Royal Bafokeng, sede de seis jogos na última Copa do Mundo, recebeu hoje o que pode ter sido um dos melhores jogos na Copa Africana de Nações 2013. A favorita Costa do Marfim, líder no grupo D, primeira seleção a se classificar para a fase quartas-de-final no torneio continental, invicta há 25 jogos contra seleções africanas, foi surpreendida pela jovem seleção nigeriana, que conta com uma média de idade em torno de 23 anos e que passou pela fase de grupos na base do sufoco.
O jogo foi equilibrado, com os marfinenses demonstrando maior organização tática e mais coesão para defender e atacar. Porém, a Nigéria em momento algum se mostrou intimidada diante do forte oponente que tinha pela frente, conseguindo por muitas vezes medir forças em pé de igualdade aos teoricamente favoritos. Foi num erro de saída de jogo da Costa do Marfim que a Nigéria quase abriu o placar: Ideye passou para Emenike e o atacante, em condição legal e a cerca de dois passos da quina da pequena área, isolou o remate.
A Costa do Marfim era sólida, com Zokora protegendo bem a defesa, Yaya Touré e Tioté ajudando na transição, Kalou e Gervinho procurando abrir espaços para que Drogba pudesse aproveitar. Era um desenho tático interessante, pois os nigerianos contavam com Ambrose e Echiejile atuando muito bem pelos flancos da defesa, praticamente anulando as figuras de Gervinho e Kalou. Obi Mikel, Onazi e Mba impunham resistência às aproximações de Yaya e Tioté, com Moses sendo a principal peça ofensiva para acionar Ideye e Emenike.
Sair na cara dos goleiros não era nada simples, e o jeito foi tentar o gol a distâncias maiores. Moses chutou com muita força uma bola que foi rebatida por Boubacar "Copa" Barry. Aos quarenta e dois, em novo remate violento de fora da área, a Nigéria abriu o placar: Moses cobrou falta rolando de lado, a barreira marfinense abriu e Emenike encheu o pé, estufando a rede num chute que pareceu atravessar as luvas de Barry. Seria um ato leviano responsabilizar o arqueiro, mesmo com a bola indo praticamente em cima dele: com a barreira abrindo e um objeto esférico viajando àquela espantosa velocidade, convém ponderar e parabenizar Emenike pela rara felicidade na finalização. 1a0 Nigéria.
Com atitude e velocidade na volta do vestiário, a Costa do Marfim reagiu logo no início do segundo tempo. Com dezesseis segundos, Kalou recebeu centralizado e chutou para fora, em rápida trama ofensiva. Aos quatro minutos, o talento de Drogba encaminhou o empate. Primeiro, o atacante recém-contratado pelo Galatasaray recebeu uma cobrança de lateral e, de costas pra marcação, girou aplicando uma caneta no adversário, caindo no gramado caracterizando falta, assinalada pelo árbitro argelino Djamel Haïmoudi. A falta era praticamente colada à linha da grande da área, numa espécie de mini-escanteio. Na cobrança, Drogba. Aí, quando você pensa que o mais apropriado era Drogba estar na área para concluir o lance, afinal, trata-se de um "fazedor de gols", a precisão do cruzamento-passe justifica tudo: o camisa onze colocou a bola na medida para Tioté, livre de marcação, cabecear pra rede sem sequer precisar tirar os pés do chão. 1a1.
Foi um erro raro de marcação nigeriana e aquilo custou a cessão do empate. Costa do Marfim cresceu na partida e passou a se sobressair territorialmente, mas, nas raras oportunidades em que conseguia se desvencilhar da forte marcação adversária, esbarrava no goleiro Vincent Enyeama. Cada segundo que corria no relógio fazia cada vez mais aproximar a partida da prorrogação, a exemplo do que ocorreu entre África do Sul e Mali. Aliás, essa Copa da África está com o equilíbrio ilustrado na grande quantidade de empates, que representam mais da metade no total de partidas. E esse parecia ser mais um.
Parecia. Aos trinta e dois minutos, Sunday Mba carregou a bola e, diante da linha de defensores à sua frente, tratou de definir o lance sem tentar infiltrar na marcação, até porque tal empreitada já se demonstrava uma tarefa inglória há algum tempo. E, com um pouco (ou um tanto) de sorte, o chute desviou num dos marcadores e traiu o goleiro Copa, que viu-se fora do tempo da bola e não conseguiu evitar que a trajetória o encobrisse. 2a1 Nigéria.
O francês Sabri Lamouchi já havia trocado Kalou por Gradel e, após o gol de desempate, tratou de aumentar o poderio ofensivo, promovendo a entrada de Lacina Traoré no lugar de Romaric. Stephen Keshi, por sua vez, trouxe Yobo para o lugar de Moses, caminhando no sentido contrário. Mas a jovem Nigéria não tratou de limitar-se ao campo defensivo, esbanjando maturidade na troca de passes no ataque, administrando a posse e o cronômetro. Parecia muito mais uma seleção veterana cheia de fôlego do que uma "olímpica" supostamente afobada.
Pode não ser uma seleção que conte com talentos da magnitude de um Okocha, de um Amokachi, de um Ikpeba, de um Kanu. Mas é grande. É da envergadura das Super Águias. E, mais do que nunca, merece respeito.
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