domingo, 4 de dezembro de 2016

Com Dois Belos Gols E Um Belo Silêncio, Rennes Triunfa No Francês

Tudo começou com um eloqüente minuto de silêncio, em homenagem às vítimas do acidente com o avião que levava diversas pessoas e que virou comoção internacional sobretudo por envolver a delegação da Chapecoense. O estádio Roazhon Park, com milhares de torcedores nas arquibancadas, estava quieto. Dava para ouvir os ventos que iam de encontro aos microfones. Lembranças, lembranças, lembranças. De vidas únicas. E aquela lembrança do quanto a vida é frágil.

Com bola rolando, os donos da casa souberam construir a vitória. Podemos prestar muitos elogios à jogada de Ntep, que abriu a contagem aos oito minutos no segundo tempo: com pedalada estilo Robinho e objetividade estilo Robben, o francês que nasceu em Camarões ajoelhou-se para comemorar o golaço. Foi também de joelhos que muitos ao redor do mundo ficaram, em oração, pelo acidente com aquele avião. Somos seres de emoção.

Nos acréscimos, um golaço de Grosicki consolidou a vitória do Rennes diante do Saint Etienne: pegou bonito na bola e conseguiu dar a ela uma trajetória que passou caprichosamente sobre o goleiro Ruffier, beijando a trave antes de entrar. O camisa dez polonês, que começara o jogo entre os suplentes, não precisou de vinte minutos para mostrar seu talento. E nós, meros mortais, precisaremos de quanto tempo para esquecer a tragédia? Ou, se não esquecê-la, assimilá-la? Enfim, que tenhamos pela vida o carinho e o respeito que ela merece. A vida é um dos mais belos gols do Criador.


domingo, 10 de julho de 2016

Longe De Encantar, Portugal Fatura Inédita Eurocopa

O que seria de Portugal sem Cristiano Ronaldo?

O futebol respondeu essa pergunta hoje: campeão da Eurocopa.

Foi sem seu principal astro e capitão que a seleção portuguesa enfrentou a França durante mais de 80% do tempo de jogo na final em Paris. Esbanjando aplicação tática e força coletiva, os comandados de Fernando Santos foram bem-sucedidos na famigerada estratégia de "jogar por uma bola". Na covarde postura de reagir em vez de propôr, a bola do "golo" saiu no segundo tempo da prorrogação, em chute de Éder, de fora da área.
Éder, que entrou no lugar de Renato Sanches, comemora o gol do título. Foto: Christian Hartmann / Reuters.

Foi justo o título português?

O futebol enquanto esporte e o futebol enquanto arte oferecem respostas distintas para essa indagação.

No sentido da estrita competitividade, Portugal é campeão europeu com justiça. Jogou pelo regulamento. Já no sentido da qualidade do entretenimento, da diversão, do prazer em assistir um jogo desse tão antigo esporte bretão, o título português é de uma injustiça tremenda. Pelo futebol apresentado, poderia ter se despedido na fase de grupos, quando empatou três partidas numa chave onde era apontada como a maior força. Mas viu a Islândia e, principalmente, a Hungria encantarem naquela etapa da competição. A própria Áustria, que perdeu para aquelas seleções, conseguiu conter os lusitanos. Senhoras e senhores de todas as idades, se o primeiro critério de desempate fosse o número de vitórias, Portugal estaria eliminado com a campanha de três empates. Classificou-se com saldo zero. Graças, por exemplo, à goleada da seleção espanhola sobre a Turquia. Ou à vitória francesa sobre a Albânia. Coisas do futebol (e do regulamento).

Passou pela Croácia na prorrogação, em jogo onde viu o adversário criar as maiores chances de gol. Passou pela Polônia nos pênaltis. No tempo regulamentar, somente conseguiu superar o País de Gales, que sucumbiu na ausência de Aaron Ramsey. Mas pior que os placares em si, era o desenvolvimento dos jogos: a seleção portuguesa resumia sua produtividade a sair em velocidade e colocar a bola na área.

Talvez o grande mérito de Portugal tenha sido o de conseguir manter seu nível de jogo sem o seu jogador mais badalado - embora, diga-se, o nível de jogo português não é lá grandes coisas. Prima, isto sim, pela competitividade e pela capacidade de dar à partida uma feição que lhe ofereça condições favoráveis para "brigar" pelo resultado. Não duvido que possa haver uma "inspiração" na Grécia de 2004, um dos maiores traumas de Portugal, e seleção que teve recentemente como treinador o próprio Fernando Santos. Ao futebol, um presente de grego.

Faltou à França o futebol que apresentou em outros momentos no torneio. Os primeiros 45 minutos diante da Islândia, por exemplo, foram mais convincentes que a soma de cada segundo português na Eurocopa inteira. Mas o que fica registrado é o resultado. Brasileiros em geral (incluindo aí parcela majoritária e quase unânime da mídia) eram satisfeitíssimos com o "trabalho" de Dunga. Baseavam-se nos títulos na Copa América, Copa das Confederações e primeiro lugar também nas Eliminatórias. Até cair para a Holanda nas quartas do Mundial. A partir daí, Dunga já não mais prestava. Mas o mundo gira, e se Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari também não prestam mais, chamemos o Dunga de novo. Dessa vez, os resultados não "permitiram" que fosse mantido até uma eventual Copa do Mundo em 2018. Só que o que pouco se aborda é que, no jeito de jogar, a seleção de Dunga ficou na fronteira da mediocridade nas vitórias, nos empates e nas derrotas. Acontece que, nas vitórias, tá tudo bem quanto ao fato de ser medíocre... Enquanto essa cultura do resultado sentenciar que um treinador seja bom ou ruim em função de placares e posições, estaremos fadados a vermos gente afirmar que Portugal mereceu o título. Se mereceu, então, o futebol é que não merece Portugal. Com ou sem Cristiano Ronaldo.

domingo, 3 de julho de 2016

Resumão Das Quartas Na Eurocopa 2016

As quartas-de-final na UEFA Euro 2016 reservaram fortes emoções aos apaixonados por futebol. De surpresas a confirmações de favoritismo, de jogos definidos nos pênaltis a goleada, bastante coisa aconteceu de interessante entre quinta-feira e domingo. Vamos a alguns pitacos.

[1] Polônia 1(3)a(5)1 Portugal.
[1.1] Saiu o primeiro gol de Robert Lewandowski na Eurocopa 2016. Logo no início da partida, ele aproveitou passe de Grosicki em jogada pela esquerda e completou esbanjando aquele oportunismo habitual que é exibido temporada após temporada na Bundesliga.
[1.2] Renato Sanches, jovem talento que será parceiro de Lewandowski no Bayern de Munique, mostrou que está pronto e preparado para ajudar a seleção portuguesa. Marcou o gol de empate após tabela com Nani e, principalmente, se ofereceu à equipe. Demonstra mais senso de coletividade que alguns astros consagrados (sim, isso foi uma indireta - que com esses parênteses se torna direta - ao Cristiano Ronaldo).
[1.3] Desempate por pênaltis é uma coisa que foge completamente da análise pragmática: na definição da classificação portuguesa, eis que o único polonês a desperdiçar a cobrança foi exatamente aquele jogador que tem uma das melhores pontarias da equipe: Blaszczykowski. Grande defesa do goleiro Rui Patrício.
[1.4] Capricho dos deuses do futebol que a cobrança derradeira tenha cabido a Ricardo Quaresma. O tatuado camisa 20, que veio do banco para novamente contribuir, vem fazendo bela competição e dando uma força ofensiva muito útil para abrir a última linha de defesa adversária, principalmente pelos flancos.

[2] País de Gales 3a1 Bélgica.
[2.1] Considerando a diferença de nível técnico entre as equipes (com todo respeito aos galeses, que têm muitas qualidades) e a circunstância do jogo (leia-se o golaço de Nainggolan aos doze minutos para abrir a contagem), País de Gales conseguiu um resultado histórico ao conseguir virar a partida.
[2.2] Curiosamente, em nenhum dos três gols houve participação direta do sempre participativo Gareth Bale. Coube a Aaron Ramsey conduzir a classificação com duas assistências na partida. Sua suspensão a ser cumprida na semifinal terá, sem dúvida, um impacto no time. Será desafiador jogar sem o cerebral camisa 10.
[2.3] A excepcional geração belga merece os elogios que recebe e o que Marc Wilmots vem fazendo frente a esta seleção é algo que não pode ser jogador fora pura e simplesmente devido a uma ou outra eliminação. Deve, isto sim, ser exaltado o esforço de fazer um elenco talentoso jogar de maneira a evidenciar essa capacidade técnica acima da média. Os desfalques na última linha de defesa pesaram, mas talvez sejam os jovens que não funcionaram nesse jogo aqueles que irão suceder os mais experientes. E Wilmots mostra sensatez ao pedir que os garotos sejam poupados de críticas. Hoje, a Bélgica caminha no sentido certo.

[3] Alemanha 1(6)a(5)1 Itália.
[3.1] Embora dominante territorialmente e sendo propositiva na maior parte do tempo, a Alemanha esbarrou na estratégia italiana. Uma estratégia que, diferentemente das oitavas diante da Espanha, zelou muito mais pelo anti-jogo do que por qualquer outra coisa. A Azzurra jogou por menos do que "uma bola". Se pudesse definir a classificação no cara-ou-coroa, provavelmente Antonio Conte se prontificaria a fazê-lo.
[3.2] Inegável que haja mais qualidade na equipe alemã, mas não justifica o excesso de defensivismo italiano na partida. De toda forma, fica evidente que os campeões mundiais, com toda a dificuldade que tiveram para obter a classificação, não são um time imbatível. Mas são o time a ser batido. Um time que dá gosto de ver jogar, mesmo quando o jogo é truncado.
[3.3] Seguindo o fluxo ilógico de um esporte onde vemos perderem pênaltis Lionel Messi e Arturo Vidal numa final de Copa América, a Alemanha viu Müller, Özil e Scweinsteiger desperdiçarem cobranças. Buffon estava pronto para sair como herói. Mas Neuer, com a frieza e a competência que lhe caracterizam, conseguiu ajudar os alemães a, finalmente, superarem os italianos em "jogo pra valer".
[3.4] Apenas para não deixar passar em branco: Boateng cometeu o pênalti convertido por Bonucci porque marcava corretamente o Chiellini. Curiosamente, seus braços esticados de modo a não cometer infrações no adversário, acabaram encontrando a bola naquela cobrança de escanteio. Faz grande Eurocopa o defensor alemão, que terá a missão de conduzir novamente o setor, dessa vez sem Hummels ao lado.

[4] França 5a2 Islândia.
[4.1] Possivelmente a melhor atuação de uma seleção nos primeiros quarenta e cinco minutos de partida nessa Euro. 4a0 com autoridade, naturalidade, intensidade. Tudo junto e misturado num liquidificador que triturou completamente a defesa e o sonho islandês em Paris. Deschamps conseguiu o ponto de equilíbrio num time marcado pela leveza e movimentação. Grandes atuações de Payet e Griezmann.
[4.2] A Islândia fez história nessa Eurocopa. Marcando gol em todos os jogos, não se intimidando em nenhum deles, procurando sair para o jogo quando via a possibilidade - conseguiu superar as próprias limitações e proporcionar um nível de competitividade de uma maneira a protagonizar jogos agradáveis de se assistir. Sair com uma goleada nas costas é doloroso. Mas a campanha viking na França é para ser lembrada com carinho por gerações. Sobretudo pela mobilização popular, desde as menos conhecidas cidades islandesas até as arquibancadas dos mais famosos estádios franceses. Engrandeceu o futebol. E merece os nossos aplausos.
Sinergia entre time, torcida e nação: a Islândia deu um espetáculo na França. Foto: Reuters / C. Hartmann.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Almer E Cristiano Garantem Segundo Zero A Zero Na Eurocopa

Há muita idolatria e alvoroço em torno da figura de Cristiano Ronaldo. A seleção portuguesa embarca em sua caravela navegando nessa onda. E o resultado disso é que, simplesmente, a embarcação não vai pra frente.

Longe de querer culpabilizar exclusivamente o camisa 7 pelo empate sem gol... Acontece, porém, que em jogos como o diante da Áustria, o rendimento do astro mais atrapalhou do que ajudou o seu time. A sensibilidade de entender qual o momento de soltar a bola mais depressa ou segurá-la é algo que ainda não amadureceu no atleta Cristiano. Sinceramente, não vejo perspectivas de se isso há de acontecer algum dia.

Cristiano Ronaldo esconde-se após falhar. Foto: Getty.
Portugal criou as maiores chances no jogo, que aconteceram, sobretudo, no segundo tempo. O goleiro
Almer, muito bem posicionado, interveio para manter a igualdade no resultado. Até que, aos trinta e três, veio a chance mais aguda de todas: um pênalti pros portugueses. Almer para um lado, bola para o outro - na trave. Cristiano falhou. Minutos depois, Cristiano foi à rede com cabeceio após cobrança de falta. Só que, dessa vez, falhou de maneira diferente: estava em posição de impedimento.

O treinador Fernando Santos procurou alternativas na partida. Começou o jogo com André Gomes, Quaresma e Nani; terminou com Éder, João Mário e Rafa Silva. Talvez, se tivesse trocado Cristiano por, digamos Renato Sanches, o impacto fosse muito maior do que as três trocas somadas. Teria o impacto de que o coletivo é maior que o indivíduo. E poderia fazer os portugueses acreditarem que eles dependem muito mais um do outro enquanto time, do que de um único jogador enquanto salvador. Salvador que ajudou a salvar a Áustria.

domingo, 19 de junho de 2016

Com Gol De Empate No Final, Hungria É Só Alegria

Considerada a seleção menos valiosa de acordo com as cotações de mercado dos jogadores, a Hungria é uma das seleções mais propositivas nessa Eurocopa-2016. Toque de bola de qualidade, intensidade na troca de passes, busca pelo gol. Se na estréia teve a experiência de abrir a contagem e definir a vitória em ótimo contra-ataque, dessa vez viu a adversária sair na frente. E verdade seja dita: penaltizinho mandraque o apitado por Karasev a favor da Islândia. Sigurdsson cobrou e marcou 1a0 aos trinta e oito.

No segundo tempo, a tônica foi da Hungria tomando a iniciativa. E de uma maneira muito interessante, sem confundir velocidade com pressa. Isto é, os comandados de Bernd Storck tinham a maturidade de construir as jogadas imprimindo um ritmo de jogo de maneira consciente a manter a posse consigo. A subida de produção de Dzsudzsák fortaleceu o setor de meio-campo. E numa jogada fantástica, a retraída Islândia foi colocada na roda e Savarsson marcou contra. Aos quarenta e dois no segundo tempo. Aliás, cerca de 30% dos gols na Euro-2016 saíram do minuto 87 em diante!

No final, um lance de bola parada quase deu a vitória aos islandeses. Mas os deuses do futebol protegeram a meta defendida por Király: seria um castigo desproporcional para uma seleção que teve um pênalti contestável marcado contra si e que buscou o empate jogando uma bola redondinha em Marselha. Não tenho dúvidas de que a alma de Puskas sorri. E já fico a torcer para que os húngaros tenham vida longa na França. Isso fará sorrir, também, o futebol.
Momento do gol de empate húngaro, que saiu após ótima troca de passes. Imagem extraída de VíveloHoy.

sábado, 18 de junho de 2016

Bélgica Voa Sobre O Campo De Bordeaux E Aplica 3a0 Na Irlanda

Vinda de uma derrota para a Itália na estréia, a Bélgica mostrou sua força diante da Irlanda. No primeiro tempo, contei pelo menos dez ocasiões de gol construídas pelos belgas no persistente zero a zero. Isso, senhoras e senhores, é mostrar sua força. Precisamos nos destituir da idéia de que ser forte no futebol é ganhar jogos ou títulos. Vamos passar a incorporar a noção de que a força está mais nos procedimentos que nos resultados. E a Bélgica procedeu muito bem, obrigado. Tudo bem que a adversária não era uma potência continental, mas valorizemos uma Irlanda que estreou com boa atuação no empate diante da Suécia.

Essa foi a segunda vez na história que a Bélgica atuou em Bordeaux. A anterior - e até então única - havia sido na Copa do Mundo de 1998. Cá está um vídeo com alguns lances do 2a2 com o México, na fase de grupos. Os dois gols belgas foram marcados por Marc Wilmots, hoje técnico da seleção.



De lá para cá, se passaram 18 anos. E Wilmots teve a sorte de ser o comandante de Hazard, De Bruyne e companhia, nessa que é provavelmente a mais talentosa geração futebolista do país em toda a história. Os 3a0 foram construídos com relativa naturalidade. Principalmente depois que o primeiro gol, marcado por Lukaku em finalização precisa, trouxe a Irlanda para o campo de ataque. Apareceram espaços que antes eram mais escassos e Witsel, de cabeça, marcou o segundo. A incrível capacidade de contra-atacar em alta velocidade rendeu momentos sensacionais no jogo, sendo o ápice o terceiro gol: Meunier recuperou a bola a alguns metros da bandeira de escanteio do lado direito de sua defesa, acionou Hazard e o camisa dez passou como um raio pela marcação adversária e também pelo auxiliar de arbitragem que acompanhava o lance. Depois, rolou caprichosamente para Lukaku marcar o segundo.

Vestindo vermelho como a Espanha, a Bélgica repetiu a Fúria: somente elas conseguiram marcar três vezes num mesmo jogo nessa Euro-2016. Somente Lukaku e Morata fizeram dois na mesma partida. E se somente a Espanha tem aquela beleza característica no seu toque de bola, a Bélgica mostra sua força a cada vez que tem espaço disponível no gramado. Sorte de quem estava hoje em Bordeaux. Seja comandando a Bélgica na beira do gramado, seja assistindo uma grande atuação.
Após receber de De Bruyne, Lukaku finaliza com precisão para abrir o placar em Bordeaux. Imagem extraída de Republica.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Uma Beleza Chamada Espanha

É ela. Eu juro que é ela.

Tão logo lancei olhares em sua direção, já pude reconhecê-la. Há uma beleza que lhe é típica. Podem até tentar copiá-la, por admiração. Ou evitá-la, por questão de opinião. Mas jamais podem desprezá-la. Depois que ela apareceu, deve ser levada em consideração. Por mais que "gosto não se discuta", ela carrega consigo algo que a torna referência, mesmo que fora do padrão.

Apareceu na década passada, lá pelo ano 2008, no trabalho de um saudoso senhor chamado Luis Aragonés. Naquela época, havia um brasileiro com sobrenome de piloto auxiliando no setor de meio-campo. Além de Marcos Senna, lá estavam Xavi e Iniesta. Além de David Silva, Cesc Fàbregas e tantos outros jogadores de talento. Com o casal vinte no ataque: Torres e Villa.

Já era, desde aquela época, muito bela. A consagração veio num 1a0 sobre a Alemanha. O tempo foi passando e ela parecia conter os segredos da eterna juventude. Em 2010, já com Del Bosque, título mundial. A partir daquela vitória sobre a Laranja, jamais voltou a ser chamada de "amarelona". Em 2012, o bi continental. Já era considerada a maior da história. Porém, repentinamente, dois resultados em 2014 levantaram dúvidas sobre a sua longevidade. Afetou, em muitos, a própria memória. Chegavam a pedir a saída do Vicente. Deprimente.

Hoje, ela está aí. Desfila sua beleza na França. Very nice, diria um anglo-saxão. Foi na cidade de Nice que ela voltou a mostrar um pouco da sua velha forma. Não há mais Senna, mas ela continua em cartaz. Xavi aposentou-se, assim como Villa. Nem a ausência de Torres pode colocar sua grandeza em xeque. Vieram Nolito e Morata, muito bem-vindos. Lá está Busquets, protegendo uma defesa que conta com Ramos, Piqué, Juanfran e Alba. Fosse o goleiro que fosse, já dava para se sentir seguro. Foi com Casillas e Valdés, o é com De Gea. E tudo mais belo fica com Iniesta a se apresentar. Um conselho posso dar? Se você não viu Zidane, mantenha os olhos abertos e saboreie o camisa meia dúzia espanhol. Evite, inclusive, piscar.

Busquets e Fàbregas comemoram com Nolito o 2º gol espanhol. Foto: AFP.
Os 3a0 foram construídos com uma naturalidade característica de quem marca época. Tem oito adversários
marcando cinco? Não tem problema, o lançamento de Nolito há de encontrar Morata na área turca.

O oponente mantém-se recuado para evitar jogadas de infiltração? Pois então eles que nos ajudem a ter a bola, Nolito estará no local exato para em seguida fazermos a comemoração.

E quando Iniesta tem a bola, cabe assistir. Até o auxiliar, possivelmente hipnotizado pela magia que sai dos pés do gênio, não viu impedimento. Como olhar para o último defensor quando se pode simplesmente contemplar Andrés? Alba recebeu e serviu Morata, primeiro jogador a marcar duas vezes num mesmo jogo nessa Euro-2016.

Cabiam mais gols. Só que a Turquia, entregue, e a Espanha, satisfeita, conduziram-se em campo como quem deixa o tempo passar. Bendito seja o tempo, que passa mas que conserva a beleza daquilo que é eternizado pela arte.

É ela, a Espanha, uma bênção para o futebol. Uma alegria. Um caso à parte. Seja qual for o desfecho dessa Euro, já valeu acompanhar pelo simples fato de ver essa seleção jogar. Que me desculpem as feias, mas a Espanha é fundamental.

Croácia Tem Boa Atuação, Abre 2a0, Mas Cede Empate Aos Tchecos No Fim

Após sair o primeiro 0a0 na Euro-2016 e termos o fraco 1a0 da Itália sobre a Suécia, o torneio continental conheceu sua partida de mais gols na tarde de hoje, em Saint-Ètienne. Tudo isso graças à iniciativa da ótima seleção croata e à reação dos tchecos, que não se entregaram em momento algum. O 2a2 coroa, mais do que uma ou outra equipe, o futebol como o esporte apaixonante que é.

Croatas comemoram e esbanjam união: Srna foi reverenciado. Foto: Getty.
E se paixão tem nome e sobrenome, hoje ela atende por Darijo Srna: o camisa 11 croata, que foi ao funeral
de seu pai nessa semana e voltou para a França determinado a ajudar a seleção de seu país, protagonizou das cenas mais lindas nessa Eurocopa, quando foi às lágrimas durante o hino nacional da Croácia. Com o jogo em andamento, foi homenageado pelos companheiros tanto na ocasião do gol de Perisic quando do de Rakitic, em dois lances de recuperação de posse de bola no campo de ataque.

Mas a República Tcheca atenuou as celebrações croatas: diminuiu a desvantagem para um gol aos vinte e nove minutos no segundo tempo, quando Skoda completou após passe de trivela de Rosický, e empatou a partida em cobrança de pênalti de Necid nos acréscimos. A mesma República Tcheca, que lamentara o gol espanhol nos últimos minutos na estréia, dessa vez comemorou o empate no fechar das cortinas. A prova de que o mundo da bola dá voltas está aí e também no camisa 10 Rosický: após seguidos erros de passe no primeiro tempo, é formidável ver sair de seus pés uma assistência genial. E por falar em genialidade, talvez se o outro camisa 10 não tivesse precisado sair de campo quando sua seleção vencia por 2a0 (aparentemente sentindo algo muscular), os croatas estariam nesse momento comemorando a classificação. Fica a expectativa de um Croácia e Espanha sensacional na última rodada. De preferência, com Modric em campo em tempo integral.

P.S.: o episódio dos rojões lançados sobre o gramado, forçando a paralisação do jogo quando a Croácia vencia por 2a1, é daqueles eventos que fazem a gente pensar, preocupado: até quando?

Gol Brasileiro Dá Vitória À Itália Sobre A Suécia

Itália e Suécia fizeram, em Toulouse, um jogo para destoar do padrão da Eurocopa-2016. Trocas de passes foram quase sempre de caráter defensivo. Jogadas de infiltração, escassas. Finalizações, poucas em quantidade e também aquém em qualidade. Caminhava para um 0a0. Só que, no futebol, é justamente quando um resultado parece óbvio que devemos dele desconfiar. Aos quarenta e dois minutos no segundo tempo, Éder Citadin Martins, cidadão italiano nascido no Brasil, recebeu de Simone Zaza, carregou a bola para a direita e chutou no canto esquerdo do goleiro Andreas Isaksson.

O resultado coloca a Itália com seis pontos e matematicamente classificada às oitavas. Nenhum gol sofrido pelo time que tem Buffon no gol, Barzagli, Bonucci e Chiellini na zaga e que deixa a dúvida se estamos falando da Azzurra ou da Vecchia Signora. Ainda mais porque o treinador é o outrora juventino Antonio Conte. Fato é que a seleção italiana tem no sistema defensivo a sua maior virtude. No entanto, falta talento nas linhas ofensivas. Pensar que a camisa 10, que já foi trajada por Roberto Baggio, Francesco Totti e Alessandro Del Piero, hoje é usada por Thiago Motta... De toda forma, é sem dúvida um plantel com espírito competitivo.

Os suecos, que haviam empatado na primeira partida, permanecem com um ponto. Zlatan Ibrahimovic, embora solícito, pouco produziu. Kim Källstrom (mais centralizado) e Martin Olsson (pelo flanco esquerdo) eram figuras que procuravam dar uma alternância de jogo a uma equipe que, de tão previsível, faz a gente pensar como é que conseguiu chegar a uma competição desse nível. Provavelmente, o fator Ibra. Fator esse que, de tão acostumado a jogar na França, parece que ainda não entendeu que acabou a Ligue 1 e começou a Eurocopa.
Éder escapa da marcação sueca e chuta da meia-lua para marcar o gol único na partida. Imagem extraída de Republica.

Polônia Resiste À Alemanha E Euro-2016 Conhece O Primeiro Zero A Zero

Não pense que tenha sido um jogo de ataque contra defesa, como tinha sido Polônia e Irlanda do Norte. A chance mais evidente de gol na partida, inclusive, foi polonesa. Longe da zona de conforto, a Alemanha teve bastante trabalho diante de um adversário firme na defesa, compacto entre as linhas e hábil em acionar seus homens de frente. Um ótimo teste para Löw buscar alternativas para quando este cenário vier a se repetir. Uma ótima motivação para Nawalka passar a seus jogadores sobre as chances de uma equipe longe de figurar entre as favoritas no torneio. Um jogo agradável de assistir, apesar de o gol não sair.

Alguns breves pitacos.

Grzegorz Krychowiak e Thomas Müller disputam a bola. Foto: Patrik Stollarz / France Press.
[1] Boateng vem se firmando como o maior defensor na competição, conseguindo novamente uma grande
atuação.
[2] Özil, embora irregular, mostra sua relevância para o esquema tático cada vez que dá um passe para os companheiros.
[3] Müller está devendo um futebol que corresponda ao seu nível técnico, mas desfila uma elegância contagiante.
[4] Krychowiak poderia ser chamado de 'balança de alta precisão'. O equilíbrio que esse sujeito dá ao setor de meio-campo é coisa de louco.
[5] Lewandowski é o típico atacante que, mesmo sem marcar gol, é importante para o time. Consciência tática do primeiro ao último minuto.
[6] São duas seleções que não foram vazadas nessa Euro e que somam 3 partidas inteiras com a meta inviolável. Uma boa "desculpa" para o 0a0.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Forte, Irlanda Do Norte Escreve Sua Própria História Em Lyon

Há alguma coisa melhor do que marcar seu primeiro gol na história da Eurocopa? Sim, há. É marcar o primeiro e o segundo gol na história da Eurocopa no mesmo jogo. E há algo melhor que isso? Sim, há. É conquistar a primeira vitória na história do torneio. Com a satisfação de quem superou as mais ousadas expectativas, a seleção da Irlanda do Norte superou a Ucrânia, em Lyon. Para isso precisou enfrentar um adversário que fizera jogo duro com a Alemanha, precisou enfrentar chuva, precisou enfrentar até granizo. Sempre com o apoio das alas esverdeadas das arquibancadas e a aplicação dos jogadores comandados por Michael O'Neill.

Não sei se por mais méritos norte-irlandeses ou por falhas ucranianas (acredito que uma miscelânia dos dois fatores), mas o fato é que a Ucrânia rendeu menos do que na rodada inaugural. O primeiro tempo sem gol foi justo pela falta de inspiração de ambos os lados. Mas a segunda etapa reservou uma Irlanda do Norte esbanjando coragem e dedicação de fazer chover pedras de gelo. Já aos três minutos, McAuley tirou proveito de lance de bola parada e abriu o placar com cabeceio certeiro. Sem jamais abdicar do ataque mas em alguns momentos passando maus bocados em jogadas que passavam pelo talentoso Konoplyanka, o Exército Verde resistia como podia. E deve agradecimentos ao goleiro McGovern, que salvou a pátria em pelo menos duas oportunidades.

O alívio, o momento em que a torcida pôde definitivamente explodir com o sentimento de "sim, nós vencemos um jogo de Eurocopa" deu-se no sexto e último minuto de acréscimo: linda jogada de Magennis pela direita, chute de Dallas, rebote de Pyatov e presença precisa de McGinn para completar o lance na rede. 2a0, eternizando o evento para um país cuja última participação numa grande competição internacional tinha sido na Copa de 1986, no México.
Em meio à chuva de granizo, norte-irlandeses do céu e da terra comemoram gol diante da Ucrânia. Foto: Clive Brunskill / Getty Images.

(He)Roy Hodgson: Inglaterra Vence Clássico Britânico Com Virada Nos Acréscimos

Num dos jogos mais aguardados nessa segunda rodada, os britânicos da Inglaterra e do País de Gales proporcionaram a primeira virada nessa edição da Eurocopa. E foi daquelas viradas especiais: com ida ao intervalo em desvantagem, mexidas fundamentais do técnico, gol da vitória nos acréscimos. Ingredientes que mostraram a força e o poder de reação do English Team de Roy Hodgson.

Curiosamente, a Inglaterra havia sofrido um gol nos acréscimos na partida inaugural, cedendo empate à Rússia. E esse não foi o único repeteco da primeira rodada: novamente, Gareth Bale marcou gol de falta para tirar o zero da contagem. Inclusive, há que se dizer que ambas as cobranças têm similaridades entre si e com a maneira que o português Cristiano Ronaldo cobra faltas. Lembrando que esses jogadores são companheiros de Real Madrid.

No segundo tempo, Vardy aproveitou descuido da defesa para empatar e incendiar o jogo. Precisou de dez minutos em campo para fazer o que Kane não conseguiu em duas partidas: um gol. Nos acréscimos, foi a vez de Sturridge ir às redes, mostrando astúcia e oportunismo em lance pela esquerda. Gol que castigou os galeses, que sentiam ainda o gostinho da liderança. Mas que premiou a equipe que mais buscou o gol e, merecidamente, assumiu a liderança na chave. Aplausos para Hodgson.
Daniel Sturridge, que entrou no intervalo, celebra e é celebrado pelo gol que selou a primeira virada na Euro-2016. Imagem extraída de ElDiario.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Afinal, Aqui É A França!

Equipe renovada, motivada, jogando em casa. A França, no final das contas, cumpriu o favoritismo diante da Albânia. E foi bem no final das contas mesmo: seus dois gols saíram nos últimos minutos de partida (o segundo deles, mais precisamente no lance derradeiro).

O persistente zero a zero deu-se basicamente por dois motivos: a barreira albanesa em sua última linha de defesa e a pontaria francesa. Foram mais de dez finalizações para fora. Duas na trave. Até saírem os dois gols que fizeram Marselha vibrar.

Payet comemora o segundo gol francês. Imagem extraída de InAlbânia.
Por mais que os franceses tenham sido dominantes, é de se contestar a insistência de Didier Deschamps no esquema com dois volantes. Kanté e Matuidi, que fizeram boa atuação, poderiam dar conta das investidas albanesas sem um companheiro a seu lado. A entrada de Pogba poderia tranqüilamente ter sido no lugar de um desses jogadores. Só que Deschamps abriu mão de Martial. Depois, trouxe Griezmann para o lugar de Coman. Mais tarde, trocou Giroud por Gignac. Sempre com os dois volantes, mesmo diante de um adversário dedicado ao 0a0.

No final, de tudo certo para a anfitriã: Griezmann, de cabeça, e Payet, em bela jogada individual, sacramentaram o triunfo que assegura a classificação. Talvez seja a chance de o treinador testar, sem medo de ser feliz, um esquema com um único volante. Sem esse tipo de alternativa, vejo a França abaixo de seleções de ponta como Alemanha e Espanha. Com esse recurso, será ainda mais forte na disputa pelo título.

Suíça E Romênia Empatam E Sonham Com Classificação

Após estrear com uma vitória sobre a Albânia, a Suíça tratou de tomar a iniciativa diante dos romenos, que buscavam seus primeiros pontos no grupo A. E foi exatamente no momento em que os suíços mais pareciam dominantes nojo que a Romênia tratou de fazer uma reviravolta nos acontecimentos: Lichtsteiner cometeu pênalti, convertido por Stancu. A partir daí, desabou o equilíbrio tático suíço.

Com boa atuação de Chipciu e o apoio constante de Stancu e Torje, os romenos poderiam ter ampliado a vantagem ainda no primeiro tempo. Não o fizeram. E, na volta do intervalo, o futebol cobrou por isso: um golaço de Mehmedi retomou a igualdade no placar. Mais que isso, reencaminhou o domínio suíço, com Mehmedi participando ativamente e Embolo (que entrou no lugar de Seferovic) atormentando a defesa romena.

Talvez o que tenha faltado para os comandados de Vladimir Petkovic tenha sido uma melhor participação de figuras como Shaqiri e Dzemaili. Na rodada derradeira, esses jogadores serão fundamentais para que a equipe consiga medir forças com a França. A Romênia, que tentará a classificação diante da Albânia, precisará buscar um ponto de equilíbrio que minimize as oscilações de rendimento no decorrer do jogo. Curiosamente, hoje conseguiu o gol quando não estava bem na partida. É prudente não se acostumar.
Florin Andone e Michael Lang, que entraram no segundo tempo, competem pela bola em Paris. Foto: EFE.

Quando A Genialidade Supera A Estratégia: Eslováquia 2a1 Rússia

Se fôssemos analisar Rússia e Eslováquia exclusivamente pelo fator estratégico, não restariam dúvidas de que os russos mereceriam a vitória no jogo disputado hoje no Stade Pierre-Mauroy. E é nesse sentido que reverencio o treinador Leonid Slutsky: sua seleção embaralhou e distribuiu as cartas do jogo tanto no primeiro quanto no segundo tempo. Teve ainda a sensibilidade tática de, no intervalo, trocar dois jogadores num setor fundamental para a distribuição de jogo, o que teve um flagrante impacto positivo na transição de sua equipe ao campo de ataque. Só que não foi possível evitar a derrota. E é a partir de agora que precisamos falar sobre uma coisa chamada talento.
Marek Hamsik comemora golaço após chute genial. Foto: EFE.

A seleção eslovaca, bem montada e bem distribuída em campo pelo treinador Jan Kozac, permitiu que a Rússia tivesse a iniciativa do jogo. Opção estranha em se tratando de um time com jogadores mais qualificados que o adversário, mas a idéia era, provavelmente, ter a opção do contra-ataque para vencer a pesada linha defensiva russa na base da velocidade. Particularmente, não sou muito fã dessa preferência por não ter a bola. Mas a genialidade de um craque foi o suficiente para encaminhar a primeira vitória da Eslováquia em Eurocopas.

Primeiro ato: assistência. Aos trinta e um minutos, Marek Hamsik acionou Vladimir Weiss com uma visão de jogo invejável e uma precisão de arrepiar. Weiss embelezou ainda mais a jogada quando, com o único toque na bola, tirou dois adversários do lance. E finalizou de maneira inapelável, cruzado, abrindo a contagem.

Segundo ato: remate. Aos quarenta e quatro, Weiss cobrou escanteio com um passe curto. Geralmente vejo esse lance como improdutivo, mas não se pode duvidar do desenrolar dos acontecimentos quando a bola passa pelos pés de Hamsik: com um chute maravilhoso, o camisa 17 marcou um dos mais belos gols nessa Euro-2016.

O esforço da Rússia tornou o segundo tempo ainda melhor do que o primeiro, principalmente após sair o gol de Glushakov, aos trinta e quatro. Os futuros anfitriões da Copa do Mundo tiveram pelo menos duas grandes chances de empatar a partida, o que traria contornos heróicos similares ao empate com a Inglaterra na estréia. Só que, dessa vez, não rolou. A busca pela classificação tanto de russos (1 ponto) quanto de eslovacos (3) ficará para a última rodada, num grupo que promete ainda mais emoções pela frente.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Itália Segura A Bélgica E Arranca Vitória Em Grande Estréia

De um lado, o talento de uma geração que levou sua seleção ao topo no ranqueamento da FIFA. De outro, uma camisa que, de tão tradicional, parece ter vida própria. Bélgica e Itália fizeram um dos melhores jogos da Eurocopa 2016 até o presente momento. Foram muitos os ingredientes que colaboraram e talvez o principal deles tenha sido o fato de os italianos jamais abdicarem do ataque, mesmo jogando com uma postura flagrantemente defensiva.

Com uma formação de três zagueiros e dois volantes, Conte tratou de dar permissão para os laterais subirem nos momentos de posse de bola. Os belgas, pouco produtivos, tinham dificuldades de criar as jogadas que caracterizam a equipe de Wilmots - as oportunidades se resumiram basicamente a chutes de fora da área. Sendo a Itália eficiente na árdua tarefa de conter Hazard e De Bruyne, a Azzurra foi coroada com um golaço no primeiro tempo: um tanto pelo domínio e finalização de Giaccherini e mais ainda pelo primoroso lançamento de Bonucci, que do seu próprio campo acionou o companheiro na área adversária. Não vi Gérson jogar, mas imagino que seu repertório fosse da beleza daquele lançamento do zagueiro.

Veio o segundo tempo e, a partir dos primeiros minutos, o jogo que já era bom ficou excepcional. Lukaku teve grande chance de igualar o placar, mas acabou chutando para fora quando esteve de frente com Buffon. Origi, que entrou em seu lugar, também esteve em situação de liberdade, mas cabeceou por cima. Pelo lado italiano, as finalizações, quando tomavam o rumo do gol, paravam em intervenções espetaculares de Courtois. Só que, nos acréscimos, Pellé não desperdiçou: em contra-ataque, elerecebeu de Candreva e voleou para estufar a rede e marcar 2a0 em Lyon.

A Itália dá um grande passo para a classificação. Mas sua maior conquista foi a motivação conquistada após um resultado maiúsculo diante de uma forte seleção. Até onde pode ir a Itália? Sei não... Mas é prudente, no mínimo, levá-la em consideração...
Após receber lançamento sensacional de Bonucci nas costas de Alderweireld, Giaccherini abre o placar diante de Courtois. Foto: Getty Images.

Irlanda Joga Bem, Mas Cede Empate À Suécia

Num grupo que tem como protagonistas a qualificada Bélgica e a tradicional Itália, irlandeses e suecos eram meros coadjuvantes. Mas proporcionaram um jogo interessante em Paris. Quem aguardava ver Ibrahimovic desequilibrando acabou vendo o goleiro Isaksson sendo o grande destaque da Suécia, explicitando a superioridade da Irlanda na partida.

Porém, foi justamente após conseguir passar pela muralha sueca (belo gol de Hoolahan, no início do segundo tempo), que a Irlanda passou a diminuir a intensidade. Mesmo assim, teve chances de alcançar o segundo gol. Só não esperavam que marcariam... contra. Em lance de Ibra pela esquerda, Clark cabeceou contra o próprio patrimônio. E o pior é que goi outro belo gol.

Cientes de que o empate não adiantava o lado de ninguém, ambas as equipes buscaram a vitória no final. Porém, além dos bem postados sistemas defensivos, a falta de capacidade criativa de ambos os lados selaram a manutenção da igualdade.
O'Shea e Ibrahimovic disputam a bola: astro sueco, ex-PSG, não teve facilidades em Paris. Imagem extraída de Oriente 20.

Quando Um É Bem Maior Que Zero: Espanha Vence República Tcheca

Matematicamente, a diferença entre 1 (um) e 0 (zero ), é sempre igual a um. Futebolisticamente, essa diferença é variável. Hoje, entre Espanha e República Tcheca, em Toulouse, a diferença entre um e zero foi:

(I) mais que o dobro de tempo de posse de bola;
(II) mais que o dobro de finalizações;
(III) mais que o triplo de passes completados.

Com tudo isso, nossa imprensa medíocre ainda reserva "profissionais" como o comentarista Neto, que num determinado momento no segundo tempo, com o placar parcial de zero a zero, afirmou que 'o toque da Espanha enche o saco'.

Caro Neto, o que "enche o saco" é ouvir seus comentários. O toque da Espanha engrandece o futebol. E é por pessoas como você que o futebol brasileiro passa pelo momento atual.

Saudações iniestianas a todos o amantes do futebol arte. E viva o toque de bola espanhol.
Espanhóis comemoram o gol de Piqué, aos quarenta e dois minutos do segundo tempo. Foto: Getty.

domingo, 12 de junho de 2016

Em Belo Jogo, Alemanha Continua Representando O Futebol Arte

Teve o certificado de campeã do mundo. Com um futebol objetivo, eficiente e altamente competitivo, a Alemanha venceu a muito bem organizada seleção da Ucrânia na estréia dessas equipes na Eurocopa 2016. Se o primeiro gol teve a marca da "Alemanha antiga" (chuveirinho com cabeceio certeiro), o segundo foi o retrato do time comandado brilhantemente por Joachim Löw: um contra-ataque inapelável onde todos os jogadores envolvidos no lance foram precisos em suas funções. Detalhe: lance concluído por Schweinsteiger, que acabara de entrar e era dado por muitos como nome ausente na lista da Euro, por questões físicas. Felizmente, Löw pensa diferente dos críticos. E proporcionou, com sua filosofia de jogo, não apenas uma vitória por dois gols: proporcionou muita beleza na maneira de jogar.

É inegável que a qualidade da apresentação passa por um plantel talentoso. Neuer é um goleiro de mão cheia e fez pelo menos duas defesas daquelas pra estampar capa de publicação esportiva. Boateng, dos melhores zagueiros do mundo, salvou a equipe num lance e colaborou em incontáveis outros. Khedira, que parece ser dois em vez de um, participou ativamente. Müller, um maestro. Özil e Götze qualificaram a posse de bola. E todos, sem exceção, agiram em pró do jogo coletivo. Mas, nem só de talento se faz um time. A seleção brasileira, por exemplo, tem diversos jogadores de alto nível. Só que não há qualquer parâmetro de comparação (viva o 7a1!). Esta Alemanha é uma bênção ao futebol. Vitória na estréia deve ser valorizada também pela atuação do adversário: a Ucrânia foi forte na defesa e ágil na transição. Levou perigo em uma ou outra ocasião - talvez, diante de uma seleção menos potente, pudesse conseguir um resultado interessante. Aliás, com esse futebol, deverá disputar a classificação.

Sobre a apresentação alemã, uma pergunta: estão sentindo um cheiro de tinta? Pintou a campeã...
Mustafi é abraçado por Boateng e cumprimentado por Draxler após o primeiro gol no jogo. Foto: Getty Images.

Polônia Supera Retranca Irlandesa E Conhece 1ª Vitória Em Eurocopas

"Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Dito popular que remete ao processo de intemperismo e que ilustra bem o que foi o jogo entre Polônia e Irlanda do Norte, em Nice. Uma partida de ataque contra defesa. Se por um lado os poloneses tinham os goleadores Lewandowski e Milik, por outro, os irlandeses contavam com um sistema defensivo que envolvia do goleiro ao centroavante, todos dedicados a conterem as investidas do oponente.

Era pelo alto que se dava a maioria das tentativas. Foram muitos os cruzamentos. Diversos os escanteios. Incontáveis levantamentos. Para tentar alternativas, também foram tramadas jogadas pela grama. Nada feito. No segundo tempo, porém, a água furou a pedra: passe de Blaszczykowski e remate rasteiro de Milik. 1a0.

Pensando em pontuar, a Irlanda finalmente passou a preencher o campo de ataque. Mas faltava qualidade. Coube à Polônia administrar o resultado e garantir a vitória na estréia. Histórica, por ser a primeira vitória desta seleção em Eurocopas. Na próxima rodada, diante da forte seleção alemã, é bem possível que os poloneses passem a ser a tal da pedra no ditado popular. Só que, aviso logo, irá encontrar um tsunami vindo em sua direção.
Milik, autor do gol único na partida, disputa a bola dentro da área irlandesa. Imagem extraída de OASport.

Com Futebol De Alto Nível E Golaço De Modric, Croácia Vence Turquia Em Paris

O 12 de junho, data na qual alguns celebram o dia dos namorados, amanheceu de maneira amável no fuso-horário de Brasília. Com um golaço de Luka Modric, que deu bom dia no idioma universal do futebol arte, a Croácia estreou na Euro-2016 com vitória sobre a Turquia, em jogo disputado na capital francesa.

A seleção croata esbanjou capacidade técnica e tática para ditar o ritmo dos acontecimentos, sobretudo no nevrálgico setor de meio-campo. O madridista Modric e o barcelonista Ivan Rakitic distribuíam o jogo de maneira consciente, enquanto Ivan Perisic imprimia velocidade pelo flanco esquerdo. Como referência no ataque, Mario Mandzukic era presença marcante entre os defensores turcos. A realidade é una: o placar de 1a0 ficou barato. Não somente pelas duas bolas na trave (uma de Darijo Srna e outra de Perisic), mas principalmente pelo volume de jogo do selecionado de Ante Cacic.

E como nem só de habilidade e poder criativo vive uma seleção, o fato é que a aplicação defensiva também foi fundamental para conter o ímpeto da sempre destemida Turquia. A imagem de Verdan Corluka com a cabeça enfaixada e entrando vigorosamente nas divididas (incluindo um carrinho providencial) demonstra que todos os setores da equipe atuam na busca pela vitória, seja suando ou mesmo sangrando.

Lembro-me que, na Copa-2014, a Croácia também apresentou um futebol qualificado. Naquela ocasião, foi prejudicada pela arbitragem que beneficiou o Brasil na partida inaugural. Dessa vez, estreou com três pontos. Enorme passo para a classificação - o futebol agradece e fica de olho no time da camisa quadriculada.
Luka Modric comemora o golaço que anotou aos quarenta minutos de jogo. Foto: Getty Images.

sábado, 11 de junho de 2016

É Eurocopa, É Futebol: Inglaterra E Rússia Empatam Na França

O futebol deve ser o único esporte já inventado nesse planeta que proporciona situações como as que ocorreram hoje em Marselha. Dá um livro. Como isso é um blógui, dá uma postagem.
Kokorin e Dier (autor do gol inglês) disputam a bola. Foto: EFE.

Capítulo 1. Sobre a paixão.

O estádio estava tomado de ingleses, russos e simpatizantes de outras não sei quantas nações. 62343 pessoas na contagem oficial. Enumerar aqueles que assistiam ao redor do mundo deve ser praticamente impossível. Infelizmente, há em alguns casos um misto de paixão com loucura que confronta os limites da liberdade individual a partir do momento que migra para a violência. Muitas das vezes, uma violência movida a álcool. Lamentável. Faz parte de um mundo onde a vida ainda é tratada como descartável. Duvida? Pense no que você comeu hoje.

Capítulo 2. Sobre aspectos técnicos.

A Inglaterra rejuvenesceu. Roy Hodgson, há quatro anos na função de treinador do English Team, montou uma seleção veloz e com ímpeto ofensivo flagrante. A base é o Tottenham. Mas são figuras como Wayne Rooney que fazem a engrenagem rodar com mais desenvoltura. Já a Rússia, futura sede da Copa do Mundo, tem muitos desafios pela frente até o ano de 2018. Porém, se um bom time começa por um bom goleiro, é fato que os russos já estão um passo a frente - Igor Akinfeev provou novamente as qualidades que o colocam como titular absoluto da seleção nacional desde, desde... sei lá desde quando. Entre os jogadores de linha, muito mais força física e disposição do que habilidade e categoria.

Capítulo 3. Sobre tática e estratégia.

Preparada para impôr velocidade diante de um adversário mais lento, a Inglaterra criou chances o suficiente para chegar ao intervalo com cômoda vantagem. Resultado? Zero a zero. Talvez seja essa uma das razões do capítulo um ser sobre a paixão. O desafio à lógica. Aos fatos. Zero a zero era inconcebível pelo volume de jogo inglês. Mas quase-gol vale, matematicamente, o mesmo que a completa inoperância. Então, o empate era justo.

Capítulo 4. Sobretudo, futebol.

No segundo tempo, já sem conseguir a mesma desenvoltura que nos quarenta e cinco minutos iniciais, eis que surge o gol. A Inglaterra, em cobrança de falta de Dier (que, embora mais bonita, até lembrou a de Bale no jogo entre Gales e Eslováquia), abriu a contagem. A Inglaterra não sabia o que era estrear com vitória em Eurocopa. Eram quatro empates e quatro derrotas em oito eventos. Chegava a hora. Só que não. Nos acréscimos, do jeito mais tradicionalmente inglês possível, a Rússia mandou a bola para a área. Levantamento de Schennikov. Cabeceio de Berezutski. Festa nas arquibancadas em Marselha. E, aposto, em muitos lares e bares em Moscou. O empate de 1a1 deixa o tabu inglês ainda vivo. E os russos, mais vivos ainda.

É ou não é um esporte especial? Ponto final.

Gales Começa Sua História Na Euro Com Vitória: 2a1 Na Eslováquia

Abrindo o grupo B na Eurocopa 2016, País de Gales e Eslováquia se enfrentaram em Bordeaux. Melhor para os galeses, que venceram por 2a1 naquela que foi sua primeira partida em toda a história do torneio continental.

Logo no início, Marek Hamsik fez jogada espetacular e somente não abriu o marcador porque um defensor galês conseguiu intervir quando a bola estava prestes a cruzar a linha situada abaixo do travessão. A Eslováquia tinha muito a ganhar com uma grande atuação do meia napolitano, mas a realidade é que, fora esse lance de craque, o camisa 17 não conseguiu repetir as grandes atuações que o tornaram um dos principais jogadores no campeonato italiano. Logo aos nove minutos, em cobrança de falta, Gareth Bale abriu o placar. Placar que poderia ter sido ampliado ainda no primeiro tempo, mas o árbitro norueguês Svein Moen não viu o pênalti cometido por Martin Skrtel em Jonathan Williams. Pior: havia um auxiliar "grudado" no lance que também não acusou a cotovelada do eslovaco dentro da área. Seria aquele sujeito meramente ilustrativo? Porque, se não enxergou aquilo àquela distância, simplesmente é figura decorativa no jogo.

No segundo tempo, a Eslováquia veio mais objetiva. Teve uma oportunidade desperdiçada mas não duas: Ondrej Duda, que acabara de entrar, carregou a bola e chutou no contrapé do goleiro Daniel Ward. E se a alegria eslovaca vinha do banco de reservas, a galesa também: aos trinta e cinco, Robson-Kanu, que entrou no lugar de Williams, aproveitou lance de Ramsey e, mesmo sem pegar na bola como gostaria, conseguiu direcionar a redonda para a rede defendida pelo goleiro Matus Kozacik. Gol chorado. E resultado ameaçado, pois ainda houve tempo para a Eslováquia carimbar a trave direita em jogada aérea. No final, festa britânica. Digo, pelo menos nas fronteiras de País de Gales. Não é seguro afirmar que os ingleses, adversários na segunda rodada, tenham celebrado o resultado histórico.
Momento da cobrança de falta de Bale, surpreendenndo o goleiro e abrindo o placar em Bordeaux. Imagem extraída de Goal.com.

Suíça Vence, Mas Sente Pressão Da Valente Albânia

Suíços comemoram gol de Schär, aos quatro minutos no primeiro tempo. Foto: François Lo Presti/AFP.
Albânia e Suíça estrearam na Eurocopa 2016 com um jogo bastante disputado em Lens. Integrantes do grupo A (o mesmo da anfitriã França, que ontem venceu a Romênia por 2a1), suíços e albaneses mostraram boa organização tática desde o início de partida. O gol de Fabian Schär, aos quatro minutos, dava indícios de que os comandados de Vladimir Petkovic teriam facilidades no jogo, sobretudo após a expulsão de Lorik Cana, aos trinta e sete, em lance onde o defensor albanês havia sofrido falta de Haris Seferovic, ignorada pelo árbitro espanhol Carlos Velasco.

Veio o segundo tempo e, com ele, duas intenções diferentes: a Suíça queria ampliar a diferença enquanto a Albânia mantinha-se motivada a buscar o empate. Enquanto os suíços esbarravam em grandes defesas do goleiro Erit Berisha - Seferovic que o diga! -, a corajosa seleção albanesa buscava alternativas na sua composição de duas linhas de quatro, com um jogador de referência no ataque (Armando Sadiku e, depois, Shkelzen Gashi).

A intensidade da Albânia só fazia crescer e simplesmente não parecia que a equipe estava em desvantagem numérica de atletas em campo. Jogadas pelos flancos e também pelo centro, com passes curtos e enfiadas de bola, cadenciando o jogo e também imprimindo velocidade, a Albânia mostrava sua força. O goleiro suíço Yann Sommer, em fantástica intervenção, evitou o gol de empate nos minutos finais, confirmando a apertada vitória suíça.

Podemos traçar um breve paralelo entre a Albânia dessa Eurocopa com o Panamá da Copa América: são duas seleções que vestem vermelho, que chegam aos respectivos torneios continentais sem muita (leia-se nenhuma) badalação e que esbanjam organização. Não é viável apostar em classificações panamenha ou albanesa, mas é interessante ver essas seleções jogarem. Provam que você não precisa ter um time repleto de talento para jogar um futebol de qualidade. Lição que uma certa seleção, cinco vezes campeã mundial, ainda não aprendeu.

domingo, 5 de junho de 2016

Começou A Copa América 2016

Logomarca oficial da Copa América Centenário.
Começou na sexta-feira a Copa América 2016. Edição centenária comemorativa, no país que sediou a Copa do Mundo em 1994, a competição teve até o momento dessa postagem quatro partidas realizadas. E se há uma coisa rara até o momento é o gol. Sim, o gol. Momento ápice do antigo esporte bretão, o gol (objetivo) tornou-se artigo em escassez.

Na partida inaugural, a Colômbia até fez sua parte: dominante nas arquibancadas e no gramado, os colombianos marcaram dois gols nos anfitriões estadunidenses já antes do intervalo (gols de Zapata e Rodríguez), placar que quase aumentou no segundo tempo, quando Bacca carimbou o travessão. Só que nos outros três jogos, somente um golzinho de Guerrero, na vitória cambaleante do Peru sobre o Haiti. Costa Rica e Paraguai ficaram num 0a0 que provavelmente seria permanente mesmo se jogassem outros dois tempos de quarenta e cinco minutos. Pouquíssima criatividade em ambas as seleções. Brasil e Equador também não mexeram no placar, embora os equatorianos até tenham o direito de reclamar de um gol equivocadamente invalidado. A marcação do auxiliar de que a bola teria saído antes de ser chutada diminuiu em 25% o número de gols nesses primeiros dois dias de torneio. Sinal que, a exemplo dos atacantes, os árbitros também erram...

Breves pitacos sobre os jogos que assisti.

(1) A Costa Rica passa longe daquela que encantou no Mundial 2014. Joel Campbell atua mais recuado e Bolaños tornou-se suplente, desfazendo aquele poderoso trio com Bryan Ruiz.

(2) O Paraguai continua com aquela vocação de empatar seus jogos. Já foi vice-campeão de Copa América (2011) empatando até pensamento antes de ser esmagado na final. Mostrou credenciais para conseguir mais dois empates nessa primeira fase.

(3) O Haiti, embora derrotado, vendeu caro o resultado de 1a0. Equipe limitada tecnicamente, mas de grande disciplina tática. Seu esforço chega a contagiar e é daquelas seleções "simpáticas", que conquistam as torcidas neutras.

(4) Com um início imponente, o Peru foi aos poucos se enfraquecendo diante dos haitianos - um pouco por questões físicas, um tanto pela falta de capacidade tática de superar a organizada seleção adversária. Conseguiu o gol que lhe deu a vitória, mas o futebol apresentado ficou abaixo do da edição passada da Copa América, quando chegou às semifinais no Chile.

(5) Se muito, o Brasil criou meia dúzia de chances de gol em sua estréia. A grande maioria (talvez todas), na base da transpiração. Pouco (leia-se nada) em se tratando de uma seleção com a camisa que ostenta. E a verdade é que não podemos exigir muito mais que isso de uma equipe comandada pelo Dunga.

(6) Leve nos contra-ataques e pesado na marcação, o Equador mostrou alto poder de competitividade diante dos brasileiros. Sinal de que não é mera obra do acaso o bom início nas Eliminatórias Sul-Americanas. Mas, falta talento (talvez principalmente no meio-campo) para cravar que os equatorianos possam aprontar algo histórico na Copa América 2016.

Que venham os próximos jogos. E gols, por favor.

sábado, 19 de março de 2016

A Culpa É Do Wenger

Imagem publicada pelo Arsenal no Facebook.
Longe de escalar sua formação "ideal", Arsène Wenger mandou para o Goodison Park um Arsenal que tinha um desafio duplo: remontar-se após a saída na Liga dos Campeões da Europa (três dias antes era superado pelo Barcelona no Camp Nou) e partir em direção à vitória diante do Everton, tendo como meta o título inglês (os onze pontos de distância para o líder Leicester não permitem ao clube londrino novos tropeços).

E lá foi o Arsenal.

Sem Cech - Ospina era o goleiro. Com Mertesacker no banco - Gabriel e Koscielny formavam a dupla de zaga, apoiada pelos laterais Bellerín e Monreal. Sem Wilshere e Ramsey - Coquelín e Elneny formavam a dupla de volantes. Sem Cazorla nem Ox e com Walcott entre os suplentes - Özil, Sánchez e Welbeck formavam a trinca de aproximação ao ataque. Com Giroud na condição de reserva - tome Iwobi estreando como titular em jogos de Premiership.

A atuação do time? Muito boa, obrigado. O lance do gol inaugural, concluído por Welbeck após assistência de Sánchez, foi daqueles com o selo Wenger de qualidade. Muitas trocas de passes certeiros, envolvendo o sistema defensivo adversário por inteiro. Em contra-ataque ligeiro, Bellerín acionou Iwobi para marcar o segundo. 2a0, placar de um primeiro tempo onde o visitante foi preponderante. Dominante. Empolgante.

Na segunda etapa, o Everton conseguiu criar pouco mais. Mas o Arsenal mateve-se firme. Não permitiu que em momento algum os donos da casa se sentissem confortáveis na partida. E a realidade é que ficou barato o placar de 2a0, dada a estranha anulação de um gol de Giroud no segundo tempo.

Com preponderância na posse de bola, trocas de passes envolventes, contra-ataques interessantes, superação para lidar com os desfalques, é um dever reconhecer: a culpa é do Wenger.

domingo, 13 de março de 2016

9dade: Paris Saint-Germain É Campeão Francês

Imagem extraída de Yahoo!.
2012-3, 2013-4, 2014-5, 2015-6.

Pela quarta temporada consecutiva, o Paris Saint-Germain conquista o título de campeão francês. Dessa vez, com assombrosas oito rodadas de antecipação, numa campanha de 77 pontos e 77 gols marcados. E contando... Eu não ousaria duvidar de uma marca centenária. Ainda mais depois de hoje.

12', 16', 18'; 45', 51', 54', 57', 74', 87'. Foram nove os gols marcados pelos campeões diante do lanterna. Lanterna, tudo bem. Mas um lanterna que entrou em campo com  uma média de dois gols sofridos por partida. De dois para nove é uma outra conversa. É um outro adversário. É o Paris Saint-Germain.

Desde o gol inaugural do uruguaio Edinson Cavani, aproveitando um presente da defesa adversária, até o gol do sueco Zlatan Ibrahimovic, que fechou a contagem após contra-ataque veloz, iniciado após cobrança de escanteio, a preponderância da equipe visitante foi evidente, explícita, escancarada.

Os argentinos Javier Pastore e Ángel Di María sobravam no meio-campo, esbanjando talento e eficiência. A dupla de zaga brasileira composta por Thiago Silva e David Luiz, nas poucas vezes em que era envolvida, conseguia dificultar as ações oponentes. O goleiro Trapp ainda deu a sua contribuição para manter o zero dos mandantes. Mandantes que em nada mandavam. Só balançaram a rede em gol contra de Saunier - não fosse ele, Ibra provavelmente completaria para dentro.

Dreyer, arqueiro vazado em nove ocasiões diferentes, é dos menos responsáveis pelo resultado. Se houve uma ou outra bola defensável, a realidade é que não daria para Dreyer nem ninguém, sozinho na condição de goleiro, evitar uma goleada acachapante parisiense. Chegou a pegar um pênalti de Cavani, que acabou convertido no rebote da cobrança pelo próprio camisa nove.

Enfim, a temporada para o PSG caminha para um final feliz. O título francês, conquistado hoje, nenhuma novidade. O da Copa da França, que terá sua fase semifinal disputada em abril, seria uma dobradinha também já conhecida pela torcida tricolor. Mas o grande sonho, talvez até uma obsessão por parte do proprietário do clube da capital francesa, é a Liga dos Campeões da Europa, competição na qual o Paris Saint-Germain encontra-se classificado para a fase quartas-de-final. Ibrahimovic pediu paciência, evitando criar grandes expectativas em torno do tão cobiçado torneio. Mas como não alimentar esperanças de dimensões continentais depois de se firmar solidamente no cenário nacional? Depois de aplicar nove a zero no adversário?

O fato é que, com ou sem a Tríplice Coroa, o PSG não deixa dúvidas de que realiza excepcional temporada sob o comando de Laurent Blanc. O momento é de festa. E a força demonstrada dá ao clube o direito de sonhar com escaladas maiores. Talvez do tamanho de uma torre Eiffel.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Atlético Faz A Trinca Sobre O Real No Bernabéu

Imagem extraída de Goal.com
Longe de ter sido um grande jogo, Real Madrid e Atlético de Madrid corresponderam ao que se espera de um clássico entre dois times fortes, rivais e que têm ambições no campeonato. Algumas vezes, infelizmente, atravessando a fronteira entre a desportividade e a deslealdade (embora, no geral, o jogo tenha sido tranqüilo no aspecto disciplinar).


Cada qual ao seu estilo, tanto os Blancos de Zinedine Zidane quanto os Colchoneros de Diego Simeone se portaram no gramado do estádio Santiago Bernabéu com o intuito de vencer a partida.

A diferença de postura, no entanto, era explícita. Os donos da casa, com o croata Modric articulando a transição ao ataque e o alemão Kroos dando equilíbrio ao meio de campo, tinham maior volume de jogo e superior acurácia na troca de passes. Já a equipe visitante, se defendia com a força e a aplicação de um time que atua na mais intensa noção de coletividade, destacando-se o empenho, técnica e perspicácia do uruguaio Godín no miolo de zaga.

No final das contas, pesou a tal da eficiência nas finalizações. O português Cristiano Rolando teve consigo uma meia dúzia de oportunidades, das quais três a gente não espera algo diferente de um gol quando se trata de alguém da sua categoria. Nada feito. O francês Griezmann, em tabela com o brasileiro Filipe Luís, mostrou como é que se faz, abrindo o placar e dando números finais ao jogo aos sete minutos no segundo tempo.


Em 2013-4: Real 0a1 Atlético.
Em 2014-5: Real 1a2 Atlético.
Em 2015-6: Real 0a1 Atlético.

E assim se construiu a trinca atleticana em pleno Bernabéu.

Enquanto os times da capital rivalizam entre si, quem sobra no Campeonato Espanhol é o Barcelona. Tanto na pontuação (com um jogo a menos, os catalães têm cinco pontos a mais que o Atlético e nove a mais que o Real) quanto, principalmente, no futebol. É como se os clubes de Madrid se comunicassem por carta colocada dentro da garrafa e o Barça... por MSN.