Quem te viu, quem te vê, Nigéria. Após uma participação pra lá de tenebrosa na fase de grupos, parece que a seleção comandada por Stephen Keshi encontrou, enfim, uma maneira de jogar. De jogar bem, melhor dizendo. Não bastando o feito de eliminar a favorita Costa do Marfim na fase quartas-de-final, as Super Águias parecem mais prontas do que nunca para alçar vôos ainda maiores na Copa Africana de Nações 2013, encaixando goleada de 4a1 sobre Mali com incrível eficiência nas jogadas de contra-ataque.
É bem verdade que a sorte sorriu para os nigerianos, bastando um rápido olhar por determinadas finalizações que, se para um lado terminavam na rede, para o outro passavam perto da trave. Mas não foi isso que determinou o destino do jogo. Há que se exaltar aqui o talento de Victor Moses, que fez ótimo primeiro tempo, tomando conta do flanco direito de ataque, por onde protagonizou a jogada maravilhosa que originou o primeiro gol, aos vinte e quatro minutos: um drible desconcertante pra cima de Adama Tamboura e um cruzamento-passe encontrando Uwa Echiejile livre para, de peixinho, estufar a rede.
Não bastando o talento de Moses, a Nigéria tem outros elementos relevantes em sua equipe. Emmanuel Emenike, centroavante de porte físico avantajado, era importante referência no ataque. Aos vinte e nove, foi dele que veio a assistência para o gol de Brown Ideye. Lance de sorte, pois tudo levava a crer que aquela bola dividida com goleiro e zagueiro adversários não iria terminar na rede. Mas terminou, em prêmio para o esforço, aos vinte e nove.
Ainda antes do intervalo, a vitória ganhou contornos de goleada: aos quarenta e três, Emenike cobrou falta, a bola desviou na barreira e foi no contrapé do goleiro Mamadou Samassa, entrando caprichosamente no canto esquerdo, isolando Emenike no topo da lista de goleadores no torneio, com quatro marcados.
Embora abatida pelo inesperado revés, a seleção de Mali não se entregou, fato que embelezou o jogo e valorizou o espetáculo. Marcando em linha, a defesa malinesa permitiu que a enfiada de bola de John Obi Mikel encontrasse Ahmed Musa livre, e o camisa sete, que havia entrado no lugar de Moses, chutou por entre as pernas de Samassa. 4a0 no placar.
Seydou Keita não fazia uma partida em nível próximo ao que dele se espera, e creio que isso possa ter afetado o rendimento coletivo em geral. Mas o fato é que Mali melhorou depois das entradas dos atacantes Cheick Diarra e Cheick Diabaté. E melhorou tanto que fica difícil entender até que ponto foi a Nigéria que diminuiu sua intensidade na partida e até que ponto seja aceitável que esses dois "Cheicks" possam ser reservas no time de Patrice Carteron.
Vincent Enyeama, excepcional goleiro nigeriano, evitou pelo menos dois gols de Mali. Mas não evitou que o zero fosse mantido: aos vinte e nove, em jogada envolvendo aqueles dois atacantes vindos do banco, Diabaté conduziu bem a bola pela esquerda e serviu Diarra, que completou de primeira, com categoria, no canto esquerdo.
Mais incisiva, Mali pressionou em busca de novo(s) gol(s). Sem sucesso. No fundo, já deviam estar conformados com a eliminação após a margem de diferença no placar ter se dilatado tanto. Mas podem - e devem - ter a consciência de que fizeram um jogo de tal maneira que é muito mais razoável apontar virtudes no lado vencedor do que fraquezas no lado derrotado. Que a autoestima da população daquele país se eleve. Ninguém merece viver em meio a uma guerra civil. O que Mali realmente precisa no momento é de paz, paz que será uma conquista muito maior do que qualquer coisa que um torneio de futebol possa proporcionar.
Quanto à jovem seleção nigeriana, a presença na final continental é um feito de respeito. Sua última presença numa final foi em 2000, quando perdeu nos pênaltis para Camarões. Campeã pela última vez em 1994, a Nigéria tem a chance de estabelecer um recorde pessoal para Keshi, que pode ser o primeiro a faturar a Copa Africana de Nações como jogador (condição vivida em 94) e como treinador (sua função em 2013).
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