Cientes de que a classificação para as oitavas de final somente seria alcançada em caso de vitória no jogo de hoje, Croácia e Escócia fizeram, em Glasgow, um jogo de caráter eliminatório em plena fase de grupos, onde o empate eliminaria ambas as seleções. Na outra partida simultânea, Inglaterra e República Tcheca, já classificadas, decidiriam o primeiro lugar no grupo D. Com os resultados finais (Croácia 3a1 Escócia; e Inglaterra 1a0 República Tcheca), ingleses avançam em primeiro; croatas em segundo; tchecos em terceiro; e os escoceses estão eliminados.
Escalada com três zagueiros onde somente um é de fato e de direito um zagueiro (o camisa cinco Grant Hanley), a Escócia qualificava sua saída de jogo com Scott McTominay e Kieran Tierney. E foi a seleção escocesa quem teve as duas melhores oportunidades iniciais na partida. Aos cinco minutos, John McGinn, aparecendo pelo flanco esquerdo, usou a perna direita para levantar a bola na área, Che Adams apareceu na pequena área e esticou a perna na intenção de empurrar para o gol. mas acabou não alcançando por centímetros - o goleiro Dominik Livaković mandou para escanteio. Aos nove, Adams foi acionado no comando de ataque e, por estar isolado do restante do time, precisou se virar sozinho - ele trouxe a bola para a perna direita e chutou de fora da área, mandando à esquerda.
Com um meio de campo de boa qualidade técnica, a Croácia dessa vez tinha Luka Modrić atuando de forma mais adiantada em relação aos dois primeiros jogos, numa escolha acertada do técnico Zlatko Dalić. Quando tinha a bola nos pés, algo de interessante acontecia. Quando não tinha, sua movimentação por si só já atraía a atenção do sistema defensivo escocês, permitindo que outros jogadores croatas pudessem aparecer. Aos dezesseis, Josip Juranović levantou a bola, Ivan Perišić arrumou de cabeça e Nikola Vlašić agiu rápido para amortecer na coxa e, antes de permitir a chegada de McTominay, Hanley e Callum McGregor, chutar com a perna esquerda no canto direito. Um a zero Croácia na capital da Escócia.
Aos vinte e um minutos, Modrić quase ampliou quando deu ótimo chute, com força, e a bola passou pouco acima do travessão pouco após desvio sutil do goleiro David Marshall. Tão sutil, que a arbitragem nem viu e marcou equivocadamente posse de bola para os escoceses onde deveria ter sido assinalado escanteio para os croatas.
Aos vinte e três, a Escócia conseguiu um momento de pressão que quase rendeu o gol de empate: após troca de passes iniciada por Adams, a bola atravessou a área e retornou até ele, que evitou a saída pela linha de fundo e a manteve em jogo. Na sequência do lance, McGinn chutou de fora e Livaković defendeu no canto direito.
Bastante burocrático no meio de campo, o jogo diminuiu as opções de aproximação tanto da valente Escócia quanto da Croácia, que parecia se acomodar no resultado de vantagem mínima. Embora tivesse conseguido duas chegadas interessantes aos trinta e sete minutos (com chute de Juranović após boa troca de passes) e aos trinta e nove (em finalização de Perišić após jogada individual pela esquerda), ficava a nítida sensação de que a seleção da camisa xadrez podia render mais do que isso. E, aos quarenta e um, veio o empate escocês: após jogada de McGinn com Andrew Robertson pelo lado esquerdo, a bola alçada na área croata foi afastada apenas parcialmente por Domagoj Vida, indo parar no domínio de Mc Gregor que, livre de marcação, chutou da meia-lua e mandou no canto direito. Um a um, para muita festa no campo e nas arquibancadas - era o primeiro gol da Escócia nessa Eurocopa e também o primeiro gol de McGregor com a camisa da seleção após trinta e quatro jogos disputados.
Com o empate ao intervalo, as seleções se viam numa espécie de divisor de águas: teriam o segundo tempo inteiro para definir sua permanência ou despedida no torneio. Aos quatro minutos e também aos dez, a Croácia chegou com perigo em jogadas pelo centro. Na primeira, Joško Gvardiol foi bloqueado na valente e providencial saída do goleiro Marshall; na segunda, Perišić foi lançado por Modrić e parou em nova defesa de Marshall - mas, dessa vez, mesmo que a bola entrasse o placar permaneceria o mesmo, pois houve detecção de impedimento no lance.
Aos treze, tivemos a primeira boa chegada escocesa na segunda etapa: Robertson lançou da esquerda, McGinn se projetou levando vantagem na disputa de espaço com Gvardiol e, na pequena área, de frente com o goleiro, até conseguiu realizar o desvio, mas sem dar à bola a direção do gol.
Não sei se o lance assustou - e despertou - a Croácia. Não sei se a própria Croácia se viu na necessidade de jogar mais bola do que vinha jogando. O fato é que, três minutos depois, uma bela trama de jogada aconteceu a partir do flanco esquerdo. Já dentro da área, Bruno Petković fez a função de pivô, rolou atrás para Mateo Kovačić e este, para desafogar o lance e deixar com quem melhor entende do trato com a redonda, rolou um pouco mais atrás para Modrić. E o desfecho do lance foi com o selo Modrić de qualidade. Um chute de primeira, dando um tapa estiloso na bola, com o peito do pé num movimento para fora, como se fosse pegar de trivela. Na gaveta. Golaço. Dois a um para a Croácia.
Lindo chute de Luka Modrić para recolocar a Croácia em vantagem diante da Escócia. Imagem extraída de Bola Na Rede. |
Com dificuldades para se aproximar do ataque, a seleção escocesa precisava de algum fato novo. Steve Clarke optou por colocar em campo Ryan Fraser no lugar de Stuart Armstrong. Isso até aumentou a ofensividade da equipe, mas, para se ter uma ideia do deserto de criatividade no meio campo azul, a jogada seguinte de perigo da equipe foi construída graças à subida de McTominay, que iniciou o lance aos vinte e sete minutos e, após tabela curta, só não conseguiu finalizar porque Livaković chegou antes.
Aos trinta e dois, o pé bendito de Luka Modrić foi novamente fundamental para a Croácia: cobrando escanteio pelo lado esquerdo, ele levantou a bola no primeiro pau e contou com a excelente movimentação de Perišić, que mostrou saber antecipadamente exatamente onde a bola iria, desviando de cabeça, cruzado, e marcando no canto esquerdo. Três a um, nesse gol que tornou Perišić terceiro maior goleador na história da seleção de seu país, com trinta. Ele deixou para trás o brasileiro naturalizado croata, Eduardo da Silva, e tem a sua frente simplesmente os centroavantes Mario Mandžukić (trinta e quatro gols) e Davor Šuker (quarenta e cinco).
Aos trinta e quatro, um chute de Fraser pelo lado esquerdo sobrou para Adams no lado direito e a nova finalização foi bloqueada por Livaković. A Escócia tentava reagir. E seus maiores impulsos ao ataque eram a movimentação de Fraser e a técnica de McTominay, que finalmente foi deslocado da linha de defesa para o meio de campo, numa alteração tática que demorou demais para acontecer.
Aos quarenta e sete, McTominay estava dentro da área, chutou mas foi bloqueado pela marcação. No escanteio daí originado, Fraser recebeu, cruzou da esquerda e Scott McKenna cabeceou à direita.
Com Modrić tocando a bola no meio de campo, o árbitro argentino Fernando Rapallini deu o apito derradeiro. E a imagem que sucedeu era tão linda quando um golaço: Modrić, aos trinta e cinco anos de idade, ergueu os braços, gritou algo em comemoração e se ajoelhou no gramado, emocionado com a classificação. É isso mesmo, senhoras e senhores de todas as faixas-etárias. Um jogador finalista de Mundial, eleito melhor do mundo pela FIFA em 2018, estava absolutamente em êxtase pela vaga nas oitavas na Eurocopa 2020. Essa celebração dá a dimensão do comprometimento do camisa dez com sua seleção. Uma lição de profissionalismo e, sobretudo, amor. À camisa, ao país, ao futebol. Viva, Modrić!
Modrić, após o apito final de Croácia 3a1 Escócia. Imagem extraída de Independent En Español. |
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