sábado, 7 de abril de 2012

Campeonato Estadual Fluminense: Aspectos Positivos E Negativos De Uma Fórmula Polêmica

Os primeiros meses do ano no calendário futebolístico brasileiro são reservados basicamente a três competições: a Copa Libertadores da América (de dimensão continental, organizada pela CONMEBOL e com seis clubes brasileiros na disputa), a Copa do Brasil (de dimensão nacional, organizada pela CBF e iniciada com 64 clubes) e os Campeonatos Estaduais (organizados por cada federação e abrangendo somente time nos limites da respectiva fronteira estadual). Neste tópico iremos lançar um olhar sobre o Campeonato Estadual disputado no Rio de Janeiro, que nos últimos anos vem repetindo a fórmula de disputa em dois turnos. O objetivo não é exaltar nem desmerecer a competição e seu formato, mas buscar um entendimento do modelo vigente para que possamos concluir se dá ou não para ser melhorado para as próximas temporadas.

A fórmula

Com dezesseis clubes integrantes, o Campeonato Estadual Fluminense conta com dois grupos, cada um com oito clubes, não podendo ter nem mais nem menos do que dois "grandes" em cada chave - em 2012 ficaram Botafogo e Flamengo no grupo A; Fluminense e Vasco no grupo B.

No primeiro turno (Taça Guanabara), cada equipe enfrenta os sete outros times de seu mesmo grupo (ou seja, há dois clássicos: Botafogo e Flamengo, e Fluminense e Vasco). As duas equipes que mais pontuarem, avançam para a fase semifinal. As vencedoras na fase semifinal jogam a final - sempre em jogo único, com desempate em disputa por pênaltis em caso de igualdade no tempo regulamentar.

No segundo turno (Taça Rio), cada equipe enfrente os times situados no outro grupo, isto é, em vez de sete rodadas há aqui oito jornadas para a conclusão da fase que antecede os jogos eliminatórios. Os clássicos passam a ser, no exemplo de 2012, Botafogo e Fluminense, Botafogo e Vasco, Flamengo e Fluminense, e Flamengo e Vasco. Copiando e colando o que ocorre no primeiro turno:  as duas equipes que mais pontuarem, avançam para a fase semifinal. As vencedoras na fase semifinal jogam a final - sempre em jogo único, com desempate em disputa por pênaltis em caso de igualdade no tempo regulamentar.

Se o time campeão na Taça Guanabara faturar também a Taça Rio, este é campeão estadual. Se os campeões de um turno e de outro forem clubes distintos, fazem-se dois novos jogos entre eles e o time que marcar mais gols é o campeão estadual (havendo igualdade na soma dos gols, desempate em disputa por pênaltis).

Ademais, os dois times com menor pontuação na soma dos quinze jogos não-eliminatórios (sete no primeiro turno e oito no segundo turno), são despromovidos para a Série B estadual.

Analisando

A fórmula de dois turnos no modelo atual vem sendo dominada pelos quatro "grandes", que constantemente integram as vagas na fase semifinal jogando entre si. As fases semifinal e final costumam reservar grandes emoções, muitas das vezes sendo definidas em disputa por penalidades máximas. Quando tem início o segundo turno, ocorre o que considero uma aberração na disputa pelas quatro vagas nas semifinais (duas de cada grupo): um time tem a possibilidade matemática de se classificar com oito derrotas enquanto outro time tem a possibilidade matemática de ser eliminado com oito vitórias em oito jogos.

Atualmente, estamos com seis rodadas disputadas, ou seja, faltando duas para a definição das semifinais na Taça Rio 2012. O líder no grupo B é o Vasco, com onze pontos ganhos. Essa pontuação do Vasco o colocaria apenas na quinta colocação no grupo A. Por outro lado, o Flamengo, líder no grupo A com quinze pontos, ainda pode ser ultrapassado por Botafogo, Macaé e Resende, isto é, não está matematicamente classificado. Se estivesse no grupo B com uma campanha rigorosamente igual a atual, não somente seria líder como já estaria garantido na semifinal independentemente dos resultados nas duas últimas rodadas.

Nova Iguaçu e Madureira, com sete pontos ganhos e nas respectivas 6ª e 7ª colocações no grupo A, estão fora da disputa por vaga na semifinal (o atual 2º colocado, o Botafogo, tem catorze pontos e não pode ser alcançado nem pelo Laranja da Baixada nem pelo Tricolor Suburbano). Já o Boavista, lanterna no grupo B com três pontos, ainda tem possibilidade matemática de classificação para a semifinal. É evidente que ninguém em sã consciência apostaria nessa hipótese, mas o simples fato de essa situação se oferecer, mostra que alguma coisa está fora de ordem no modo de disputa da competição.

Um outro caso curioso é o do Bangu. Depois de campanha pífia na Taça Guanabara, quando perdeu todos os sete jogos disputados, o Alvirrubro da Zona Oeste é atualmente vice-líder no grupo B na Taça Rio (ou seja, está na zona de classificação para a fase semifinal). Isso por si só não deixa de ser uma coisa interessante, mas tenhamos atenção no que poderia ocorrer com o Bangu: com nove pontos na soma dos dois turnos, o time está ameaçado pelo rebaixamento, ao mesmo tempo em que tem a possibilidade - e por que não? - de ser campeão estadual esse ano. Quer dizer, no mecanismo em vigor no Campeonato Estadual no Rio de Janeiro, poderíamos ter um clube campeão sendo rebaixado para a segunda divisão. Em que outro lugar do mundo admite-se algo dessa natureza? Sinceramente, acho que precisamos rever o calendário brasileiro com urgência. Isso inclui jogos realizados sob o sol no verão com sensações térmicas passando dos quarenta graus centígrados, isso inclui partidas tarde da noite para atender interesses de emissoras de televisão, e, no caso do Campeonato Estadual Fluminense, isso inclui também o modelo de disputa.

A sugestão que faço por ora é encontrarmos uma maneira de colocar os quatro "grandes" com o torneio já em andamento, o que diminuiria a carga de jogos desses times e daria aos demais clubes maiores possibilidades de chegar numa fase eliminatória na competição. Pretendo esquematizar algo com mais pormenores e postar neste blógui, mas a princípio acho relevante deixar bem claro que sou contra o modelo de pontos corridos nos estaduais (aprovo essa disputa para os Campeonatos Brasileiros em todas as suas séries). E que o formato do Estadual no Rio de Janeiro, sobretudo no que tange essa fase na Taça Rio, precisa ser revisto.

Abraços.

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