terça-feira, 22 de junho de 2021

Dinamarca Faz Grande Exibição, Goleia A Rússia E Avança Com Ajuda Da Bélgica

Se tem uma coisa que eu acho curiosa nessa Eurocopa 2020 é a questão do "mando de campo". "Mando de campo" que somente pode ser dito entre aspas. E no caso desse jogo entre a "mandante" Rússia e a Dinamarca, a distorção do termo assumiu proporções bizarras. 

Veja só: são onze cidades-sede nessa Euro 2020 - que completa sessenta anos desde a primeira edição da competição. Entre essas onze localidades que recebem jogos, estão a russa São Petersburgo e a dinamarquesa Copenhagen. Acontece que São Petersburgo foi o local de jogo de Finlândia (país localizado bastante próximo dessa cidade histórica) e Bélgica. Portanto, o jogo entre Rússia e Dinamarca se realizou na capital do país nórdico. E com um detalhe a mais: devidos a questões restritivas de deslocamento no espaço geográfico em função de medidas sanitárias para contenção da pandemia, os russos foram impedidos de entrarem na Dinamarca. Ou seja, o "mando de campo" da Rússia foi num estádio onde todo o público presente nas arquibancadas era dos "visitantes" - e tome aspas.

No jogo, a visitante de fato e mandante de direito foi corajosa, tendo chegado ao ataque numa boa situação aos dezessete minutos: Aleksandr Golovin carregou em jogada individual, entortou a marcação de Pierre-Emile Kordt Højbjerg (isso é um nome ou um título?) e chutou rasteiro. Kasper Schmeichel, honrando a genética do pai - o lendário goleiro Peter -, conseguiu rebater e impedir que os russos abrissem o placar em sua casa. Sua, que eu digo, a de Schmeichel e dos demais dinamarqueses.

Se essa boa chegada da Rússia passou a impressão de que a Dinamarca estaria caminhando para mais um resultado adverso no torneio, a impressão começaria a ser desconstruída com um domínio territorial crescente da seleção mandante de fato e visitante de direito. Aos vinte e oito minutos, Højbjerg arriscou de fora da área, Matvei Safonov se esticou e a bola passou perigosamente à direita. Nove minutos depois, era aberto o placar na capital dinamarquesa: possivelmente encorajado pelo ótimo chute do companheiro, Mikkel Damsgaard recebeu de Højbjerg entre as linhas de marcação, arrumou para a perna direita e, antes da chegada de Georgiy Dzhikiya, descolou lindo chute no canto esquerdo. Golaço.

A exemplo do que ocorrera na rodada anterior, diante da Bélgica, a Dinamarca ia novamente ao vestiário com a vantagem de um gol a zero. E talvez a virada concedida naquela partida tenha servido de lição. Bastante atenta em todos os setores do campo, com Simon Kjær liderando uma defesa costumeiramente bem postada - há que se elogiar também as atuações de Andreas Christensen e de Jannik Vestergaard -, a Dinamarca buscava o segundo gol e marcava firme desde o campo ofensivo. Numa dessas, a pressão na saída de bola deu resultado: aos treze, Roman Zobnin teve a infelicidade de, na tentativa de recuar para o goleiro Safonov, acabar presenteando o atacante Yussuf Poulsen, que sequer precisou ajeitar a bola na jogada, bastando empurrá-la para a rede. Dois a zero.

A festa dinamarquesa se multiplicou quando veio a notícia de um gol de Lukaku para abrir a contagem a favor da Bélgica, algo bastante celebrado pelo fato de permitir que a Dinamarca ultrapassasse a Finlândia naquele momento. Só que a euforia rapidamente deu lugar à apreensão: o gol belga foi anulado por marcação de impedimento e, instantes depois, foi concedido pênalti para a Rússia em jogada onde houve tranco de Stryger Larsen em Vyacheslav Karavaev seguido de possível empurrão de Vestergaard em Alexander Sobolev. O centroavante goleador Artem Dzyuba se encarregou da cobrança e mandou no meio do gol, com Schmeichel saltando para a esquerda de forma a não conseguir chegar na bola mesmo esticando a perna direita.

Com um retrospecto histórico amplamente favorável aos russos (foram nove vitórias em dez confrontos diretos diante dos dinamarqueses), o público presente em Copenhagen silenciou como se pressentisse o pior. Mas uma torcida que presenciou um milagre com seu camisa dez Christian Eriksen no primeiro jogo não deveria se abater por nada mais. E, dentro de campo, a seleção da Dinamarca deu a melhor resposta: aos trinta e três minutos, numa pressão intensa, o goleiro Safonov salvou a Rússia uma, duas, três vezes em sequência. Até não conseguir mais: na quarta finalização praticamente consecutiva, Christensen soltou um foguete que viajou direto para o fundo do gol. Três a um.

O clima voltou a ser de euforia absoluta, pois cinco minutos antes a Bélgica marcava o primeiro no jogo diante da Finlândia - dessa vez sem anulação. Um a zero lá e três a um aqui, o que poderia ser melhor? Lukaku marcar o segundo gol belga, aos trinta e cinco, e Joakim Mæhle marcar o quatro dinamarquês, aos trinta e seis. Na comemoração, Mæhle exibiu os dez dedos das mãos, homenageando Eriksen. 

Com o apito final nas duas partidas, a Dinamarca conseguiu confirmar a classificação na segunda colocação após iniciar a rodada na lanterna na chave. Qual o limite do sonho de quem já viu um milagre?

Festa completa em Copenhagen: Dinamarca goleia a Rússia e se classifica para as oitavas na Eurocopa 2020. Imagem extraída de Giro de Notícia.


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