Não sou a figura mais recomendada para dizer se esse título em 2011 é merecido ou não (na campanha uruguaia, havia assistido somente os minutos finais nas quartas-de-final diante dos argentinos, a partir dos 42 minutos do segundo tempo aproximadamente) mas a julgar pelo que foi apresentado no jogo derradeiro, a Celeste tinha mais é que levantar esse troféu: vi em campo um Paraguai irreconhecível, longe de um time que fez grandes partidas nos dois primeiros jogos do torneio (empates com Equador e Brasil) tanto na escalação como na maneira de atuar. Espero que o treinador argentino Gerardo Martino tenha aprendido alguma lição com essa derrota.
O jogo
O estádio Monumental de Núñez, palco que sediou uma selvageria na recente despromoção do River Plate para a segunda divisão nacional, recebeu grande público na tarde desse domingo, vinte e quatro de julho de dois mil e onze. Pelo visual das arquibancadas, daria facilmente para dizer que a partida estava ocorrendo no estádio Centenário em Montevidéu, tamanha a supremacia de uruguaios dentro e fora das quatro linhas.
Muito dessa supremacia se deve ao talento da dupla Diego Forlán e Luis Suárez, mas se a partida caminhou para um desequilíbrio flagrante, isso se deve também às escolhas dos treinadores Oscar Tabárez e Gerardo Martino. Enquanto o primeiro deu seqüência a uma maneira de jogar semelhante à apresentada na Copa do Mundo, em 2010, o segundo parece ter aberto mão de suas convicções táticas e preparou um time recheado de volantes no meio-campo, isolando o competente Haedo Valdéz e simplesmente impedindo o desenvolvimento do jogo paraguaio, que sequer tinha saída pelos flancos do campo (Marcelo Estigarribia na condição de reserva foi algo que fugiu de qualquer compreensão).
A pressão celeste começou cedo, com o goleiro Justo Villar trabalhando bem para impedir que um cabeceio de Forlán inaugurasse o placar - na seqüência, quem "fez a defesa" foi Néstor Ortigoza, em lance passível de marcação de pênalti (mas concordo com a interpretação de não ter havido intenção do paraguaio em levar as mãos à bola). No 12º minuto, Suárez recolheu a redonda pela direita, fintou Darío Verón, chutou, a bola desviou no próprio Verón - que apesar da grande habilidade de "Luisito" conseguiu manter-se firme no lance - e tocou na trave direita antes de entrar no gol. 1a0 Uruguai e festa em Núñez.
Luis Suárez age rápido após recolher a bola e solta o chute, que desviaria em Verón e tocaria na trave antes de entrar: assim era aberto o placar no estádio Monumental de Núñez.
Pouco depois disso, a partida passou a ter como protagonista o árbitro brasileiro Sálvio Spínola Fagundes Filho, que teve bastante trabalho no aspecto disciplinar. Apesar de terem sido relativamente poucas as faltas cometidas, a maioria delas estava carregada de força excessiva e colocava em risco a integridade física dos atletas. O baiano de 41 anos de idade optou por mostrar cartão amarelo para o paraguaio Víctor Cáceres e para os uruguaios Diego Pérez, Martín Cáceres e Maximiliano Pereira num intervalo de treze minutos (entre os 16 e os 29) e a bem da verdade poderia ter expulsado pelo menos dois jogadores nesse mesmo período.No meio de tanto meio-campista focado na marcação e abusando da violência, quem circulava pelo gramado de forma diferente dos demais companheiros era Arévalo Ríos: sem distribuir um único pontapé (não recordo de vê-lo cometer uma falta sequer) e participando do jogo com a simplicidade de quem busca levar a bola para o companheiro em melhores condições de recebê-la, o camisa 17 era o ponto de equilíbrio da equipe. E, aos 41 minutos, participou ativamente do 2º gol uruguaio: após recuperar a posse de bola, Arévalo viu Forlán livre à sua esquerda, rolou para o camisa 10 e este encerrou o jejum de gols com a camisa celeste chutando com a canhota no contrapé de Villar.
A inoperância paraguaia persistiu por toda a primeira etapa e se arrastou até por volta dos vinte minutos do segundo tempo, quando finalmente Martino resolveu mudar as coisas. Quer dizer, Martino mudou as coisas antes mesmo de a bola rolar, escolhendo escalar um time mais defensivo, menos hábil, menos veloz, menos criativo e, com isso tudo, facilitando a vida para o uruguaios. Com as entradas de Estigarribia e Hernán Pérez nos lugares de Cáceres e Enrique Vera, o Paraguai subiu de produção: agora passava a ter maiores recursos no uso da posse de bola, conseguindo envolver a defesa adversária pelos dois lados do campo.
Doze minutos depois daquelas substituições, veio a última de Martino: Pablo Zeballos por Lucas Barrios. Barrios, argentino de nascimento, é um dos maiores talentos da atual geração paraguaia. Não ficou muito tempo em campo pois precisou sair, contunidido, provavelmente em função de alguma complicação previamente conhecida e que justificava a sua escalação como suplente. Com um homem a menos no gramado, o Paraguai já não tinha muito o que fazer e, aos 44 minutos, assistiu mais um pouco do show uruguaio: em contra-ataque avassalador, Álvaro Gonález chapelou um adversário, passou para Edinson Cavani (que entrou no segundo tempo no lugar de Álvaro Pereira, retornando de uma contusão ocorrida na estréia) e este, de primeira, acionou Suárez com linda inversão para a direita. Também com um único toque, "Luisito" usou a cabeça para deixar que Forlán concluísse a jogada. E ela foi concluída com uma finalização sutil, levando a bola para o canto esquerdo e decretando o 3a0 triunfal.
Com categoria, Diego Forlán toca tirando de Justo Villar: Uruguai marca 3a0 e chega ao 15º título na história das Copas América.
A mística da camisa celeste, o trabalho sério de Tabárez e o talento nato de Forlán e Suárez talvez tenham sido o tripé da vitória uruguaia em Buenos Aires. Pelo lado dos comandados de Martino, uma atuação "made in Paraguay" no sentido mais esdrúxulo do termo, pois a "Albirroja" que foi a campo para essa decisão passou longe do time qualificado que iniciou a competição.
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