quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Análise Da Copa Do Mundo 2018 - Grupo D

Há três sextas-feiras, foi realizado o sorteio da fase de grupos para a Copa do Mundo 2018. Em postagens anteriores, versamos sobre o grupo A, o grupo B e o grupo C. Vamos, nessa publicação, analisar o grupo D. Para muitos, trata-se de uma das chaves mais fortes do torneio: são três seleções acostumadas ao Mundial e uma estreante que foi a sensação na última Eurocopa.

Grupo D: Argentina, Islândia, Croácia e Nigéria.

Argentina

Se por um lado é verdade que os argentinos quase ficaram de fora da Copa 2018 (contaram com a genialidade de Lionel Messi na rodada derradeira nas Eliminatórias Sul-Americanas para virarem o jogo diante do Equador, em Quito), por outro, é inegável que a seleção comandada por Jorge Sampaoli tem potencial para chegar a mais uma final de mundial.
Argentina: 4ª colocada no ranqueamento da FIFA.

Encontrar um padrão tático talvez seja o maior desafio do ótimo técnico argentino. É desejo de todo amante do futebol arte ver uma seleção dessa enorme qualidade jogando com a fluidez daquela Universidad de Chile que goleou o Flamengo e que encantou a América, ou daquela seleção chilena que rodava a bola de maneira envolvente, independentemente de quem fosse o adversário.

Messi e Javier Mascherano são os líderes de um grupo machucado com tantos "quases". Mas que podem ter, exatamente nessas feridas aparentemente cicatrizadas, um excepcional recurso profilático para novas quedas. Desde a estréia com a empolgada Islândia, a trajetória deverá ser caracterizada pelo esforço coletivo de conseguir jogar um futebol consistente.

O ponto de equilíbrio a ser encontrado talvez gire em torno da solidez dos tempos de Alejandro Sabella com a inventividade típica dos times de Sampaoli. Achando essa "fórmula mágica" e conseguindo manter a cabeça inabalável pelas frustrações recentes, é possível que o país do tango consiga uma trilha sonora mais alegre em solo russo.

Islândia

Líder da chave que tinha a Croácia (olha a coincidência), a Islândia chega embalada para a sua primeira Copa do Mundo, afinal, a menor nação da história das Copas vem de uma Euro-2016 memorável e de uma Eliminatória com campanha maiúscula: sete vitórias, um empate e duas derrotas, com direito a 100% de aproveitamento em seus domínios territoriais. Fora de casa, empatou com a Ucrânia, venceu Kosovo e goleou a Turquia, tendo sido superada somente por croatas e finlandeses.

Islândia: 22ª colocada no ranqueamento da FIFA.
A contribuição de Sigurðsson é notável tanto pelo desenvolvimento do jogo quanto pelos números: autor de quatro gols e três assistências nas Eliminatórias Européias, o ótimo meia do Everton (com passagem marcante pelo Swansea City) participou diretamente de quase metade dos gols da equipe (sete de dezesseis). Na última rodada, quando a vitória por 2a0 sobre o Kosovo em Reykjavik selou a classificação direta, foi o camisa 10 quem marcou o primeiro gol e deu o passe para Guðmunds­son anotar o segundo.

Se Sigurðsson será personagem a atrair atenção dentro de campo, outra grande atração islandesa no Mundial será a presença de sua apaixonada e apaixonante torcida nas arquibancadas: as cidades de Moscou, Volgogrado e Rostov serão agraciadas com a presença desse pessoal barulhento e festeiro na primeira fase. E, se tudo der certo para a equipe e seus adeptos, os vikings poderão desembarcar em outras sedes na seqüência da competição.

Croácia

Se no passado não muito distante a Croácia encantou o mundo com jogadores como Zvonimir Boban (titular no meu time de botão) e Davor Suker (goleador naquela Copa de 1998), hoje a seleção do país também está muito bem servida no setor de criação e de ataque: Modric, Rakitic, Perisic e Mandzukic são jogadores de ponta no futebol mundial e capazes de resolver partidas em um lance individual.

Croácia: 17ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Então, com um time dessa qualidade ofensiva, podemos cravar a Croácia na próxima fase? Não. A qualidade técnica também existia em demasia no Mundial de 2014, mas a realidade é que os croatas caíram em plena fase de grupos naquela oportunidade, ficando atrás de Brasil e México, tendo vencido somente Camarões. A chave de 2018 é de uma força similar daquela. Talvez o maior ganho de lá para cá esteja nos quatro anos de entrosamento somado, pois a espinha dorsal do time comandado por Zlatko Dalic foi inteligentemente sustentada.

Dona da melhor campanha como visitante em sua chave de Eliminatórias (nove pontos em cinco jogos, incluindo a vitória por 2a0 em Kiev no confronto direto com a Ucrânia na última rodada), a Croácia teve vida tranqüila na Repescagem, confirmando a vaga na Copa após golear em casa e empatar fora com a Grécia. Será, acredito, o setor de meio-campo o grande termômetro da seleção da camisa xadrez no Mundial: se as feras Modric e Rakitic renderem, meio caminho andado. Se Perisic estiver inspirado e o centroavante Mandzukic encontrar aquela eficiência do auge de sua carreira, aí bastará a defesa saber se postar para afirmar com todas as letras que o feito de 1998 poderá ser novamente alcançado.

Nigéria

Líder e invicta, com o ataque mais efetivo e a defesa menos vazada num grupo que tinha Zâmbia, Camarões e Argélia, a Nigéria chega a mais uma Copa do Mundo e a mais um "grupo da Argentina".

Nigéria: 50ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Podemos - e devemos - esperar boas coisas de uma seleção com Moses, Obi-Mikel, Iwobi, Iheanacho, Musa e companhia. Os 4a2 de virada sobre a Argentina em Krasnodar foram impactantes, mesmo se tratando de um amistoso.

Naquela partida, o alemão Gernot Rohr (passagens por Gabão, Níger e Burkina Fasso) escalou a equipe numa espécie de 5-3-2 (3-5-2, se consideramos o avanço dos extremos da última linha de defesa). Formação diferente, por exemplo, do 4-5-1 usado nas Eliminatórias durante a vitória por 1a0 sobre Zâmbia, que garantiu a classificação à Copa. Importante observar que, neste jogo, Moses atuou. Diante dos argentinos, não. E Moses, mesmo jogando na meia direita, foi o goleador das Super Águias nas Eliminatórias.

A Copa das Nações Africanas, que começa em janeiro, poderá mostrar se Rohr tem preferência por algum esquema tático específico ou se estuda trabalhar com alternâncias para surpreender os adversários. Com a sua boa rodagem no futebol africano, o treinador alemão deve ter em mente qual é o seu maior desafio: fortalecer e equilibrar a defesa. E isso deve ser feito, necessariamente, sem perder a essência do que há de melhor nas seleções daquele continente, que é a agilidade em encontrar os espaços seja com o drible, seja com a velocidade, seja com as duas coisas juntas e misturadas. E se tem uma seleção da África que mexe com o imaginário popular "esses podem aprontar", essa seleção é precisamente a Nigéria. Okocha, Ikpeba, Finidi, Amokachi, Amunike e companhia não me deixam mentir...

domingo, 17 de dezembro de 2017

Análise Da Copa Do Mundo 2018 - Grupo C

Foi realizado no dia primeiro de dezembro o sorteio da fase de grupos para a Copa do Mundo 2018. Analisamos o grupo A e também o grupo B. Chegou a vez de dar alguns pitacos sobre o grupo C. Chave que reúne três seleções entre as doze primeiras do mundo na mais recente divulgação do ranqueamento da FIFA.

Grupo C: França, Austrália, Peru e Dinamarca.

França

Didier Deschamps, capitão da seleção campeã mundial em 1998, conta com uma geração especial. São muitos jogadores talentosos e que estão em ascensão nas suas carreiras. Além desse "material humano" qualificado, a França vai ao Mundial com a credencial de ter sido vice-campeã continental em 2016, numa campanha que, em alguns momentos, comprovou a qualidade técnica da equipe.

França: 9ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Talvez o maior desafio do treinador seja saber manejar a jovialidade do elenco. Mbappé (18 anos), Coman (21) e Martial (22) são alguns dos nomes mais badalados na atualidade. E pra quem acha pouco, o potente setor ofensivo dos Bleus conta também com atletas do nível de Giroud, Griezmann e Lacazette. Ou seja, dá para montar diversas combinações de respeito no ataque francês.

A campanha nas Eliminatórias foi sólida: sete vitórias, dois empates e somente uma derrota num grupo que tinha a Suécia e a Holanda como principais rivais. Destaques para as vitórias sobre a Laranja: 1a0, em Amsterdã, e 4a0, em Paris.

Os dezoito gols azuis foram relativamente bem distribuídos: Giroud e Griezmann anotaram quatro; Gameiro, Lemar, Payet e Pogba marcaram duas vezes cada; Matuidi e Mbappé fizeram um. A defesa, aparentemente cada vez mais consistente, cedeu seis gols e foi a menos vazada na chave. Se Deschamps conseguir o ponto de equilíbrio (a meu ver, passa necessariamente pela interação de Matuidi e Pogba entre a marcação e a transição), não há limites para a França nessa Copa. É daquelas seleções que darão gosto de ver jogar.

Austrália

Do relativo amadorismo ao hábito de jogar mundiais: a Rússia-2018 será a quarta Copa do Mundo consecutiva da Austrália, que até então só havia participado em 1974. Nessa caminhada dos Socceros, o passo (leia-se salto de canguru) mais ousado foi possivelmente a filiação à Federação Asiática. Encontraram uma eliminatória mais difícil que a da Oceania mas de uma dificuldade acessível - e mais do que isso, capaz de impulsionar a seleção a um nível mais alto e que lhe trouxesse alguma perspectiva de competir diante de seleções mais tradicionais.

Austrália: 39ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Não havendo nenhum nome destacável na nova geração, a realidade é que os australianos têm suas esperanças majoritariamente depositadas nos veteranos Jedinak (meio-campista capitão da equipe aos 33 anos de idade) e Tim Cahill (atacante, 38, e maior goleador na história da seleção com 50 gols).

Tomi Juric, um dos goleadores nas Eliminatórias Asiáticas com cinco gols, atua no futebol suíço e foi campeão na Liga dos Campeões da Ásia em 2014, quando vestia a camisa do Western Sidney Wanderers. Mathew Leckie, meio-campista autor de três gols e duas assistências nas mesmas eliminatórias, atua no Hertha Berlin, estando em sua sétima temporada no futebol alemão. E aí você pergunta: "beleza, quem desses daí resolveu as coisas na repescagem com a seleção de Honduras"? Resposta: nenhum deles, mas o trintão Jedinak, que marcou todos os três gols nos 3a1 em Sydney (a partida de ida havia terminado 0a0).

Peru

36 anos depois, o Peru está de volta a uma Copa do Mundo. Com tantos personagens que compuseram esse roteiro cinematográfico que terá suas próximas locações em território russo, há um protagonista a ser enaltecido: o técnico argentino Ricardo Gareca.

Peru: 11ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Uma campanha consistente na Copa América. Uma surpreendente arrancada nas Eliminatórias Sul-Americanas. Uma partida fantástica no jogo de volta na Repescagem. Desde fevereiro de 2015, quando assumiu a seleção peruana após breve passagem pelo Palmeiras, o quatro vezes campeão argentino com o Vélez Sarsfield vem fazendo um trabalho excepcional com La Blanquirroja.

O cerebral Cueva, principal articulador de jogadas, tem sua tarefa facilitada graças às muitas opções de aproximação tanto pelo centro com Flores e Ruidíaz, quanto pelas beiradas - Advíncula e Polo pela direita, Trauco e Farfán pela esquerda. É um time que se movimenta bastante, que esbanja entrosamento e que "não aceita" a marcação adversária, sabendo dela se desvencilhar.

O primeiro tempo de partida com a Nova Zelândia, no estádio Nacional de Lima, foi uma aula tática. Com um detalhe: estava ausente o principal nome do futebol peruano, Guerrero, suspenso por uso de substância proibida. O atacante se defende e mantém esperanças de ser inocentado a tempo de reverter a ausência no Mundial (a atual punição de banimento por um ano impede sua participação na próxima Copa). Mas, Gareca conseguiu montar um time que não dependerá de Guerrero para jogar com classe e estilo. A torcida pela presença de Guerrero é mais por uma questão de justiça (a dopagem foi provavelmente por contaminação) do que por necessidade técnica/tática da equipe. E teria, a meu ver, um efeito muito mais moral do que esportivo.

Invicta há dez partidas, a seleção do Peru terá no jogo de estréia um confronto fundamental em suas pretensões no Mundial: a Dinamarca, em dezesseis de junho. Considerando o favoritismo francês e o fato da Austrália ser o adversário menos qualificado no grupo, essa partida é chave. E tenho grandes expectativas de que será um jogaço.

Dinamarca

Se alguém tinha alguma dúvida sobre as capacidades da seleção dinamarquesas, elas foram
suprimidas no jogo derradeiro rumo à Copa: a partida de volta com a Irlanda, pela Repescagem Européia. Após o 0a0 em Copenhaguen, a equipe nórdica se viu atrás no marcador já no sexto minuto em Dublin. E, de virada, aplicou uma goleada de 5a1, com direito a três gols do craque Christian Eriksen.

Dinamarca: 12ª colocada no ranqueamento da FIFA.
E então, dá pra cravar que seja favorita à "segunda vaga" na chave? Não, não dá. Não dá porque fica difícil saber se veremos uma Dinamarca que perde dentro de casa para Montenegro ou uma Dinamarca que aplica 4a0 na Polônia (sim, a única derrota polonesa nas Eliminatórias Européias foi uma goleada de quatro a zero em Copenhaguen). A certeza que fica é que a Dinamarca tem condições de apresentar um bom futebol, restando observar se o equilibrado sistema 4-5-1 do norueguês Åge Fridtjof Hareide será mais ofensivo ou pragmático. Se Nicklas Bendtner será opção para o decorrer do jogo ou titular do time, também é questão incerta. Será dada preferência a um homem de referência dentro da área? A um jogador de mais mobilidade? Poderá se formar uma dupla de frente incluindo ambas as características e teoricamente diminuindo a necessidade de Eriksen se apresentar como finalizador?

Seja como for, por mais que Eriksen seja capaz de decidir partidas (ele marcou oito gols e deu três assistências na fase de grupos nas Eliminatórias Européias, participando diretamente de mais da metade dos vinte gols dinamarqueses), é importante ter em mente que, na Copa, é mais difícil uma andorinha sozinha fazer verão. Se bem que será verão na Rússia...

domingo, 3 de dezembro de 2017

Análise Da Copa Do Mundo 2018 - Grupo B

Foi realizado anteontem o sorteio da fase de grupos para a Copa do Mundo 2018. Já fizemos uma análise referente ao grupo A. Vamos, agora, tratar do grupo B. É o grupo que vai proporcionar ao amante do futebol uma primeira rodada reunindo as melhores defesas da África e da Ásia e, ainda, o clássico ibérico (simplesmente os dois últimos campeões europeus).

Grupo B: Portugal, Espanha, Marrocos e Irã.

Portugal

Atual campeão europeu, o selecionado português fez uma eliminatória firme: venceu nove dos dez jogos disputados. Sua única derrota foi na primeira rodada, na Basiléia, para a Suíça, por 2a0. Resultado que foi devolvido na jornada derradeira, em Lisboa.

Portugal: 3ª no ranqueamento da FIFA.
Dos 32 gols anotados nas Eliminatórias Européias, 24 saíram da dupla Cristiano Ronaldo (vice-goleador no torneio, com 15 tentos) e André Silva (9 gols marcados). Mas a equipe de Fernando Santos oferece algo mais que esses dois decisivos jogadores. Principalmente no setor de meio-campo: o talento e a juventude de Bernardo Silva (23 anos) e João Mário (24) proporcionam uma transição eficiente ao ataque. A mobilidade e precisão de ambos permitirá mescladas táticas numa interação onde o próprio Cristiano poderia recuar e avançar para promover triangulações.

Na defesa, a experiência dos 34 anos de Pepe traz a certeza de muita combatividade e a dúvida se o ex-defensor do Real Madrid conseguirá manter um autocontrole psicológico para não desferir cenas tão rotineiras em sua carreira.

A partida inaugural dos lusitanos será o clássico ibérico diante da Espanha. São duas seleções que se encontraram nas oitavas-de-final na Copa do Mundo 2010. De lá para cá, entre as diversas mudanças que aconteceram, pelo menos uma coisa conserva similaridade: a rivalidade. Tem tudo para ser um grande jogo. Na seqüência, Portugal enfrenta Marrocos e Irã. Fernando Santos precisará preparar sua equipe para pelo menos dois cenários opostos: o de saber vigiar a posse de bola adversária (provável desenho diante dos espanhóis) e o de saber impôr seu jogo (tudo leva a crer que marroquinos e iranianos tratarão, prioritariamente, de se defender).

Espanha

Seleção outrora rotulada (injustamente) de "amarelona", a Espanha conquistou o respeito dos críticos (e até dos "modinhas") de 2008 para cá, reforçando suas qualidades com a inserção curricular de dois títulos continentais e um mundial. Hoje, mesmo após cair na fase de grupos em 2014, é tida como uma das favoritas ao título na Rússia. E não é por menos: Julen Lopetegui Argote vem se mostrando um ótimo sucessor dos trabalhos implementados e desenvolvidos por José Luis Aragones Suárez Martínez e Vicente del Bosque Junior. A filosofia do toque de bola permanece forte e com algumas adaptações que a colocam bastante encaixadas nas mudanças que o futebol trouxe - algumas dessas mudanças foram desencadeadas exatamente na busca por um antídoto ao imponente e vitorioso jogo espanhol.
Espanha: 6ª colocada no ranqueamento da FIFA.

A exitosa campanha de nove vitórias e um empate (1a1 com a Itália, em Torino) teve os impressionantes números de trinta e seis gols marcados e três concedidos - a Espanha goleou todos os adversários de sua chave pelo menos uma vez.

Isco, Diego Costa, Álvaro Morata e David Silva anotaram cinco gols cada, sendo que este último ainda contribuiu com quatro assistências. Mas o motor, o cérebro, o ponto de equilíbrio dessa seleção chama-se Andrés Iniesta. Aos 33 anos de idade, o exímio meio-campista lidera o Barcelona e a seleção espanhola com sua visão e distribuição de jogo singulares. Teve a felicidade de marcar o gol histórico na final da Copa do Mundo de 2014 e felicita o amante do futebol com sua presença dentro de campo. Para quem não viu Zidane, aproveite cada oportunidade de assistir Iniesta. Não sabemos quando aparecerá outro que faça-nos lembrar esses dois.

A estréia com Portugal, a segunda rodada diante do Irã e a terceira com o Marrocos serão testes dos mais interessantes para a Espanha, pois estará enfrentando três seleções com ótimos números defensivos, cada qual em seu respectivo continente.

Marrocos

Com a credencial de quem não sofreu um único gol na fase final nas Eliminatórias Africanas, a seleção marroquina tem em sua defesa o que pode ser a chave para surpreender nesse grupo B. Nem a Costa do Marfim de Gervinho, nem o Gabão de Aubameyang, nem muito menos a seleção de Mali conseguiu vazá-los. Marrocos chegou ao Mundial com três vitórias e três empates (leia-se 0a0), com onze gols marcados - quatro deles por Khalid Boutaïb, atacante nascido na França que recentemente trocou o futebol francês pelo turco.

Marrocos: 40ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Para servir Boutaïb em particular e os marroquinos em geral estão Nordin Amrabat (atacante do espanhol Leganes) e Mbark Boussoufa (meio-campista holandês de nascimento e que atua no futebol dos Emirados Árabes Unidos) - cada um deles deu três assistências e participaram, portanto, de mais da metade dos gols de Marrocos na fase final.

Mas como explicar tamanho sucesso - principalmente defensivo - da equipe comandada pelo francês Hervé Renard? Um bom exemplo é olhar para o desenho tático na partida decisiva diante da Costa do Marfim de Marc Wilmots, vencida pelos visitantes por 2a0 e tendo permitido que os Elefantes acertassem somente um chute na direção do gol defendido por Munir. Nessa partida, cujos gols foram anotados pelo lateral-direito Dirar e pelo zagueiro Benatia, foi montado um 4-3-3 que espelhava a formação oponente. Hakim Ziyech, meio-campista nascido na Holanda 24 anos atrás, atuou pelo lado direito do ataque mesmo sendo canhoto, similar ao que a Holanda costuma fazer com Arjen Robben. Inclusive, foi dele o passe para o primeiro gol. Auxiliando por aquele setor, o "garçom" Boussoufa (assistente no lance do segundo gol), que coincidentemente é seu compatriota tanto de nascimento quanto de naturalização. Juntos, criaram duas oportunidades e finalizaram quatro vezes. No flanco oposto, Amrabat e Belhanda contribuíram com um total de sete desarmes no jogo, ajudando a conter as investidas de Aurier, Fofana, Cornet e Zaha.

Se esse sistema vai ser repetido e se vai funcionar diante de Irã, Portugal e Espanha, é preciso aguardar. O desempenho da equipe na Copa das Nações Africanas, que começa em janeiro e tem Marrocos no grupo A (com Mauritânia, Guiné e Sudão) poderá esboçar o que será da seleção de Renard na Rússia. Independentemente disso, é prudente, no mínimo, respeitá-los.

Irã

E por falar em defesas... A seleção iraniana "sobrou" nas Eliminatórias Asiáticas. Liderou com folga e garantiu antecipadamente uma vaga no Mundial 2018, mesmo dividindo grupo com a tradicional Coréia do Sul, que teve de se contentar com o segundo lugar. A campanha invicta iraniana foi de seis vitórias e quatro empates, com dez gols marcados e dois concedidos. Mas um detalhe: esses dois gols aconteceram na última rodada, diante da valente Síria, quando o Irã já era inalcançável na liderança.

Irã: 32ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Na campanha, Sardar Azmoun, atacante de 22 anos que conhece de perto o futebol russo (atua no Rubin Kazan e já vestiu também a camisa do Rostov), foi o goleador da equipe, com quatro gols anotados. Inclua-se aí o gol único na vitória por 1a0 sobre a Coréia do Sul, em Teerã, em 11.10.2016. Outro acostumado a balançar as redes é Mehdi Taremi, atacante do Persepolis que marcou três vezes nas Eliminatórias e "escolheu" momentos decisivos para deixar sua contribuição: na vitória por 1a0 sobre o Catar, fora de casa, e no triunfo sobre a China, também com gol solitário (além de sacramentar os três pontos com o segundo gol nos 2a0 sobre o Uzbequistão). Liderando as assistências quem aparece é o experiente Masoud Shojaei Soleimani, que aos 33 anos atua no grego Panionios, após passagens pela liga do Catar e pelo futebol espanhol, onde atuou por longa data no Osasuña antes de ir para o Las Palmas.

Em amistoso realizado com a Rússia, em outubro, Azmoun marcou o gol que abriu o placar em Kazan após assistência de Taremi. O jogo terminou 1a1 e, nessa oportunidade, Soleimani não foi relacionado pelo professor português Carlos Queiroz, moçambicano de nascimento e que já dirigiu os galácticos do Real Madrid e também a seleção portuguesa. Se contra a Rússia o esquema adotado foi o 4-1-4-1, é muito provável que os esquemas diante de espanhóis e portugueses esbanjem cautela. Mas, antes de enfrentá-los, há o jogo-chave diante de Marrocos. Se seguir essa linha sem buscar uma alternativa, temos aí um confronto condenado ao 0a0...

sábado, 2 de dezembro de 2017

Análise Da Copa Do Mundo 2018 - Grupo A

Foi realizado ontem o sorteio da fase de grupos para a Copa do Mundo 2018. Vamos iniciar agora uma análise de cada chave.

Nessa postagem, esmiuçaremos o grupo A, aquele que tem a anfitriã do Mundial como cabeça-de-chave e que, para muitos, é o grupo menos forte tecnicamente. Para se ter uma idéia, a partida de abertura da Copa será entre as duas seleções de pior ranqueamento no torneio. Seria coincidência? Tomara que sim. Basta de maracutaias no mundo do futebol...

Grupo A: Rússia, Arábia Saudita, Egito e Uruguai.

Rússia

Única seleção classificada para a Copa sem precisar jogar as repescagens (habitual privilégio do país-sede), a Rússia, apesar de todas as suas limitações, caiu numa chave que lhe dá o direito e o dever de sonhar com uma vaga nas oitavas.

Rússia: 65ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Com exceção do ataque, a seleção comandada por Stanislav Cherchesov possui jogadores com pelo menos trinta anos de idade em todos os setores do campo. E dois deles são nomes relevantes no cenário europeu: Igor Akinfeev (31), eterno goleiro do CSKA Moscou, e Yuri Zhirkov (34), jogador polivalente de vasta experiência, com direito a passagem pelo Chelsea de Roman Abramovich, e atualmente no Zenit Saint Petersburg.

A equipe conta em seu elenco com a presença do lateral brasileiro Mário Fernandes (27), que, antes de trocar o Grêmio pelo CSKA Moscou, recusou uma convocação para a seleção brasileira de Mano Menezes.

Mas é nos pés do ambidestro Alan Dzagoev (27) que residem as maiores esperanças da torcida russa. O meio-campista do CSKA Moscou, parceiro de longa data de Akinfeev, foi nomeado para a equipe do Campeonato Europeu Sub-21 de 2013, sendo premiado ao lado de nomes como o alemão Holtby, o italiano Verratti e os espanhóis Illarramendi, Isco, Koke e Thiago Alcântara.

É fato que trata-se de uma Rússia carente de um articulador mais hábil - Andrey Arshavin seria um nome encaixadíssimo para a função, mas questões diversas o afastaram do seu potencial. O ataque também não tem um personagem que imponha maior respeito às defesas adversárias. Mas o fator casa, a experiência de alguns jogadores e a "sorte" de cair numa chave acessível permitem vislumbrar uma classificação. Classificação essa que passa necessariamente por um resultado positivo na estréia diante da seleção saudita, adversária mais frágil do grupo. Na segunda rodada, o confronto será diante do sólido jogo coletivo egípcio, o que provavelmente trará complicações à seleção russa. E o fechamento é com o Uruguai, em tese a maior força da chave - seria bom não depender de uma vitória nesse jogo, a não ser que os cascudos sul-americanos já entrassem em campo com a vaga assegurada.

Em entrevista após o sorteio, Vicente del Bosque, técnico campeão do mundo com a Espanha em 2010, disse sobre a possibilidade de os espanhóis enfrentarem os russos nas oitavas: "a Rússia joga como anfitriã e isso imprime caráter".

Arábia Saudita

Classificada ao Mundial após conquistar o segundo lugar no hexagonal final pelas Eliminatórias Asiáticas (terminando atrás somente do Japão e a frente de Austrália, Emirados Árabes Unidos, Iraque e Tailândia), a Arábia Saudita é uma incógnita. Não apenas para mim, que desconheço o futebol apresentado pela seleção, mas também para os adversários, que terão de estudar uma equipe cujos jogadores atuam basicamente em clubes longe dos holofotes hegemônicos. E as incertezas estão provavelmente a pairar sobre os próprios sauditas: afinal, o que esperar de uma seleção que era treinada pelo romeno Aurelian Cosmin Olăroiu na Copa da Ásia, passou aos cuidados do holandês Bert van Marwijk nas Eliminatórias Asiáticas e hoje está sob comando do argentino Juan Antonio Pizzi?

Arábia Saudita: 63ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Particularmente, me causa surpresa a não manutenção do vice-campeão mundial de 2010 no comando tático da equipe saudita. Mas se foi essa a escolha da federação de futebol do país, vida que segue, tanto para Bert quanto para a seleção.

Uma coisa é certa: Pizzi tem como local de nascimento a chave para a Arábia ir adiante: Santa Fé. Ser movido pelo verde da esperança que colore a bandeira da nação pode ser o ingrediente determinante para que os sauditas surpreendam o grupo e o mundo com a classificação. Pizzi, apesar de falhar na empreitada de levar o Chile à Copa, assina a vitoriosa campanha na Copa América Centenário de 2016, com direito a um memorável 7a0 sobre o México de Juan Carlos Osorio na fase quartas-de-final.

Nawaf Shaker Al Abid, meio-campista de 27 anos e multi-campeão com o Al Hilal, figura no topo da lista de goleadores nas Eliminatórias Asiáticas, tendo deixado sua marca cinco vezes (quatro delas cobrando pênaltis). E como nem só de gols e pênaltis convertidos vive o bom jogador de futebol, Nawaf é também o saudita com maior número de assistências naquele torneio, tendo servido por três vezes seus companheiros para chegarem às redes - mesmo número de passes para gol do também meio-campista Taisir Jabir Al Jassim, de 33 anos e igualmente acostumado aos títulos em sua trajetória no Al Ahli.

Agora, fica a expectativa da montagem do elenco que irá à Rússia enfrentar os anfitriões na partida inaugural. Será que Pizzi tentará preparar a equipe com uma formação ofensiva, a exemplo do que fizera com os chilenos? O jogo diante dos russos tem ares de fundamental, inclusive para se ter uma idéia do tamanho da responsabilidade pelo resultado na segunda rodada diante do Uruguai. Lembrando que o Uruguai vem há alguns anos mostrando dificuldades ao enfrentar sistemas fechados que se baseiam em contra-ataques de transição rápida. Na Copa de 2014, sucumbiu diante da Costa Rica mas conseguiu a classificação diante de ingleses e italianos. De lá para cá, a base e o comando tático da Celeste foram conservados. Potencial vantagem para a Arábia de Pizzi, que tem muito material para estudar este adversário. Se tudo der certo e for vontade de Alah, poderá haver bastante coisa em jogo na partida derradeira com o Egito.

Egito

Mohamed é um dos nomes de Maomé, Aquele considerado no islamismo como o mais recente e último profeta do Deus de Abraão. Mohamed também é o nome dos dois maiores jogadores da atual geração egípcia: Elneny, do Arsenal, e Salah, do Liverpool, ambos com 25 anos de idade e que desfilam seus talentos na maior liga de clubes do mundo, dando à seleção um salto de qualidade que a coloca como forte candidata à classificação no acessível grupo A.

Egito: 33ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Mohamed Salah foi o único jogador nas Eliminatórias Africanas a marcar cinco gols na fase final, incluindo aí os dois da vitória por 2a1 sobre o Congo (desempatando a partida nos últimos minutos e classificando os egípcios para a Copa). Contribuiu ainda com duas assistências, tendo participado, portanto, de sete dos oito gols do Egito na derradeira etapa das eliminatórias.

Estará em maus lençóis a seleção que se preocupar exclusivamente com Salah. Antes da bola chegar até ele, costuma passar pelos pés de Mohamed Elneny, meio-campista com bom passe e grande visão de jogo. São dois trunfos do argentino Héctor Raúl Cúper, treinador que fez história ao conduzir o Valencia a duas finais de Liga dos Campeões da Europa.

E para quem acredita que é importante contar com alguém de vasta experiência dentro de campo, o Egito tem em seu goleiro alguém que cumpre com louvor esse papel: aos 44 anos de idade (fará o próximo aniversário em janeiro), Essam Kamal Tawfik El Hadary carrega em sua bagagem pessoal um vice-campeonato (2017, no Gabão) e três títulos da Copa Africana de Nações (2010, em Angola; 2008, em Gana; e 2006, dentro de casa).

Há alguns anos, talvez mesmo antes de El Hadary ser goleiro da seleção, pode-se dizer que o Egito trata-se de uma das seleções mais equilibradas de seu continente, marcada pelo sólido jogo coletivo. Hoje, tem incorporado a isso a presença de pelo menos dois atletas acima da média e capazes de decidir partidas. Não há qualquer razão para julgar que essa seleção vá à Rússia apenas fazer número: será um adversário duríssimo tanto para os uruguaios na estréia quanto para os anfitriões na segunda rodada. Já dá para cravar como candidata a surpreender no Mundial.

Uruguai

Aquela camisa que você respeita. Aquela seleção que a história não dá brecha para que a subestimem. Aquela mística que complexifica a discussão da modalidade esportiva denominada futebol. Afinal, com explicar alguns dos sucessos uruguaios a não ser por algum aspecto que transcende o mundo visível?

Uruguai: 21ª no ranqueamento da FIFA.
Luís Suárez e Edinson Cavani formam uma das principais duplas de ataque do futebol mundial. Cada um nas suas características, mas ambos sendo retratados naquele autêntico espírito uruguaio, de se dedicar a cada lance e acreditar em cada situação que a partida lhes oferte.

Sinto falta de um homem de ligação na equipe de Óscar Tabárez. Esse homem seria Lodeiro em 2010. Não funcionou. E, via improvisação, "surgiu" Forlán, que se sagrou um dos destaques na campanha semifinalista da Celeste. Em 2014, Rodríguez não conseguiu nem de longe o mesmo impacto no último terço de gramado. E, de lá para cá, não houve um único nome que tenha emplacado para a função. De Arrascaeta pode vir a ser esse elemento, mas precisará ser desenvolvido por Tabárez. Será, provavelmente, o maior desafio do treinador, que conseguiu montar uma defesa firme (Diego Godín lidera o setor com maestria) e conta com um ataque potencialmente avassalador.

O sorteio acabou sendo generoso com a seleção uruguaia ao ponto de ser inegável haver um favoritismo sul-americano na chave e uma responsabilidade em, pelo menos, obter a classificação às oitavas. Talvez a parte negativa disso tudo seja o fato de que egípcios, sauditas e russos poderão especular o jogo uruguaio e adotar uma postura de contra-ataques, situação com a qual o Uruguai vem apresentando maior dificuldade. Caso conquiste de fato a classificação, é o típico adversário que nem Portugal, nem Espanha, nem ninguém quer enfrentar em uma partida eliminatória. Afinal, é aquela camisa que você respeita...