A Copa das Nações Africanas começou no sábado e, confesse, você não sabia disso. Mas isso não faz de você um fenotipista, que discrimina aquilo que vem do continente que conosco já fez fronteira (de acordo com a amplamente aceita teoria da tectônica de placas).
Fato é que a CAN não é tão badalada quanto a Copa América, menos ainda que a Eurocopa. Essas daí você com um leve esforço recorda de alguns fatos, como por exemplo a eliminação brasileira nas quartas-de-final (esse blogueiro estava lá, no estádio Ciudad de La Plata) e o título uruguaio. Tá, também se lembra da eliminação da anfitriã Argentina, também na fase quartas-de-final, também nos pênaltis. A Euro então é fácil de recordar: como esquecer da Espanha de Del Bosque, que joga de maneira similar ao Barcelona de Guardiola? Você talvez não lembre que a Croácia quase se classificou no grupo de onde saíram as finalistas, mas tudo bem. Comparado ao torneio que acontece na África do Sul, lembra-se de muito.
Falando por mim, não sabia que a estréia da Nigéria seria hoje. Claro que deveria pelo menos suspeitar, pois se a competição começou no sábado e hoje é segunda-feira, a margem de erro é pequena num torneio com quatro grupos de quatro seleções (idêntico à Euro quanto ao formato). Mas consegui, pelo menos, assistir o segundo tempo e ver como estão as Águias, seleção que encantou o mundo nas últimas duas décadas, sobretudo na última do século passado, quando "apresentaram" jogadores como Okocha, Ikpeba, Amokachi, Kanu, West, Finidi, Yekini, Amunike e alguns outros. Muita fera pra pouco espaço de campo - e pouca disciplina tática também. Muito gostoso vê-los jogar, vê-los ganhar, vê-los brincar.
Bem diferente da Nigéria atual. Não que a equipe comandada por Stephen Keshi seja rígida taticamente e isso aprisione os talentos ou qualquer coisa do gênero. Pelo contrário. O que faltam são os jogadores talentosos, que vimos à exaustão noutras épocas. Não vou com isso afirmar que tenha havido uma "decadência" no futebol nigeriano. Talvez aquelas seleções formadas na Copa-1994 e nos Jogos-1996, pra só citar dois exemplos, tenham sido algo fora-de-série. A Nigéria de hoje tem um jogador que provavelmente jogaria naquele(s) time(s) que devemos guardar com carinho na memória: o meio-campista John Obi Mikel, do Chelsea. Não fez uma partida, digo, um segundo tempo brilhante hoje diante de Burkina Faso. Mas mostrou novamente que tem uma leitura de jogo apurada, pouco comum, que o torna um jogador diferenciado. Só que quem merece destaque mesmo no time verde é o excepcional goleiro Vincent Enyeama. Possivelmente o maior arqueiro da história do país e, talvez o tempo dirá, do futebol africano. Já tinha me encantado com ele na partida entre Nigéria e Argentina, na Copa-2010, também em solo sul-africano. Hoje, ele agarrou demais. De novo. Não sei como não esteja num time de ponta do futebol mundial (leia-se europeu).
Mas, por mais que quase que automaticamente quisesse prestar atenção na Nigéria, haviam duas seleções em campo. E Burkina Faso comportou-se muito bem. Quando comecei a assistir o jogo (aos quatro minutos do segundo tempo), a Nigéria já vencia por 1a0 (depois vi que foi um golaço de Emenike, após magistral assistência de Ideye). E o que vi foi uma Burkina indo pra cima da Nigéria, trabalhando bem a bola, imprimindo velocidade, entrando na área. A expulsão de Ambrose, que recebeu o segundo cartão amarelo pessoal aos vinte e oito minutos do segundo tempo, facilitou as coisas para Burkina se sobressair nos minutos finais, não tenho dúvidas quanto a isso. Mas antes disso já era perceptível a superioridade da equipe comandada pelo belga Paul Put. A entrada de Alain Traoré, aos dezenove, deu nova dinâmica ofensiva a um time que só não conseguia empatar porque Enyeama fechava o gol.
O árbitro argelino Mohamed Benouza acrescentou quatro minutos ao tempo regulamentar, compensando aí o tanto de faltas cometidas e substituições, além, é claro, do lance da expulsão. O blogueiro já não sabia mais se torcia para o que seria um adequado gol de empate ou se pela inviolabilidade da meta tão bem defendida pelo goleiraço nigeriano. Não teve jeito: os deuses do futebol quiseram que, no fechar das cortinas, o placar final refletisse algo mais parecido com o que foi o jogo - ou pelo menos o segundo tempo. Uma bola chutada pro alto foi recolhida e a redonda chegou, de pé em pé, até a área adversária. Era a última empreitada de Burkina Faso. Pitroipa, pela direita e perdendo o equilíbrio, tocou rasteiro para trás. A bola passou entre as pernas de um jogador nigeriano que agora não sei precisar quem era, e chegou até um personagem que não há como esquecer o nome: Traoré, Alain Traoré. Com um chute rasteiro, conseguiu a proeza de fazer a bola passar por Enyeama. Aos 48 minutos e 57 ou 58 segundos no segundo tempo. 1a1 e um ótimo cartão de visitas da Copa das Nações Africanas. Tratemos ela com carinho, pois ela merece.
No outro jogo por este grupo - o C -, Zâmbia e Etiópia também empataram por 1a1. Isso quer dizer que as duas vagas desta chave para a fase oitavas-de-final serão conhecidas no último jogo. Quem sabe, no último lance...
Nenhum comentário:
Postar um comentário