Dois jejuns de títulos estavam em jogo na final da Copa da Liga Inglesa desse ano. O último título relevante do Birmingham havia acontecido 48 anos atrás, quando conquistava essa mesma competição pela primeira vez. O Arsenal, que não levanta troféus há 6 anos - pela grandeza do clube um jejum de drama similar ao do adversário - tratava a "Carling Cup" com grande respeito, levando a força máxima disponível para o duelo pelo caneco. E num lance infeliz do zagueiro francês Laurent Koscielny aos 43 minutos do segundo tempo, a metade azul presente ao estádio de Wembley celebrou euforicamente o gol marcado pelo nigeriano Obafemi "Oba-Oba" Martins, desempatando a partida e dando uma grande alegria aos torcedores que, na "Premiership", disputam ponto a ponto a fuga do rebaixamento. Ao Arsenal, há ainda 3 competições em disputa. E a torcida espera sorrir no desfecho de pelo menos uma delas.
O jogo
Como cheguei em frente ao televisor com 8 minutos de partida (pouco depois de Andrey Arshavin receber de Samir Nasri e chutar rasteiro para grande defesa de Ben Foster), não vi o que aconteceu no início do jogo, mas um amigo relatou-me que o Birmingham fora injustiçado, pois teria um pênalti para cobrar em lance onde ocorreu errônea marcação de impedimento.
A partida seguiu, e aos 13 minutos Nasri escapou de 3 adversários pela direita (Keith Fahey, Liam Ridgewell e Roger Johnson) mas chutou por cima da meta. Embora houvesse uma lacuna de novas oportunidades de gol nos 14 minutos seguintes, o jogo era interessante. A melhor posse de bola do Arsenal não era suficiente para afunilar o valente time comandado por Alex McLeish, que contava com a boa atuação de Jiranek na defesa e bastante movimentação no campo de ataque.
Aos 27 minutos, um escanteio cobrado pelo lado direito viajou até a entrada da grande área e de lá saiu um cabeceio de Johnson, indicando que tratava-se de uma jogada previamente ensaiada. E o ensaio deu resultado prático: a bola chegou no grandalhão atacante sérvio Nikola Zigic, que desviou de cabeça tirando o goleiro polonês Szczesny de ação. 1a0 Birmingham em Wembley.
No minuto seguinte ao gol sofrido, um cabeceio de Robin van Persie após cruzamento de Bacary Sagna quase reestabeleceu o empate. Aos 33 minutos, Zigic chegou em sobra de bola de um lance onde Gardner encarava a marcação de Djourou e, livre, não foi capaz de superar o bloqueio do goleiro Wojciech Szczesny, que posicionou-se bem para fechar o ângulo do sérvio.
Aos 38 minutos, Jack Wilshere chutou da meia-lua e carimbou o travessão oponente. Ali estava iniciada a jogada do gol de empate: a bola chegou em Arshavin na direita, o russo escapou da marcação de Ridgewell em jogada individual, cruzou à meia-altura e van Persie emendou com a perna direita para mandar no canto direito. Naquele momento haviam, dentro da grande área, 8 jogadores do Birmingham (além do goleiro Foster) e apenas 3 do Arsenal (os autores do passe e do gol, e também o tcheco Tomas Rosicky), o que aumenta os méritos da trama entre Arshavin e van Persie. O holandês, por sinal, sentiu dores na perna imediatamente após a definição do lance, quando chocou-se com um adversário. Embora sem muitas forças para comemorar o bonito gol, não foi preciso que Nicklas Bendtner o substituísse, pois logo depois o camisa 10 sentiu-se melhor e seguiu jogando.
Os times foram para o intervalo e dele retornaram com os mesmos 11 jogadores de cada lado. A primeira substituição da partida aconteceria aos 5 minutos, quando Craig Gardner daria lugar para o chileno Jean Beausejour. E Beausejour, 6 minutos depois de entrar, ganhou disputa com Johan Djourou e Alexandre Song, rolou de lado com Fahey, que chutou duas vezes - a primeira carimbando o companheiro Nikola Zigic e a segunda carimbando a trave direita (considerando a estatura de Zigic, digamos que Fahey acertou duas traves em seqüência).
Com 16 minutos, Beausejour aprontou mais uma vez quando escapou de Song pela esquerda e centralizou o lance, mas Szczesny tratou de segurar a bola antes que ela pudesse chegar em *4*. Se logo depois do gol do Arsenal Bendtner aquecia na expectativa de entrar no lugar de van Persie, aos 24 minutos do segundo tempo aquela substituição veio a se concretizar e o dinamarquês entrou em campo no lugar do holandês. Não sei se por eficiência da mexida de Arsène Wenger ou se por mera coincidência, o Arsenal passou a dominar a partida após essa alteração, freqüentando o campo de ataque de forma incisiva e fazendo lembrar alguns dos bons momentos da equipe na temporada.
Na marca de 25 minutos, Ben Foster foi ao canto direito defender chute rasteiro dado por Nasri. Aos 29, Rosicky ligou contra-ataque com Nasri na direita, o francês avançou, chutou firme e a bola explodiu em Foster, batendo inclusive no rosto do goleiro. Com 30 minutos, Arshavin recebeu pela esquerda, gingou e chutou: a bola desviou na marcação e Foster, mesmo assim, conseguiu defender ao esticar o braço direito.
A segunda mexida de Wenger ocorreu aos 32 minutos, com o atacante marroquino Marouane Chamakh entrando no lugar de Arshavin. O russo vinha tendo boa participação na partida: além da assistência para o gol, seus deslocamentos por ambos os lados do campo conseguiam de uma certa forma abrir espaços na defesa adversária. Não entendi muito bem a opção por tirá-lo de campo, menos ainda a escolha de colocar Chamakh, mas parece que Wenger curte atuar com ele e Bendtner juntos. De toda forma, um minuto depois de entrar, Chamakh levou a melhor em disputa de bola com Jiranek na esquerda de ataque, desarmou o defensor, centralizou o lance e Foster bloqueou o toque de calcanhar dado por Rosicky.
Tomando pressão, McLeish buscava alguma solução para reverter aquele cenário aparentemente vantajoso ao Arsenal. E agiu aos 37 minutos, pondo o veloz atacante nigeriano Obafemi Martins no lugar de Fahey. Algo até certo ponto surpreendente, pois o treinador não abriu mão de Nikola Zigic, o que se apresentaria como alteração "mais natural". E, conforme lido no parágrafo inicial desse texto, aos 43 minutos viria o gol de Martins: Foster lançou do campo de defesa, a bola viajou e chegou na área, numa zona onde o Arsenal tinha aparente controle da situação. Acontece que Koscielny não foi nada feliz e, com uma simples resvalada na bola, traiu Szczesny e a redonda sobrou para Martins empurrar para dentro, como se ele estivesse predestinado a marcar o gol do título. A comemoração acrobática do nigeriano e a alcunha "Oba-Oba" talvez nunca tenham combinado tanto com aquele contexto.
Com 46 minutos, Jerome entrou no lugar de Zigic e desempenhou muito bem a tarefa de manter a bola sob domínio no campo de ataque. Tanto foi assim que a última chance de gol da partida foi do Birmingham: aos 48 minutos, Martins passou por Djourou, driblou Szczesny, mas antes que o atacante pudesse concluir, o zagueiro suíço recuperou-se e fez o desarme com um carrinho. Nada que mudasse o destino da taça: o Birmingham é campeão da Copa da Liga Inglesa!
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