Sergio Romero, Pablo Zabaleta, Martín Demichelis, Ezequiel Garay, Marcos Rojo, Javier Mascherano, Lucas Biglia, Enzo Pérez, Lionel Messi, Ezequiel Lavezzi, Gonzalo Higuaín, Rodrigo Palacio, Sergio Agüero, Máxi Rodríguez. Alejandro Sabella. E todos os demais que compõem a delegação argentina na Copa do Mundo 2014. Sem jamais esquecer dos torcedores que dizem exatamente o que sentem nas arquibancadas.
Só há, no parágrafo inicial, menções a heróis. A atuação argentina diante da forte e bem treinada Holanda foi algo para constar nos livros de História.
Capítulo 1: Do contexto.
Em pleno dia da independência, a
Albiceleste conquista, em semifinal disputadíssima com a Holanda, seu retorno a uma final de Copa do Mundo. São vinte e quatro anos desde a última aparição e a adversária será exatamente a Alemanha, oponente em 1990. Naquela época, ainda existia o Muro de Berlim, e a campeã foi a Alemanha Ocidental - quatro anos antes, a Argentina superou a mesma oponente. Nas Américas, jamais um europeu conquistou o caneco mundial. E lá vai a Argentina ao Maracanã, para manter a escrita e para sair de uma fila de títulos que já se arrasta desde a Copa América 1991.
Alfredo di Stéfano, um dos maiores nomes na história do futebol nacional argentino e do planeta como um todo, foi lembrado em São Paulo. Partiu aos 88 anos, essa semana, mas estava presente. Estava presente nas braçadeiras pretas dos jogadores argentinos. Estava presente no minuto de silêncio antes de a bola rolar. Estava, mais que isso, presente na alma de cada jogador que vestia azul-e-branco. Não duvido que a água que caiu sobre o estádio possa ter alguma relação com a emoção do mito que ascendeu.
Capítulo 2: Do talento.
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Imagem extraída de Ahe |
Mesmo havendo como adversário um time absolutamente bem postado desde o goleiro até o centroavante,
onde existir talento, sempre será fácil reconhecê-lo. Lionel Messi teve muitas dificuldades para achar e criar espaços no gramado em São Paulo. Mas ainda assim desfilou capacidade técnica no Itaquerão. Seu momento mais próximo do gol foi cobrando uma falta sofrida por Enzo Pérez, defendida pelo goleiro Jasper Cillessen. Porém, seus simples deslocamentos pelo gramado e movimentos por entre os defensores laranjas possibilitavam que, se não para si, aparecessem brechas a serem usufruidas por companheiros como Gonzalo Higuaín. Sua maneira de interagir com a bola é única. Seus passos pelo campo, uma marca registrada. Sua postura, plenamente identificável. Um capitão pelo talento, pelo exemplo, que sequer precisa desgastar além da medida suas cordas vocais. Basta olhar para ele e já se sabe o que fazer.
Capítulo 3: Da tática.
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Foto: Getty Images |
Sempre que você assistir um jogo de futebol onde estiverem presentes jogadores como Messi e Arjen Robben em lados opostos, tenha convicção de que algo de muito interessante poderá acontecer a qualquer momento na partida. Piscar os olhos é perigoso, pois pode ser exatamente ali que o gênio entre em ação. Acontece que tanto Louis van Gaal quanto Alejandro Sabella sabem disso. Um tem o seu Robben e teme o Messi. O outro tem o seu Messi e teme o Robben. Conseguiram ambos os técnicos preparar suas seleções de modo a conter o talento do maior jogador adversário. Não é fácil fazê-lo, e é por isso que precisam ser exaltados: fizeram de maneira esportiva, sem apelar para o antijogo (embora em alguns - raros - momentos tenham havido faltas com único intuito de interromper o progresso do craque).
Este capítulo três merece um parágrafo especial para Sabella. O treinador argentino mostrou aquilo que já foi possível ver desde as
oitavas diante da Suíça e, mais ainda, nas
quartas diante da Bélgica: solidez. Uma equipe bem distribuída em campo, sobretudo defensivamente. Mostrando uma capacidade quase infinita de estar preparada para o que quer que seja. E do outro lado havia Dirk Kuyt, Daley Blind, Wesley Sneijder, Robben, Robin van Persie. Mas a Argentina
Sabella o que estava fazendo e, nas mais de duas horas de jogo, foi uma seleção consistente, valente, determinada. Contagiante.
Capítulo 4: Da raça.
Por falar em contagiante, não saem da minha cabeça as imagens de Mascherano e Zabaleta. O volante e o lateral-direito foram sublimes. São os dois polegares que traduzem a impressão digital da seleção argentina. Vira-latas de raça. Pra tornar inofensivo qualquer Pastor Belga, Holandês, Alemão. Protegem a defesa sem perder a referência. Cercam o adversário sem usar a violência. Recuperam a bola mantendo a postura. Avançam e recuam de maneira segura. Gigantes pela própria natureza! Contagiam, contagiam, contagiam. A quem está assistindo de longe, a quem está perto no gramado. Vemos esse contágio quando nossa pele arrepia, quando automaticamente aplaudimos, quando olhamos hipnotizados tamanha bravura. Não tem choque de cabeça nem ombrada no queixo que os abalem. Podem derrubá-los, pois são humanos. Mas jamais enfraquecê-los, porque inabaláveis pelo espírito dos verdadeiros vencedores. E a Argentina consegue mais. Consegue
ser mais. É Garay afastando a bola segurando a chuteira na mão direita. É Rojo mandando o perigo para longe mesmo estando mancando. É Romero festejando uma cobrança de pênalti defendida (Ron Vlaar, forte, no centro). É Romero festejando outra cobrança de pênalti defendida (Sneijder, colocada, buscando o ângulo direito). É Máxi Rodríguez partindo para a bola para selar a classificação com cara de quem não consegue conter a emoção. E não consegue porque o sentimento é maior do que o recipiente. Cillessen tocou no pênalti derradeiro. O travessão também encostou na bola. Mas o destino da Brazuca era a rede. Pois o destino da Argentina, só Deus sabe. Talvez o Papa também. Com as bênçãos de Alfredo di Stéfano.
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Foto: Getty Images |
Capítulo 5: Da final.
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