Para aqueles indivíduos que têm alguma dúvida sobre o fato de o futebol ser um esporte especial dada a sua imprevisibilidade que beira o imponderável, o jogo de hoje entre Juventus e Sampdoria serve de ilustração para adjetivar o velho esporte bretão como uma das mais surpreendentes modalidades esportivas.
A atual campeã invicta e líder soberana nessa edição (recordista histórica de pontos no torneio durante o ano de 2012) recebeu em seu moderno estádio uma equipe rebaixada em 2011 e que retornou nessa temporada, fazendo campanha que a coloca bem perto da zona de descenso. Vinte e sete pontos separavam os dois times antes dessa partida válida pela décima nona rodada. No passado, Juventus e Sampdoria haviam duelado na cidade de Turim em 63 ocasiões, com 40 vitórias dos mandantes e apenas cinco do clube genovês.
Aí você os coloca frente a frente no dia seis de janeiro, abrindo os compromissos oficiais de ambas as instituições no ano de 2013 e vai assistir o jogo. E assiste o óbvio: empurrada pela torcida e impulsionada por um elenco tecnicamente superior, o time local pressiona para abrir o placar em seu estádio. E abre. Aos vinte e três minutos, Sebastian Giovinco converte penalidade máxima no canto direito. Diga-se de passagem que o zero não saiu mais cedo do placar porque o goleiro argentino Sergio Romero impediu.
Se no lance do pênalti Gaetano Berardi recebera cartão amarelo pela infração cometida dentro da área, aos trinta minutos o mesmo Berardi deu outro carrinho, dessa vez mais forte e mais distante do seu gol. Veio o segundo cartão amarelo, em correta decisão do árbitro Paolo Valeri. Ou seja, a Sampdoria passava a jogar não apenas atrás no placar como também com menos jogadores em campo.
O 1a0 se manteve até o intervalo e é bem possível que o mais otimista torcedor da Samp concordasse que se trataria de uma "missão impossível" evitar uma nova derrota na competição. Mas, queridas crianças de todas as idades, estamos falando de futebol. Veio o segundo tempo e, com ele, uma reviravolta de contornos épicos. Aos oito minutos, Andrea Pirlo, exímio distribuidor de lançamentos, errou um passe simples na intermediária ofensiva juventina. E foi de lá mesmo que, após fazer a interceptação, o sérvio Nenad Krsticic acionou um companheiro com lançamento ao melhor estilo Pirlo. O companheiro era Mauro Icardi, que avançou e chutou do jeito que tinha que ser: cruzado, firme. Para infelicidade de Gianluigi Buffon, a bola quicou imediatamente antes do goleiro tentar espalmá-la, traindo o consagrado arqueiro bianconero e indo parar no canto direito. O mesmo canto direito onde Giovinco abrira o placar na etapa inicial. 1a1.
Tão ou mais inesperado que o empate naquele momento foi o que viria a acontecer quinze minutos depois: a virada dos visitantes. Pedro Obiang carregou a bola pelo centro de ataque e abriu na direita para Icardi. Iluminado, o atacante da camisa 98 descolou remate indefensável, mandando um chute forte e preciso, no alto, estufando a rede e indo celebrar em êxtase. 2a1 Sampdoria, em pleno estádio Juventus.
O treinador Antonio Conte já havia colocado dois atacantes entre um gol e outro do adversário (Fabio Quagliarella e Mirko Vucinic entraram nos lugares de Alessandro Matri e Paolo de Ceglie). Pouco depois de ver seu time atrás no marcador, trocou Paul Pogba (meio-campista francês de visual a lembrar Mario Balotelli) por Emanuele Giaccherini, também jogador de meio-campo. Delio Rossi, que assumiu a Sampdoria após a demissão de Ciro Ferrara (vi Ferrara jogar com a camisa da Juventus, então na reta final de sua bem-sucedida carreira como zagueiro), já havia realizado uma mexida no intervalo, quando trocou Marcelo Estigarribia (jogador vindo da Juve) por Lorenzo de Silvestri. Embora Estigarribia não tenha feito um primeiro tempo brilhante (e ainda tivesse machucado a mão), não sei se foi essa alteração que mudou os rumos do jogo - e olha que De Silvestri, de fato, atuou bem. Prefiro acreditar na superação coletiva da Sampdoria e na força intransponível dos deuses do futebol.
São eles, só podem ser eles - os deuses do futebol - que fizeram com que o chutaço de Vucinic explodisse no travessão e ainda quicasse pouco antes da linha final, sem atravessá-la. Devem ter sido eles novamente que separaram Vucinic do gol de empate por centímetros, numa bola que passou pertinho da trave direita, já sem goleiro no lance. E, com goleiro no lance, nada passava por ele. Romero viveu dia de Buffon. Com as bênçãos dos deuses do futebol. Parabéns, Sampdoria.
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