Sou um grande apreciador dos trabalhos de Marcelo "El Loco" Bielsa, técnico argentino que está a frente do Athletic nessa temporada. E o que Bielsa vem desenvolvendo no país basco é, mais uma vez na carreira desse estrategista, digno de elogios. Seu sistema de jogo funcionou bem e o Bilbao conseguiu ser superior ao adversário. Um bravo adversário, que ajudou a nivelar por cima o confronto semifinal continental.
Apesar da eficácia do rendimento coletivo da equipe da casa, não há como falar da classificação do time sem rasgar elogios a Fernando Llorente. Não vou aqui me limitar a dizer que Llorente foi o melhor em campo. Vou além: vou dizer com todas as letras que o camisa nove basco teve uma atuação digna dos grandes centroavantes da história do futebol. Por sua presença marcante no campo de ataque, que mostrava o grande senso de posicionamento desse jogador de vinte e sete anos de idade. Pela sua sapiência e objetividade para dar ao objeto esférico um destino adequado para que ocorra a melhor jogada possível para sua equipe. Pelo seu poder de finalização avassalador, sem precisar nem de muito tempo nem de muito espaço para concluir. E por sua entrega, pela sua emoção, pela sua comunhão com o clube que veste o uniforme e com a torcida, que foi um espetáculo à parte no confronto. Aliás, o "papel" da torcida no San Mamés foi muito bem analisado por Marcelo Bielsa, que declarou ter sido o público fundamental no jogo porque "criou responsabilidades aos jogadores no sentido de não decepcionar os adeptos". E não houve decepção. Houve, isto sim, manifestação de um futebol de alto nível. De um autêntico finalista europeu. De um time que dá gosto de ver jogar. De um time com a cara e a alma de Bielsa.
Na construção do placar de 3a1 (o jogo de ida terminou com vitória portuguesa por 2a1), o Athletic soube variar suas jogadas pelos flancos do campo e, ocasionalmente, também pela zona central. Mostrou uma grande disciplina tática sobretudo no momento de recuperar a posse de bola, encurtando o espaço do jogador que detinha o controle da redonda consigo. O primeiro gol saiu aos dezesseis minutos, em jogada que teve origem numa dividida dura ganha por Andoni Iraola, a meu ver com falta sobre Stijn Schaars. Só que a jogada seguiu, Iraola passou para Iker Muniain e este cruzou para Fernando Llorente. Inteligente e ligeiro, Llorente fez com louvor o papel de pivô, amortecendo a bola com o peito e servindo Markel Susaeta, que também mostrou astúcia ao finalizar de primeira, ao chão, dificultando o trabalho do goleiro Rui Patrício e estufando a rede no canto esquerdo.
A bravura do Sporting, que mostrava competência principalmente nos remates de fora da área (até porque não era missão simples penetrar na defesa basca), rendeu o gol de empate aos visitantes na marca de quarenta e três minutos. Em jogada de bate-rebate, André Martins chutou de longe, a bola bateu em Xandão e ficou sob medida para Ricky van Wolfswinkel, que com a perna esquerda tratou de, também de primeira, mandar a bola no canto esquerdo de Gorka Iraizoz.
Mas o Athletic de Bielsa é forte demais para se deixar abater e o time tratou de retomar a frente no placar ainda no primeiro tempo: aos quarenta e cinco minutos, uma jogada muito bem trabalhada no ataque mostrou o quão eficaz é uma equipe bem treinada e bem aplicada. Ander Herrera passou rasteiro, Iraola fez o corta-luz e a bola chegou em Llorente. E quando a bola chega em Llorente, alguma coisa boa acontece. Naquele momento aconteceu algo mágico: com um controle de bola desconcertante e um passe preciso, o camisa nove deixou a marcação de João Pereira no chão e serviu Ibai Gómez, que ajeitou e concluiu no contrapé de Rui Patrício, que ainda tocou na bola. 2a1 Bilbao, placar que levaria a partida para a prorrogação.
O Bilbao era melhor em campo e fazia um bom segundo tempo. A torcida, espetacular, vibrava nas arquibancadas de maneira contagiante. Mas o futebol é um esporte muitas das vezes duro com aqueles que parecem atuar melhor (vide a eliminação do Barcelona para o Chelsea, dois dias atrás) e um gol do Sporting poderia sacramentar a eliminação de um time brilhante. Só que os deuses do futebol tinham algo de mais belo reservado ao Athletic, que havia colocado uma bola na trave direita em jogada aérea. E, aos quarenta e dois minutos, Ibai Gómez recebeu a bola pela esquerda e tratou de retribuir o presente recebido por Llorente no final do primeiro tempo. Tudo bem que o passe dado por Ibai não tenha saído com a mesma qualidade que aquele ofertado por Fernando. Nem precisava. Afinal, a redonda encontrou alguém que sabia muito bem como lidar com ela. Encontrou o nome do jogo. Encontrou Fernando Llorente, que mesmo bem marcado, conseguiu direcionar o objeto esférico para o objetivo máximo do futebol, fazendo desabar o goleiro Rui Patrício (ou guarda-redes, se preferir).
Llorente, emocionado, vibrou muito com o gol. Aliás, vou pedir licença e encerrar esse artigo com as palavras dele após o jogo.
Outro resultado"Foi um gol dos sonhos, não posso pedir mais. Isso é histórico, faz 35 anos da final da Uefa. Foi incrível poder desfrutar desses momentos. Não posso expressar a felicidade que tenho agora. Quando passar o tempo nos daremos conta do que fizemos"
Valencia 0a1 Atlético de Madrid (2a5 na soma dos resultados)
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