação e o que se viu nela, principalmente no primeiro tempo, foi uma pressão espanhola daquelas dignas de entrar na galeria das maiores imposições táticas na história das prorrogações em grandes competições. 

Com um minuto, Alba recebeu na esquerda e cruzou para Moreno, que pegou de primeira (só que de canela) e mandou à direita. Aos cinco, Alba chutou forte e Sommer, bem posicionado, esticou o braço para defender no alto. No minuto seguinte, aos seis, Olmo recebeu de Pedri e chutou, mas a bola desviou em Moreno e passou à direita.

A Espanha era intensa e não dava sossego aos suíços, tornando Sommer o protagonista da partida. Aos dez minutos, após bola lançada, Oyarzabal cabeceou, Ricardo Rodríguez cortou parcialmente e Moreno, cara a cara com Sommer, chutou para grande defesa do goleiro. 

Na marca de doze minutos, Oyarzabal recebeu pela direita, chutou cruzado e Sommer espalmou bonito no canto direito. Com quinze, novamente Oyarzabal, novamente pelo lado direito e, adivinhe só, novamente defesa de Sommer - dessa vez encaixando o chute do espanhol.

Não tinha jeito, o destino era o desempate nas penalidades máximas.

A primeira cobrança coube ao capitão espanhol Busquets, que acertou a trave direita quando Sommer saltou para a esquerda. 

Logo na sequência, Gavranović cobrou de forma parecida à sua própria cobrança diante da França: no alto (dessa vez não tão no alto), e no canto direito. Simón foi para a esquerda. Suíça um a zero.

Talvez os corneteiros estivessem preparando o texto para criticar a Espanha pela eliminação nas quartas. Só que não foi dessa vez, caros trombeteiros do apocalipse e comentaristas de resultado. Se nas oitavas a Suíça acertou todas as cobranças diante da França, dessa vez o cenário seria bastante diferente. 

Dani Olmo cobrou o segundo pênalti espanhol e marcou, mandando firme no canto direito, com Sommer acertando o lado mas sem conseguir alcançar o ótimo chute. Um a um.

Fabian Schär, que havia entrado durante a prorrogação, tinha sido bem-sucedido na penalidade diante da França, quando cobrou no canto esquerdo de Lloris. Dessa vez, escolheu o lado direito. E parou em defesa de Unai Simón.

A Espanha podia ficar pela primeira vez na frente quando Rodri, que substituiu Pedri nos últimos minutos na prorrogação, era o próximo a bater. Sommer apontou para o canto direito, desafiando o espanhol. E Rodri optou pelo lado esquerdo, mordendo a isca do jogo psicológico do goleiro, que fez a defesa do chute à meia altura.

Mas, após esse momento, tudo viria a dar certo para a Espanha. Primeiro, Unai catou no canto direito a cobrança rasteira de Akanji, numa batida na bola muito parecida à que Akanji realizou nas oitavas, naquela oportunidade com sucesso. Depois, Moreno, que havia jogado na trave direita diante da Polônia, dessa vez escolheu o canto esquerdo e estufou a rede, com Sommer acertando o lado mas não conseguindo alcançar. Na sequência, Vargas chutou por cima do travessão. Coube a Oyarzabal a chance de colocar a Espanha nas quartas - com os olhos vidrados na bola, ele mandou rasteiro no canto esquerdo e foi para a comemoração.

Unai Simón defende a cobrança de Manuel Akanji: nos pênaltis, a Espanha superou a Suíça nas quartas de final na Eurocopa 2020. Imagem extraída de Impala.

 

A Espanha avança às semifinais e não há qualquer razão para duvidar de sua capacidade de conquistar a Eurocopa mais uma vez, podendo ser o tricampeonato num intervalo de quatro edições.

Já a Suíça, que foi gigante diante da França e, com um jogador a menos, resistiu como pôde diante da Espanha, tem muitos motivos para acreditar na possibilidade de fazer ótimas Eliminatórias Europeias visando a classificação para a próxima Copa do Mundo.

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