Finlândia 0a1 Rússia
São Petersburgo, histórica cidade russa que se localiza a menos de quatrocentos quilômetros de distância da capital finlandesa Helsinque, sediou o jogo de abertura na segunda rodada na Eurocopa 2020. E, para embolar de vez o grupo B, a seleção que perdeu na estreia venceu aquela que havia vencido o jogo inaugural. Mas as coisas não começaram nada fáceis para a Rússia: já na primeira chegada da Finlândia, com menos de cinco minutos no relógio, Pohjanpalo abriria a contagem. Abriria, se não fosse a anulação que detectou impedimento no lance.
Pohjanpalo, que havia marcado o gol finlandês na vitória sobre a Dinamarca, teve ainda outras duas ótimas chances para vazar a meta russa, ambas sem sucesso. Mas a Rússia também tinha suas ambições: numa, acertou a trave esquerda em finalização de Dzyuba; noutra, abriu o placar em belíssimo chute de Miranchuk, que bateu colocado mesmo com pouca angulação para o remate.
No segundo tempo, a partida ganhou movimentação em ambos os campos de ataque. O empate finlandês quase saiu em lance onde Teemu Pukki teve seu chute travado de forma providencial por Karavaev. E se o empate não ocorreu naquele momento, não ocorreria nunca mais, principalmente após a decisão de Markku Kanerva tirar Pukki de jogo e colocar Lappalainen. Foi a sentença que afastou os nórdicos da área adversária. E, a partir daí, os russos ficaram mais próximos de ampliar a vantagem do que de sofrer o empate. No final, persistiu o um a zero, resultado que iguala a pontuação das duas seleções e que dá indícios de fortes emoções na rodada derradeira.
Turquia 0a2 País de Gales
Arroz com feijão. Você conhece alguma parceria melhor que essa? No âmbito culinário, é paixão - e salvação - nacional. Uma combinação deliciosa, que traz saciedade e que dá um aporte nutricional importantíssimo para a saúde humana.
Calma, esse não é um blógui sobre comida. Mas achei por bem trazer o arroz com feijão pra introduzir uma outra parceria que também dá muito certo: Aaron Ramsey e Gareth Bale. Logo aos cinco minutos, Bale deu passe certeiro para Ramsey que, após drible preciso, finalizou rasteiro e parou em grande defesa de Çakır. Aos vinte e três, nova aparição da dupla arroz com feijão: Bale lançou, Ramsey surgiu em liberdade e acabou chutando por cima. Pensa que acabou o repertório? Pois o melhor sairia do forno aos quarenta e dois: Bale fez o lançamento, Ramsey ajeitou no peito, arrumou o corpo e chutou cruzado. Golaço galês.
No segundo tempo, Bale poderia ter ampliado, mas desperdiçou um pênalti aos quinze minutos. E, após a saída de Ramsey aos trinta e nove, quase queimou o rango de Gales: aos quarenta e um, após cobrança de escateio, Demiral - que entrou no intervalo - só não empatou o jogo porque Ward defendeu lindamente. Seria um empate bastante indigesto para uma seleção que dominava as ações na maior parte do tempo. Mas, para felicidade galesa, a equipe ainda teve a competência de, nos acréscimos, se aproveitar dos espaços deixados para ampliar a contagem: Bale fez jogada individual na linha de fundo e serviu Connor Roberts para marcar o segundo. Era a segunda assistência de Bale, destaque absoluto numa atuação onde conseguiu ir bastante além do arroz com feijão.
Itália 3a0 Suíça
Se na partida de estreia os 3a0 da Azzurra diante da Turquia não me convenceram, esse segundo 3a0 escancarou as virtudes da equipe comandada por Roberto Mancini. Mesmo com a saída forçada de Chiellini (que teve um gol anulado antes de ser substituído por lesão), a defesa italiana permaneceu sólida. Sólida ao ponto de fazer Embolo, que teve grande atuação na estreia suíça, se tornar figura praticamente inoperante no jogo.
E, curiosamente, foi pouco após a saída de Chiellini que a Itália abriu o placar - dessa vez, de fato e de direito. Aos vinte e cinco, Domenico Berardi recebeu no flanco direito, avançou em velocidade tirando proveito do espaço deixado e cruzou, ou melhor, passou com carinho e com afeto para Manuel Locatelli concluir.
No segundo tempo, aos cinco, Locatelli, que já era figura determinante para o setor de meio de campo italiano, voltou a dar o ar da graça no ataque: dessa vez, ele recebeu passe de Nicolo Barella e chutou seco, cruzado, no canto esquerdo. O goleiro Sommer? Só assistiu.
Aos quarenta, ecoaram os sons dos aplausos em Roma. O motivo era a reverência a Locatelli, que deixava o campo para dar lugar a Pessina. Três minutos depois, a vitória ganhou contornos de goleada quando Rafael Tolói, que substituíra Berardi aos vinte e quatro no segundo tempo, recuperou a bola no ataque e rolou para Immobile anotar o terceiro.
A Itália é a primeira seleção matematicamente classificada. E o mais importante: jogando um futebol competitivo, de qualidade e com bastante movimentação.
Ucrânia 2a1 Macedônia do Norte
Numa partida bem movimentada, ucranianos e macedônios do norte foram a campo cientes da necessidade de buscar a vitória após saírem derrotados na rodada inaugural. Bom para quem assiste, pois não é por falta de iniciativa que as oportunidades não serão criadas.
A Ucrânia, que é treinada por aquele que foi o maior atacante na história da seleção nacional, tem exatamente em sua dupla de ataque a maior virtude. Bem posicionados e bastante entrosados, ambos foram fundamentais na construção do resultado.
Aos vinte e oito minutos no primeiro tempo, um escanteio cobrado da esquerda encontrou Karavaev no primeiro poste e deste saiu um passe que desmontou a defesa oponente: livre de marcação, Yarmolenko finalizou e não desperdiçou. Quatro minutos depois, Yarmolenko fez a assistência para seu companheiro de ataque, Yaremchuk, ampliar a vantagem.
A Macedônia do Norte voltou melhor do intervalo e pressionou. Aos onze, um pênalti sofrido por Pandev foi cobrado por Alioski. Bushchan conseguiu defender, mas foram os jogadores de camisa vermelha que mais se empenharem para o rebote, com o próprio Alioski mandando para a rede - não fosse ele, seria algum companheiro de equipe a completar para o gol, numa tremenda covardia com o goleiro.
Treze minutos após sofrer o gol, Shevchenko tirou seus dois atacantes, aumentando a presença no meio de campo. Substituições que são um prato cheio para a cornetada. Mas quem melhor que Shevchenko para fazer a leitura de manter, tirar ou colocar um atacante dentro de campo? O fato é que a Ucrânia reequilibrou as ações. Aos trinta e oito, Malinovskyi teve a chance de recolocar a margem de dois gols de vantagem quando o VAR acusou toque de mão dentro da área. Mas a cobrança de pênalti, feita com mais força do que colocação, parou em bela defesa de Dimitrievski.
Nos últimos instantes, Trajkovski, que entrara no intervalo de jogo, quase deixou tudo igual no placar. Mas seu chutou cruzado, aos quarenta e oito, acabou indo para fora.
Dinamarca 1a2 Bélgica
Em jogo marcado por homenagens a Christian Eriksen, a Dinamarca fez aquele que considero os melhores dez minutos iniciais de uma seleção até aqui nessa edição de Eurocopa. Sem tomar conhecimento da Bélgica, a equipe foi para cima e fez um abafa com velocidade, troca de passe, movimentação e bastante objetividade. O prêmio veio antes dos dois minutos: após bola recuperada perto da área belga, Højbjerg fez o passe e Poulsen chutou cruzado, no canto direito, tirando de Courtois.
Os dinamarqueses quase fariam o segundo, mas o melhor momento da partida não foi numa oportunidade criada, numa finalização, nada disso. Foi a homenagem prestada a Eriksen depois que o relógio apontou dez minutos de jogo. Todos pararam. Jogadores, árbitro, bola, comissão técnica. Eu me atreveria a dizer que, por um instante, o mundo parou junto. E os aplausos deram o tom do valor intrínseco que reside em uma vida. Se déssemos a todas as formas de vida esse mesmo apreço, viveríamos no paraíso. O justo paraíso.
"TODA A DINAMARCA ESTÁ COM VOCÊ, CHRISTIAN". Imagem extraída de Short Sport News. |
Após a parada emocionante e arrepiante, o domínio da Dinamarca se esvaiu. Cheguei a ter a sensação de que aqueles primeiros dez minutos foram jogados por Eriksen. Como se os dinamarqueses tivessem um jogador a mais.
Mas, com a entrada de Kevin De Bruyne no intervalo para estrear nessa Euro, o panorama da partida mudou de vez. Aos oito, após linda jogada pela direita onde Lukaku atuava naquele momento como um ponta, Thorgan Hazard recebeu de De Bruyne e empatou a partida. Dezesseis minutos depois, Eden Hazard - irmão de Thorgan e que entrara no lugar de Carrasco - recebeu de Lukaku e passou para De Bruyne marcar outor belo gol. O vigésimo segundo dele pela seleção.
Nos últimos minutos, a Dinamarca conseguiu algumas boas situações e quase empatou. Nas principais oportunidades, Braithwaite acertou a trave e, mais perto do final, Jensen chutou próximo ao gol.
Holanda 2a0 Áustria
No primeiro jogo entre equipes que venceram na rodada inaugural, holandeses e austríacos fizeram uma boa partida, mas com bastante oscilação no rendimento de ambos os conjuntos. Ainda antes dos dez minutos, Alaba pisou em Dumfries na área e o VAR não deixou passar - quem também não perdoou foi Memphis Depay, que cobrou o pênalti com precisão para abrir a contagem.
Com Frenkie De Jong e Georginio Wijnaldum exibindo grande qualidade no trato com a bola, a Holanda conseguia prevalecer na criação de jogadas. Aos trinta e nove, Van Aanholt lançou Weghorst, que abriu mão do instinto goleador para dar ótimo passe para Memphis. Mas a finalização do camisa dez passou longe, apesar da ótima posição. No minuto seguinte, Van Aanholt tabelou com De Jong e passou para Wijnaldum, que teve seu chute bloqueado por Ulmer.
Veio o segundo tempo e o desafio da Áustria era conseguir encontrar brechas numa defesa que se mostrava sempre atenta. Sabitzer, que tem ótima precisão nos passes, lançamentos e chutes, era figura constantemente bem acompanhada por alguém vestindo laranja, o que dificultava a capacidade criativa austríaca. E se a situação já era complicada para os austríacos, aos vinte e um ela ficou ainda pior: Donyell Malen, que entrara no lugar de Weghorst três minutos antes, arrancou em velocidade pela esquerda e tomou a melhor decisão ao rolar de lado para Dumfries chutar pro gol. Bachmann, que tinha feito uma defesaça anteriormente, até tocou na bola, mas não havia muito o que fazer. Dois a zero.
No final, a Holanda quase transformou a vitória em goleada: em rápido contra-ataque aos quarenta e três, o zagueiro Stefan De Vrij deu uma grande arrancada para se apresentar fechando pelo meio da área, mas Donyell Malen, dessa vez, decidiu resolver sozinho e chutou para fora, ignorando a presença do companheiro em melhor situação. Se optasse pelo passe, provavelmente seria sua segunda assistência no jogo. Com este resultado, a Holanda está classificada para as oitavas de final em primeiro lugar no grupo C.
Suécia 1a0 Eslováquia
Por motivo de trabalho presencial, essa foi a partida que menos tempo de jogo consegui assistir. Acompanhei mais ou menos um quarto do total, sendo a maior sequência a partir do momento em que a Suécia fez o gol, com Forsberg, cobrando pênalti aos trinta e um minutos no segundo tempo.
A partir desse momento, o que se viu foi uma seleção eslovaca buscando o empate, embora deva confessar que me causa estranheza a opção do treinador por tirar de campo jogadores hábeis e experientes como Vladimir Weiss e Marek Hamšík. Enfim, difícil tecer maiores julgamentos sem ter assistido o desenrolar dos acontecimentos. O fato é que, nas estatísticas da partida, acusa-se um total de zero chute da Eslováquia na direção do gol, mesmo detendo o maior tempo de posse de bola. Por sinal, deter o maior tempo de posse de bola quando se enfrenta essa seleção sueca parece algo tão natural quanto correr no gramado...
Croácia 1a1 República Tcheca
Vindos de uma vitória na estreia sobre a Escócia - onde passou a chamar atenção pela grande atuação de seu camisa dez -, os tchecos enfrentaram uma Croácia que buscava seus primeiros pontos no grupo D. Confirmando a expectativa de um jogo equilibrado - que terminou em igualdade tanto no percentual de posse de bola quanto no número de chutes a gol -, o fato é que cada seleção foi ligeiramente superior em um tempo de jogo. No primeiro, os tchecos conseguiram se postar de forma a se aproximar do ataque e, não menos importante, manter Luka Modric distante do último terço de campo. E chegou ao gol aos trinta e seis: após Lovren dar uma cotovelada em Patrick Schick dentro da área, o pênalti foi assinalado com auxílio da revisão do VAR. E Schick, que havia encantado no jogo inaugural, foi para a cobrança mesmo com o nariz sangrando após o lance que originou o pênalti. Certeiro. Um a zero República Tcheca, terceiro gol dele nessa Eurocopa.
Logo no intervalo, Zlatko Dalić mexeu duas vezes: entraram Ivanušec e Petković nos lugares de Brekalo e Rebić. E foi já no início do segundo tempo que os croatas empataram: Ivan Perisic recebeu de Kramarić no seu habitat natural, isto é, o flanco esquerdo do ataque, e fez o que melhor sabe fazer, trazendo a bola para o lado direito e chutando firme, cruzado, estufando a rede de Vaclík.
Modric até conseguia aparecer mais no campo de ataque, mas o confronto era mais intenso na disputa territorial no meio de campo do que nas proximidades das duas áreas. E, desta forma, o empate acabou se sustentando até o apito final, dando a entender que a última rodada nessa chave poderá ter duas partidas bastante interessantes entre tchecos e ingleses; e croatas e escoceses.
Inglaterra 0a0 Escócia
Num confronto com cento e catorze jogos oficiais, o zero a zero somente apareceu em três ocasiões - nenhuma delas em território inglês. Não até este jogo. Embora a Inglaterra conseguisse avançar e rodar a bola procurando espaços, o fato é que foram poucos os momentos em que efetivamente a seleção comandada por Gareth Southgate conseguiu envolver o adversário de forma a criar momentos de grande pressão. Na realidade, se pegarmos o primeiro tempo como um todo, a chance mais interessante foi escocesa: aos vinte e nove, Tierney cruzou e O`Donnell pegou de primeira, cruzado, parando em defesa de Pickford.
No segundo tempo a Inglaterra ensaiou uma melhora, que passava pela participação ativa de Foden, jogador de maior técnica no uso da posse de bola. Fiquei realmente sem entender a opção de Southgate trocar Foden por Grealish aos dezessete. E entendi menos ainda o comentário proferido por Lédio Carmona durante transmissão televisiva, que sintetizou a participação de Foden como se tivesse "tomado decisões ruins". Decisão ruim, ao meu ver, foi ter tirado de campo um dos mais lúcidos jogadores no gramado.
Com os comandados de Steve Clark conseguindo neutralizar a maioria das ações ofensivas de uma Inglaterra cada vez mais previsível, o jogo rumou para a confirmação do zero a zero. Mas não sem uma última emoção, já nos acréscimos, quando cerca de meia dúzia de jogadores ficaram em volta de uma bola que não entrava nem saía da área escocesa, parecendo por alguns segundos se tratar de um lance de rugby - onde viam-se cabeças, costas, pernas, braços, mas não se conseguia enxergar aquele famoso objeto esférico, que passou longe das duas redes nesse clássico britânico.
Hungria 1a1 França
Se essa segunda rodada na fase de grupos na Eurocopa 2020 teve algo que podemos chamar de "zebra", muito prazer, estamos em Budapeste.
Desde cedo foi possível perceber que teríamos a França detendo mais tempo de posse de bola, algo que passou longe de acontecer quando os franceses, retraídos e reativos, enfrentaram - e venceram - a Alemanha.
Aos treze minutos, tanto Mbappé quanto Griezmann pararam em defesas de Gulácsi. Três minutos depois, Digne cruzou da esquerda e Mbappé, livre, leve e solto, cabeceou à esquerda da meta. Mais quatro minutos passados, mais França no ataque: Digne escorou de cabeça, Benzema levantou e Mbappé voltou a cabecear - novamente para fora. Aos trinta, Benzema recebeu na área e ele próprio finalizou, mandando à esquerda.
As oportunidades francesas pareciam não cessar: aos trinta e quatro, Mbappé avançou pela esquerda em velocidade, Benzema recebeu centralizado e, cheio de boas intenções, errou o passe para Griezmann, à sua direita no ataque. Dois minutos depois foi a vez de Pogba, muito menos participativo do que na estreia, chutar rasteiro, no lado externo da rede.
Com esse tanto de chances desperdiçadas, o gol em algum momento tinha de acontecer, não é mesmo? Pois ele foi marcado pela Hungria: aos quarenta e seis, Roland Sallai acionou o incansável Attila Fiola nas costas de Pavard e de Varane e o camisa cinco húngaro mandou rasteiro, firme, no canto direito de Lloris, para enlouquecer uma já insana torcida que aglomerava sem máscara no estádio.
No segundo tempo, aos três, Gulácsi espalmou chute cruzado de Pogba. Aos treze, quem salvou a Hungria não foi Gulácsi, mas a trave esquerda, que rebateu o chute de N`Golo Kanté. Aos vinte, veio o empate: Mbappé arrancou em velocidade pelo lado direito e tentou dar a assistência para Benzema. Só que Vilmos Tamás Orban não deixou. Melhor para Griezmann, que chegou na bola e teve tranquilidade para chutar no canto esquerdo.
A Hungria ainda teve uma chance de ficar novamente em vantagem quando, aos vinte e oito, Nemanja Nikolić - que entrara no lugar de Szalai ainda no primeiro tempo - chutou mascado, para defesa de Hugo Lloris. Aos trinta e seis, a França somente não virou o jogo porque Gulácsi rebateu o chute forte dado por Mbappé. Aos quarenta e nove, no último lance de maior perigo, Varane cabeceou à esquerda. E o um a um foi bastante comemorado pelos húngaros, que chegarão à última rodada com chance de classificação em caso de vitória sobre a Alemanha. Eu nem sou capaz de cogitar o tamanho da celebração em Budapeste caso isso de fato aconteça... Que, independentemente do que venha ocorrer, máscaras cubram nariz e boca...
Portugal 2a4 Alemanha
No jogo de mais gols até o momento nessa Eurocopa, tivemos uma atuação de gala da Alemanha de Joachim Löw. Jogando um futebol ofensivo, de movimentação, toques curtos, enfiadas de bola, inversões, triangulações, jogadas de ultrapassagem e sem jamais se abdicar de atacar, a equipe reviveu seus grandes momentos sob o comando desse magistral técnico de futebol. Por alguns momentos, lembrei daquele maravilhoso 7a1 no estádio Mineirão. Em outros, pensei comigo mesmo o tamanho da saudade que o amante do futebol arte irá sentir quando Löw se despedir dessa seleção que ele foi determinante para revolucionar a forma de jogar.
Aos quatro minutos, Robin Gosens já abriria o placar em Munique. Só que o gol foi invalidado em função da posição irregular de Serge Gnabry no lance. Aos nove, um chute de Kai Havertz foi rebatido pelo goleiro Rui Patrício e Gnabry chegou no rebote, mas a defesa portuguesa afastou. Dois minutos depois, Toni Kroos teve o chute bloqueado na defesa após jogada de linha de fundo pela esquerda.
Foram os catorze minutos iniciais mais intensos e encantadores na competição. Mantendo o oponente sempre sob pressão e variando as jogadas, a Alemanha esbanjava versatilidade na construção e fome de gol no momento da conclusão. Mas, por ironia, o primeiro gol do jogo saiu no primeiro contra-ataque bem realizado por Portugal: Bernardo Silva fez ótimo lançamento para Diogo Jota, que avançou e viu Cristiano Ronaldo à sua direita, rolando de lado para o camisa sete apenas empurrar para o gol, abrindo a contagem e marcando seu terceiro no torneio.
Cristiano, aos vinte e um minutos, ainda daria um belo chapéu em Rudiger para na sequência tocar de calcanhar, em lance que não levou Portugal a lugar nenhum, apesar da plasticidade. Mas sabe o que é mais bonito do que um chapéu seguido de passe de calcanhar? O jeito da Alemanha de Löw jogar!
Aos vinte e quatro, Gnabry partiu pela direita, cruzou fechado e por muito pouco que Hummels, na pequena área, não conseguiu cabecear. Aos vinte e oito foi a vez de Kimmich avançar também pelo flanco direito, cruzar rasteiro e Rui Patrício recolher a bola. Já aos trinta e quatro, um gol de fato e de direito para empatar a partida: após inversão de jogo para o lado esquerdo, Gosens chegou pegando de primeira, cruzado, e no entrelace de pernas entre Havertz e Ruben Dias, foi o defensor português quem colocou a própria canela na bola, anotando contra. A partida estava empatada e a virada aconteceria quatro minutos depois: em jogada envolvendo Gosens, Thomas Müller, Havertz e Kimmich, Raphael Guerreiro acabou marcando contra - não fosse ele, provavelmente seria Gnabry o autor do gol.
O placar poderia ter sido (muito) mais dilatado ainda antes do intervalo, notadamente pelas chances de Havertz, aos trinta e nove e de Gnabry, aos quarenta e sete, com Müller quase chegando na bola rebatida por Rui Patrício.
Veio o segundo tempo e o show alemão continuou. Aos cinco minutos, Gosens recebeu na esquerda e cruzou rasteiro para Havertz marcar o terceiro. Foi mais uma jogada com o DNA dessa Alemanha de Löw, com participação coletiva de rápida troca de passes, envolvendo İlkay Gündoğan, Havertz e uma tabela de Müller com Kimmich antes de Gosens dar a assistência para Havertz.
O repertório de grandes jogadas se mostrava inesgotável: aos catorze, Havertz abriu na direita com Kimmich. Ele recebeu, avançou, levantou a cabeça e tinha três opções no cruzamento, já que Gnabry, Havertz e Gosens estavam na área. E Kimmich escolheu a melhor delas, colocando na cabeça de Gosens.
Após esse quarto gol, Löw tirou Gosens, o melhor jogador em campo, e colocou Marcel Halstenberg. Também trocou Mats Hummels por Emre Can. A partir de então, o ritmo da Alemanha desacelerou e Portugal conseguiu diminuir o prejuízo no setor de meio de campo, com Renato Sanches, João Moutinho e Rafa Silva apresentando melhor rendimento que os titulares Bernardo Silva, William Carvalho e Bruno Fernandes. Aos vinte e um, em lance de bola parada pela esquerda, a redonda viajou até o segundo poste com Cristiano Ronaldo arrumando para Diogo Jota, retribuindo a gentileza no primeiro gol português.
Aos trinta e três, Renato Sanches chutou de longe e acertou a trave direita de Manuel Neuer. Aos trinta e sete, Goretzka, que entrara no lugar de Havertz, chutou por cima do travessão em contra-ataque iniciado após erro de Danilo. Aos quarenta e três, Rudiger afastou de cabeça lance perigoso com Pepe dentro da área alemã. Aos quarenta e oito, foi Ginter quem conseguiu, de carrinho, bloquear chute de André Silva, que substituíra Diogo Jota.
Em síntese, uma espetacular exibição da Alemanha, na melhor atuação de uma seleção nessa Eurocopa. Independentemente de até onde essa equipe possa chegar, ela, na verdade, já chegou. Chegou no coração de quem ama esse esporte chamado futebol.
Espanha 1a1 Polônia
Fechando a segunda rodada, a Espanha recebeu a Polônia em Sevilla. Novamente, a equipe espanhola foi dominante, impondo seu estilo de jogo e não raramente criando situações de perigo ao gol adversário. Escalada com Morata e Moreno no ataque, a equipe comandada por Luís Enrique apresentou um "instinto" goleador mais aguçado do que na partida de estreia. Olmo, aos nove; Pau Torres, aos doze; e Rodri, aos dezessete minutos, tiveram oportunidades. Mas foi aos vinte e quatro que saiu o gol: Moreno chutou cruzado e o remate virou um passe para Morata, que desviou para dentro. Era um lance bastante difícil para analisar a legalidade da posição de Morata, mas a revisão via VAR atestou a legitimidade do gol espanhol.
O primeiro tempo, bastante movimentado, teve ainda outras quatro situações interessantes. Aos trinta e três, Moreno cobrou falta mandando perto da trave direita. No minuto seguinte, a Polônia chegou pela direita com Lewandowsky servindo Świderski, mas o desvio do camisa onze foi por cima. Aos quarenta e dois, nova chance polonesa, dessa vez com Świderski acertando a trave e, no rebote, Lewandowski parando em grande defesa de Unai Simón. Aos quarenta e quatro, Jordi Alba recebeu de Pedri e cruzou para Moreno fechar na primeira trave, mandando à direita.
Veio a segunda etapa e, aos oito, saiu o gol de empate polonês: Jóźwiak cruzou da direita, Laporte não conseguiu subir e quem tirou proveito disso foi simplesmente Lewandowski, cabeceando no canto direito.
Sem dar tempo para lamentações, a Espanha correu atrás da própria felicidade já no minuto seguinte, em lance que a revisão do VAR mostrou pênalti cometido por Moder em Moreno. Moreno pegou a bola para a cobrança. Era o desenho da retomada da vantagem no placar. Mas a trave direita foi o destino da bola. No rebote, Morata conseguiu chutar para fora.
A Espanha, embora visivelmente abalada com os baques de ceder o empate e desperdiçar um pênalti numa partida em que era dominante, continuou produzindo: aos dezenove, Morata, pela direita, chutou cruzado e Szczęsny espalmou. Aos vinte e sete, Ferran Torres, que entrara no lugar de Daniel Olmo, teve a chance em jogada por cima, mas seu cabeceio saiu fraco. Aos trinta e oito, após lançamento para a área, Morata teve o chute bloqueado por Szczęsny, Bednarek afastou parcialmente no rebote e a bola sobrou para Ferran Torres, que chutou para fora.
A Espanha chega a dois empates e vai definir seu futuro diante dos eslovacos, que possuem três pontos, naquele que tem muitos ingredientes para ser um grande jogo. Os poloneses, com um ponto, entrarão em campo na necessidade de vencer os suecos, atuais líderes na chave, com quatro.
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