domingo, 21 de dezembro de 2014

Real Mundial E Auckland Histórico

Sábado parei pra assistir os dois jogos derradeiros do Mundial de Clubes 2014: a disputa de terceiro lugar entre Auckland City e Cruz Azul, e a disputa de título entre Real Madrid e San Lorenzo.

Foram dois jogos interessantes. E vamos por partes. Primeiramente, tanto o 1a1 no primeiro jogo (vitória neo-zelandesa nos pênaltis) quanto o 2a0 no segundo foram justos. Uma justiça de precisão quase matemática. Explico daqui a pouco. Em segundo lugar, foi interessante observar o quanto o futebol está aberto a mudanças. Como tudo na vida, aliás. Aquelas imagens pré-concebidas de azarões e favoritos são negligenciadas quando soa o apito e tem início a prática esportiva - o que acho ótimo. Muitos poderiam imaginar que o Cruz Azul, por ser uma equipe do México enfrentando alguém da Oceania, venceria o jogo sem maiores transtornos. Enganaram-se. Muitos poderiam imaginar que o Real Madrid, com todo o seu poder financeiro, passaria fácil pelo modesto San Lorenzo. Enganaram-se. Quer dizer, em parte até que foi relativamente fácil. Explico daqui a pouco.

Retornando à "justiça de precisão quase matemática", o jogo entre Auckland e Cruz Azul teve um tempo de cada time. Surpreendentemente, a equipe da Nova Zelândia foi amplamente superior na primeira parte regulamentar e abriu o placar pouco antes do intervalo, em lance com direito a lançamento espetacular de Tade e conclusão consciente de De Vries. De dar gosto. Só que no segundo tempo o cenário mudou. Ambas as equipes mudaram de atitude e o que se viu foi um Cruz Azul sufocando o adversário. Veio o empate em gol de Rojas e só não pintou a virada por causa da grandiosa atuação do goleiro Spoonley.

Precisariam das penalidades para desempatarem definitivamente a disputa de terceiro lugar. E se as primeiras cobranças foram convertidas, coube a Irving desperdiçar a sua. Logo Irving, que fez ótima partida até então. Seria injusto com o defensor, que inclusive evitou gol oponente com bola rolando, que caísse sobre as suas costas o peso da derrota nos pênaltis. Não caberia a expressão "justiça de precisão quase matemática" nessas circunstâncias. Então, Fórmica perdeu sua cobrança logo na seqüência, igualando o número de desperdícios. Duas séries depois, foi a vez de Valadéz não aproveitar. E caiu nos pés do nigeriano Issa a cobrança histórica: bola na rede e, pela primeira vez em todos os tempos, uma equipe da Oceania faturava o terceiro lugar na Copa do Mundo de Clubes. Uma festa para lá de Marrakech.
Imagem extraída de Enlasgardas.
Auckland City celebra o feito histórico: com vitória nos pênaltis, clube neo-zelandês sagrou-se terceiro colocado no Mundial de Clubes 2014.

Se a disputa de terceiro lugar teve um tempo de cada time, a final do torneio teve dois tempos de uma equipe só: o Real Madrid. Por uma questão de "justiça de precisão quase matemática", o clube espanhol marcou um gol em cada parte e faturou o caneco. Só que, por maior que tenha sido a superioridade da equipe branca, é fato que houve dificuldades na construção do resultado. Os gols do jogo sentenciam isso. O placar foi inaugurado em lance de bola parada: após escanteio cobrado por Kroos, Ramos cabeceou para a rede. Pós-intervalo, Bale recebeu de Isco e chutou bola defensável, que passou por baixo de Torrico.

Mas seria simplista dizer que o Real conquistou o troféu intercontinental por causa de um lance de bola parada e de uma falha do goleiro. É claro que, não fossem esses gols, a equipe poderia se complicar e o San Lorenzo, quem sabe?, crescer a ponto de construir a vitória. Mas o time comandado por Carlo Ancelotti mostrou-se hábil em diversas situações. Uma delas, a bola parada que abriu a contagem. Os contra-ataques, rápidos e produtivos, renderam outros bons momentos. E a posse de bola é explicitamente superior a dos tempos de seu antecessor, o português Mourinho. Por falar em lusitano, quem teve atuação abaixo do que se espera foi Cristiano. E, pra coroar sua performance em Marrakech, sequer cumprimentou Platini na premiação e ainda se recusou a dar entrevista. Quando se é mais estrela (no sentido opaco da palavra) do que profissional (no sentido humano do termo), acontece dessas coisas. De resto, parabéns para a sensacional torcida do San Lorenzo. Possivelmente, os adeptos argentinos foram os personagens mais marcantes nesse evento disputado no Marrocos. Ao lado do Auckland, claro, que conseguiu fazer história.
Foto: Christoph Ena / AP.
 Elenco do Real Madrid celebra o título mundial: equipe chegou à 22ª vitória consecutiva diante do San Lorenzo e está perto de recorde histórico.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Mundial De Clubes 2014: Momento De Definições

Imagem extraída da seguinte URL.

O Mundial de Clubes 2014 está rolando no Marrocos e, mesmo antes da final, já podemos declarar uma equipe como "vencedora" no torneio internacional: o Auckland City, da Nova Zelândia.

O time neozelandês conseguiu eliminar o argelino ES Setif com uma vitória por 1a0 (gol de Irving), protagonizando a primeira classificação para a semifinal de um representante da Oceania na história da competição. Na semifinal, se alguém imaginou que o Auckland seria engolido pelo argentino San Lorenzo, se enganou. Se enganou redondamente. A vitória do time do papa Francisco (aniversariante do dia) foi na base do sufoco, talvez até com alguma intervenção miraculosa, em partida que, com direito à prorrogação, terminou 2a1 para o campeão da Libertadores. A equipe neozelandesa irá disputar o terceiro lugar de cabeça erguida. E se o mexicano Cruz Azul (que venceu o australiano Western Sidney por 3a1 antes de levar 4a0 do espanhol Real Madrid) achar que terá moleza, talvez também sucumba diante do surpreendente Auckland.

Final entre San Lorenzo e Real Madrid

Para a disputa pelo título, o favorito é o Real Madrid. Atravessa um grande momento, estando próximo de igualar o recorde mundial de 24 vitórias consecutivas do Coritiba, além de contar com um elenco tecnicamente forte e taticamente consistente. Reitero aqui os elogios a mais um grande trabalho realizado pelo treinador italiano Carlo Ancelotti.

O San Lorenzo tem totais condições de criar dificuldades aos merengues, e para isso contam com um time determinado (os jogadores jamais entregam os pontos, vide a própria campanha na Libertadores, quando chegaram a ser lanternas no grupo que tinha Botafogo, Unión Española e Independiente Del Valle), com atletas de boa qualidade técnica (Más, Buffarini, Villalba e Matos são alguns exemplos), com uma torcida entusiasmada (simplesmente contagiante a participação dos adeptos em Marrakech, pela semifinal) e... tchan, tchan, tchan, tchan... com o papa Francisco. Pensando bem, será que o Real é realmente favorito?

Separe o sábado com carinho: às 14e30 tem Auckland City e Cruz Azul; e às 17e30 rola a bola para San Lorenzo e Real Madrid.

Ah! A disputa de quinto lugar rolou ontem: após empate por 2a2 que persistiu até a prorrogação, o ES Setif superou o Western Sidney nos pênaltis, por 5a4, após oito cobranças de cada lado.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Campeonato Brasileiro 2014: E O Cruzeiro Sobrou...

Encerrada mais uma edição de Campeonato Brasileiro. Olhando a tabela de classificação, encontramos pelo menos duas informações que chamam atenção. A primeira: como sobrou o líder e campeão Cruzeiro. Equipe que mais venceu (24 vezes em 38 rodadas), que menos perdeu (apenas meia dúzia de derrotas) e que ficou dez pontos acima do vice-líder e vice-campeão São Paulo. A pontuação cruzeirense foi o dobro da palmeirense, que terminou em 16º lugar com 40 pontos. E é exatamente essa a segunda informação que chama atenção na tabela de classificação: a baixa pontuação do décimo sexto colocado. Matemáticos sentenciavam que para escapar do rebaixamento fossem necessários 45 pontos. Pobres matemáticos esses que acreditam que o futebol seja uma ciência exata! Esse esporte é tão imprevisível quanto a defesa do time de Dorival Júnior. E mesmo se o Palmeiras tivesse perdido na última rodada (empatou quando "precisava" vencer), Vitória e Bahia, com suas derrotas, já salvavam a pele do Porco.

Em 2014, Minas Gerais e Santa Catarina tiveram um ano especial. Cruzeiro campeão da Liga. Atlético campeão da Copa. América 5º colocado na Série B, ficando a um ponto do acesso. Acesso que coube ao catarinense Avaí, que em 2015 se junta ao Figueirense, à Chapecoense e ao Joinville, campeão da Segunda Divisão. É isso mesmo, amante do futebol: Santa Catarina é o estado com o segundo maior número de representantes na Série A do próximo ano, ficando atrás de São Paulo (os quatro "de sempre" mais a recém-promovida Ponte Preta, e na frente do Rio de Janeiro, que terá o retorno do Vasco, trocando de lugar com o recém-rebaixado Botafogo). Dessa vez, parece que o Fluminense não entrará com recurso.
Imagem: UOL.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Mineirão: Um Patrimônio Dos Deuses Do Futebol

Há alguma bênção sobre o estádio do Mineirão. Não sei quem a direcionou para aquele lugar, tampouco faço idéia de quando especificamente tenha ocorrido tal acontecimento fenomênico. Mas, reafirmo: há alguma bênção sobre o estádio do Mineirão.

Para comprovar essa constatação (veja bem, não é teoria ou suposição, mas uma constatação), não precisamos ir longe no tempo. Os feitos do Clube Atlético Mineiro na Copa Libertadores da América estão vivos na memória do futebol continental. E não vou me alongar aqui para descrever a sensacional trajetória daquela equipe comandada por Cuca na beira do gramado e por Ronaldinho dentro das quatro linhas. Vídeos com os melhores momentos de cada jogo de volta são o suficiente para mostrar o sobrenatural em ação, tanto no Independência quanto no Mineirão, palco da derradeira decisão.

Para comprovar aquela constatação (de que há alguma bênção sobre o estádio do Mineirão), vou me debruçar sobre dois jogos mais recentes do que a edição 2013 da Libertadores. São dois momentos marcantes, cada qual à sua maneira, cada qual com suas (in)devidas (des)proporções. Ei-los: a semifinal da Copa do Mundo 2014 entre Brasil e Alemanha; e a semifinal da Copa do Brasil 2014 entre Atlético Mineiro e Flamengo. Dois jogos sediados pelo mesmo abençoado Mineirão e que terminaram com muitos gols, quase todos eles para o mesmo lado.

Do lado da Alemanha, de Joachim Löw. Exaltamos aquela atuação nesse blógui. Quem quiser recordar, acesse "Em Nome Do Futebol, Sete Vezes Obrigado!".

E do lado do Atlético, de Levir Culpi. Levir não é nenhum Löw assim como o Galo não é nenhuma Alemanha. Sequer cabem maiores comparações entre esses treinadores e essas equipes. Só que o Mineirão estava lá. O bendito Mineirão estava lá, abençoando os amantes do futebol que lançavam olhares sobre aquele terreno. Tanto na goleada alemã quanto na atleticana, tivemos do lado oposto duas equipes afogadas na própria incompetência. O Brasil de Luiz Felipe Scolari era uma coisa esdrúxula desde que esse pseudo-treinador assumiu a seleção. Criticamos incansavelmente cada atuação daquele esboço de time de futebol durante a Copa, numa campanha que acabou enganando bastante gente "entendida" do assunto. Até a máscara cair no Mineirão. Ou você acha que com Neymar seria diferente? Aviso: cada segundo seu de reflexão é um meu de risada sarcástica. E o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo, pecava pela organização. Mas como assim "pecava pela organização"? Sim, pecava pela organização. O time do Flamengo foi organizado por um sujeito que não queria que seus comandados jogassem futebol. E a equipe, esbanjando disciplina em sua retraída e acovardada formação tática, sucumbiu pela própria incompetência estratégica aliada ao ímpeto vencedor que havia do outro lado, vestindo preto e branco. Uma virada para deixar o mais preto dos flamenguistas vermelho de vergonha.

Um cântico ecoou no Mineirão na noite apoteótica em que o Atlético sapecou 4a1 no Flamengo (lembrando: o jogo de ida foi vencido pelo Rubronegro por 2a0 e a equipe carioca ainda abriu o placar em Belo Horizonte, se dando o direito de tomar três gols para ainda assim se classificar para a final do torneio em que é atual campeão). Esse cântico dizia assim, em duas palavras que formam uma frase que dispensa novos vocábulos: "Eu Acredito". Melhor que isso, só com o ponto de exclamação: "Eu Acredito!". Melhor ainda, quando entoado por dezenas de milhares de pessoas, a plenos pulmões: "EU ACREDITO!". Primeiro, a torcida do Flamengo entoou essas palavras, ironizando a crença atleticana no que parecia impossível. Pois é, parecia. Mas não era. "Yes, We C.A.M.". No final, foi a torcida da casa quem bradou a frase, como se fosse uma oração. Bendito legado do Cuca, bendito Mineirão.

Eu acredito em muitas coisas. Inclusive no futebol bem jogado. Abençoados sejam aqueles que acreditam. Amém.
 Luan aponta para os céus diante da torcida atleticana no Mineirão: equipe buscou quatro gols para se classificar à final da Copa do Brasil 2014. O último foi marcado por ele. Ou por Ele? 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

E O Campeonato Brasileiro, Sai Da Zona De Rebaixamento?

Confesso ter perdido um pouco do ânimo para falar de Campeonato Brasileiro. Não que o torneio tenha se tornado pior de uns tempos pra cá (pelo menos não necessariamente). Talvez seja o fato de compará-lo com competições flagrantemente mais atrativas para os olhos do futebol arte, como a Copa do Mundo (a edição 2014 teve partidas sensacionais) ou o Campeonato Inglês (anos-luz a frente da bola que se joga no Brasil).

De toda forma, hoje parei para ver Botafogo e Goiás, pela televisão. Cinco dias antes, tinha parado para ver Paysandu e Cuiabá, na Curuzu, em minha primeira experiência presencial naquele estádio. O jogo da Série A foi mais interessante que o da Série C, isso não há dúvida. Mas nenhuma das duas partidas merece ser lembrada como prática do bom futebol.

Em Belém, vi um Paysandu que queria tomar a iniciativa mas sem saber como. Era um morno que não encontrava o ponto de ebulição no gramado nem nas arquibancadas - essa sim uma grande decepção. A Curuzu até teve momentos de euforia, que se limitaram ao intervalo de tempo onde o Bicolor vencia por 1a0. Levou a virada e a torcida calou-se, interrompendo o silêncio basicamente para reclamar de um ou outro atleta. Talvez o grande barato tenha sido ver que, em meio a tantos "padrões FIFA", tive a oportunidade de assistir uma partida do jeito que gosto: em pé. Me senti um geraldino, a alguns metros do gramado e a alguns centímetros do gandula. Cheguei inclusive a devolver uma bola.

No Maracanã, o Botafogo com volantes e zagueiros até dizer chega conseguiu muitos desarmes pra cima do Esmeraldino. E a verdade é que o Goiás rendeu muito menos do que se espera de um time que vem de uma goleada de 6a0. Se bem que no primeiro turno o Botafogo foi enfrentar o Goiás após sapecar 6a0 e perdeu o jogo em Juiz de Fora. Talvez sejam coisas do futebol. Coisas da superstição. Coisas que só acontecem ao Botafogo. Dessa vez, o 1a0 (gol de Bolívar) possibilitou um afastamento suave da zona de rebaixamento. Mas quem precisa sair da zona é o futebol brasileiro. O problema é que, mesmo após o vexame dos 7a1 para a Alemanha, utilizamos os mesmos ingredientes nos mesmos recipientes. E fazemos de conta que estamos fazendo diferente. Salve-se quem puder.

domingo, 31 de agosto de 2014

Arsenal É Pouco Para Derrubar Muro Azul: 1a1 Em Leicester

Imagem extraída de ESPN.com.br
De volta à Premiership (a primeira divisão no futebol inglês) após dez anos, o Leicester City fez a alegria de seus torcedores presentes no estádio King Power. Com a força de quem é o rei do pedaço, a equipe comandada por Nigel Pearson conseguiu arrancar um empate diante do qualificado conjunto do Arsenal, apontado entre os candidatos ao título nessa temporada.

Não que a igualdade no placar ajude muito o time de Leicestershire, que sobe algumas posições mas permanece próximo à zona de rebaixamento. Só que o efeito moral após esse resultado vale muito mais do que um ponto somado na tabela de classificação. Atuações como a do capitão Wes Morgan contagiam e estimulam, mostrando que a determinação e a concentração são dois ingredientes que, em conjunto, formam um verdadeira muralha na defesa.

Mesmo com a muralha composta pelo jamaicano Morgan e companhia, o time de Arsène Wenger conseguiu atravessar o obstáculo: em grande jogada de Santi Cazorla, Sanogo recebeu do espanhol e viu a bola chegar até Sánchez, que marcou seu primeiro gol na competição e o segundo na temporada (o chileno havia ido à rede na vitória por 1a0 sobre o Besiktas, que selou a classificação à fase de grupos na Liga dos Campeões da Europa, quarta-feira).

A desvantagem no placar durou pouco. Dois minutos, para ser mais específico. Aos vinte e um, Jeffery Schlupp cruzou da esquerda e Leonardo Ulloa cabeceou no contrapé de Szczesny para empatar a partida.

Pouco depois, Wenger trocou Koscielny por Chambers. O zagueiro francês havia sofrido choque de cabeça minutos antes e inclusive mostrou-se fora do tempo de jogo no momento do gol de empate dos donos da casa. Suscita-se uma questão cada vez mais pertinente: capacete no futebol. Qualquer mecanismo que aumente a segurança dos atletas precisa ser avaliada com carinho e o fato é que choques de cabeça ficaram mais freqüentes do que o que esse uniforme atual propõe.

O primeiro tempo avançou até o seu final com o placar de 1a1 mantido. Na volta do intervalo, a partida acelerou. Foram cinco novas substituições, a maioria delas trazendo maior velocidade ao confronto. Se o Arsenal passava a ter mais agilidade com Chamberlain e Podolski nos lugares de Cazorla e Sanogo, o Leicester quase virou o jogo com Jamie Vardy, que em contra-ataque deixou dois adversários para trás e quase marcou.

Com 67% do tempo de posse de bola e toda aquela qualidade na troca de passes, o Arsenal acabou não conseguindo o gol nos minutos finais - coisa que acontecera tanto na estréia diante do Crystal Palace quanto na segunda rodada diante do Everton. Méritos para o muro Morgan e os demais tijolos, muito bem posicionados à frente do goleiro Schmeichel. Que, por sinal, nem teve muitas oportunidades de mostrar que filho de muro, murinho é.

domingo, 24 de agosto de 2014

Após Substituições, Pênalti E Expulsão, Flamengo Vence Criciúma

Foto: Emanuel Galafassi / Fotoarena
No quarto confronto entre catarinenses e cariocas nas últimas duas rodadas (tá parecendo mais um torneio entre Santa Catarina e Rio de Janeiro do que Campeonato Brasileiro), o Flamengo foi até o estádio Heriberto Hulse e venceu o Criciúma - nos outros três jogos do SC-RJ nessa semana, três vitórias dos donos da casa.

O time de Vanderlei Luxemburgo atuou submerso num pragmatismo que funcionou desde o início, embora o placar de zero a zero tenha persistido até o momento do pênalti apitado aos trinta e dois minutos no segundo tempo. Com maior volume de jogo, o Flamengo conseguiu neutralizar os elementos mais "famosos" do adversário: o experiente Cléber Santana pouco foi capaz de produzir, o veterano Souza jogou mais pelo time de coração do que pelo de profissão e o jurássico Paulo Baier não rendeu nem nas bolas paradas. De quebra, os constantes apoios de Leonardo Moura - que acertou belo chute no travessão - ainda convidaram o hábil lateral-esquerdo Cortês a se dedicar ao campo de defesa, o que ele faz com a mesma aptidão com a que escolhe um corte de cabelo. Ou seja...

Após as entradas do argentino Lucas Mugni no lugar de Márcio Araújo e do braso-croata Eduardo da Silva no de Nixon, que se deram aos doze no segundo tempo, o Flamengo ganhou força no campo de ataque. Não por acaso, os gols da vitória foram exatamente desses dois jogadores que entraram no decorrer da partida. Aos trinta e dois, Mugni converteu pênalti em jogada que ainda rendeu cartão vermelho para João Vítor. Quatro minutos depois, Fábio Ferreira bloqueou finalização sem conseguir afastar a bola e o rebote ficou para Eduardo da Silva, que não desperdiçou.

O Flamengo de Luxemburgo, tão acostumado às vitórias por um gol de diferença (foram três por 1a0 e uma por 2a1), volta para casa com uma goleada na bagagem. Pelo menos foi assim que os torcedores rubronegros presentes no estádio do Tigre parecem ter encarado o 2a0 em Criciúma, com direito a gritos de "olé" ecoando nas arquibancadas. Com o placar, os cariocas se afastam da zona de descenso enquanto os catarinenses passam a ter um representante naquele indesejável setor na tabela de classificação. Na próxima rodada, acredite se quiser, não haverá confronto entre clubes desses estados.

Sunderland E United Empatam - E O Que David Moyes Tem A Ver Com Isso?

Imagem extraída de MaisFutebol.
A decepcionante temporada 2013-4 vivida pelo Manchester United causou desconfortos na diretoria. Tanto é que, após o clube dar grande longevidade ao então aposentado (Sir) Alex Ferguson, seu compatriota David Moyes foi sumariamente demitido em pleno primeiro ano de Old Trafford.

Ryan Giggs assumiu interinamente e, depois, veio o anúncio da contratação do renomado técnico holandês Louis van Gaal, atual terceiro colocado com a seleção de seu país no Mundial-2014. Só que as fragilidades da equipe vermelha (que hoje jogou de azul), continuam escancaradas. Então, surge uma pergunta essencial: tem culpa o David Moyes pelo mau início de temporada atual? (Favor ler essa pergunta uma vez com seriedade e outra em tom irônico)

Podemos desdobrar a resposta por caminhos diferentes. O primeiro é o evasivo "está apenas começando o trabalho de Van Gaal", que sugere cautela para afirmar qualquer coisa a essa altura (de duas rodadas) do campeonato. Gosto desse tipo de abordagem, pois trabalho de treinador de futebol necessita de uma análise de longo prazo, o que é ainda impossível de se fazer no caso do United. Já o segundo caminho é refletir sobre o elenco do clube e sobre os trabalhos dos escoceses que antecederam o holandês que hoje senta na poltrona de reservas. Vejamos bem, por mais que houvesse toda uma idolatria em torno de Ferguson - o que se justifica muito mais pelos resultados do que pelas atuações -, é necessário desconstruir alguns mitos em torno do lendário técnico, cuja história se confunde com a do próprio clube. Assisti diversas partidas monótonas e vazias de inspiração do Manchester de Ferguson que terminaram com goleadas da equipe e a euforia dos adeptos. Cultura do resultado corroborando um pragmatismo que não costuma deixar grandes legados, embora muitas das vezes preencha salas de troféus com objetos dos mais cobiçados. Ferguson foi, sem dúvida, um vencedor. Ponto. Veio Moyes e os resultados não apareceram. Sequer deram tempo para que pudessem aparecer. É como se o próprio indivíduo contratado - e que foi indicado pelo próprio Alex Ferguson - já não mais inspirasse confiança, apesar da elogiada longa passagem pelo Everton.

Van Gaal chegou. Hoje, o Manchester United teve em campo um time com os ótimos Juan Mata (autor do gol), Wayne Rooney (que buscou jogo) e Robin van Persie (pouco produtivo no meio da bem compactada defesa do Sunderland). Três ótimos jogadores, faço questão de repetir o adjetivo. Mas o resto da equipe é de nomes de times médios. A zaga tem uma dificuldade bizarra de sair jogando com a bola no chão. O meio carece de criatividade. Pelos flancos, Valencia e Young transpiram litros mas raramente encontram com quem dialogar. O equatoriano até conseguiu descolar um cruzamento que terminou no gol do espanhol, mas se a partida tivesse mais duas horas de duração, era mais fácil o dedicado jogador morrer do coração do que conseguir qualquer outra coisa.

É evidente que a especulação em torno do nome do argentino Ángel di María, caso se concretize, dará um salto de qualidade para a equipe. Mas quero frisar que é tão prematuro afirmar hoje que a culpa seria de Van Gaal quanto o foi criticar o trabalho de Moyes até o momento de sua demissão. Mais que prematuro, é um conceito injusto.

Depois de ver anos e anos do United sob o comando de Ferguson, cheguei a algumas conclusões. Elas giram em torno do fato de que Ferguson conseguiu dar um padrão de jogo à equipe, entrosando todos os setores e expondo sua filosofia de jogo materializada no desempenho de seus atletas. Sem jamais encantar. Ou melhor, sem jamais me encantar. Com uma mentalidade vencedora e uma liderança pela disciplina, Ferguson fez o suficiente para entrar na história. Seus números impressionam e diante deles não há como argumentar em contrário. Minha crítica é muito mais pelos procedimentos do que pelos resultados, pelas formações táticas do que pelo fruto matemático de suas escolhas. De Van Gaal espero algo diferente. Os times que vi de Van Gaal me deram mais prazer de assistir do que o Manchester United. Não sei se isso dará aos adeptos o mesmo volume de títulos que eles ficaram acostumados noutros tempos. E torço para que isso seja o menos importante nessa história: é preciso dar tempo ao tempo e entender que o futebol está muito além dos números.

Acredito que a primeira coisa que o Manchester United esteja precisando nesse momento é se libertar de sua própria história. Do contrário, a melhor alternativa para perpetuar aquele jeito de jogar - e ganhar - seja convidando Ferguson a desistir da aposentadoria. Mas uma convicção eu tenho: ele, inteligente que é, não toparia.

Sobre o Sunderland

Gostei da consistência tática da equipe comandada pelo uruguaio Gustavo Poyet. Sem nenhum grande nome no elenco, conseguiu jogar de igual para igual diante de um adversário que veste uma camisa pesada e que, pelo menos em teoria, tinha a obrigação da vitória. Mas a partida que terminou empatada no Stadium Of Light ficou perto de ter um vencedor menos provável. O lance em que Wickham chapelou um adversário teria sido antológico caso terminasse em gol, mas acabou saindo em escanteio por detalhe. Rodwell, investimento de dez milhões de libras (muita grana em se tratando de Sunderland), marcou o único gol dos donos da casa. O goleiro italiano Vito Mannone, que poucas chances teve nos tempos de Arsenal, mostrou segurança. Até como líbero saiu-se bem, merecendo uma réchi tégui #MannoNeuer. No final, a entrada do estadunidense Altidore no lugar do escocês Fletcher ainda causou mais tormentos ao miolo de zaga visitante. Wes Brown e John O'Shea, que já vestiram a camisa do Manchester United, contribuíram num sistema defensivo sólido e que raramente se deixou envolver. Talvez, se Giaccherini estivesse à disposição do treinador Poyet, a essa altura o telefone de Ferguson pudesse estar tocando. (Favor ler essa última frase obrigatoriamente em tom irônico. Sério)

sábado, 23 de agosto de 2014

Com Ramírez 'À La' Ronaldinho, Botafogo Vence Chapecoense

Foto: Vítor Silva / SSPress
Após o Botafogo visitar o Figueirense (derrota por 1a0) e a Chapecoense receber o Fluminense (vitória por 1a0), tivemos mais um encontro entre cariocas e catarinenses. E, novamente, deu 1a0 para o time da casa. Melhor para o Botafogo, que sobe provisoriamente para a décima segunda colocação, deixando uma posição abaixo a própria equipe de Chapecó.

O jogo foi difícil, inclusive de assistir. Os belos momentos, daqueles dignos de registro, cabem nos dedos de uma única mão - e isso sendo generoso. Um deles eu dormirei sem saber quanto à sua intencionalidade: será que o golaço de Ramírez foi um cruzamento sem precisão ou um chute de quem sabe? Talvez seja melhor perguntar ao Ronaldinho Gaúcho, que protagonizou jogada parecida na Copa do Mundo de 2002, então encobrindo o lendário goleiro inglês David Seaman.

É bem verdade que no momento da finalização (ou do cruzamento, vai saber?!) o goleiro Danilo Padilha estava adiantado, o que até configuraria um convite à tentativa de encobrí-lo. Mas particularmente acho mais cauteloso minimizar a responsabilidade do goleiro no lance, pois bola que vai no ângulo complica a ação de qualquer ser humano. Então, coube ao peruano emprestado pelo Corinthians celebrar sem primeiro gol com a camisa do Alvinegro de General Severiano. Gol que somado às importantes defesas de Jéfferson (uma delas sensacional) rendeu três pontos ao Botafogo.

Pelo nível de atuação do time botafoguense, quem mais mereceu a vitória foi a torcida que compareceu e incentivou a equipe no Maracanã. Com Daniel sumido a maior parte do tempo e Zeballos abaixo de seu rendimento, aquela idéia de "décimo segundo jogador" foi fundamental para o clube da estrela solitária resistir ao ímpeto adversário - que, convenhamos, nem era dos mais agudos. O participativo Zezinho foi um dos destaques de uma equipe que, embora tenha produzido pouco, só não saiu com pelo menos um ponto a bagagem porque esbarrou no melhor goleiro brasileiro na atualidade. Pelo Fogão, destaque para Ferreyra pelo empenho e para Jéfferson pela competência.

Na próxima rodada, a Chapecoense vai até Minas Gerais enfrentar o líder Cruzeiro no sábado. No dia seguinte, o Botafogo recebe o Santos no Rio de Janeiro. Só que, antes disso, a equipe comandada por Vágner Mancini precisará pensar em outro alvinegro: o Ceará, compromisso de quarta-feira pelas oitavas-de-final na Copa do Brasil, novamente no Maracanã.

Com Dois Gols No Final, Arsenal Busca Empate Na Casa Do Everton

Imagem extraída da página do The Sun.
Goodison Park foi sede de mais uma partida de Campeonato Inglês definida nos minutos finais. O Everton chegou a construir uma situação que parecia lhe encaminhar os três pontos diante de seus torcedores (um pouco pela vantagem de 2a0 no placar, um tanto pela solidez tática da equipe comandada por Roberto Martínez). Só que, no final, restou a sensação de ter visto evaporar dois pontos em seu próprio campo: o Arsenal correu atrás, atacou intensamente, rodou a bola, chutou em gol e conseguiu a igualdade no placar, mostrando todo o poder de reação e determinação da equipe dirigida por Arsène Wenger.

O início de partida teve o Arsenal freqüentando o campo ofensivo e quase abrindo o placar com Chamberlain, em lance onde Coleman, em vez afastar o perigo, acabou dando um passe para o adversário, que chutou rente à trave direita. Se naquele momento Coleman vacilara, aos dezoito minutos ele se redimiria de todos os seus pecados cometidos até então na partida: após jogada ensaiada de toques rápidos que envolveram todo o sistema defensivo oponente, Gareth Barry cruzou e Seamus Coleman cabeceou firme, inaugurando o marcador na cidade de Liverpool.

Com Barry comandando as ações no meio-campo e a defesa dando conta de neutralizar Sánchez, tudo ia fluindo bem para os donos da casa no primeiro tempo. E o cenário ficou ainda melhor pouco antes do intervalo: aos quarenta e quatro, em rápido contra-ataque pela direita, Lukaku deu a assistência para Naismith ampliar a vantagem. Cabem aqui elogios à ótima transição ofensiva da equipe azul mas também sem esquecer de prestar críticas à arbitragem, que ignorou duas irregularidades no mesmo lance: houve falta de Lukaku em Mertesacker e impedimento de Naismith na jogada do 2a0.

O espanhol Roberto Marínez, que está em sua segunda temporada como técnico do Everton, tinha no gramado um time que variava sua disposição de jogadores. E essa versatilidade entre um grupo ora compacto, ora espalhado pelo campo, conseguia dar ao mesmo tempo consistência para a defesa e agilidade para as saídas ao ataque, explorando a lentidão de Mertesacker e os eventuais espaços que Debuchy e Monreal cediam pelos flancos, com participações constantes de Coleman, Baines e Mirallas. A troca de Pienaar por Osman (o sul-africano sentiu contusão e saiu antes dos nove minutos) não comprometeu em nada o sistema de jogo, tanto é que foi após a alteração que vieram os dois gols.

Enfim, tudo muito bem e muito legal para o time anfitrião. Restaria o segundo tempo para concretizar a vitória sobre um sério candidato ao título. Só que quando alguém é creditado ao caneco na Inglaterra, é necessário não subestimar suas capacidades. Wenger mexeu no intervalo, colocando Giroud no lugar de Sánchez. Não sei se foi pela substituição em si ou por alguma mudança de atitude coletiva (possivelmente por ambos os fatores), mas o fato é que o Arsenal passou a atuar melhor. Giroud desperdiçou uma. Desperdiçou duas chances. Desperdiçou uma terceira oportunidade. Ou seja: o Arsenal construía ocasiões de gol. Aos vinte e oito, Wenger mexeu mais duas vezes: saíram Wilshere e Chamberlain, entraram Cazorla e Campbell. E o dinamismo ofensivo do time aumentou ainda mais. Debuchy e Monreal jogavam como autênticos pontas enquanto Flamini era o único homem de meio-campo que parecia se dedicar a proteger a zaga. Zaga essa que passou a requerer menor proteção assim que Martínez trocou o participativo Lukaku por McGeady.

Aos trinta e sete, o Arsenal descontou: Cazorla cruzou rasteiro da esquerda e Ramsey apareceu na pequena área para concluir. É incrível a capacidade do meio-campista galês de se apresentar com precisão geográfica e cronométrica para colocar a bola na rede. Foi assim na primeira rodada e novamente agora, na segunda. Segundo gol de Ramsey nessa temporada, que está apenas começando.

Dois minutos após sofrer o gol, Martínez colocou o ganês Atsu para estrear na Premiership, tirando o outro belga que tinha além de Lukaku: Mirallas. Era um ganho de velocidade que poderia render o terceiro gol à equipe. Talvez fosse esse o plano do espanhol. Só que do outro lado há um certo francês, que dirige o Arsenal há quase duas décadas e que adora ver seu time com a bola nos pés. E o Arsenal tinha a bola nos pés, não possibilitando para Atsu nem ninguém que vestisse azul a possibilidade de arrancar em velocidade. Aos quarenta e quatro, brilhou a estrela de outro francês: em sua quarta finalização no jogo, Giroud conseguiu, de cabeça, empatar a partida após cruzamento de Monreal. Pensando bem, brilhou a estrela dos franceses, pois não podemos esquecer daquele que, no intervalo de partida, escolheu colocá-lo em campo no lugar de Sánchez.

domingo, 17 de agosto de 2014

Botafogo Vence Fluminense E Sobe 7 Posições Na Tabela

Foto: Bruno de Lima / LANCE!Press
O Clássico Vovô tem esse nome por esse tratar do mais antigo de todos os clássicos brasileiros. Com histórias de longa data no futebol nacional, o Alvinegro de General Severiano e o Tricolor das Laranjeiras foram travar mais um confronto em meio a mais de três centenas deles ao longo de mais de um século de longevidade. Nesse futebol onde a dita modernidade cria modelos insanos para a prática do esporte, o palco da partida foi bem longe do habitual Maracanã: o estádio Mané Garrincha, na capital federal Brasília.

Território com bastantes botafoguenses e tricolores, a cidade, que é jovem se compararmos sua data de fundação com a dos clubes Botafogo e Fluminense, recebeu cerca de trinta mil torcedores na noite de domingo. Número considerável, principalmente se avaliarmos a atual situação de ambas as instituições: enquanto o Botafogo está com salários atrasados e em cenário político conturbado, o Fluminense vem de uma eliminação vexatória na Copa do Brasil. De quebra, o preço do ingresso mais barato menos caro abusivo era de oitenta reais. Mais de 10% de um salário mínimo!

Mas lá foram dezenas de milhares de apaixonados acompanharem o jogo no estádio que sediou alguns belos jogos na Copa do Mundo (acredite: era possível assistir um jogo de Mundial por preço inferior ao cobrado nessa partida de Campeonato Brasileiro). O primeiro tempo não engrenou: as equipes faziam partida travada, mais disputada física e territorialmente do que desenvolvida futebolisticamente. Só que os deuses da bola reservaram algo de outro nível para depois do intervalo, e a partida melhorou demais.

O Botafogo sem Dória e o Fluminense sem Gum até que se comportavam bem no miolo de zaga. Mas o Flu só não levou o primeiro gol nos primeiros vinte segundos no segundo tempo graças ao seu goleiro: após chute forte e colocado de Gabriel, Diego Cavalieri desviou sutilmente para escanteio. Era a primeira chance de muitas do Alvinegro. E duas delas vieram a ser aproveitadas. Aos vinte e dois, Zeballos tocou para Daniel e o jovem descolou maravilhosa finalização, deixando Cavalieri sem ação diante de uma bola que foi parar no ângulo esquerdo. Golaço. Três minutos depois, foi a vez de Zeballos deixar o dele em jogada fabricada no paraguaio Olimpia, só que com inversões de papéis: o centroavante Ferreyra cruzou rasteiro como se fosse um ponta e o ponta Zeballos fechou na pequena área como se fosse um centroavante. Ponto para o Botafogo.

Cristóvão Borges ficou sem reação no banco de reservas, provavelmente sentindo que o time piorou justamente depois de ele ter realizado sua primeira substituição (Cícero por Wálter, pouco antes do primeiro gol alvinegro). Com dois gols de desvantagem, trocou Bruno por Diguinho, mas viu o volante começar a mancar após dividida com Aírton. Ou seja: não era dia.

Vágner Mancini precaveu-se: trocou Tanque Ferreyra pelo também argentino Bolatti, aumentando a presença no meio-campo. Depois, lançou Rogério no lugar de Daniel, renovando a velocidade para os contra-ataques. E ainda trocou seis por meia dúzia na lateral-esquerda de nomes similares: Júnior César por Júlio César. Graças a Jéfferson, Rafael Sóbis não descontou para os tricolores. Aos quarenta e dois, Fred tinha a chance máxima de recolocar fogo numa partida aparentemente definida: pênalti para o Fluminense, acusado por um daqueles auxiliares situados atrás da linha final, cometido por Júlio César em Sóbis. Só que não era dia: Fred, tão acostumado a marcar no Botafogo, mandou para fora.

Com o resultado, o Fluminense estaciona nos vinte e seis pontos, fechando a rodada em quarto lugar. E o Botafogo ganha novo ânimo, chegando aos dezesseis pontos, zerando o saldo de gol e subindo sete posições na tabela, aparecendo em décimo segundo lugar. Sete posições. Os botafoguenses supersticiosos não dormirão com dúvida: foi com as bênçãos do Mané.

Em Confronto De Ameaçados, Flamengo Suspira: 1a0 No Coritiba

Foto: Heuler Andrey / Getty Images
Coritiba e Flamengo iniciaram a décima quinta rodada na zona de descenso e foram a campo buscando uma vitória que possibilitasse escapar dessa situação. A partida foi equilibrada, tendo feito a diferença o oportunismo do meia Éverton, que aproveitou vacilo de Baraka para marcar o único gol na partida realizada no estádio Couto Pereira.

Se o Coxa de Celso Roth não contava com sua estrela Alex, chances não faltaram para a equipe alviverde sair de campo com melhor resultado: só no primeiro tempo foram pelo menos três ocasiões claras para marcar. Não aproveitou nenhuma delas e acabou sucumbindo diante de seus insatisfeitos torcedores, com muitos deles abandonando as arquibancadas antes mesmo do apito final - mais precisamente após a expulsão de Robinho, que recebeu o segundo cartão amarelo aos trinta e cinco minutos no segundo tempo, quando os donos da casa pouco ameaçavam o adversário.

Em quatro jogos desde o retorno de Luxemburgo ao Rubronegro Carioca, é a quarta vez que o resultado de uma partida do Flamengo termina 1a0. Foi assim na vitória sobre o Botafogo, na derrota diante da Chapecoense e no triunfo diante do Sport, rodada passada. Uma equipe econômica em gols e também em futebol, mas onde sobra força de vontade. Num torneio nivelado por baixo, o suficiente para fugir das quatro últimas posições.

Já o Coritiba, que não vence no Brasileiro há três rodadas e na temporada há quatro jogos, precisa encontrar alternativas para sair da condição de lanterna. O time é fraco tecnicamente e conta com um treinador pra lá de limitado. Desse jeito, nem se Alex reviver o ano de 2003 (quando foi treinado por Luxemburgo no Cruzeiro e conquistou a Tríplice Coroa esbanjando talento) será possível dar jeito. E um craque como ele merece uma aposentadoria mais digna do que o atual cenário coxa branca.

Começa Bem A Busca Do Bi: Manchester City Vence Newcastle Em St. James Park

Foto: Ian Macnicol /AFP
Depois de acompanhar a vitória de virada do Arsenal sobre o Crystal Palace ontem, hoje foi a vez de assistir a estréia de Newcastle e Manchester City no Campeonato Inglês. Novamente, uma partida de final eletrizante, definida nos acréscimos. Os atuais campeões venceram os donos da casa por 2a0 em Saint James Park, com gols de David Silva (em linda assistência de Edin Dzeko) e Sergio Agüero (em lance onde mostrou saber chutar com ambas as pernas).

O resultado foi construído com bastante dificuldade e isso é muito mais por méritos da equipe alvinegra do que por qualquer crítica que possamos fazer aos azuis de Manchester. A linha de defesa globalizada com o holandês Janmaat, o inglês Williamson, o argentino Colloccini e o francês Drummett mostrou-se firme em praticamente todo o decorrer do jogo. Para desmontá-la, era necessário algo diferente. E quem fez algo assim foi o bósnio Dzeko, que com um passe de calcanhar deixou o espanhol Silva na cara do goleiro Krul: 1a0 para os visitantes, aos trinta e sete de partida.

Além do lance do gol, o primeiro tempo teve alguns outros acontecimentos dignos de registro. O principal, sem dúvida alguma, foi a manifestação do Newcastle com relação aos dois torcedores mortos na tragédia do avião abatido na Ucrânia: para homenagear a dupla de adeptos que viajava para acompanhar os Magpies na pré-temporada na Nova Zelândia, o clube prestou um minuto de silêncio (silêncio que era silêncio mesmo, na real acepção do termo, aquela que não sabemos respeitar por aqui). Com bola rolando, aos dezessete minutos foi a vez da torcida homenagear seus pares com uma arrepiante seqüência de um minuto de aplausos, quando o relógio marcava 17, data da catástrofe aérea em julho e que completava um mês na data de hoje.

Entre os jogadores em campo, destaque para o insinuante meia francês Remy Cabella. Embora por vezes mais presepeiro do que o tolerável, é fato que o camisa vinte do Newcastle foi o elemento que mais causou dificuldades à defesa do Manchester City. Assustou Hart em tentativa de cobertura com cavadinha, envolveu a marcação de quem quer que fosse pra cima dele e conseguiu protagonizar belos lances individuais, como na jogada em que passou como quis por Demichelis, que só conseguiu pará-lo faltosamente.

Mas, para conseguir o empate, o Newcastle precisava de mais. Precisava de poder de definição. E isso nem Cabella nem ninguém foi capaz de oferecer ao treinador Alan Pardew, que até tentou alternativas através das entradas de Obertan, Aarons e Pérez. Aliás, foi desse último a maior chance de igualar o placar: logo depois de entrar, seu chute cruzado desviou em Fernando e passou perto da trave esquerda. Ainda houve nova grande chance para os mandantes empatarem, quando Cabella serviu Sissoko e o meio-campista isolou a finalização frontal. Mais capricho tiveram os comandados de Manuel Pellegrini: Sergio Agüero, que entrara menos de dez minutos antes, recebeu a bola aos quarenta e sete, chutou com a esquerda parando em defesa de Krul e aproveitou o próprio rebote, desta vez com a direita.

O City pode não ter sido em Saint James Park algo parecido com aquela máquina que marcou 102 gols na edição passada de Premiership, mas mostrou qualidades dignas de um campeão. Soube se comportar bem tanto quando tinha a posse de bola como quando a redonda estava sob domínio do adversário, momentos divididos em democráticos 50% do tempo de bola rolando. O montenegrino Jovetic proporcionou alguns belos lances, mostrando-se um elemento que pode agregar bastante ao time. Yaya subiu de rendimento na etapa complementar, Fernando foi bastante regular na proteção à defesa e Dzeko buscou jogo, não se limitando a ficar fazendo a função de pivô dentro da grande área, inclusive dando lindo passe no lance do gol do ótimo David Silva.

É apenas o início de temporada e qualquer prognóstico a essa altura é prematuro. Só que uma coisa já parece certa: estamos diante de mais um ótimo Campeonato Inglês. Esses dois jogos que assisti na primeira rodada não me deixam mentir.

sábado, 16 de agosto de 2014

Virada Suada Do Arsenal: A Única Vitória Dos Mandantes Nesse Sábado Na Inglaterra

Começou o Campeonato Inglês na temporada 2014-5! Isso quer dizer que seremos agraciados com grandes partidas e ótimos momentos, naquela que considero a maior liga nacional de futebol no planeta Terra. Esse sábado, dezesseis de agosto, marcou a abertura nessa edição, que já começou reservando uma grande surpresa: em pleno Old Trafford, o Swansea City derrotou o Manchester United de Louis van Gaal (2a1). Aliás, quem jogou em casa não encontrou vida fácil. Quer ver?

- O Leicester teve que se contentar com um empate diante do Everton, alcançando a igualdade aos quarenta minutos no segundo tempo (2a2, placar final);

- O Queens Park Rangers caiu por 1a0 diante do Hull City;

- Também com resultado de 1a0, o Stoke sediou a festa do Aston Villa;

- Em jogo de uma expulsão para cada lado, mais uma vitória por 1a0 para os visitantes: o Tottenham venceu o West Ham;

- O West Bromwich também não venceu em casa, mas pelo menos pontuou: 2a2 com o Sunderland.

Então, para salvar o dia dos donos da casa, faltava o Arsenal. A equipe, recém-campeã na Supercopa da Inglaterra (venceu o Manchester City por 3a0 no encontro entre os campeões da FA Cup e da Premiership), teve pela frente o Crystal Palace. Tarefa fácil, certo? Errado. A equipe visitante abriu o placar em lance de escanteio, com o grandalhão Hangeland aparecendo no primeiro poste para desviar dentro do gol após a cobrança de Puncheon. Nos acréscimos do primeiro tempo, Koscielny igualou o placar também em lance de bola parada: Sánchez levantou e o zagueiro francês concluiu.

Na volta do intervalo, a dedicação da defesa do Crystal Palace quase garantiu um ponto em Londres. Quase, pois, nos acréscimos, Ramsey estava no lugar exato e no momento preciso para, em condição legal, aproveitar o rebote e virar o jogo. Festa de quase sessenta mil presentes, que após quatro temporadas puderam celebrar uma estréia vitoriosa da equipe de Arsène Wenger no Campeonto Inglês.

Domingo teremos Liverpool e Southampton, em Anfield Road, e Newcastle e Manchester City, em St. James Park. A rodada inaugural termina na segunda-feira, com o Burnley recebendo o Chelsea, no Turf Moor.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Equipe E Jogada Da Semana

Campeonato Brasileiro voltando a engrenar (será que "pega no tranco"?) e pré-temporada na Europa reunindo grandes clubes em viagens pelo planeta bola. Não é fácil a vida do amante do futebol semanas após o encerramento de uma Copa do Mundo tão bem jogada. Bate uma saudade... Mas o fato é que tivemos muitos golaços nessa semana! Só no jogo entre Manchester United e Roma, nos Estados Unidos, foram pelo menos três: Rooney chutando no ângulo, Mata dominando e encobrindo o goleiro cheio de categoria e Pjanic de antes do meio-campo. Qualquer um desses três lances seria digno de estar aqui postado.

Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, vamos privilegiar nesse momento um jogo oficial. Se na semana anterior mostramos o chutaço de Neto Baiano (relembre), que deu a vitória ao Sport sobre o Botafogo na Ilha do Retiro, dessa vez vamos ao Mineirão. Foi lá que o Cruzeiro atuou brilhantemente no segundo tempo, conseguindo impôr seu jogo sobre o Figueirense para construir uma goleada de 5a0. O primeiro gol após o intervalo (o segundo da equipe de Marcelo Oliveira) saiu em lance sensacional, onde o remate de Marquinhos se deu no melhor estilo "futebol virtual", tamanha arte e precisão. Os deuses do esporte devem ter apertado esquerda-cima-chute-efeito num combo de milésimos de segundo.

Ao Cruzeiro pelo futebol apresentado diante do Figueirense (sobretudo pelo segundo tempo espetacular) e ao Marquinhos pelo voleio no lance do segundo gol, ficam aqui registradas a equipe e a jogada da semana. Mais sobre essa partida, veja o tópico "Líder, Máquina De Minas Goleia Figueirense No Mineirão: 5a0".
Foto: Gualter Naves / Light Press
Cruzeiro comemora chuva de gols no Mineirão: cinco a zero diante do Figueirense e liderança absoluta no Campeonato Brasileiro 2014.

domingo, 27 de julho de 2014

Flamengo Vence Botafogo No Maracanã E Abandona Lanterna

Foto: Gilvan de Souza
Treinador novo, ingressos promocionais e apoio incessante de uma torcida apaixonada, que desde a véspera da partida já mostrava que iria incentivar a equipe (o último treino antes do jogo teve presença marcante dos adeptos).

Com esses ingredientes, o Flamengo passou por cima das próprias limitações técnicas para vencer o clássico diante do Botafogo: 1a0, gol de Alecsandro. Com este resultado e os demais placares na rodada, a equipe que passa a ser comandada por Vanderlei Luxemburgo sai da incômoda lanterna e assume a antepenúltima posição, permanecendo na zona de rebaixamento. Já o Alvinegro estaciona nos doze pontos (dois a mais que o rival), aparecendo na décima terceira posição no Campeonato Brasileiro.

Foto: Gazeta Press
Verdade seja dita: Flamengo e Botafogo estão muito longe de se darem ao luxo de aspirarem na competição algo do tamanho de sua tradição. A situação botafoguense fora de campo beira o caos: presidente batendo boca com ex-presidente via veículo de comunicação, elenco com atraso de pagamentos (com direito a protesto antes de a bola rolar) e uma torcida que, novamente, esteve em menor número num clássico carioca. Dentro das quatro linhas, porém, era notória a superioridade técnica e tática do Botafogo. Mas a aplicação rubronegra combinada ao oportunismo de Alecsandro foram suficientes para gerarem o primeiro e único gol numa partida bastante corrida e nem tanto pensada: aos trinta e três, o lateral João Paulo escapou de Edílson e cruzou na medida para Alecsandro, que foi mais rápido que Dória, conseguindo concluir de cabeça e estufar a rede de Jéfferson.

Luxemburgo, que chega para sua quarta passagem pelo Flamengo, dessa vez não tem nenhum craque no elenco. Talvez esse cenário seja até melhor para ele desenvolver seu trabalho na Gávea, até porque dois anos atrás o treinador teve problemas de relacionamento com Ronaldinho Gaúcho. Só que a equipe precisa se reforçar para almejar algo que traga alegrias para a massa flamenguista. Não há nenhum setor no time que inspire confiança: a zaga se complica em lances simples, o meio se permite envolver e o ataque contribui mais pelo empenho na marcação do que pela capacidade criativa. De toda forma, na base do empenho e da entrega coletiva, a vitória teve uma certa cara de Flamengo. Talvez a equipe ganhe qualidade com Canteros no meio (o argentino estreou no segundo tempo) e Eduardo da Silva na frente (o croata-carioca chega para tentar a titularidade no setor ofensivo e deve estrear em agosto).

Já o clube de General Severiano, que aparentava muito maior entrosamento, se atrapalhava no individualismo de jogadores como Carlos Alberto e Edílson: o meio-campista insistia em carregar a bola mesmo quando o passe parecia a melhor opção enquanto o lateral-direito, aniversariante do dia, se recusava a presentear os companheiros com um cruzamento que fosse nos lances de bola parada, sempre escolhendo a cobrança direta, mesmo com diversos jogadores dentro da área. Vágner Mancini acertou ao colocar o paraguaio Zeballos no intervalo, mas não foi feliz na escolha de tirar Bolatti, jogador argentino que dava equilíbrio a um meio-campo que tinha dois volantes de contenção (Aírton e Gabriel). Talvez tenha faltado coragem ao treinador. Mais tarde, Mancini trouxe a campo Daniel (tirou Yuri Mamute) e, finalmente, tirou Carlos Alberto (entrou Wallyson). Mexeu nos elementos ofensivos, mas foi até o final com seus dois homens de marcação no meio, mesmo com o Flamengo dedicado à defesa. Mereceu a derrota.

Na próxima rodada, o Flamengo vai até Santa Catarina fazer um confronto direto na tentativa de sair da zona de descenso, enfrentando a Chapecoense, que tem um ponto a mais e um jogo a menos. Já o Botafogo recebe, no Rio de Janeiro, o líder Cruzeiro. Os dois cariocas têm todos os motivos para se preocuparem: são jogos complicados e a necessidade de vencer bate forte à porta.

sábado, 26 de julho de 2014

Líder, Máquina De Minas Goleia Figueirense No Mineirão: 5a0

Foto: Rodrigo Clemente / EM / DA Press
O Cruzeiro mostrou-se uma máquina na noite desse sábado no estádio molhadão, digo, Mineirão. E uma máquina moderna, que não enferruja nem embaixo d'água. Foram cinco gols diante do Figueirense, sendo um no primeiro tempo (em pênalti inventado pela arbitragem) e quatro na volta do intervalo, com direito a belíssimas jogadas coletivas e um golaço de Marquinhos após chute espetacular.

Só que a máquina azul demorou para engrenar. Ensaiava um melhor funcionamento toda vez que Marquinhos era acionado no campo de ataque, mas via-se em risco nas ocasiões em que o time catarinense encaixava os contra-ataques. Em dois deles, Pablo teve duas boas situações de abrir o placar em Belo Horizonte, mas em ambos os lances demorou demais para soltar a bola (no primeiro, seu cruzamento parou no goleiro Fábio; no segundo, conseguiu passar pelos dois zagueiros adversários mas se atrapalhou no gramado aquático e perdeu o ângulo para tentar superar o goleiro cruzeirense).

O primeiro tempo dava sinais de terminar sem gols. Até porque Tiago Volpi mostrava segurança para defender mesmo aquelas bolas complicadas, que deslizam na grama molhada e costumam trair os goleiros. Só que o árbitro Gabriel Rodrigues Castro Júnior deu uma mãozinha para os donos da casa. Ou melhor, um apitinho. Ele marcou pênalti em lance normal, aliás, de simulação de Ricardo Goulart. Estilo Fred diante da Croácia na Copa, lembra? Só que nesse caso sem sequer dominar a bola. Quem se encarregou da cobrança do pênalti que não houve foi o jogador mais jovem do Cruzeiro: e Lucas Silva, vinte e um anos, caprichou. A bola tocou na trave e percorreu boa parte da linha final antes de entrar e abrir, oficial e ilegalmente, o placar em Minas Gerais, aos quarenta minutos.

Se a máquina achou o primeiro gol com ajuda do apito, voltou do vestiário usando seus próprios mecanismos para transformar a contestável vitória parcial em goleada convincente. Aos dois, Marquinhos recebeu de Goulart e mandou um voleio sensacional no canto direito. Gol daqueles para concorrer a mais bonito na competição. Três minutos depois, Dedé, que voltava a atuar após dois meses de contusão, cabeceou no canto esquerdo após ótimo cruzamento de Éverton Ribeiro em lance de bola parada. Três a zero.

Marcelo Moreno, homem mais de área do Cruzeiro, não pode reclamar das chances que lhe couberam. Foram pelo menos três situações para o atacante boliviano, que não aproveitou nenhuma e foi substituído aos vinte e quatro, dando lugar a Marlone. Dois minutos antes, Dagoberto havia entrado no lugar de Marquinhos. A máquina comandada por Marcelo Oliveira mostrava contar com ótimas peças de reposição, a ponto da gente não ter a exata certeza de o que ali é titular ou reserva. São, de fato, um elenco. E o nível de jogo do Cruzeiro subiu. O treinador do Figueirense, Argel Fucks, parecia perceber que seu time estava meio que na situação do seu sobrenome. Naquela altura, já tendo feito duas mexidas (Pablo por Everaldo e Cereceda por Felipe), montava o time buscando a solidez necessária para não levar mais gols em sua estréia no retorno ao clube.

Só que a máquina de Minas estava calibrada. Aos vinte e sete, em lindo contra-ataque, Éverton Ribeiro levantou esbanjando consciência e Ricardo Goulart mostrou uma das razões de ser o maior goleador nessa edição no torneio, aproveitando sem dar chance para o goleiro. Aos trinta e quatro, em nova descida pelo flanco direito, foi a vez de Mayke (que entrara no lugar de Ceará), cruzar para a conclusão de Dagoberto. Cinco a zero. O Figueira ainda colocou Leandro Silva no lugar de Luan. E deve ter dado graças a Deus do jogo ter terminado aos quarenta e sete. Porque só a ação do apito final para parar uma máquina que funcionava tão bem. O mesmo apito que, no primeiro tempo, a ajudou a engrenar.

Outros resultados
Santos 3a0 Chapecoense
Criciúma 1a3 Vitória

As defesas catarinenses ajudando a subir a média de gols no campeonato...

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Tener En Casa A Tu Papá

Cinco a zero num jogo semifinal de Libertadores é de chamar atenção. Quase tanta atenção quanto um sete a um em jogo semifinal de Copa do Mundo. Só que as semelhanças entre San Lorenzo e Bolívar, jogo de ida em Buenos Aires, e Brasil e Alemanha, jogo único em Minas Gerais, param no placar elástico. Se no mundial de seleções vimos um baile de bola (sobretudo de bola rolando) por parte dos alemães, no torneio continental de clubes viu-se um resultado construído na base da empolgação e da eficiência nos lances de bola parada. Um triunfo tático e técnico, sim, mas sobretudo espiritual.

No primeiro tempo não houve um banho de bola com gols sucedendo gols como passes atrás de passes e finalizações pós finalizações. Houve, isto sim, um confronto muito pegado. Com cara de Libertadores. Infelizmente, aquela face que não gostamos de lembrar. Mas o jogo duro e por vezes hostil por parte da equipe visitante não era desleal: era apenas uma energia mal canalizada. Nervosismo, talvez. Rendeu três cartões amarelos em vinte minutos (Yecerotte, Callejón e Gutiérrez). E muitas faltas cometidas. Em duas delas, castigos: tanto aos cinco quanto aos vinte e sete, Romagnoli caprichou no levantamento. Tanto aos cinco quanto aos vinte e sete, a defesa do Bolívar não conseguiu acompanhar o lance como deveria. Resultado: Matos inaugurou e Más ampliou o placar para o San Lorenzo.

No intervalo, Azkargorta realizou duas substituições (Miranda e Rodas saíram, Chávez e Tenorio entraram), mas o maior acerto do técnico espanhol foi fundamentalmente na mentalidade da equipe. O Bolívar voltou equilibrado emocionalmente e tal equilíbrio proporcionou uma melhor aplicação tática do plano de jogo do time. Passou a freqüentar mais o campo de ataque. As infrações que outrora cometera, tornaram-se faltas a favor. E o time parecia gostar do jogo, com todos os motivos para isso - exceto o placar adverso. Dava sinais de que poderia descontar e dar um novo rumo para a partida. Só que pagou caro por um vacilo em sua defesa. Dessa vez, com a bola rolando. O volante Mercier se lançou ao ataque, acreditou no lance mesmo quando a jogada parecia sob controle da defesa adversária e foi premiado pela perseverança, conseguindo finalizar no canto direito para marcar três a zero, aos vinte e quatro.

Naquele momento, Bauza já havia lançado Cauteruccio e Barrientos nos lugares de Matos e Romagnoli. Talvez nem o treinador do San Lorenzo botasse fé que a vitória se transformaria em goleada. Mas quem tem o papa consigo, vai duvidar do quê? Quatro minutos depois do terceiro gol, Buffarini recolheu bola mal afastada, avançou sem ser incomodado e soltou um chute que terminou num golaço, o quarto dos donos da casa.

Azkargorta trocou Callejón (omisso na marcação no lance do gol de Buffarini) por Saavedra. Pouco depois, Bauza fez a última substituição: Villalba por Verón. Já parecia desenhada a satisfação do placar para quem vencia e a aceitação do resultado para quem perdia. Algo como "que seja o que Deus quiser no jogo de volta". Só que havia tempo para mais. E voltamos ao princípio. De novo, a bola parada. De novo, levantamento preciso (dessa vez de Barrientos, aquele mesmo que substituiu Romagnoli). De novo, desvio certeiro de cabeça. De novo, Más. 5a0 San Lorenzo.

E agora vamos à maior diferença entre este cinco a zero e aquele sete a um: a torcida presente no estádio. Deixei para falar dela somente no último parágrafo com a intenção de deixar a melhor parte para o final. O comportamento da torcida do San Lorenzo no Nuevo Gasómetro foi uma coisa de outro mundo. Aliás, de outro país: Argentina. A celebração começou antes de a bola rolar, continuou por todo o decorrer do jogo e se manteve até após o apito derradeiro. É possível que estejam festejando até agora. E o melhor de tudo é que não foi por causa dos 5a0. É a causa dos 5a0. É aquele espírito que habita a matéria. É aquela prece que fica mais forte quando a bola está parada. É aquele empurrão para acreditar em qualquer lance. É aquele entusiasmo que contagia quem está no gramado. É um orgulho e um amor que não precisam ser ditos dessa forma, pois eles são sentidos em cada cântico, em cada grito, em cada salto, em cada aplauso. Se o San Lorenzo é o time do papa, o Nuevo Gasómetro é um templo onde os anfitriões não se dão o direito de pecar. E olha que os pecados capitais são sete...

Próxima parada: La Paz. Amém.
No país do papa Francisco, que também torce pelo San Lorenzo, fazer festa no estádio já é um ritual tradicional.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Qual Dunga Você Prefere?

Simpático e sempre sorridente | Reclama de tudo e todos
Querido pelas crianças | Não chama os garotos pra jogar
Ajudou a derrotar a bruxa má | Eliminado sem conseguir mexer no time
Amigo do Feliz | Amigo do Marín
Gosta da Branca de Neve | Gosta do Felipe Melo
Sucesso internacional | Demitido do Internacional
Criado por Walt Disney | Inventado pela CBF

 Motivo de piada: é isso o que virou a instituição Confederação Brasileira de Futebol.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Movido A Fernandão, Internacional Passeia No Beira-Rio

Foto: Ricardo Duarte / Agência RBS
Num Campeonato Brasileiro nivelado por baixo e, muito em função disso, altamente competitivo, é raro aparecer alguma goleada. Nessa rodada de final-de-semana tivemos três empates, cinco vencedores pela diferença mínima e um placar de dois a zero.

Faltou um jogo: quatro a zero Internacional diante do Flamengo. É ele que vamos rapidamente analisar aqui.

Para início de conversa, por mais que as equipes terminem a rodada bastante distantes na tabela de classificação (o Colorado com dezenove pontos, em quinto, e o Rubronegro com sete, na lanterna), não vejo diferenças gritantes entre os dois times que foram a campo nesse domingo no Beira-Rio.

Mas, na prática, foi visível a superioridade dos donos da casa. Possivelmente contagiados pelo clima tocante de homenagens póstumas ao ídolo Fernandão, torcedores e jogadores deram tudo de si. Eram máscaras do "F9" e cânticos nas arquibancadas. Eram camisas personalizadas com o nome de Fernandão, além de trocas de passe e jogadas de velocidade no gramado. E, para fazer a diferença definitiva, uma inspirada atuação do meia argentino D'Alessandro. Foi dos pés do camisa dez que nasceu o primeiro gol: após lançamento para a área, Juan conseguiu centralizar com um toque sutil e certeiro, encontrando Rafael Moura. Coube ao centroavante simplesmente completar para a rede. E ir para a galera deixando tudo mais bonito ao escolher celebrar o gol homenageando Fernandão.

Ver o adversário abrir o placar aos quinze minutos não era o que planejava Ney Franco ao escalar o time com uma linha de quatro na defesa e três volantes logo a frente. Como soltar um time que tinha apenas o argentino Lucas Mugni na função de criação? Nixon era uma alternativa pelo flanco direito, mas a correta marcação de Fabrício dificultava as tentativas por aquele setor. Do lado esquerdo, André Santos era praticamente uma nulidade. E pelo centro, nada acontecia, pois Mugni simplesmente não aparecia. Alecsandro era figura isolada no ataque.

Por falar em "golpe no planejamento", Abel Braga também tinha o que lamentar: após sentir uma dividida aos seis minutos, o chileno Aránguiz deixou o campo de jogo aos vinte. Nesse meio tempo, mesmo sem estar inteiro, mostrou qualidades técnicas e muita raça, conseguindo ganhar lances em que visivelmente mancava. Entrou o argentino Martín Luque em seu lugar. Êta jogo com estrangeiros sul-americanos, né? Só que apenas os do Inter pareciam participar do jogo. E, no finalzinho do primeiro tempo, veio o segundo gol: D'Alessandro, cobrando pênalti sofrido por Wellington Silva que ainda rendeu cartão vermelho ao zagueiro Chicão (esse é brasileiro mesmo).

Pronto. O Flamengo ia para o vestiário com uma desvantagem de dois gols no placar e de um jogador em campo. Ney colocou o defensor Fernando Rodrigues no lugar de Nixon, recompondo o sistema defensivo inicialmente planejado mas desfalcando a mobilidade num ataque que já não era dos mais ágeis. Aos oito no segundo tempo, tentou devolver um pouco da velocidade perdida ao colocar Negueba no lugar do pendurado (e suspenso para o próximo jogo) Amaral. O Fla passava a jogar com "apenas" dois volantes. Cinco minutos depois, o terceiro gol do Inter: D'Alessandro recebeu pela direita, carregou, ergueu a cabeça e colocou a bola na medida para Fabrício. E o lateral-esquerdo pegou bonito, de primeira, anotando um golaço em chute cruzado sem qualquer chance para o goleiro Felipe.

Perdido e sem esboçar qualquer reação, o Flamengo parecia mais torcer para que o jogo acabasse do que qualquer outra coisa. A última substituição de Ney Franco foi ilustrativa: saiu Alecsandro (aplaudido pela torcida do Internacional) e entrou o volante Luiz Antônio. De volta à formação com três homens protegendo a defesa. Agora sem nenhum atacante, já que até Negueba prestava mais serviços ao sistema defensivo do que qualquer outra coisa.

Abel fez suas duas últimas alterações: Alex no lugar de Luque e Cláudio Winck no de Wellington Silva. Aos trinta e dois, cerca de quatro minutos depois de entrar em campo, Alex aproveitou assistência de Fabrício para marcar quatro a zero. Se Ney tivesse direito a mais uma substituição, provavelmente procuraria por mais um homem para colocar na última linha de defesa. Se não fossem os erros de finalização de Rafael Moura e um lance em que Leonardo Moura salvou praticamente em cima da linha, o Inter poderia ter saído com uma goleada maior. Talvez uns sete a zero. Será que o impacto de jogar com um homem a menos é tão grande assim? Enfim, o Flamengo precisa esquecer aquela fantasia de Flalemanha e lembrar-se que, não por acaso, encontra-se na lanterna. Mas, se quiser insistir nos apegos ao uniforme utilizado pela seleção que deu de sete na brasileira nas semifinais, chamemos de Lahmterna.

sábado, 19 de julho de 2014

Bolatti Faz, Jéfferson Garante E Botafogo Vence Coritiba. Saudades Da Copa

Foto: Gazeta Press
O Campeonato Brasileiro voltou. Se há algum tempo já estávamos achando o nível técnico baixo, a situação de crise técnica e tática fica ainda mais escandalosa quando comparamos a liga nacional com a Copa do Mundo, viva em nossas memórias, graças a Deus.

Assistir um Botafogo e Coritiba seis dias depois de um Argentina e Alemanha é pesado. Mas futebol é a nossa área e cá estamos para tecer alguns comentários sobre essa partida. Aquela, anos-luz a frente dessa, pode ser lida clicando aqui.

Vamos começar pelo local do jogo: estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. O Botafogo está sem o Engenhão por proibição da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e sequer conseguiu levar o evento para o Maracanã ou São Januário, tendo que viajar para outra cidade. E o que é pior: para jogar às nove da noite de um sábado, afinal, tem bastante gente na Ásia querendo assistir pela televisão na manhã/tarde de domingo. Enquanto isso, mil e quinhentas testemunhas presentes num jogo de Série A. Eis a Confederação Brasileira de Futebol, cujo sete-a-um é mero detalhe perto de tantos absurdos.

Com bola rolando, fomos agraciados pela presença do melhor goleiro do Brasil e seguramente um dos melhores do mundo (e olha que o planeta tá com muitos arqueiros de grande qualidade): Jéfferson. Responsável direto pelo resultado, quer dizer, pelo zero que coube ao Coritiba. Coritiba de Alex, excepcional meio-campista que acabou rendendo menos do que o seu potencial, dada fundamentalmente a grande marcação do cabeça-de-área Aírton. Quando Aírton deixou o campo machucado (Rodrigo Soutto entrou em seu lugar), Alex teve mais espaços, mas não conseguiu produzir o suficiente para que o Coxa alcançasse a vitória ou mesmo o empate. É que o Botafogo tem Jéfferson, autor de pelo menos três grandiosas defesas, incluindo vôos para impedir gols aparentemente certos, como em cobrança de falta certeira do próprio Alex.

A única bola na rede foi do argentino Bolatti: após escanteio pela direita, o ótimo volante, que não foi para essa Copa, completou de primeira, mesmo marcado. Golaço. Disse no intervalo que o mais importante era não o resultado, mas o time voltar melhor para o segundo tempo. Outro golaço. Pensamento correto e louvável, sobretudo em terras onde a cultura do resultado parece imperar. De vez em quando os deuses do futebol dão um alô, mandado um sete-a-um pra quem se vangloria por ter um dia ganho um Mundial. Não que o Alvinegro tenha voltado melhor para o segundo tempo. Mas tentou jogar. Tentou produzir. O paraguaio Zeballos, boa alternativa pelos flancos, teve atuação positiva. Perdeu um pênalti, mas nem isso manchou sua atuação.

E por falar em pênalti, o que foi aquela marcação no lance em que Gabriel caiu na área Alviverde? Não houve infração alguma ali, senhor árbitro! Felizmente, o goleiro Vanderlei conseguiu defender. Do contrário, poderíamos aqui estar falando pela enésima vez de um resultado injusto. Mas o 1a0 foi justíssimo: valorizou o belo gol de Bolatti e a grande atuação de Jéfferson. Numa partida cheia de erros técnicos dentro e fora das quatro linhas, já é alguma coisa. O problema é a gente pensar que seja o suficiente num país de tantos talentos e tanta história nesse esporte. Não é. Não pode ser. E precisamos reconstruir o futuro a partir do presente. Fora, CBF!

Equipe E Jogada Da Semana

Dez meses e dez dias sem publicar Equipe E Jogada Da Semana. Chega de esperar, né?

O futebol no Brasil está passando por um momento de transição em seu calendário: sai a Copa do Mundo 2014, retorna o Campeonato Brasileiro 2014. Em comum, o ano e alguns dos estádios. De diferente, muita coisa. Os preços dos ingressos, por exemplo, ficaram mais acessíveis (leia-se menos inacessíveis) ao público que a FIFA procura deixar longe dos jogos. A qualidade das partidas, outro exemplo, caiu abruptamente. Mas, na terra da Confederação Brasileira de Futebol (essa aí que coloca o empresário Gilmar Rinaldi para coordenar as seleções e tenta trazer Dunga de volta para uma coisa que ele nunca foi: técnico), temos, ainda, espaço para grandes jogadas.

Com vocês, o golaço de Neto Baiano. O único na vitória do Sport sobre o Botafogo. Alguns metros a frente do meio do campo. Muitos metros distante da linha final. Em plena estréia do jovem goleiro botafoguense Andrey (21 anos completados no dia seguinte ao jogo). Para deixar de queixo caído cada um dos mais de 18000 presentes na Ilha do Retiro. E, claro, para marcar a décima rodada na liga nacional. E nos permitir ter alguma esperança em dias melhores. Se bem que com essa CBF aí, dá até desgosto...
Neto Baiano, do Sport, marca um golaço praticamente no meio do gramado. Repare na curva que a bola faz antes de entrar.

Agora você pergunta: mas e a equipe da semana? Depois de assistir a final da Copa do Mundo 2014 e rever duas vezes a prorrogação, fica registrada a nossa homenagem à seleção argentina. Vice-campeã mundial com muitas qualidades e que por detalhes do jogo não levantou o troféu no Rio de Janeiro. Se da Alemanha já esperávamos um grande futebol desde antes do megaevento, a Argentina surpreendeu bastante gente com seu futebol consistente (principalmente a partir das quartas-de-final) e de altíssima competitividade, mesmo diante de adversários excepcionais, como os próprios alemães.
Imagem extraída de IG
 Seleção argentina em foto posada pré-jogo na final na Copa do Mundo 2014: equipe jogou de igual para igual com a Alemanha, teve algumas das maiores chances na partida, mas não conseguiu o título. Uma espécie de novo "Maracanazo", só que com outros personagens.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Seleção Da Copa Do Mundo 2014

A Copa que começou com muitos erros de arbitragens, terminou com bombas e gás de pimenta. O que uma coisa tem a ver com a outra? Esportivamente, nada. Ideologicamente, tudo. A luta por justiça foi reprimida pelas ações truculentas policiais, indiferentes às dores e aos sofrimentos da população. O que se reivindicava nas ruas não eram melhores árbitros no jogo, mas melhores ações na política. Não fomos atendidos. Pior: a situação social brasileira consegue ser mais grave que a do apito da FIFA. A quem recorrer se insensíveis estão no poder? Para onde correr quando é a polícia que vem lhe bater?

Vamos fugir e falar de futebol.

[1] Parabéns à Alemanha. Pela atuação dentro de campo, confirmando o que já havia sido mostrado na Copa do Mundo 2010, na África do Sul. Pela postura fora de campo, me apresentando uma face que jamais imaginaria de jogadores profissionais ditos de uma "cultura fria": o calor humano e a interação com a população brasileira foram memoráveis. Doaram terreno do centro de treinamento para uma escola. Doaram euros para uma comunidade indigenista. Se doaram a qualquer um que os abordasse. Campeã em todos os sentidos.

[2] Holanda ao extremo. Depois do vice-campeonato em 2010 e da queda na fase de grupos na Euro passada, os holandeses vieram ao Brasil sob desconfiança. Como são inocentes esses profissionais da imprensa! Apegados a resultados, se negam a enxergar o talento e a capacidade de uma seleção comandada por um técnico experiente e com jogadores como Robben, Sneijder e Van Persie. Dos três, Robben se destacou. Aliás, dos 23 x 32 = 736, Robben se destacou. E a Laranja funcionou de tal maneira que ninguém conseguiu derrotá-la. A Espanha levou 5a1 e o Brasil tomou 3a0. Guus Hiddink herdará de Louis van Gaal um grupo rejuvenescido e com grande maturidade tática. Honroso terceiro lugar e invencibilidade que não permite negar o belo Mundial que fizeram em 2014.

[3] Argentina! Uma exclamação para a seleção que mais proporcionou o clima de Copa do Mundo no Brasil. Com uma torcida que festeja nas arquibancadas e nas ruas, os argentinos têm muito a comemorar pelas quatro semanas que viveram no Mundial no país vizinho (e eu por tê-los visto de perto). O vice-campeonato veio graças a uma equipe bem montada e altamente disciplinada taticamente, que mostrou sinergia entre os jogadores e o técnico Alejandro Sabella. Lionel Messi decidiu em todos os três jogos na fase de grupos. E, nos confrontos eliminatórios, apareceu bem. Foi um dos melhores em campo na final no Maracanã. Faltou o título, mas não o reconhecimento: tome Bola de Ouro, gênio! Mascherano e Zabaleta também precisam ser lembrados nessa campanha maiúscula. Eles dois, conjuntamente aos seus companheiros, derrubaram a falácia de que a defesa da equipe não inspira confiança. Eu confio mais, muito mais na defesa argentina do que na mídia brasileira.

[4] Colômbia de Pekerman e Rodríguez. A tática casou com o talento. E os colombianos tiveram, no Brasil, seu melhor desempenho em Mundiais na história do país. James Rodríguez foi um dos melhores na Copa. José Pekerman conseguiu dar leveza e velocidade a um time que apresentou a maior vocação ofensiva de todos os 32. Apanhou muito dos brasileiros, e ironicamente apontam Zúñiga como "violento". Minha defesa ao jogador, que foi infeliz mas jamais desleal em seu lance com Neymar. Acidente à parte, a Colômbia mostrou-se forte mesmo sem Falcao García. E por muito pouco não eliminou o Brasil, em jogo decidido na bola parada e que poderia ter outros contornos se o cartão vermelho fosse mostrado ao goleiro que impediu lance de gol faltosamente. Foi um prazer assistí-los tanto no Mané Garrincha quanto no Maracanã.

[5] Bélgica. Tá aí uma seleção que correspondeu às expectativas. Se não conseguiu jogar o seu melhor futebol em todos os cinco jogos, pelo menos mostrou o potencial uma ou duas vezes e teve uma atuação memorável nas oitavas, diante dos Estados Unidos. Naquela partida, o goleiro Tim Howard evitou o que poderia ter sido uma goleada do nível Alemanha-Brasil. Parabéns para Marc Wilmots por privilegiar o talento em suas escalações e confiar nas suas convicções.

[6] Transformação suíça. Se houve uma seleção que evoluiu taticamente de 2010 para cá, essa foi a Suíça. Ottmar Hitzfeld se aposenta com a cabeça erguida, conseguindo montar uma equipe que não tem medo de ser feliz. Inler (que parece ainda melhor jogador quando visto da arquibancada) é o motor de toda a engrenagem. E o time funciona porque as peças procuram o ataque. Shaqiri, com excepcionais apresentações diante de Honduras (três gols) e Argentina (muito futebol), quase ajudou a levar a equipe além das oitavas. Aquela bola de Dzemaili na trave no finalzinho na prorrogação será lembrada por alguns meses. E aquela retranca de 2010, se Deus quiser, esquecida de vez.

[7] Respeito à Espanha. A Espanha caiu após encontrar dois grandes adversários logo nas duas primeiras rodadas. Fez um ótimo primeiro tempo na estréia, mas foi engolida após o intervalo. No terceiro jogo, já eliminada, jogou belíssimo futebol. E a Espanha é isso: um belíssimo futebol. E a mídia, movida pelo resultado, não esqueceu as recentes conquistas espanholas - ninguém ousou chamá-la de "amarelona" ou mandar aquela de "fragilidade emocional". O respeito veio na marra e a Espanha conseguiu ser eliminada "em paz".

[8] Sensacional Costa Rica. Única seleção na história das Copas a enfrentar três campeãs mundiais na fase de grupos. Resultado: duas vitórias, um empate e liderança incontestável. Na seqüência, empates com Grécia e Holanda. Avançou e caiu nos pênaltis. Com o goleiraço Keylor Navas, os ótimos meias Bryan Ruiz e Cristian Bolaños e o interessante centroavante Joel Campbell, os costarricenses fizeram bonito no Brasil. Meus aplausos ao treinador colombiano Jorge Pinto. Para quem não viu, recomendo que assistam vídeos gravados na Costa Rica sobre a classificação da seleção diante dos gregos para ter uma noção da dimensão do feito conquistado em 2014. Campanha histórica.

[9] África, Ásia, Oceania. Desses continentes, somente avançaram às oitavas Nigéria e Argélia, ambas africanas. E se por um lado os nigerianos mostraram algumas qualidades (principalmente o goleiro Enyeama), quero nesse tópico exaltar os argelinos. Que Copa! Pra servir de inspiração ao resto do continente e do mundo! Jogaram de igual para igual com a Bélgica, com a Rússia e, acredite, com a Alemanha! Superaram a Coréia do Sul com relativa autoridade. E, não bastasse tudo o que conseguiram dentro de campo, ainda deram uma lição fora dele: doaram o dinheiro recebido como premiação para pessoas na Faixa de Gaza. Superação no gramado e exemplo de cidadania. Os comandados do bósnio Vahid Halihodzic honraram algo maior que a camisa: a condição de seres humanos. A calorosa recepção no retorno à capital Argel mostra que, felizmente, muitos argelinos pensam parecido.

[10] Recurso eletrônico. A implementação da tecnologia de linha do gol foi utilizada e, no meu entendimento sobretudo quanto ao jogo entre França e Honduras, requer melhorias. Não fui convencido de que aquela bola chutada por Benzema, rebatida pela trave esquerda e desviada por Valladares tenha ultrapassado completamente a linha final. Talvez o chip tenha atravessado a faixa completamente, mas a bola... De toda maneira, cabe observarmos que há muito mais dúvidas com relação à linha de impedimento do que qualquer outra linha real ou imaginária. Nesse sentido, ainda estamos reféns de árbitros e auxiliares. Que, nessa Copa, até que se saíram razoavelmente bem, embora com diversos erros enumeráveis (que a tecnologia ajudaria e eliminar ou pelo menos reduzir consideravelmente). Cabe frisar: o recurso eletrônico viria pura e simplesmente para ajudar. E não será preciso inventar nada: basta usar o mesmo material que possibilita, por exemplo, identificar uma mordida do Suárez no Chiellini que passa despercebida na correria do jogo.

[11] A diferença entre rivalidade e xenofobia. Simples: quando você transforma um adversário em inimigo e o condena pela sua nacionalidade, você atravessou a fronteira da paixão com a patologia. Brasileiros precisam ouvir menos Galvão Bueno e visitar mais Buenos Aires.

[12] Arquibrancadas. Uma Copa sensacional dentro de campo, com boa média de gols, grandes atuações de vários goleiros e muitas cenas e jogos para lembrarmos com carinho. Estádios quase sempre perto da lotação. Só que, infelizmente, longe de retratar o país miscigenado e apaixonado por futebol que é o Brasil. Público quase exclusivamente branco, que fica ora sentado, ora xingando. Sempre bebendo. Se isso é o "padrão FIFA", precisamos sair dessa embriaguez, colocar a mão na consciência e passar a exigir um rumo diferente para a nação em geral e o futebol em particular. Prometo, a partir de então, me esforçar para cantar aquela canção que coloca brasileiro e orgulho na mesma frase.

Vamos à seleção da Copa do Mundo 2014. Da mesma maneira que fizemos na Copa passada (veja aqui o tópico com a seleção de 2010), o critério é o de número de presenças como titular ou suplente nas seleções de cada rodada da Copa. Quando no caso de grande proximidade entre dois ou mais atletas da mesma posição, vantagem para aquele que teve maior regularidade.

Titulares

Goleiro: Keylor Navas (Costa Rica)
Lateral direito: Pablo Zabaleta (Argentina)
Zagueiro: Ron Vlaar (Holanda)
Zagueiro: Mats Hummels (Alemanha)
Defensor esquerdo: Rafa Márquez (México)
Volante: Javier Mascherano (Argentina)
Volante: Bastian Schweinsteiger (Alemanha)
Meia: Lionel Messi (Argentina)
Meia: James Rodríguez (Colômbia)
Meia: Arjen Robben (Holanda)
Atacante: Karim Benzema (França)
Técnico: Louis van Gaal (Holanda)

Suplentes

Goleiro: Tim Howard (Estados Unidos)
Lateral direito: Philipp Lahm (Alemanha)
Zagueiro: Gary Medel (Chile)
Zagueiro: Mario Yepes (Colômbia)
Lateral esquerdo: Daley Blind (Holanda)
Volante: Gökhan Inler (Suíça)
Volante: Marouane Fellaini (Bélgica)
Meia: Thomas Müller (Alemanha)
Meia: Clint Dempsey (Estados Unidos)
Meia: Ivan Perisic (Croácia)
Atacante: Gonzalo Higuaín (Argentina)
Técnico: Marc Wilmots (Bélgica)

Menção honrosa: Manuel Neuer, Jérôme Boateng, Sami Khedira, Toni Kroos, Mesut Özil, André Schürrle, Miroslav Klose, Mario Götze e Joachim Löw (Alemanha), Sergio Romero, Martín Demichelis, Ezequiel Garay, Marcos Rojo, José María Basanta, Lucas Biglia, Enzo Pérez, Ezequiel Lavezzi, Ángel di María e Alejandro Sabella (Argentina), Jasper Cillessen, Tim Krul, Daryl Janmaat, Stefan de Vrij, Bruno Martins Indi, Dirk Kuyt, Georginio Wijnaldum e Robin van Persie (Holanda), David Luiz, Luiz Gustavo, Oscar e Neymar (Brasil), David Ospina, Cristian Zapata, Pablo Armero, Camilo Zúñiga, Juan Cuadrado e José Pekerman (Colômbia), Thibaut Courtois, Vincent Kompany, Jan Vertonghen, Kevin de Bruyne, Dries Mertens e Divock Origi (Bélgica), Blaise Matuidi, Paul Pogba, Mathieu Valbuena, Antoine Griezmann e Didier Deschamps (França), Geancarlo González, Yeltsin Tejeda, Cristian Bolaños, Bryan Ruíz, Joel Campbell e Jorge Pinto (Costa Rica), Claudio Bravo, Alexis Sánchez e Jorge Sampaoli (Chile), Guillermo Ochoa, Carlos Salcido e Andrés Guardado (México), Diego Benaglio, Stephan Lichtsteiner, Ricardo Rodríguez, Xherdan Shaqiri e Ottmar Hitzfeld (Suíça), Fernando Muslera, Diego Godín, Cristian Rodríguez e Luis Suárez (Uruguai), Vassilis Torosidis, Sokratis Papastathopoulos, Giorgios Karagounis e Georgios Samaras (Grécia), Rais M'Bolhi, Rafik Halliche, Djamel Mesbah, Sofiane Feghouli, Islam Slimani e Vahid Halihodzic (Argélia), Damarcus Beasley, Jermaine Jones, Michael Bradley e Kyle Beckerman (Estados Unidos),Vincent Enyeama, Ahmed Musa e Emmanuel Emenike (Nigéria), Alexander Domínguez, Christian Noboa e Enner Valencia (Equador), Stipe Pletikosa, Darijo Srna, Ivan Rakitic e Mario Mandzukic (Croácia), Sead Kolasinac (Bósnia & Herzegovina), Didier Zokora, Serey Die e Gervinho (Costa do Marfim), Giorgio Chiellini e Andrea Pirlo (Itália), Jordi Alba, Andrés Iniesta, David Villa e Vicente del Bosque (Espanha), Sergei Ignashevich (Rússia), Sulley Ali Muntari, André Ayew e James Appiah (Gana), Gary Cahill, Leighton Baines, Daniel Sturridge e Roy Hodgson (Inglaterra), Son Heung-Min (Coréia do Sul), Reza Haghighi (Irã), Atsuto Uchida e Keisuke Honda (Japão), Tim Cahill (Austrália), Noel Valladares, Roger Espinoza e Marvin Chávez (Honduras) e Stéphane M'Bia (Camarões).

Destaque

Se o fato de não decidir por um jogador apenas quer dizer que o blogueiro ficou "em cima do muro", então podem me considerar no ápice da divisória entre paredes. Vou citar apenas dois nomes nessa grande Copa, de dois jogadores que fizeram sete boas partidas no Mundial. Em algumas delas, foram muito bem. Em outras, simplesmente decidiram a partida na base do talento. São eles: Lionel Messi, vice-campeão com a Argentina, e Arjen Robben, terceiro colocado com a Holanda.

Na fase de grupos, Messi foi responsável direto em todas as três vitórias da seleção (sobre Bósnia & Herzegovina, Irã e Nigéria). Atuações que chamavam para si a responsabilidade e empolgavam pela eficiência. Enquanto isso, Robben ia com todo o gás passando por cima de qualquer sistema defensivo, como ocorreu diante de Espanha, Austrália e Chile.

Nos confrontos eliminatórios, Messi deu a assistência para o gol de Di María, o da classificação diante da Suíça, nos últimos minutos na prorrogação. Também nas oitavas, Robben jogou demais e sofreu o pênalti que foi convertido por Huntelaar, virando a partida diante do México nos acréscimos. Já nas quartas, vi Messi fazer magia a alguns metros de distância, coisa que jamais quero esquecer. Obrigado, gênio, pela atuação. Obrigado, Deus, pela graça. Que bom ter estado em Argentina e Bélgica! Messi participou do lance do gol de Higuaín e quase marcou o dele no segundo tempo. Mais tarde, Robben daria uma canseira em toda a defesa da Costa Rica. Mas, para fazer gol naquele goleiro Navas, só na disputa por pênaltis. Robben converteu o dele, Krul defendeu duas e a Holanda avançou. Nas semis, o encontro: Messi de um lado, Robben de outro. Partida equilibrada, decisão por pênaltis e classificação argentina, com as duas feras convertendo suas respectivas cobranças.

Na disputa de terceiro lugar, Robben sofreu falta de expulsão (que se transformou em pênalti de amarelo) e com três minutos a Holanda já vencia o jogo diante do Brasil. Foi, como de hábito, dificílimo acompanhar o ágil e hábil ponta holandês.

Na disputa de título, Messi jogou muita bola. Foi um dos melhores em campo, talvez o melhor. Mas, em suas grandes jogadas individuais que mais levaram perigo, não conseguiu mandar no gol. E quiseram os deuses do futebol que as maiores chances caíssem para Higuaín e Palacio. São ótimos, mas não são Messi. E a Argentina ficou no quase diante da Alemanha.

Parabéns a ambos pelas excelentes performances e que bom podemos vê-los da primeira rodada até o sétimo e último compromisso!
Mesben e Robssi, destaques na Copa do Mundo 2014.