Até então invicto dentro de casa na presente temporada, o aplicado time do Stoke City conheceu sua primeira derrota no Britannia Stadium. O jogo com o Chelsea envolvia duas das três defesas menos vazadas na Premiership 2012-3 e se alguém imaginava um placar apertado, se surpreendeu. É bem verdade que o momento do Stoke já foi melhor defensivamente (a equipe sofreu três gols em cada um dos seus dois jogos anteriores válidos pelo Campeonato Inglês), mas não resta dúvidas de que a goleada azul pelo placar de 4a0 foi impactante.
Aí o estimado leitor e a estimada leitora desse espaço perguntam ao blogueiro: como explicar esse resultado para um time até então invicto dentro de casa e com uma defesa de estatísticas respeitáveis? Caros e caras, a partida em Stoke-on-Trent foi totalmente atípica. E quando digo atípica, é porque efetivamente foge dos padrões pré-estabelecidos de normalidade.
Como era de se esperar, o time comandado pelo galês Toni Pulis concentrou suas atenções no campo defensivo. Só que a retranca montada para resistir à superioridade técnica adversária não limitava a equipe a apenas se defender. Tanto é que, aos sete minutos, os donos da casa tiveram grande chance de sair na frente no placar, mas o trinitário Kenwyne Jones chutou para fora, perto da trave esquerda. A partida era equilibrada, nivelada pela aplicação dos defensores do Stoke. Jogadores de porte físico avantajado mas sem muito trato com a bola, salvo uma ou outra exceção.
O zero a zero que persistia no placar não era mérito "apenas" da barreira humana que o Stoke estabelecia diante do Chelsea. Havia também uma muralha ambulante situada nos metros finais de gramado. Com duas defesaças - ambas usando a perna direita para impedir que a bola entrasse -, o goleiro bósnio Asmir Begovic conservava o empate sem gol, parando finalizações de Frank Lampard e Demba Ba. Mas ele não poderia parar Jonathan Walters, seu companheiro de time. Nos acréscimos do primeiro tempo, o voluntarioso jogador irlandês chegou em alta velocidade para impedir que o cruzamento de Cesar Azpilicueta encontrasse Juan Mata. Se a idéia era impedir a finalização do espanhol, missão cumprida. Mas o que Walters não esperava era que seu mergulho pretensamente salvífico pudesse estufar a própria rede, marcando um a zero para os oponentes. Coisas da vida, jogo que segue.
Na segunda etapa, os times retornaram com as mesmas formações e as mesmas pré-disposições a atacar e defender. Ou seja, era basicamente o Chelsea tentando infilitrar na defesa (na maioria das vezes sem qualquer êxito) e o Stoke segurando as investidas adversárias. O time da casa marcava muito. Marcava em cima de quem tivesse a posse de bola. Marcava terreno para fazer a cobertura. Marcava até a sombra, se assim fosse possível. E, de tanto marcar, Walters marcou... contra. Pela segunda vez no jogo. Dessa vez, o cruzamento encontraria Lampard. Não encontrou, pois o implacável Walters colocou a cabeça na bola. Para infelicidade pessoal e coletiva, gol contra novamente. Coisas da vida, jogo que segue.
Diferentemente do gol (contra) anterior, dessa vez o Stoke City não tinha um intervalo de quinze minutos para respirar e repensar o jogo. Provavelmente abalados com a azarada coincidência de um jogador do time vazar a própria meta por duas vezes na mesma partida, o Stoke sucumbiu ao Chelsea. Um minuto após o segundo gol (contra), foi cometido pênalti em Mata, numa jogada em que tanto Robert Huth (grandalhão alemão, com passagem pelo Chelsea) quanto Ryan Shawcross cercaram o camisa dez sem conseguir desarmá-lo. Pelo menos não na bola. Lampard encheu o pé e estufou a rede, mandando a bola alguns centímetros abaixo do travessão. 3a0 Chelsea.
Lampard teve nova chance de marcar, mas o goleiro Begovic realizou mais uma defesa espetacular, dessa vez com os braços. E como o jogo era atípico mesmo, aconteceu (mais) uma novidade para o Stoke City na temporada corrente: o time levou um gol de fora da área. Foi o belga Eden Hazard o autor do feito, acertando lindo chute no canto direito, sem dar chance de defesa para Begovic. 4a0.
Cada treinador mexeu três vezes em seus jogadores. Fernando Torres havia entrado minutos antes do quarto gol, substituindo Ba. Depois, Rafa Benítez ainda colocou John Terry (retornando de lesão, recebeu de Mata a braçadeira de capitão no momento da alteração) e o português Paulo Ferreira no lugar de Azpilicueta. Pulis tirou Charlie Adam (que deu belo chute de fora, espalmado por Petr Cech), Jones e Matthew Etherington - entraram Dean Whitehead, Cameron Jerome e Michael Kightly. Mas, um personagem central permanecia em campo. Ele: Walters. Walters, jogador com o recorde atual de partidas consecutivas na Premiership, atuando pelo 73º jogo em sequência na competição. Nenhum outro jogador de linha se iguala a Walters. E para mostrar que é realmente um jogador "diferente", Walters entrou na área e caiu após chegada de Terry. Pênalti.
Senhoras e senhores, meninas e meninos de todas as idades, pênalti para o Stoke City no fim de partida. Era o gol de honra se encaminhando. A derrota - a primeira dentro de casa nessa temporada -, já estava consumada. E quem vai para a bola, promovendo empolgação dos torcedores locais, é Walters. E, para não deixar dúvidas de que se tratava de um jogo atípico, Walters tornou tudo ainda mais especial: encheu o pé - mais ou menos como fizera Lampard - e mandou a bola alguns centímetros acima do que gostaria. A redonda explodiu no travessão e tomou o rumo do céu. Quem também deverá ir para o céu é Walters. A julgar pela partida de hoje, ele pagou todos os seus pecados. Coisas do jogo, vida que segue.
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