Saímos da "Era Dunga", época em que os resultados apareceram mas o futebol, não. Em um ano de "Era Mano", não tivemos nem uma coisa, nem outra. Mudança no comando se faz necessário? Talvez. Mas o que deve ser modificado, sem dúvidas, é a forma de pensar o futebol da seleção brasileira. Figuras como André Santos não combinam com a história de uma camisa que já foi vestida por Nilton Santos. E o que dizer de vestir Fernandinho com a camisa 11, deixando Paulo Henrique Ganso como opção no banco e sequer convocando jogadores qualificados como Kaká e Ronaldinho Gaúcho? Alguma coisa está fora de ordem...
O jogo
A partida teve em seu início - mais precisamente na primeira terça parte do primeiro tempo - um domínio alemão. Domínio esse que invertia aquilo que conhecemos de Alemanha e Brasil: a seleção européia com a bola nos pés, trocando passes e atacando, enquanto o selecionado sul-americano respirava em esporádicos contra-ataques. A qualidade de jogadores como Lúcio, Thiago Silva e Ramires foram relevantes para, diante de cerca de 80% de tempo de posse de bola com os adversários, o Brasil ter conseguido resistir ao 0a0 até os 15 minutos do segundo tempo. A partir dali, o jogo passou a ter no placar uma maior afinidade com os acontecimentos internos às quatro linhas. Após mais uma boa troca de passes, a Alemanha entrou na área brasileira e lá ocorreu um choque entre Lúcio e Toni Kroos, em lance onde a interpretação de pênalti é altamente subjetiva. Para o húngaro Viktor Kassai, houve a penalidade. Para o ótimo Bastian Schweinsteger foi a oportunidade de abrir o placar, que ele aproveitou com uma cobrança bem realizada, no quadrante 11, estufando a rede e sacodindo uma câmera que estava posicionada ali por perto da trave direita.
Bastian Schweinsteiger convertendo o pênalti que abriu o placar em Stuttgart: com atuação fantástica, jogador participou diretamente dos 3 gols alemães no jogo.
Com 21 minutos, Schweinsteiger iniciou magistralmente a jogada que resultou no segundo gol da equipe da casa. Um gol com o "carimbo Joachim Löw de qualidade", isto é, através de toques rápidos e objetivos. O camisa 7 fez "1-2" com Miroslav Klose e serviu Mario Götze com primorosa enfiada de bola. O jovem de 19 anos, campeão alemão com o Borussia Dortmund na última temporada, driblou o goleiro Júlio César e mandou pra rede. 2a0 Alemanha, para agitação de flâmulas listradas horizontalmente em preto, vermelho e amarelo, que davam o colorido nacionalista em Stuttgart.
Quatro minutos depois, um carrinho do capitão alemão Philipp Lahm para desarmar Daniel Alves dentro da área foi interpretado equivocadamente como pênalti por Viktor Kassai. Depois de quatro cobranças desperdiçadas diante dos paraguaios, aquele que seria o quinto a cobrar naquela disputa em La Plata partiu pra bola e... fez o primeiro gol brasileiro: Robinho, mandando no canto direito.
Naquela altura, o Brasil já estava com PH Ganso no lugar de Fernandinho, jogador que apareceu mais cometendo faltas do que criando ocasiões de gol. Talvez inspirado pelo jogador escolhido como titular, uma das primeiras participações de Ganso deu-se com o meia cometendo falta dura, que resultou no primeiro e único cartão amarelo mostrado por Kassai na partida. Na marca de 34 minutos, André Santos, que não apoiava o ataque e nem neutralizava as jogadas ofensivas alemães pelo seu setor, errou na saída de bola e acabou desarmado limpamente por Schweinsteiger. E que beleza de jogador é esse meio-campista do Bayern de Munique: correto na proteção da defesa, eficaz no toque de bola, astuto nas finalizações e incansável no deslocamento, o versátil atleta de 27 anos não somente tirou a redonda de André como serviu caprichosamente o companheiro André Schürrle. A finalização do atacante de 20 anos foi muito bonita, indo parar no ângulo direito.
Se Mano já havia trocado Alexandre Pato por Fred cerca de três minutos antes de levar o terceiro gol alemão, após o 3a1 o treinador trouxe a campo dois jogadores que atuam em campos alemães: entraram o estreante Luiz Gustavo (companheiro de Schweinsteiger no Bayern) e Renato Augusto (que joga com Schürrle no Leverkusen) e saíram André Santos (tomara que para nunca mais retornar) e Robinho (um dos melhores brasileiros em campo, atuando como meia-de-ligação).
Nos acréscimos, Neymar recebeu na proximidade da área, Fred o acompanhou atraindo a marcação, e o santista resolveu o lance sozinho, finalizando rasteiro no canto direito e diminuindo a derrota para 3a2. Entre amistosos com as seleções uruguaia (2a1) e brasileira (3a2), e partidas pelas eliminatórias para a Eurocopa 2012 com Áustria (2a1) e Azerbaijão (3a1), esta foi a quarta vitória consecutiva de uma Alemanha que tem tudo para ser uma das sensações nos torneios vindouros. Com bons resultados desde 2002 e bom futebol desde que Löw assumiu após a Copa 2006, os tricampeões mundiais têm todo o direito de sonhar com uma quarta estrela na camisa no Mundial a ser disputado no Brasil: renovada, rápida, entrosada e envolvente, a Alemanha de Löw está hoje entre os times que mais gosto de ver atuar. Enquanto isso, o Brasil de Mano - que venceu somente o Equador em quatro jogos de Copa América - soma mais uma derrota em partidas com os ditos "adversários top": perdeu para a Argentina em campo neutro (1a0), para a França fora de casa (1a0), empatou em casa com a Holanda (0a0) e, se por um lado conseguiu marcar gols na Alemanha, tomou 3 e conheceu mais um revés.
Ninguém em sã consciência pediria pelo retorno de Dunga (pelo menos espero que não). Mas, analisando jogo a jogo, escalação a escalação, convocação a convocação, estimo que a passagem de Mano Menezes não esteja nada satisfatória. E a julgar pelo que venho vendo dele na seleção, não vislumbro grandes horizontes no caso de sua permanência no comando técnico canarinho.
Mano Menezes esbraveja enquanto Joachim Löw observa: trabalho do brasileiro vem sendo cada vez mais colocado em dúvida enquanto o futebol arte agradece os serviços prestados pelo alemão.
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