sábado, 2 de dezembro de 2017

Análise Da Copa Do Mundo 2018 - Grupo A

Foi realizado ontem o sorteio da fase de grupos para a Copa do Mundo 2018. Vamos iniciar agora uma análise de cada chave.

Nessa postagem, esmiuçaremos o grupo A, aquele que tem a anfitriã do Mundial como cabeça-de-chave e que, para muitos, é o grupo menos forte tecnicamente. Para se ter uma idéia, a partida de abertura da Copa será entre as duas seleções de pior ranqueamento no torneio. Seria coincidência? Tomara que sim. Basta de maracutaias no mundo do futebol...

Grupo A: Rússia, Arábia Saudita, Egito e Uruguai.

Rússia

Única seleção classificada para a Copa sem precisar jogar as repescagens (habitual privilégio do país-sede), a Rússia, apesar de todas as suas limitações, caiu numa chave que lhe dá o direito e o dever de sonhar com uma vaga nas oitavas.

Rússia: 65ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Com exceção do ataque, a seleção comandada por Stanislav Cherchesov possui jogadores com pelo menos trinta anos de idade em todos os setores do campo. E dois deles são nomes relevantes no cenário europeu: Igor Akinfeev (31), eterno goleiro do CSKA Moscou, e Yuri Zhirkov (34), jogador polivalente de vasta experiência, com direito a passagem pelo Chelsea de Roman Abramovich, e atualmente no Zenit Saint Petersburg.

A equipe conta em seu elenco com a presença do lateral brasileiro Mário Fernandes (27), que, antes de trocar o Grêmio pelo CSKA Moscou, recusou uma convocação para a seleção brasileira de Mano Menezes.

Mas é nos pés do ambidestro Alan Dzagoev (27) que residem as maiores esperanças da torcida russa. O meio-campista do CSKA Moscou, parceiro de longa data de Akinfeev, foi nomeado para a equipe do Campeonato Europeu Sub-21 de 2013, sendo premiado ao lado de nomes como o alemão Holtby, o italiano Verratti e os espanhóis Illarramendi, Isco, Koke e Thiago Alcântara.

É fato que trata-se de uma Rússia carente de um articulador mais hábil - Andrey Arshavin seria um nome encaixadíssimo para a função, mas questões diversas o afastaram do seu potencial. O ataque também não tem um personagem que imponha maior respeito às defesas adversárias. Mas o fator casa, a experiência de alguns jogadores e a "sorte" de cair numa chave acessível permitem vislumbrar uma classificação. Classificação essa que passa necessariamente por um resultado positivo na estréia diante da seleção saudita, adversária mais frágil do grupo. Na segunda rodada, o confronto será diante do sólido jogo coletivo egípcio, o que provavelmente trará complicações à seleção russa. E o fechamento é com o Uruguai, em tese a maior força da chave - seria bom não depender de uma vitória nesse jogo, a não ser que os cascudos sul-americanos já entrassem em campo com a vaga assegurada.

Em entrevista após o sorteio, Vicente del Bosque, técnico campeão do mundo com a Espanha em 2010, disse sobre a possibilidade de os espanhóis enfrentarem os russos nas oitavas: "a Rússia joga como anfitriã e isso imprime caráter".

Arábia Saudita

Classificada ao Mundial após conquistar o segundo lugar no hexagonal final pelas Eliminatórias Asiáticas (terminando atrás somente do Japão e a frente de Austrália, Emirados Árabes Unidos, Iraque e Tailândia), a Arábia Saudita é uma incógnita. Não apenas para mim, que desconheço o futebol apresentado pela seleção, mas também para os adversários, que terão de estudar uma equipe cujos jogadores atuam basicamente em clubes longe dos holofotes hegemônicos. E as incertezas estão provavelmente a pairar sobre os próprios sauditas: afinal, o que esperar de uma seleção que era treinada pelo romeno Aurelian Cosmin Olăroiu na Copa da Ásia, passou aos cuidados do holandês Bert van Marwijk nas Eliminatórias Asiáticas e hoje está sob comando do argentino Juan Antonio Pizzi?

Arábia Saudita: 63ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Particularmente, me causa surpresa a não manutenção do vice-campeão mundial de 2010 no comando tático da equipe saudita. Mas se foi essa a escolha da federação de futebol do país, vida que segue, tanto para Bert quanto para a seleção.

Uma coisa é certa: Pizzi tem como local de nascimento a chave para a Arábia ir adiante: Santa Fé. Ser movido pelo verde da esperança que colore a bandeira da nação pode ser o ingrediente determinante para que os sauditas surpreendam o grupo e o mundo com a classificação. Pizzi, apesar de falhar na empreitada de levar o Chile à Copa, assina a vitoriosa campanha na Copa América Centenário de 2016, com direito a um memorável 7a0 sobre o México de Juan Carlos Osorio na fase quartas-de-final.

Nawaf Shaker Al Abid, meio-campista de 27 anos e multi-campeão com o Al Hilal, figura no topo da lista de goleadores nas Eliminatórias Asiáticas, tendo deixado sua marca cinco vezes (quatro delas cobrando pênaltis). E como nem só de gols e pênaltis convertidos vive o bom jogador de futebol, Nawaf é também o saudita com maior número de assistências naquele torneio, tendo servido por três vezes seus companheiros para chegarem às redes - mesmo número de passes para gol do também meio-campista Taisir Jabir Al Jassim, de 33 anos e igualmente acostumado aos títulos em sua trajetória no Al Ahli.

Agora, fica a expectativa da montagem do elenco que irá à Rússia enfrentar os anfitriões na partida inaugural. Será que Pizzi tentará preparar a equipe com uma formação ofensiva, a exemplo do que fizera com os chilenos? O jogo diante dos russos tem ares de fundamental, inclusive para se ter uma idéia do tamanho da responsabilidade pelo resultado na segunda rodada diante do Uruguai. Lembrando que o Uruguai vem há alguns anos mostrando dificuldades ao enfrentar sistemas fechados que se baseiam em contra-ataques de transição rápida. Na Copa de 2014, sucumbiu diante da Costa Rica mas conseguiu a classificação diante de ingleses e italianos. De lá para cá, a base e o comando tático da Celeste foram conservados. Potencial vantagem para a Arábia de Pizzi, que tem muito material para estudar este adversário. Se tudo der certo e for vontade de Alah, poderá haver bastante coisa em jogo na partida derradeira com o Egito.

Egito

Mohamed é um dos nomes de Maomé, Aquele considerado no islamismo como o mais recente e último profeta do Deus de Abraão. Mohamed também é o nome dos dois maiores jogadores da atual geração egípcia: Elneny, do Arsenal, e Salah, do Liverpool, ambos com 25 anos de idade e que desfilam seus talentos na maior liga de clubes do mundo, dando à seleção um salto de qualidade que a coloca como forte candidata à classificação no acessível grupo A.

Egito: 33ª colocada no ranqueamento da FIFA.
Mohamed Salah foi o único jogador nas Eliminatórias Africanas a marcar cinco gols na fase final, incluindo aí os dois da vitória por 2a1 sobre o Congo (desempatando a partida nos últimos minutos e classificando os egípcios para a Copa). Contribuiu ainda com duas assistências, tendo participado, portanto, de sete dos oito gols do Egito na derradeira etapa das eliminatórias.

Estará em maus lençóis a seleção que se preocupar exclusivamente com Salah. Antes da bola chegar até ele, costuma passar pelos pés de Mohamed Elneny, meio-campista com bom passe e grande visão de jogo. São dois trunfos do argentino Héctor Raúl Cúper, treinador que fez história ao conduzir o Valencia a duas finais de Liga dos Campeões da Europa.

E para quem acredita que é importante contar com alguém de vasta experiência dentro de campo, o Egito tem em seu goleiro alguém que cumpre com louvor esse papel: aos 44 anos de idade (fará o próximo aniversário em janeiro), Essam Kamal Tawfik El Hadary carrega em sua bagagem pessoal um vice-campeonato (2017, no Gabão) e três títulos da Copa Africana de Nações (2010, em Angola; 2008, em Gana; e 2006, dentro de casa).

Há alguns anos, talvez mesmo antes de El Hadary ser goleiro da seleção, pode-se dizer que o Egito trata-se de uma das seleções mais equilibradas de seu continente, marcada pelo sólido jogo coletivo. Hoje, tem incorporado a isso a presença de pelo menos dois atletas acima da média e capazes de decidir partidas. Não há qualquer razão para julgar que essa seleção vá à Rússia apenas fazer número: será um adversário duríssimo tanto para os uruguaios na estréia quanto para os anfitriões na segunda rodada. Já dá para cravar como candidata a surpreender no Mundial.

Uruguai

Aquela camisa que você respeita. Aquela seleção que a história não dá brecha para que a subestimem. Aquela mística que complexifica a discussão da modalidade esportiva denominada futebol. Afinal, com explicar alguns dos sucessos uruguaios a não ser por algum aspecto que transcende o mundo visível?

Uruguai: 21ª no ranqueamento da FIFA.
Luís Suárez e Edinson Cavani formam uma das principais duplas de ataque do futebol mundial. Cada um nas suas características, mas ambos sendo retratados naquele autêntico espírito uruguaio, de se dedicar a cada lance e acreditar em cada situação que a partida lhes oferte.

Sinto falta de um homem de ligação na equipe de Óscar Tabárez. Esse homem seria Lodeiro em 2010. Não funcionou. E, via improvisação, "surgiu" Forlán, que se sagrou um dos destaques na campanha semifinalista da Celeste. Em 2014, Rodríguez não conseguiu nem de longe o mesmo impacto no último terço de gramado. E, de lá para cá, não houve um único nome que tenha emplacado para a função. De Arrascaeta pode vir a ser esse elemento, mas precisará ser desenvolvido por Tabárez. Será, provavelmente, o maior desafio do treinador, que conseguiu montar uma defesa firme (Diego Godín lidera o setor com maestria) e conta com um ataque potencialmente avassalador.

O sorteio acabou sendo generoso com a seleção uruguaia ao ponto de ser inegável haver um favoritismo sul-americano na chave e uma responsabilidade em, pelo menos, obter a classificação às oitavas. Talvez a parte negativa disso tudo seja o fato de que egípcios, sauditas e russos poderão especular o jogo uruguaio e adotar uma postura de contra-ataques, situação com a qual o Uruguai vem apresentando maior dificuldade. Caso conquiste de fato a classificação, é o típico adversário que nem Portugal, nem Espanha, nem ninguém quer enfrentar em uma partida eliminatória. Afinal, é aquela camisa que você respeita...

Nenhum comentário:

Postar um comentário