sexta-feira, 31 de maio de 2013

Em Segundo Tempo Eletrizante, Bordeaux Vence Evian Em Noite De Diabaté E Conquista Copa Da França

Ah! As finais de campeonato! Sempre partidas especiais... Às vezes bem jogadas, outras nem tanto. Mas seu caráter decisivo, marcado pelo abismo superestimado que separa o finalista campeão do finalista vice-campeão, torna esses eventos únicos no futebol. E o jogo entre Bordeaux e Evian foi assim, único. Uma final de Copa da França que cresceu com o passar dos minutos e que teve um segundo tempo interessantíssimo. Pra melhorar ainda mais: a parte derrotada, representada por valentes jogadores e torcedores no Stade de France, deu demonstração exemplar de conduta, fazendo a festa mesmo diante da celebração do adversário. Porque o futebol é isso: mais que um esporte competitivo, um momento de êxtase coletivo. Acredito que todos aqueles que presenciaram esse momento, por um monitor ou pessoalmente, tenham tido algum tipo de aprendizado. Viva o futebol!

O jogo

Bordeaux e Evian haviam se enfrentado exatamente na última rodada no Campeonato Francês - vitória do então dono da casa, que atuava no Chaban-Delmas e acabou vencendo a partida por 2a1, com dois gols de Cheick Diabaté. Resultado este que, no conjunto das trinta e oito rodadas na liga nacional, deixaram o Bordeux em 7º (fora das competições européias) e o Evian em 16º (livre do descenso). A partida final na Copa da França vinha para salvar a temporada de um time tradicional e para consagrar o ano de um clube novo, desconhecido até. E tal partida foi incrível. Cinco gols, defesas dos goleiros, intervenção dos defensores, jogadas de velocidade. Tudo isso num campo supostamente neutro - o Stade de France -, mas que graças ao apoio dos torcedores de ambos os clubes, tornou-se algo como um pouco da casa de cada um.

Tecnicamente, o Bordeaux era superior. Superioridade não grande o suficiente para construir uma vantagem no placar diante de uma equipe aplicadíssima taticamente, onde todos pareciam correr por si e pelo companheiro, multiplicando a capacidade de reduzir os espaços ao adversário. Uma marcação-pressão bem organizada e uma defesa que sabia muito bem aquela regra básica do futebol: bola pro mato, que o jogo é de campeonato. Final de campeonato, aliás! Gol no primeiro tempo? Somente um: Diabaté, que aproveitou lançamento de Mariano e, nas costas da defesa, conseguiu ficar de frente com o goleiro Bertrand Laquait, driblando-o e mandando para a rede (não sem antes a bola dar um leve desvio na chuteira direita de um zagueiro, que quase salvou o Evian).

Na segunda etapa, a partida ganhou outra voltagem. Mais dinâmica e com mais finalizações, um jogo que se concentrava entre as duas intermediárias passou a ter a bola frequentando as duas grandes áreas. Logo aos dois minutos, o Bordeaux teve grandiosa oportunidade de abrir dois gols de diferença: o assistente da linha-de-fundo denunciou pênalti, o árbitro confiou e Diabaté cobrou com força e no canto, parando em espetacular defesa de Bertrand Laquait. Três minutos depois, a intervenção salvadora do arqueiro ganhou ainda mais importância, pois o Evian chegou ao gol de empate: Daniel Wass fez boa jogada pelo flanco esquerdo, cruzou e Yannick Sagbo completou para a rede, empatando a partida e levando ao delírio a torcida que vestia rosa.

O ritmo era frenético e, não bastando os dois lances anteriores (pênalti defendido e gol de empate), pintou mais um gol já aos sete minutos. Dessa vez, festa do Bordeaux: em nova assistência do lateral-direito brasileiro Mariano (ex-Fluminense), quem aproveitou dessa vez foi Henri Saivet, recolocando o Bordeaux em vantagem no placar. Mas o Evian não se entregou. Mesmo após levar uma pressão que quase aumentou a diferença na contagem de gols - Laquait foi fundamental para manter o 2a1 -, o time comandado por Pascal Dupraz buscou forças sabe Deus onde e alcançou mais uma vez a igualdade: de Saber Khelifa para Brice Dja Djédjé, que só precisou conferir. 2a2.

Parecia que a missão estava cumprida para levar o jogo até a prorrogação. O Evian conseguia conter os avanços adversários, embora tivesse muitas dificuldades para lidar com Diabaté, que constantemente levava vantagem sobre a defesa cor-de-rosa. E a noite era mesmo de Diabaté. Estava escrito nas estrelas. Aos quarenta e três, Nicolas Maurice-Belay deu um passe mágico, à la Zinedine Zidane, e serviu o atacante malinês, que colocou-se definitivamente como protagonista na final. 3a2 Bordeaux, pela quarta vez campeão no mais tradicional torneio de clubes franceses, a Coupe de France.

Mas o texto precisa de mais um parágrafo, o qual fica dedicado totalmente ao vice-campeão. Um honroso e digno vice-campeão. Equipe que eliminou o poderoso Paris Saint-Germain na fase quartas-de-final e que conseguiu se manter na Ligue 1. Evian, que surgiu da fusão de três clubes e que carrega esse nome desde o recente ano de 2009. Uma criança. Uma gigante criança. E que, com tudo o que mostrou no gramado e na temporada, justifica o orgulho rosa visto nas arquibancadas.
Bandeiras agitadas nas arquibancadas: torcedores do Evian fizeram festa antes, durante e depois da partida em que saíram como vice-campeões em inédita aparição numa final de Copa Francesa.

Do Pânico Ao Êxtase: Uma Classificação Histórica

Um empate por 2a2 em Tijuana, outro empate (dessa vez por 1a1) em Belo Horizonte e o time de melhor campanha na Libertadores avança para a semifinal continental. Se os resultados lidos friamente já denotam um confronto equilibrado, o jogo propriamente dito consegue ser ainda mais transparente: qualquer um que avançasse, merecedor seria.

No conjunto dos noventa minutos no Independência, uma partida alucinante do início ao fim. Com poucos segundos, os visitantes quase abriram o placar após falha de Réver, com Riascos parando em defesa do goleiro Victor. O mesmo Victor que, nos acréscimos, salvou o Galo ao defender pênalti de Riascos.

Entre uma finalização e outra, muita coisa aconteceu no gramado em Minas Gerais. O ritmo dos comandados de Antonio Mohamed era algo sobrenatural, num empenho formidável para conter o volume de jogo atleticano e lançar-se com competência ao ataque. Fruto de uma equipe bem preparada física e taticamente. Aliás, este blógui acompanhou a estréia do Tijuana na Libertadores e recomenda a leitura: Muito Prazer, Club Tijuana Xoloitzcuintles De Caliente.

O Galo, de tantos encantos desde que assumido pelo excepcional técnico Cuca, teve raros momentos onde conseguiu desenvolver sua capacidade de envolver o adversário. O time parecia um pouco afoito, apressado, mas o mérito maior pela incapacidade de infiltrar era... do Tijuana. Bem postado, bem disposto. Pra acabar de vez com aquela balela de que clube mexicano não leva a Libertadores a sério. Leva, e muito. Vide o Tijuana. A Libertadores é que precisa levá-los mais a sério.

Um gol de Riascos (é bom jogador esse colombiano), em sensacional contra-ataque pelo flanco direito, abriu a contagem para os Xolos. Mas ainda no primeiro tempo, em jogada de bola parada, o Galo empatou através de Réver. No segundo tempo, brilharam os goleiros Saucedo e Victor. Belíssimas defesas para impedir um resultado com muito mais gols. E o momento máximo foi nos acréscimos. Uma tuitada para um momento épico (não veja como profecia, mas pressentimento).

Na entrevista pós-jogo, Cuca disse que não havia euforia no vestiário atleticano. Agradeceu a bênção pela sorte e lamentou o futebol abaixo do apresentado habitualmente pelo time (insisto: mérito maior pelo Galo não ter rendido como costuma render é do Tijuana). Aliás, há alguém que esteja lendo isso que ache o Cuca... hum... azarado?

Por último, olhe bem para aquela imagem que abriu a presente postagem. Na campanha do título corinthiano em 2012, uma defesa de Cássio em chute de Diego Souza na fase quartas-de-final marcou a trajetória do Corinthians na Libertadores. Se o Atlético levantar o troféu em 2013, pode ter certeza que essa intervenção de Victor na cobrança de pênalti de Riascos também ficará eternizada.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Salgueiro Decide E Olimpia Elimina Fluminense

Novamente na fase quartas-de-final, o Fluminense de Abel Braga dá adeus à Copa Libertadores da América. Ano passado a campanha teve mais brilho, com classificação sobre o Internacional e queda para o tradicionalíssimo Boca Juniors (equipe que o Flu havia vencido em plena La Bombonera pela fase de grupos naquele ano); já em 2013, a equipe tricolor caiu para o paraguaio Olimpia (havia tido dificuldades para passar pelo Emelec nas oitavas, além de ter vivido algumas vergonhas na fase de grupos, quando dentro de casa empatou com o Huachipato e foi goleado pelo Grêmio por 3a0).

O início da partida no estádio Defensores Del Chaco deve ter sido melhor do que o mais otimista torcedor tricolor poderia supôr: com gol de Rhayner, aproveitando tremendo vacilo da defesa paraguaia. Só que o Flu também cometeria deslizes perto de sua área e, em dois lances de bola parada, o Olimpia virou através de Salgueiro. Primeiro, cobrando falta e surpreendendo Diego Cavalieri (sai pra lá quem defende sua titularidade na seleção brasileira!), depois cobrando pênalti que ele próprio havia sofrido. Isso tudo no primeiro tempo.

Veio o intervalo e, depois, um Fluminense enérgico na busca pelo empate que o classificaria. Encontrou do outro lado uma defesa esforçada mas longe de ser das mais organizadas. Como o Tricolor das Laranjeiras também carecia de um padrão de jogo capaz de envolver os adversários, o gol tão procurado acabou não acontecendo. E olha que a equipe terminou o jogo com Wágner, Fred, Rhayner, Thiago Neves, Samuel e Rafael Sóbis. Aliás, esse tanto de meias e atacantes mostram que não é a posição de origem do atleta que define a capacidade de uma equipe colocar a bola na rede. Estranhíssima a escolha de Abel em tirar Jean de campo, notadamente pelo fato de estarmos falando de um jogador polivalente, de relevância ainda maior em jogos eliminatórios de contornos dramáticos. Mas deve fazer sentido para o treinador. O mesmo sentido, talvez, do raciocínio de que "empatar por 0a0 em casa é melhor do que vencer por 2a1". O Olimpia de Ever Almeida discorda. Vide o resultado.

Botafogo Vence O Santos Em Jogo De Domínios Alternados

Ainda misteriosamente sem poder fazer uso do estádio Engenhão (lá dentro são realizadas gravações comerciais de multinacionais, treino da seleção inglesa, entre outras atividades, mas jogo do Botafogo a Prefeitura do Rio de Janeiro diz que "não é seguro"), o Alvinegro de General Severiano "recebeu" o Santos em Volta Redonda e venceu a partida por 2a1. Com o resultado, os comandados de Oswaldo de Oliveira somam quatro pontos (estrearam empatando com o Corinthians em 1a1) enquanto o time dirigido por Muricy Ramalho permanece com um ponto ganho (havia empatado sem gol com o Flamengo no jogo inaugural).

Grosso modo, a partida foi um tempo de cada time. O Botafogo dominou as ações no primeiro tempo, abrindo 2a0 com gols de Fellype Gabriel e Rafael Marques. Na volta do intervalo, o Santos foi equilibrando as ações até se impôr dentro de campo, diminuir a diferença com gol de Montillo e quase alcançar o empate - a maior chance foi em jogada do próprio Montillo. Por falar no ótimo meia argentino, bastante contestado nessa temporada, parece que o camisa 10 rende melhor vestindo uniformes azuis: Universidad de Chile, Cruzeiro, Argentina, Santos alternativo... Enfim, fato é que Seedorf (diagnosticado com amigdalite) fez falta ao Botafogo e Neymar (negociado com o Barcelona) faz ainda mais falta ao Santos. É prematuro dizer até onde cada um desses times poderá chegar, principalmente antes da janela européia se abrir e fechar, mas uma coisa é certa: os craques fazem a diferença no competitivo Campeonato Brasileiro. Não tenho dúvidas de que o às vezes monótono jogo em Volta Redonda teria sido muito mais interessante na presença do craque holandês e do novo reforço barcelonista. E, por que não dizer, se tivesse sido realizado na casa do Botafogo (ou seria da Prefeitura?), o estádio Engenhão.
Rafael Marques comemora o seu gol, o segundo do Botafogo na partida: atacante está dando a volta por cima e atravessa ótimo momento na temporada, tendo marcado seis gols em seus últimos seis jogos oficiais.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Equipe E Jogada Da Semana

O Bayern de Munique fechou sua participação triunfante na Bundesliga 2012-3 com uma vitória por 4a3 sobre o Borussia Mönchengladbach, fora de casa. Nos trinta e quatro jogos na liga nacional, os comandados de Jupp Heynckes alcançaram a incrível marca de noventa e um pontos (vinte e nove vitórias, quatro empates e uma única derrota). Mas o melhor ainda estava por vir. Quer dizer, se é que dá pra ser melhor que isso. No sábado seguinte, vinte e cinco de maio de dois mil e treze, o Gigante da Baviera conquistou o quinto título na Liga dos Campeões da Europa vencendo o Borussia Dortmund por 2a1. E com o belo futebol que acompanhou o time durante praticamente toda a presente temporada. Um presente para os amantes desse esporte. No próximo sábado, o Bayern encerra a temporada com a possibilidade de conquistar a Tríplice Coroa, quando enfrentará o Stuttgart, pela Copa Alemã. Alguém duvida?

Jogada da semana

Para calar muitas bocas e dedos por aí, Arjen Robben, após algumas frustrações em finais, deu a assistência para abrir o placar e marcou ele próprio o gol de desempate para dar ao Bayern de Munique o troféu na Liga dos Campeões Europeus. Caiu em 2010 o mito da Espanha "amarelar" em Copas. Caiu em 2013 o mito de Robben "amarelar" em finais. Aliás, quem entende minimamente de futebol e assiste os jogos (sim, é importante assistir para comentar a respeito), jamais levou aqueles rótulos a sério. Uma baita seleção atual campeã mundial e bi-européia, e um craque de bola, atual campeão na maior competição de clubes do mundo. Cale-se quem puder.

domingo, 26 de maio de 2013

Santos 0a0 Flamengo: Muita Arrecadação, Pouco Futebol

O Campeonato Brasileiro teve início nesse final-de-semana. Dez partidas para começar uma das ligas nacionais mais competitivas de todo o planeta, que irá até dezembro num total de trinta e oito compromissos para cada clube.

Em três jogos, tivemos encontros entre campeões estaduais. No sábado, o Vitória empatou com o Internacional em 2a2 (gosto amargo para o Rubronegro Baiano, que chegou a abrir 2a0 diante de seus torcedores). Também no sábado, no esdrúxulo horário de 21h, foram a campo Corinthians e Botafogo, que terminaram empatados em 1a1 (dessa vez, foi o time visitante quem abriu o placar). E, finalmente no domingo, o Coritiba virou o jogo com um gol no final e saiu vitorioso diante do Atlético Mineiro: 2a1 no Couto Pereira.

Nos demais sete jogos, tivemos quatro vitórias dos donos da casa (Vasco 1a0 Portuguesa, Grêmio 2a0 Náutico, Fluminense 2a1 Atlético Paranaense e Cruzeiro 5a0 Goiás) e uma vitória dos visitantes (São Paulo 2a0 Ponte Preta). A outra partida foi o empate sem gol entre Santos e Flamengo, disputada em... Brasília. Brasília? Pois é, Brasília.

Pausa para aquele momento em que você pergunta a si mesmo: mas por que Brasília? Pausa de período semelhante para a resposta: négocios.

Promovendo a inauguração do estádio Mané Garrincha, que recebeu obras de custos acima de um bilhão e meio de reais (em números: R$1.500.000.000,00), Santos e Flamengo foram a campo para a maior arrecadação da história do futebol brasileiro, em valores perto de sete milhões de reais (mais precisamente: R$6.948.710,00). A FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado) pede, ou pior, exige, que seja chamado de estádio nacional de Brasília. Um insulto para o imortal Garrincha, Anjo das Pernas Tortas, Alegria do Povo. Mas Garrincha, justamente por fazer e ser a alegria do povo, não combina com o estádio de cifras astronômicas. Nem muito menos com o péssimo jogo entre Santos e Flamengo. Partida com aparência que mais a aproximava de uma pelada de fim-de-semana do que a de um jogo profissional em país prestes a sediar mais uma Copa do Mundo. O 0a0 acabou ficando de bom tamanho. Muitos poderão dizer: mas o Flamengo criou mais chances, perdendo gols incríveis. Justamente por isso. O Flamengo desperdiçou oportunidades de tal maneira que seria melhor para o aprendizado sair com um empate do que com uma vitória. Vão treinar finalizações, ora! E dessa vez não há Deivid para receber a culpa. O único a colocar a bola na rede foi o estreante Marcelo Moreno, que entrou no intervalo mas estava impedido no lance em que abriria o placar na capital federal.

Então é isso... o Campeonato Brasileiro começou. Neymar, negociado com o Barcelona e prestes a assinar contrato com o clube azul-grená da Catalunha, está de saída. Não tenha dúvidas de que fará falta ao futebol nacional. Mas nossa seleção terá um ganho imenso: Neymar sai jogando muita bola, e deverá, logo mais, estar jogando muito futebol. E por falar em futebol, espero que o Santos Futebol Clube pense muito bem no que fazer com o montante de dinheiro que receberá com a venda da jovem promessa. Eu, particularmente, correria primeiramente atrás de um técnico. Técnico de futebol.

Tudo Azul Na Bota: Lazio Vence Roma E Fatura Copa Da Itália

A Copa da Itália é azul celeste. Se ano passado o Napoli conseguiu o título em cima da Juventus, dessa vez a festa foi da Lazio, que foi campeã em clássico com a Roma. Só isso: levantou o troféu vencendo o maior rival. 84 anos de história desse clássico e talvez hoje, vinte e seis de maio de dois mil e treze, tenhamos tido o capítulo mais marcante desde sempre.

O jogo foi equilibrado taticamente. Dois times pragmáticos e cautelosos cometeram mais faltas do que criaram oportunidades de balançar as redes. Bastou uma bola ser aproveitada para definir o destino: Lulic, aproveitando cruzamento de Candreva, marcou o gol mais importante de sua carreira. Totti, no minuto seguinte, quase empatou. A bola não entrou por detalhes. Detalhes chamados Marchetti e travessão.

A imagem de Ledesma foi talvez a síntese do evento na capital italiana. Com uma lesão que o tirou de campo na maca e aos prantos, o camisa 24 da Lazio foi flagrado pela transmissão televisiva após o apito final. Aí você pergunta: e como estava Ledesma? Ledesma estava chorando. Dessa vez, mais pela emoção do título do que pela dor da lesão. E o futebol é isso. É dor, é emoção, é lágrima. Ledesma mostrou. E quem viu, se emocionou.

Ademais, esse final-de-semana escancarou a diferença do atual futebol alemão pro atual futebol italiano. Ontem tivemos uma partida maravilhosa entre Bayern e Borussia, decidindo a Liga dos Campeões da Europa em jogo de altíssimo nível. Hoje, a Copa da Itália foi decidida em partida arrastada, de pouca inspiração de ambos os lados. Mas a emoção tomou conta tanto em Wembley quanto no estádio Olímpico de Roma. E é por essas e outras que o futebol acaba sendo alguma coisa difícil de descrever, mas que certamente transcende a mera esfera esportiva.

sábado, 25 de maio de 2013

Em Final Sensacional, Bayern É Campeão Europeu Com Robben Decisivo

Ser apaixonado por futebol leva você a acompanhar diversos torneios. E não existe, nesse esporte, um torneio de clubes mais entusiasmante que a Liga dos Campeões da Europa. É lá onde está a maioria dos melhores jogadores do mundo (Ronaldinho já foi campeão, Lucas chegou recentemente, Neymar está a caminho etc). Tenho a felicidade de poder, há mais de uma década, acompanhar quase todas as finais nessa competição. E é por isso que tenho relativa autoridade para dizer o seguinte: Bayern de Munique e Borussia Dortmund fizeram uma das maiores finais européias da história. Ou, pelo menos, a melhor partida final européia que assisti até hoje, vinte e cinco de maio de dois mil e treze.

O título do Bayern é merecido. Merecido, primeiramente, porque tivemos uma arbitragem correta em quase 100% do jogo. Errou por infelicidade ao atrapalhar um ataque do Borussia (Nicola Rizzoli, único italiano em campo, estava na trajetória da bola e sem querer ligou contra-ataque para os bávaros, felizmente não resultando em gol) e errou por falta de rigor (ou mesmo de bom senso) ao não aplicar sequer um cartão amarelo para Franck Ribèry após cotovelada em Robert Lewandowski, em lance de expulsão, pois caracterizou covarde agressão. De resto, sem maiores queixas a Rizzoli e auxiliares. E aí podemos falar de futebol. De futebol do mais alto nível.

Para início de conversa, o jogo teve dois responsáveis para caminhar ao intervalo com o placar ainda zerado: os goleiros Manuel Neuer e Roman Weidenfeller. Nascidos nas respectivas cidades de Gelsenkirchen e Diez, esses arqueiros alemães eram mais intransponíveis do que o Muro de Berlin. Foram defesas estupendas a se perder a conta. E se perdemos a conta das defesas dos goleiros, é sinal que os times finalizaram, chegaram ao ataque, buscaram o gol. E essa é a melhor parte da história: a capacidade dos comandados de Jupp Heynckes e Jürgen Klopp buscarem o gol. Organizados, ligeiros, astutos, entrosados, valentes. Dois times com alma de campeão.

O Borussia começou melhor, ficando menos tempo com a bola mas mais tempo perto do gol adversário. Fruto de uma bem executada marcação por pressão combinada a uma transição ao ataque feita de maneira eficiente e objetiva. O meio-campista Ilkay Gündogan foi talvez o maior responsável por essa exuberante performance aurinegra na aproximação ao ataque, pois o camisa oito esbanjava visão de jogo e dinamismo para cumprir uma função que muitas das vezes é feita por dois jogadores em conjunto. Pois é, Gündogan é daqueles jogadores que valem por dois. Mas, aos poucos, os outros dez jogadores do Bayern foram crescendo no jogo, fazendo com que Neuer aparecesse menos e Weindenfeller passasse a protagonista no primeiro tempo. Como está bem servida de goleiros a seleção alemã! Estimo que nem o lendário Oliver Kahn teria facilidades para assumir a titularidade com esses dois aí em atividade. Excelentes mesmo.

No intervalo de jogo, vi no Tuíter o jornalista Júlio Gomes Filho cornetar Arjen Robben. Situação que exigiu de mim, fã do hábil ponta holandês, uma manifestação. A qual fiz quase prontamente, antes mesmo de o jogo retornar para o segundo tempo. Comentário de Júlio Gomes no microblog: "Robben, você não nasceu para finais de campeonato, amigo". A resposta: (Júlio) Você não nasceu para comentar finais de campeonato, amigo". Veja a tuitada.

Mas a melhor resposta a ele e a todos os demais corneteiros seria dada não por mim, mas por quem melhor poderia fazê-lo: o próprio Robben. Foi dele a assistência para Mario Mandzukic abrir o placar, aos catorze. Oito minutos depois, um tosco e tolo pênalti cometido por Dante em Marco Reus foi convertido por Gündogan, reestabelencendo o empate no placar. Empate que se encaminhava até o apito final, levando o jogo para a prorrogação. Mas eis que, aos quarenta e três, os deuses do futebol premiaram a fera: Robben recebeu, ficou mais uma vez de frente com Weidenfeller e, finalmente, conseguiu superar o ótimo goleiro. Foi com um toque categórico, típico dos craques. Com uma frieza digna de quem nasceu para as finais. Um ponto final num rótulo injusto sobre um dos maiores jogadores da atualidade. Que nasceu, sim, para finais de campeonato. Inclusive para ser campeão. Com gol e assistência.

Wembley foi palco de uma partida épica. Germânica como nunca, a capital inglesa recebeu dois expoentes do bom futebol atual. Heynckes está de saída do Bayern, deixando como herança um elenco forte, funcional e vencedor. Guardiola vai assumir o comando técnico. Ou seja, o Bayern tem tudo para ir daí para melhor. Já o Borussia tem mais é que seguir esse trabalho também maravilhoso de Klopp. Jovem, renovado, ofensivo. É o desenho do futuro do futebol alemão. Uma Alemanha que caminha a passos largos para se tornar uma potência. E com uma diferença daquela Alemanha de décadas atrás: uma potência que, agora, joga futebol. Com tudo isso que vimos em Wembley e ao longo da Liga dos Campeões, com a chegada de Pep ao Bayern e com o trabalho desenvolvido por Joachim Löw na seleção, pode-se afirmar com segurança: a revolução está em curso.

Parabéns, Bayern! Parabéns, Borussia! Parabéns, Robben! Viva o futebol!
Arjen Robben comemora de joelhos: holandês perdeu chances claras no primeiro tempo mas evitou novo vice-campeonato na carreira com performance decisiva na volta do intervalo, levando o Bayern de Munique ao quinto título europeu em sua história.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Boca Juniors: Espetáculo Nas Arquibancadas, Marasmo No Gramado

 
A Copa Libertadores da América 2013 chega em sua fase quartas-de-final com duas equipes brasileiras (Atlético Mineiro e Fluminense), uma mexicana (Tijuana), uma paraguaia (Olímpia), uma colombiana (Santa Fé), uma peruana (Real Garcilaso) e as argentinas Boca Juniors e Newell's Old Boys. Boca e Newell's que jogaram nessa última quinta-feira e terminaram a partida com um empate sem gol. Ou seja, os boquenses irão até Rosário com a vantagem do empate enquanto qualquer vitória classificará os mandantes do jogo de volta.

É difícil fazer uma previsão sobre o que irá ocorrer no próximo jogo entre esses dois times argentinos. Em La Bombonera, o Boca foi ligeiramente superior. Mais pela atitude do que pela organização. Só que o zero a zero ficou de ótimo tamanho para ambos os lados. Carlos Bianchi preparou o time com Riquelme e Martínez buscando jogadas de aproximação, mas raramente conseguindo desenvolver reais chances de gol. Gerardo Martino (treinador vice-campeão na Copa América 2011 com a seleção paraguaia) conseguiu manter o time bem compactado durante praticamente a totalidade do jogo em Buenos Aires, dificultando a transição dos donos da casa.

Aliás, que casa! Se a partida era carente de emoções dentro das quatro linhas, fora delas e alguns metros acima da superfície verde, o Boca Juniors era espetacular através de dezenas de milhares de vozes nas arquibancadas. O canto era forte, embora o time não tivesse um volume de jogo igualmente imponente. A movimentação era intensa, com torcedores o tempo todo se balançando e sacodindo bandeiras e faixas em azul e amarelo, embora os jogadores raramente apresentassem algum lampejo de insipiração. Há que se respeitar o Boca. Com Bianchi e Riquelme, mais ainda. Os números mostram bem as razões para isso. Mas, mais do que tudo isso, há que se exaltar o Boca. Com essa torcida, até partidas de desenrolar desinteressante tornam-se uma atração marcante.

O Newell's talvez seja favorito para a classificação pelo fator campo. Mas, assim como o Newell's de Martino (que venceu o Vélez nas oitavas e empatou com o Boca), o time comandado por Bianchi também sabe jogar fora de casa. Resta saber se o suficiente para seguir adiante no torneio continental. E, em conseqüência, termos novas oportunidades de assistir o espetáculo proporcionado pela apaixonada e apaixonante torcida xeneize.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Mesmo Sem Título, Arsenal Termina Temporada Por Cima

A grandiosa arrancada do Arsenal vivenciada nas últimas rodadas de Campeonato Inglês (sem esquecer a vitória por 2a0 sobre o Bayern, em Munique, na ocasião da eliminação européia) foram recompensadas no compromisso derradeiro dos comandados de Arsène Wenger na presente temporada: com uma vitória sobre o Newcastle em Saint James Park (1a0), a equipe manteve o retrospecto exitoso de marcar presença na maior competição continental de clubes.

O jogo em si não foi fácil, combinando com a dificuldade que foi a temporada como um todo. Mas é notório como houve grande evolução na competitividade da equipe no comparativo com momentos anteriores. O estilo de jogo é aquele à la Wenger, com trocas de passes rasteiros e movimentação intensa para envolver o oponente e achar espaços no campo. Mas, de alguma maneira, o Arsenal conseguiu desenvolver sua filosofia de forma mais equilibrada, isto é, comprometendo cada vez menos o sistema defensivo. Nessa partida diante do Newcastle, foram concedidas poucas oportunidades de gol ao adversário, que é um time qualificado (apesar da temporada ruim).

Fato é que o torcedor do Arsenal comemorou um desfecho positivo, pois muitos chegaram a duvidar da capacidade da equipe em ficar dentro da zona de classificação para a Liga dos Campeões da Europa, até porque por bastante tempo a equipe ficou abaixo dessa região na tabela de classificação. Para melhorar o gostinho do dever cumprido, o Tottenham ficou logo atrás, indo para a Liga Europa. Só que, convenhamos, estamos falando de um clube que precisa ter títulos e troféus em seu vocabulário anual, em seu linguajar cotidiano. O Arsenal sempre foi grande. E, desde Wenger, é um grande que tem enorme capacidade de encantar. Taças são consequência disso tudo, e o Arsenal está em ótimas mãos com esse que é o técnico de maior longevidade num clube inglês (Alex Ferguson está oficialmente aposentado). Talvez o que falte seja um maior ímpeto mercantil por jogadores de ponta, aquele tipo de atleta que seja o investimento pesado para decidir jogos específicos e conduzir o time a um degrau acima. Não é uma necessidade, mas uma alternativa altamente válida.

Quanto ao Newcastle, é plenamente possível almejar coisas maiores na próxima temporada. Pardew tem um contrato longo (até 2020) e a confiança da direção, apesar da colocação pífia na liga nacional (16º). Teve seu poder de ataque enfraquecido após a saída do goleador Demba Ba, mas com alguns ajustes poderá se colocar como concorrente a um lugar em competição européia. O grande atrativo nessa partida final foi a homenagem feita pelos torcedores, que chegaram a causar emoção no agora aposentado goleiro Harper, ícone na história do clube por sua longevidade e fidelidade. O camisa 37, aos 38 anos, foi às lágrimas entre os minutos 37 e 38, quando a massa nas arquibancadas celebrou em bonita manifestação. E o Newcastle tem nessa fanática torcida uma de suas mais fiéis ferramentas de buscar posições melhores na Inglaterra. O clube e os adeptos merecem.

Situação final na Premiership 2012-3

Campeão: Manchester United (89 pontos)
Vice-campeão: Manchester City (78 pontos)
Liga dos Campeões: United, City, Chelsea (75) e Arsenal (73)
Liga Europa: Tottenham (72)
Despromoção: Wigan (36), Reading (28) e Queens Park Rangers (25).
Goleadores: Robin van Persie (Manchester United, 26 gols), Luis Suárez (Liverpool, 23) e Gareth Bale (Tottenham, 21).

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Boca E Apito Eliminam Corinthians Na Libertadores

O confronto entre Boca Juniors e Corinthians pela fase oitavas-de-final na Copa Libertadores da América 2013 pode ser dividido em duas partes. A primeira foi aquela disputada em La Bombonera, onde o time da casa mostrou-se superior, venceu por 1a0 e poderia até ter conseguido uma vantagem ainda melhor. A segunda parte realizou-se nessa última quarta-feira, no estádio Pacaembu, onde o time mandante jogou melhor, criou muitas chances e até converteu o suficiente, mas acabou esbarrando na arbitragem de Carlos Amarilla e amargando a eliminação diante do mesmo clube sobre o qual, ano passado, sagrou-se campeão na competição.

O curioso nessa história toda é ver como o fator campo pode influenciar o comportamento de cada equipe e, consequentemente, o andamento da partida. O apático Corinthians que se apresentou em Buenos Aires transformou-se num time com cara de campeão em São Paulo. Principalmente no segundo tempo, quando precisava correr atrás de três gols. O Boca, que impôs seu jogo na capital argentina, atacou apenas esporadicamente em solo brasileiro, tendo a felicidade de encontrar um golaço através de Riquelme e a sorte de ver a arbitragem anular dois lances de gols corinthianos.

O Corinthians sai da Libertadores de cabeça erguida e isso se deve fundamentalmente pelo rendimento no segundo tempo no segundo jogo. Nos outros três (principalmente nos dois primeiros, na Argentina), ficou devendo. É uma equipe que tem totais condições de sair campeã paulista na Vila Belmiro e, mais relevante que isso, que disputará o Campeonato Brasileiro com possibilidade real de título, para usar termo do técnico Tite.

Quanto ao Boca Juniors, não vejo lá grande qualidade técnica nem vigorosa consistência tática. Mas vejo o Boca. Vejo a Libertadores. Vejo Bianchi. Vejo Riquelme. Vejo uma torcida fantástica, que faz de um estádio, caldeirão. Vendo tudo isso, há que se respeitar. Quem tem tudo isso, junto e misturado, vai longe.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

No Xadrez Da Final, "Cech Mata" Com Torres E Ivanovic - Chelsea Campeão

Pela segunda vez nas últimas duas temporadas, o Chelsea é campeão europeu. Não foi o bi na Liga dos Campeões da Europa, pois a equipe ficou em terceiro lugar dentro de seu grupo (atrás de Juventus e Shakhtar). Mas foi, sim, com grande dignidade: após uma vitória por 2a1 em partida dramátuca diante da forte e organizada equipe do Benfica, os Azuis levantaram mais um caneco continental, dessa vez o da Liga Europa. Pra derrubar de vez o rótulo de que é um time "doméstico" ou qualquer coisa do gênero. O Chelsea, caros e caras, é uma força européia e merece respeito. Ele e seu treinador, o tão criticado espanhol Rafa Benítez.

Confira como foi a transmissão da partida em tempo real através do Twitter (#BenChe)

A partida realizada em Amsterdã começou com tudo. O ritmo era frenético, a intensidade digna de grandes jogos. Só que era um único time que jogava: o Benfica. Envolvente e objetivo, o time comandado por Jorge Jesus foi ao ataque de maneira a manter o Chelsea constantemente sob pressão, dando a impressão de que poderia abrir o placar a qualquer momento.

Só que a superioridade de ordem tática não se converteu em vantagem no placar. Pelo contrário. No segundo tempo, o Chelsea saiu na frente. Saiu na frente vindo de trás: aos catorze minutos, Cech fez a defesa em lance de ataque benfiquista e rapidamente recolocou a bola em jogo. Ela passou por dois espanhóis (de Mata chegou em Torres), e El Niño mostrou-se avassalador ao livrar-se de dois brasileiros: deixou Luisão para trás, driblou o goleiro Artur e mandou para a rede. Com o padrão Torres de qualidade, Chelsea 1a0.

O Benfica manteve a mesma postura de antes e seguiu a busca pelo gol apresentando um futebol ofensivo. Numa das investidas, Azpilicueta colocou o braço na bola e Kuipers acertou na marcação do pênalti. Cardozo cobrou com força e empatou o jogo, tornando o placar mais próximo da realidade das ações dentro de campo.

Chances de gol para ambos os lados continuaram acontecendo. Cech parou Cardozo de maneira espetacular. Lampard carimbou o travessão. Até que, aos quarenta e sete, Mata cobrou escanteio pela direita e Ivanovic subiu bem para cabecear melhor ainda, marcando o gol do título.

Parabéns ao Benfica de Jorge Jesus, que faz belíssima temporada. Vi esse time merecer a classificação diante do Fenerbahce e o título diante do Chelsea. Mas futebol é assim, e a semana dos Encarnados acabou sendo traumática, com derrotas para Porto e Chelsea por 2a1 com o último gol de cada partida acontecendo nos descontos. Porém, há que se valorizar a qualidade do rendimento benfiquista.

Parabéns ao Chelsea de Rafa Benítez. Tratado como treinador interino e já anunciado fora do clube na próxima temporada, o espanhol levantou a moral de uma equipe qualificada mas que atravessava péssimo momento na ocasião da demissão de seu antecessor, o italiano Roberto di Matteo. Entregará ao seu sucessor, seja ele quem for, um time classificado para a próxima Liga dos Campeões e campeão na Liga Europa. Não que seja um time que me encante, mas vejo mais qualidade e menos medo que na temporada passada. A Europa é azul.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Em Ótimo Jogo, Arsenal Assume 4º Lugar Rebaixando Campeão Wigan

Que o futebol é um esporte diferente, não há dúvidas. Mas o que o torna tão especial? Há várias maneiras de tentar explicar a paixão que cerca essa modalidade, mas às vezes é difícil mensurar com palavras. Hoje, em Londres, os torcedores do Arsenal e, principalmente, do Wigan, vivenciaram essa magia que apenas o football pode proporcionar.

Em campo, duas equipes que sequer queriam cogitar a possibilidade do empate. Para o dono da casa, isso poderia significar entrar na última rodada atrás do Tottenham e dependendo de dois resultados (o seu e o do rival) para conseguir um lugar na próxima edição de Liga dos Campeões da Europa. Para o visitante, seria a iminência do rebaixamento, pois ficaria com três pontos a menos que o Sunderland.

O primeiro tempo alternou domínios. O Arsenal começou melhor, abriu o placar com Podolski e teve chances de marcar o segundo. Só que não apenas não marcou como viu os comandados de Roberto Martínez melhorarem no jogo, chegando com mais frequência ao campo de ataque, equilibrando o tempo de posse de bola e ganhando solidez na defesa. Num erro do árbitro Mike Dean (que assinalou falta de Arteta em Maloney), os Latics empataram: o próprio Maloney cobrou muito bem a tal infração que não houve, levando a partida ao intervalo em igualdade no placar.

Foi então que veio o segundo tempo. Um mágico segundo tempo, de ritmo frenético entre duas equipes com velocidade e disciplina tática, jogando de maneira ofensiva e categórica, mantendo a bola preferencialmente em contato com o gramado liso londrino. Um deleite para os amantes do futebol. É assim que se joga! E vieram mais três gols. Todos do Arsenal. Primeiro Walcott, depois Podolski e, por fim, Ramsey. Uma goleada que engana o que foi a partida, por muito tempo jogada de igual para igual entre um ameaçado de rebaixamento e um postulante à UCL.

E é aí que retornamos ao primeiro parágrafo. Os torcedores do Arsenal saborearam uma gostosa vitória em seu estádio, arrancando para a goleada com um segundo tempo de alto nível e performance corajosa. Cazorla terminou o jogo com três assistências. Ramsey esteve muito bem. Walcott também foi decisivo. Podolski marcou duas vezes. Rosicky teve grande capacidade de organizar o meio-campo. Arteta contribuiu defendendo e articulando. Uma equipe muito bem treinada por Arsène Wenger e que, por acasos da vida esportiva, está há mais tempo do que deveria sem conquistar títulos. Mas que caminha para mais uma presença na competição máxima no Velho Continente. Com justiça. Porém, a noite deve ter sido ainda mais incrível para os torcedores do Wigan. Imaginem o sentimento daqueles que compareceram ao campo adversário nessa terça-feira e viram a derrota que sacramentou o descenso três dias após o time ser campeão inédito na Copa da Inglaterra. Aliás, como assim "imaginem"? Deve ser impossível imaginar! Hoje sou campeão, na semana seguinte estou rebaixado de divisão?! O futebol é assim, implacável. E as lágrimas combinadas aos aplausos vindas do setor destinado à torcida visitante sintetizam a situação. Sintetizam, mas não explicam. Porque há coisas que nem o futebol é capaz de explicar. O que talvez o torne ainda mais especial.

Para mais detalhes sobre a partida, confira a transmissão em tempo real através do Twitter (#ArsWig)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Soberano É O Futebol Arte: Atlético Mineiro 4a1 São Paulo

O Clube Atlético Mineiro está nas quartas-de-final na Copa Libertadores da América 2013. Ponto parágrafo.

Ler essa frase hoje é simples e redundante, pois o fluxo de informações já deixou cada um que se interessa em Taça Libertadores ciente da goleada por 4a1 sobre o São Paulo, totalizando 6a2 na soma dos resultados. Mas muitos "especialistas" e "entendidos" de futebol (aspas com valor de "pseudo") haviam sacramentado a eliminação atleticana após a derrota por 2a0 para o mesmo São Paulo Futebol Clube na última rodada pela fase de grupos no torneio.

Naquele momento, o Galo vinha de uma campanha com 100% de aproveitamento, já assegurando o primeiro lugar no grupo e no geral. Um simples empate no Morumbi eliminava o Tricolor. Só que os donos da casa mostraram sua força e vibração, vencendo a partida com dois gols no segundo tempo. Há quem sugira que o Atlético "tremeu". Que o São Paulo é mais "familiarizado" com Libertadores. A segunda premissa é verdadeira, mas pouco diz dentro de campo. Principalmente quando se está diante de uma equipe tão envolvente e eficiente como essa comandada por Cuca. Ou melhor, como mais essa comandada por Cuca.

As personificações do envolvimento e da eficiência no jogo de quarta-feira no Independência foram Ronaldinho Gaúcho e Jô. Os dribles, as arrancadas, os passes, os lançamentos, os deslocamentos e tudo o mais exibidos por Ronaldinho são para fazer lembrar os tempos de Barcelona. Sim, os tempos de Barcelona, aqueles que muitos garantiram que jamais voltariam. É aquele Ronaldinho! Só que em vez de vestir azul-grená sendo comandado por Rijkaard, é em alvinegro sob os cuidados de Cuca. Um gênio. Daqueles que encantam e que decidem jogos e classificações. Jô, autor de três gols - diga hat-trick, se preferir - mostrou que conhece o atalho para a rede. Não precisa de muitos toques na bola nem de muito espaço para resolver os lances que chegam a si. Ainda carimbou o travessão de Rogério Ceni (a exemplo de Ronaldinho). Foi quatro, mas poderia ter sido mais. Uma sacolada.

Bernard, Tardelli e tantos outros também foram importantes. E quando muitos (talvez todos) rendem bem, há que se olhar com carinho para o trabalho desepenhado pelo treinador. Invicto no Independência desde a reinauguração, o Galo tem a força, a coragem, a organização e o encanto dos verdadeiros campeões. Mostrou isso diversas vezes desde que Cuca assumiu o comando tático e ficou ainda mais belo desde a chegada de Ronaldinho. A participação dos fanáticos torcedores é a cereja no topo do bolo vegano. Se essa trajetória vai terminar na próxima eliminatória, na fase semifinal, em vice-campeonato ou em título, pouco importa. O reconhecimento por algo bem realizado independe disso. Mas será muito mais bonito - principalmente para o futebol - se tivermos um time que joga como joga o Atlético de Cuca (e como joga!) levantando um troféu tão almejado. Azar do São Paulo, do ótimo Ney Franco, que da fase de grupos até as oitavas jogou metade de suas partidas com o Galo (uma vitória e três derrotas). Quer dizer, azar em termos de resultados porque deve ter sido um belo aprendizado.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Campanha Convincente, Conquista Merecida - Botafogo Campeão Estadual 2013

Com uma vitória por 1a0 sobre o Fluminense, o Botafogo encerrou sua participação na Taça Rio com 100% de aproveitamento (ganhou todos os sete jogos na fase de grupos e os dois eliminatórios). Como também havia faturado a Taça Guanabara, sacramentou o título estadual 2013 para não deixar dúvidas. Mais do que ser o time mais eficiente no Rio de Janeiro, o Alvinegro é o time que mais encanta na maneira de jogar futebol. Quando não tinha a vantagem do empate, partia para o ataque. Quando tinha a vantagem do empata, partia para o ataque. É uma equipe (bem) montada para atacar. Envolvente, dinâmica, insinuante. E equilibrada. Equilibradíssima. Talvez seja o time mais equilibrado no futebol brasileiro nesse primeiro semestre. Claro que essa afirmativa é perigosa na medida em que os Estaduais não servem de parâmetro para análises de maior profundidade, mas comparando com o grosso do que se joga no país, ninguém tem conseguido conciliar força no ataque e solidez na defesa como faz o time comandado por Oswaldo de Oliveira.

A partida diante do Flu começou "nervosa", e há quem possa supôr que isso tenha influência do polêmico vídeo de bastidores divulgados após o jogo em que Botafogo e Fluminense empataram por 1a1 na Taça Guanabara. Mas se tinha alguém nervoso, era o Fluminense. Com a bola nos pés, o Bota mostrava maior capacidade de trocar passes. Entrosamento afinado. O Tricolor conseguiu levar perigo nas finalizações (Jéfferson justificou, de novo, porque é para muitos o melhor goleiro do Brasil), mas foi ainda mais perigoso nas divididas de bola e até nos lances sem bola: Rhayner deu dois carrinhos por trás em Lucas, Thiago Neves puxou Marcelo Mattos pelo pescoço, e por aí vai (a violência, não o futebol). Falando de futebol propriamente dito, o título ficou nas melhores mãos possíveis. Mãos de Jéfferson. E nos melhores pés: jogadores como Fellype Gabriel, Nicolás Lodeiro e Clarence Seedorf são os favoritos a craque do campeonato. Mas a partida terminou 1a0, logo, queremos saber quem foi o autor do "gol do título" (o empate já servia, e o Botafogo ainda teve 3 gols anulados, mas tudo bem). Por um capricho dos deuses do futebol, foi de Rafael Marques. Ou, como diz ele, foi do Botafogo. Foi do grupo todo. Mas nada mais simbólico do que ele - Rafael - ter mexido no placar com exclusividade. Depois de 20 jogos sem balançar as redes, anotou o gol do 20º estadual botafoguense. Tantas críticas e gozações. Humilhado. Agora exaltado. Reconhecidamente o dono da posição, deixando Bruno Mendes e Henrique como meras opções. É claro que para as disputas de Campeonato Brasileiro, Copa Sul-Americana e Copa do Brasil, é relevante que o campeão estadual traga um nome forte para o ataque. Mas o torcedor alvinegro tem mais é que se orgulhar de ver um atleta trabalhador, humilde e aplicado vestindo essa camisa. Merecidamente, o autor do gol do título.

Chelsea Vence United Em Old Trafford - E Sem Levar Gol

Por mais que já tivesse o título assegurado, o Manchester United de Alex Ferguson tem no seu DNA o hábito de buscar a vitória. Ainda mais se tratando de um clássico em Old Trafford. Nesse estádio, a equipe da casa marca pelo menos um gol por jogo de Campeonato Inglês desde 2009 (66 partidas em sequência). Então, apareceu o Chelsea de Rafa Benítez para acabar com a série: com uma vitória por 1a0, os Azuis deram mais um importante passo em direção à próxima Liga dos Campeões da Europa, torneio no qual é atual campeão e teve o dissabor de ser o primeiro clube a, nessa condição, ser eliminado logo na fase de grupo. Um impacto tão forte que gerou a demissão de Roberto di Matteo e o anúncio de Rafa como treinador interino. Só que o interino vai muito bem, obrigado: é finalista na Liga Europa (pode ser bicampeão europeu se vencer o Benfica) e está muito perto de garantir um lugar entre os quatro primeiros na Inglaterra. O espanhol já disse que não permanecerá como funcionário de Roman Abramovich na próxima temporada e especulações apontam o retorno de José Mourinho a Stamford Bridge. Só que isso é mera especulação. A realidade atual é que o Chelsea conseguiu desbancar o United em pleno Old Trafford jogando melhor que o adversário (ou pelo menos criando mais chances claras de gol) e que, apesar do tanto de críticas que caem sobre Benítez, ele conseguiu levantar a moral de um grupo que tinha todos os ingredientes para caminhar para um desfecho de temporada melancólico.

O gol da partida foi marcado por Juan Manuel Mata, aos quarenta e um minutos no segundo tempo, em jogada com participação importante do brasileiro Ramires. Brasileiros, aliás, não foram poucos em campo: o Manchester entrou com Rafael e Ânderson enquanto o Chelsea foi com David Luiz, Ramires e Oscar, todos titulares. Ânderson, discreto, acabou sendo substituído no segundo tempo. David Luiz participou bem e Oscar procurou jogo (embora sem brilho). Ramires foi talvez o mais efetivo destes, mas Rafael... ah, Rafael... com esse temperamento fica difícil - para não dizer impossível - vê-lo resistir por muito tempo como titular num time de ponta. Não é a primeira vez que
o jovem lateral criado em Xerém (divisões de base do Fluminense) se destemperou numa situação adversa. O futebol e o esporte em geral necessitam de atletas com preparo técnico, físico e psicológico. E talvez o último seja o mais importante, pois é o único capaz de comandar os outros dois aspectos. E Rafael, definitivamente, está fora de controle.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cardozo Resolve, Benfica Passa Pelo Fenerbahce E Encarnados Retornam A Uma Final Continental


Vinte e três anos depois, o Benfica está de volta a uma final continental. Com autoridade de quem era superior tecnicamente e jogava diante de seus entusiastas no estádio da Luz, o time comandado por Jorge Jesus venceu o Fenerbahce por 3a1, revertendo a desvantagem trazida da Turquia (onde havia perdido por 1a0 na semana anterior).

A partida em si não primou pela organização tática. Mas foi abençoada pela garra e empenho de ambas as partes. O primeiro tempo foi dos mais frenéticos possíveis, fazendo um período de 47 minutos parecer uma longa jornada onde os jogadores atravessavam a fronteira do futebol para a maratona, de forma a fazer inveja nos mais bem-sucedidos triatletas.

Uma bela jogada pelo lado direito aos oito minutos terminou com assistência de Lima para finalização magistral de Gaitán, abrindo a contagem em Lisboa e igualando o confronto na soma dos resultados. Desarticulado, o Fenerbahce teve a felicidade de "achar" um pênalti (ou, talvez melhor dizendo, ganhá-lo de presente da arbitragem chefiada por Stephane Lannoy). Aos vinte e dois, Kuyt converteu e colocou os visitantes em vantagem considerável, pois a partir dali garantia classificação mesmo perdendo por um gol de diferença.

Os turcos se animaram no jogo, mas tinham dificuldades de transformar ânimo em oportunidade de gol. E o Benfica, mais envolvente, conseguiu incendiar o que já estava quente: aos trinta e quatro, Cardozo desempatou a partida, deixando o Benfica a um gol da classificação. Era só o primeiro tempo! No segundo, o ritmo foi ligeiramente menos acelerado - o que é humanamente explicável. Mas as emoções se mantiveram acentuadas na capital portuguesa. Aos quinze, um susto: Gaitán foi emendar voleio e, em vez de acertar a bola, atingiu a cabeça de Gonul, que caiu desacordado no gramado. Imobilizado e na maca, foi levado para amublância e desta para um hospital próximo ao estádio. A cena era forte, daquelas que fazem você por um momento pensar no quão frágil é a vida de um simples futebolista, correndo riscos que ignoramos ou por estarmos entretidos com o jogo ou para evitarmos defrontar um problema tão incômodo.

 Após ser atingido por Gaitán, Gonul cai desacordado no gramado: graças a Deus, foi menos grave do que a cena sugeria (o atleta levou oito pontos na boca).

Intergun entrou em campo para manter o Fenerbahce com onze jogadores, mas a impressão que dava era que os Encarnados estavam em vantagem numérica. E se alguém tinha que fazer o gol derradeiro, aquele rotulado como "o da classificação", ninguém melhor do que Cardozo, que fazia excelente atuação e marcou o 3a1, aos vinte e um, cinco minutos depois do lamentável episódio que tirou Gonul do jogo.

Talvez pelo gol sofrido que colocava o time pela primeira vez em desvantagem na elimiantória, talvez pelo acidente com um companheiro de equipe, e provavelmente pelas duas coisas combinadas, o Fenerbahce, que já não era dos mais organizados em campo, sucumbiu. Faltava-lhe apenas um gol para retomar a vantagem no confronto que valia vaga na final, mas o Benfica conseguia se impôr territorialmente e ainda criava as melhores chances. Pode ser que os desfalques de Raul Meireles e Webó também tenham pesado, pois era difícil imaginar que um time tão "quebrado" no meio-campo e sem contundência no ataque pudesse vir de uma belíssima sequência de seis jogos invictos fora de casa em competição européia. Como faz falta um "camisa 10" tipo Alex, não é? Enfim... Na bravura típica dos turcos, os comandados de Aykut Kocaman foram buscar o gol na base do "abafa". Deram um ou outro susto na defesa portuguesa (ou sul-americana, pois há ali brasileiros, argentino, uruguaio e um "intruso" lusitano). Mas o time da casa resistiu e garantiu a festa dos adeptos. Agora, de volta a uma final continental, o desafio será com o Chelsea, que eliminou o Basel na semifinal e busca o bicampeonato no Velho Continente (faturou na temporada passada a Liga dos Campeões). Até Amsterdã!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Quem Tem Essa Torcida, Vai Longe

Quando alguém diz "no embalo da torcida", talvez não faça idéia do que isso representa quando estamos falando de um jogo do Boca Juniors em La Bombonera. O que os torcedores boquenses realizam naquelas arquibancadas ininterruptamente é daqueles acontecimentos que fazem-nos parar, olhar, ouvir... e rever os conceitos sobre a influência que os adeptos presentes no estádio podem ter no andamento da partida. Vindo de uma péssima sequência de resultados, uma péssima colocação na liga nacional e, consequentemente, um péssimo momento na temporada, o multicampeão Boca Juniors passou por cima de tudo isso para enfrentar o atual campeão continental e mundial. E se passou por cima de tudo isso, muito se deve ao que veio de cima. Literalmente. A força que emana das arquibancadas é algo mais que um 12º jogador. E o Boca precisou desse algo mais, principalmente depois que teve um atleta expulso.

Dentro de campo, os comandados de Carlos Bianchi foram dinâmicos e por algumas vezes envolventes a ponto de deixar o bem organizado time corinthiano em apuros. O gol demorou para acontecer, mas premiou quem jogava melhor no gramado e quem dava festa fora dele: a aparente tentativa de chute de Erbes virou assistência para Blandi abrir a contagem aos treze no segundo tempo. Aos trinta e sete, Ledesma também foi às redes. Mais que isso, foi à loucura. Difícil não enlouquecer com aquela atmosfera bomboneriana. Só que a loucura custou-lhe um cartão amarelo, pois tudo estava parado por alegação de impedimento e o atleta vindo do banco ainda tirou a camisa na celebração. No minuto seguinte, novo cartão amarelo para o mesmo Ledesma fez o Boca jogar com um a menos. Quer dizer, talvez a partir dali houvesse uma aproximação numérica. Com Orion no gol e dezenas de milhares de apaixonados alguns metros mais em cima, o Boca resistiu à tentativa corinthiana de buscar o empate e carrega para São Paulo uma relevante vantagem.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Lições

A torcida barcelonista cantava a plenos pulmões quando soou o apito final do árbitro esloveno Damir Skomina. Alguns poderão contestar uma ou outra decisão dele e de seus auxiliares nos pouco mais de noventa minutos de jogo, mas o resultado foi incontestável. Um adulto com uma criança flagrados pela transmissão televisiva após o encerramento do jogo (provavelmente eram pai e filho, este seguramente com menos de seis anos de idade) davam o tom do quão especial foi o jogo disputado no Camp Nou. O adulto sorria com a camisa azul-grená do Barcelona, levantando a criança que, com semblante também alegre, exibia a camisa amarela da mesma instituição catalã. A felicidade transcende circunstâncias. É um estado de espírito. Ou "o caminho", como disse Mahatma Gandhi.

Por que, afinal, aquelas dezenas de milhares de pessoas cantavam com força e emoção ao final da partida? Por que aplaudiam seus jogadores? Por que estampavam no rosto um ar de satisfação quase intangível? Por que essas imagens se o time que mobilizou essas pessoas a comparecerem ao estádio na noite de quarta-feira perdeu o jogo por 3a0 e a eliminatória por 7a0? Sim, três e sete! A zero! Será que, de tão acostumados a vencerem partidas e torneios, estes indivíduos não sabem mais expressar o sentimento característico dos derrotados? Como ensinar essa gente a manifestar aquilo que a situação lhes impõe?

Pois acho que não temos nada a lhes ensinar. Temos, isto sim, é muito o que aprender com eles. O Barcelona, dentro de campo, jogou um pouco diferente do habitual. Não foi tão paciente com a posse de bola, não foi tão criterioso para escolher o momento de chutar em gol, nem tão comportado em determinadas divididas de bola. Faltava-lhe Messi, sentado no banco por estar longe das condições ideais de jogo. Uma frustração para imprensa, torcida, elenco catalão. Todos queriam ver o gênio conduzindo o melhor time do mundo a uma virada improvável diante do poderoso Bayern de Munique. O Barça não foi capaz de superar o Bayern. Parou algumas vezes em Neuer e muitas em Javi Martínez, Bastian Schweinsteiger e companhia. Não poderiam supôr que o 0a0 ao intervalo era uma parte das menos amargas da noite. No segundo tempo, Robben (golaço, no melhor estilo Robben de se resolver um lance), Piqué (contra, pois só faz contra quem está na jogada, e Piqué está sempre na jogada) e Muller, o mais centroavante dos meias bávaros, marcaram nos 3a0. Mas voltemos ao "temos, isto sim, é muito o que aprender com eles". Dentro de campo, quem deu aula foi o Bayern. Ponto. Mas nas arquibancadas, se não tivemos nada comparável ao caldeirão que foi montado pelos alemães na partida de ida, ficamos diante de imagens marcantes. Aquele adulto com aquela criança e tantas outras pessoas que ficaram até que seus jogadores deixassem as dependências do campo de jogo e aplaudiram cada um deles, essas dezenas de milhares de pessoas servem de inspiração. Se o futebol nos mostrou hoje que o Bayern é uma máquina e chega à final continental com o Borussia com todo o merecimento possível, os catalães nos mostraram que o Barcelona é muito mais que um clube. Confesso não saber definir o que seja exatamente, e nem tenho essa pretensão. Talvez seja um estado de espírito.
Mosaico de quase cem mil pessoas, onde cartazes e mãos exibem o orgulho catalão. Após o jogo, mesmo com a goleada sofrida e a eliminação, a grande maioria permaneceu no seu lugar e deu linda lição de amor pelo clube do coração.