Fiel a um estilo de jogo encantador, o Barcelona não se limitou a administrar a boa vantagem obtida no jogo de ida: trocou passes mirando o ataque, foi pra cima e deixou o Camp Nou sob os aplausos e euforia da massa, que comemora mais uma presença numa final continental.
O jogo
Percebendo o óbvio de que não seria com a mesma mentalidade vista no estádio Santiago Bernabéu que o Real Madrid conseguiria reverter a situação no estádio Camp Nou, o treinador português José Mourinho - que cumpriu suspensão e não pôde acompanhar o jogo do banco de suplentes - voltou a utilizar a formação 4-5-1, com 3 meias de ligação (incluindo o brasileiro Kaká), abandonando o derrotado esquema com 3 volantes. Já Josep Guardiola manteve a equipe com a postura que vai marcando época nos gramados europeus e mundiais, contando com o retorno de Andrés Iniesta entre os titulares.
O Real Madrid começou a partida em ritmo acelerado, marcando presença no campo ofensivo com ou sem a bola. Era algo que dificultava a troca de passes dos barcelonistas, mas que aos poucos foi sendo superado com o talento individual e o poderoso jogo coletivo dos comandados de Guardiola. Aos 12 minutos, começaria a aparecer a figura do árbitro belga Frank De Bleeckere (o mesmo que apitou, dia 28.04.2010, a partida em que o Barcelona venceu a Internazionale por 1a0 exatamente num jogo de volta pela Liga dos Campeões da Europa, classificando o então time de José Mourinho): o zagueiro português Ricardo Carvalho foi ao pé do argentino Lionel Messi e o derrubou faltosamente. Cartão amarelo e protestos do português, que em seu idioma natal exclamou: "primeira!". Realmente, foi a primeira de muitas faltas grosseiras desferidas por madridistas em barcelonistas e sabe Deus como o time merengue conseguiu sair de campo com o mesmo número de jogadores que entrou.
A primeira chance clara de gol aconteceu aos 22 minutos e deu-se em lance de bola parada: Lionel Messi cobrou escanteio e a defesa do Real permitiu a liberdade de Sergio Busquets, que usou seus 189cm de altura para cabecear no alto, mas logo onde estava o ótimo goleiro Iker Casillas, que defendeu. Apesar da boa atuação do francês Lassana Diarra, era dificílimo para o time do Real Madrid parar o Barcelona sem cometer faltas. E, num intervalo de 4 minutos, o Barça ficou 3 vezes próximo de abrir o placar. A primeira foi aos 31 minutos, com Messi arrancando em jogada individual e chutando colocado para defesa em dois tempos de Casillas, que precisou saltar para evitar que a bola entrasse no canto direito. No minuto seguinte, Messi recebeu do brasileiro Daniel Alves na meia-lua dominando no peito, deixou a marcação na saudade dando um drible curto cortando para a esquerda e chutou cruzado, mas para fora. Ainda teve uma bola passada de David Villa para Pedro Rodríguez, que finalizou com novo chute para fora.
Melhor no jogo e mais à vontade do que nos minutos iniciais, o Barça só não abriu o placar aos 39 minutos porque Casillas não quis: Messi soltou um chute cruzado com força e Casillas esticou-se, colocando a luva esquerda no percurso da bola e evitando o gol do craque. No minuto posterior, o Real Madrid teve sua principal oportunidade em contra-ataque: o português Cristiano Ronaldo correu pela direita e cruzou rasteiro procurando o argentino Ángel Di María, mas quem ficou com a bola foi o goleiro Victor Valdéz, que mergulhou até a proximidade da marca do pênalti, mostrando excelente tempo de bola e grande atenção no jogo.
Com 1 minuto no segundo tempo a bola já estaria na rede após chute do argentino Gonzalo Higuaín. Mas, antes que o atacante alcançasse a bola, Cristiano Ronaldo atirou-se no gramado provavelmente simulando falta e acabou ele próprio cometendo uma, pois derrubou o argentino Javier Mascherano, o homem que estava na marcação de seu compatriota. Fica a dúvida: Mascherano iria impedir a finalização de Higuaín? Acredito que sim, mas independentemente disso, Cristiano arruinou uma chance de gol ao jogar-se no gramado molhado.
Aos 9 minutos, bola na rede e, dessa vez, placar inaugurado: Iniesta deu enfiada de bola primorosa, Villa deixou ela passar e Pedro recebeu em total liberdade. Foi dominar e chutar no canto esquerdo. 1a0 e muita festa no já festivo Camp Nou.
Quem foi dar a saída de bola pelo Real Madrid foi o togolês Emmanuel Adebayor, colocado em campo no lugar de Higuaín - como se fosse proibido usar dois atacantes num mesmo time. A troca seguinte da equipe foi novamente no estilo "seis por meia dúzia": Kaká pelo alemão Mesut Özil. Mesmo assim, o Real foi empatar aos 19 minutos: Di María recebeu na esquerda, chutou com muita força e a bola carimbou a trave direita. O rebote veio para o próprio Di María, que dominou e teve a frieza de rolar de lado para o brasileiro Marcelo completar pra dentro. 1a1, com direito aos gritos de "vamos!" por parte do lateral-esquerdo, que rapidamente colocou a bola no meio-campo.
Aos 29 minutos, Guardiola mexeu pela primeira vez: entrou o malinês Seydou Keita no lugar de Villa, dando ao time maior presença no meio-campo. Carrinho de Marcelo em Messi, agressões horrendas de Adebayor em Messi e também em Gerard Piqué, além de novas entradas de Ricardo Carvalho foram algumas das infrações madridistas que saíram barato - para não dizer de graça. Entre um pontapé e outro, o Barcelona tinha domínio territorial, técnico e tático da partida, para delírio da massa de mais de 90.000 "blaugranas" nas arquibancadas (total de 95.701 presentes). E o ápice da festa no Camp Nou aconteceu aos 45 minutos do segundo tempo (o blogueiro ficou arrepiado e emocionado com a cena): Carles Puyol, figura que encarna o barcelonismo, deixou o campo aplaudido efusivamente para dar lugar ao francês Eric Abidal, que marcou retorno aos gramados após retirar um tumor no fígado. Momento histórico para o esporte mundial e de muita emoção na Catalunha.
Eric Abidal entra em campo substituindo Carles Puyol aos 45 minutos do segundo tempo: um momento para ser eternizado.
Soou o apito final e com ele o anúncio de que o Barça estará em Wembley para decidir o título da Liga dos Campeões da Europa. Nessa quarta-feira, tudo o que Schalke 04 e Manchester United quererão é também jogar essa final. Mas, após a classificação de um desses times, pode começar a contagem regressiva para o pesadelo de medir forças com a maior equipe da atualidade.
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