Vai terminando o Campeonato Italiano e iniciando o Brasileiro. O Jogada de (E)feito acompanhou o Calcio nessa temporada e também pretende seguir de perto os acontecimentos na Série A nacional. Mas o presente tópico não busca fazer uma abordagem resumindo o que aconteceu nessa temporada na Itália nem tampouco traçar expectativas para o que pode ocorrer até dezembro por essas terras tropicais. Vamos, isto sim, nos utilizar de dois personagens vencedores nas ligas domésticas desses que são os dois países mais vezes campeões de Copas do Mundo.
Massimiliano Allegri assumiu o Milan nessa temporada após uma passagem pelo Cagliari (passagem essa que não posso dar pormenores, pois não assisti um único jogo da equipe quando comandada por Allegri). O saldo de sua temporada inaugural em Milão inclui um "scudetto", uma presença na fase semifinal na Copa da Itália e uma presença na fase oitavas-de-final na Liga dos Campeões da Europa.
Muricy Ramalho, atualmente no Santos, começou o ano de 2011 no Fluminense (onde foi campeão nacional em 2010) e abandonou a equipe alegando "problemas estruturais", que vieram à tona quando o Tricolor das Laranjeiras vinha mal das pernas tanto no Campeonato Estadual do Rio de Janeiro quanto na Copa Libertadores da América.
Mais do que terem nomes iniciados pela mesma letra, Massimiliano e Muricy têm em comum um certo gosto (o qual não compartilho) por montar equipes de caráter defensivo, com enfoque na marcação em detrimento de jogadas mais elaboradas quando com a posse de bola. Foi com um futebol burocrático e feio para os olhos de quem vê que o Milan faturou o título italiano. Algo não muito diferente das conquistas de Muricy Ramalho, que nesse ano corre atrás de seu 5º título nacional e de uma inédita conquista continental (o Santos está na fase semifinal).
Muitos poderiam argumentar que, se as conquistas aparecem, então é sinal de que o trabalho está sendo bem feito. Creio que não seja esse o ponto para discussão, até porque não há muito o que discordar naquela premissa. A questão é: se há um material humano de qualidade em mãos, por que não fazer o time jogar de forma bonita e envolvente para buscar as vitórias e os conseqüentes títulos?
O Milan sofreu com baixas de jogadores ao longo do ano (Filippo Inzaghi e Andrea Pirlo perderam praticamente toda a temporada lesionados, Alexandre Pato saía e retornava ao Departamento Médico, Zlatan Ibrahimovic era mais réu de tribunal do que jogador de futebol etc e tal). Mas digo aqui de forma convicta que era perfeitamente possível formar um time atraente com o elenco à disposição do treinador. Aliás, como em muitos momentos a equipe não podia contar com dois de seus atacantes, como explicar o fato de Antonio Cassano ser reserva num time onde jogavam Gennaro Gattuso, Massimo Ambrosini, Mathieu Flamini e Kevin-Prince Boateng? E se o Milan fizesse 1a0 num adversário mais fraco, Allegri logo se agitava para aumentar a marcação e a proteção à defesa. Defesa essa que conta com uma das duplas mais respeitáveis do mundo - Alessandro Nesta e Thiago Silva!
Muricy não fica muito atrás (no sentido de compará-lo com Massimiliano, pois os times de Muricy costumam ficar de fato muito atrás, com o perdão do trocadilho). Na Copa Libertadores da América, o Fluminense estreou dentro de casa diante do Argentinos Juniors. Empatando o jogo em 2a2 sem apresentar um bom futebol, era natural que o treinador fosse buscar alternativas para vencer a partida onde era mandante. Mas então, como explicar que na proximidade do final do jogo foi realizada uma alteração tirando o meia Souza para colocar o volante Valência? Medo de perder para um time que se limitava a sair para o jogo em esporádicos contra-ataques? Falta de opções não era, pois havia um atacante recém-contratado sentado no banco de reservas!
Estimados leitores, o convite que vos faço é claro e objetivo: não se iludam com resultados. Não é porque fulano é campeão disso ou daquilo que é necessariamente "bom técnico". Pode ser competente naquilo que se propõe a fazer, e isso é outro ponto. Mas o "bom técnico" costuma aparecer quando a equipe mais precisa, como por exemplo quando o time tem a opção de dilatar a vantagem no placar optando pela entrada de um jogador mais criativo, explorando os espaços que tendem a aparecer. Ou quando aquele jogo dentro de casa está empatado, o final se aproxima e o time tem o direito de realizar mais uma substituição.
Não serei insano de dizer que o Santos de Muricy e o Milan de Allegri não irão almejar títulos. De forma alguma, sobretudo analisando a força do plantel dessas equipes. Mas olhando exclusivamente para a mentalidade de seus treinadores, diria sem pestanejar que a melhor coisa para os elencos desses dois tradicionais clubes do futebol mundial seria procurar alguém que tivesse mais a ver com a rica história dessas instituições privilegiadas por um dia já terem contado com Pelé e van Basten, hoje contando com Neymar e Seedorf. Ou, de repente, seria melhor para Neymar e Seedorf procurar um lugar mais compatível com as suas aptidões técnicas e o pleno desenvolvimento de suas capacidades, independentemente de estarem iniciando ou finalizando a carreira. Creio que Santos e Milan sairiam perdendo.
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