Aliás, temos muito a aprender com a representante do norte da África. Sem nenhuma badalação antes da Copa começar, fizeram uma campanha onde jogaram de igual para igual com a elogiada Bélgica, anotaram quatro gols na Coréia do Sul após grande performance no primeiro tempo, foram buscar o empate da classificação diante da disciplinada e competitiva seleção da Rússia e fizeram uma atuação maiúscula do primeiro ao último apito diante da poderosa Alemanha. Cento e vinte minutos marcados por um equilíbrio brutal, conseguindo anular muitas das virtudes de um adversário repleto de qualidades e explorar falhas que não tinham aparecido na fase de grupos - possivelmente porque portugueses, ganeses e estadunidenses não foram capazes de encontrá-las. Ou talvez de "inventá-las".
Manuel Neuer, um dos melhores goleiros do mundo, jamais mostrou tantas vezes com a camisa da seleção alemã o quanto o convívio com Josep Guardiola no Bayern de Munique lhe é proveitoso. Vimos no Rio Grande do Sul um Neuer mais líbero do que nunca, precisando abandonar a grande área diversas vezes para ser aquele jogador alemão a evitar o gol no contra-ataque adversário. E que contra-ataques! Já com dez minutos de jogo, a equipe comandada por Vahid Halihodzic deu duas mostras de que os lances de velocidade seriam um recurso interessante para entrar na defesa da Alemanha: Islam Slimani, sempre atento, conseguia deixar qualquer um para trás quando lançado. Mas Neuer, no melhor estilo goleiro-linha, fazia uma leitura perfeita do lance para realizar a interceptação.
Para criar ainda mais dificuldades a uma defesa vulnerável à velocidade de Slimani, a Argélia tinha também no talento de Sofiane Feghouli uma ótima opção para bagunçar o sistema defensivo alemão. Na marcação individual, não houve quem desse conta de neutralizá-lo. Foram cerca de dezoito minutos de domínio argelino, com direito a gol anulado para manter o placar zerado. E se Feghouli e Slimani apareciam bem no setor ofensivo, há que se destacar também as participações de jogadores como Ghoulam e Mandi, que fechavam os flancos e detinham jogadores como Schweinsteiger, Kroos, Götze e Özil, além de serem ágeis na hora de ligar os contra-ataques. E o goleiro M'Bolhi, que fez uma defesa espetacular no primeiro tempo, viria a aparecer mais tarde como grande nome no jogo.
Joachim Löw mexeu no intervalo: trocou Götze por Schürrle. Uma tentativa de ter maior presença na área e de aumentar a participação de Müller. Válida tentativa. Só que esse tipo de alteração não cria imunidade ao contra-ataque e a Argélia quase abriu o placar em rápida escapada de quatro contra quatro. Não estava nada fácil para Mustafi, Mertesacker, Boateng e Höwedes!
Com dificuldade para entrar numa zaga muito bem postada, a Alemanha tentou de fora da área: aos nove minutos, Lahm acertou lindo chute e somente não abriu o placar porque M'Bolhi fez o que considero ter sido a mais espetacular defesa na Copa do Mundo até o presente momento. Simplesmente sensacional o sutil desvio conseguido pelo goleiro argelino, que saltou em direção ao ângulo direito em lance de uma plasticidade cinematográfica.
Aos vinte e quatro minutos, uma contusão de Mustafi obrigou Löw a tirá-lo do jogo. Mustafi havia aparecido bem em lance pelo alto (defendido por M'Bolhi), mas fora isso, foi elemento pouco participativo quando a Alemanha tinha a posse de bola e facilmente envolvido quando a Argélia atacava. Ou seja, a sua saída acabou não sendo um mau negócio - uma pena, é claro, que por motivo de contusão. Khedira entrou em seu lugar, assumiu a posição de volante ao lado de Schweinsteiger e Lahm passou a ficar mais aberto pela direita.
A Alemanha cresceu. E, junto com ela, se agigantou a defesa da Argélia. Mostefa, Belkalem, Halliche e o incansável Ghoulam eram cada vez mais convidados (leia-se intimados) a agir para salvar a pátria. Importante não esquecer a contribuição de Lacen, uma barreira entre o meio-campo e a defesa. E para assegurar o placar zerado, M'Bolhi não permitia que bola nem pensamento passassem por ele. Halihodzic acrescentou habilidade no setor de meio-campo quando, aos trinta e dois, colocou Brahimi no lugar de Taider. Só que os últimos minutos foram, no geral, de predomínio alemão. E o 0a0 persistiu só para enganar os desavisados - um resultado que em nada refletia o que se tinha em campo.
Veio a prorrogação e, já no segundo minuto, o gol alemão: Müller cruzou da esquerda, Schürrle se antecipou à marcação e estufou a rede argelina, em bonita finalização. Era o vigésimo sexto gol na Copa de alguém vindo do banco de reservas, um recorde na história do torneio. Aos seis minutos, novo golpe na Argélia: o capitão Halliche, de precisão quase impecável no tempo de cada jogada que exigia sua participação, não tinha mais condição de continuar em campo e saiu para a entrada de Bougherra. Três minutos depois, o bósnio Halihodzic trocou Soudani, figura isolada no comando de ataque, por Djabou. E passou a ganhar território no meio-campo. Ainda antes do intervalo, Mostefa quase empatou a partida.
Veio o segundo (leia-se quarto) tempo do ótimo jogo. Se a Argélia tinha conseguido ganhar presença na meiuca quando da entrada de Djabou, a Alemanha sofria um revés: por cansaço, Schweinsteiger precisou ser substituído. Kramer foi o escolhido para entrar em seu lugar, aos 3' (ou 108'). No novo rearranjo de jogadores e nas novas disputas por posse de bola e espaço no gramado, a Alemanha conseguiu conter o ímpeto argelino e ainda levava perigo no ataque. Principalmente porque, naquela altura da partida, surgiam clarões na defesa da Argélia. Num deles, Schürrle e Özil entraram na área como quiseram, a defesa salvou praticamente em cima da linha a finalização de Schürrle mas, no rebote, Özil mandou firme para a rede. Um 2a0 para confirmar a classificação. Certo?
Errado. Era a Argélia, a valente Argélia do outro lado. Mesmo depois de sofrer o segundo gol aos catorze do segundo tempo da prorrogação, o time se lançou ao ataque na base da garra e da determinação. E, também do talento e da organização. Aos dezesseis, Feghouli cruzou da direita e Djabou completou de primeira, descontando e mostrando que nada estava definido. Os alemães queriam o apito final. Os argelinos, movidos pela esperança, ainda tiveram oportunidade em uma bola alçada na área. Slimani cabeceou. E Neuer ficou com ela: a bola. Para a Alemanha ficar com ela: a classificação. E nós, amantes do futebol, ficarmos com ela: a sensação de ter assistido um grande jogo.
Manuel Neuer, um dos melhores goleiros do mundo, jamais mostrou tantas vezes com a camisa da seleção alemã o quanto o convívio com Josep Guardiola no Bayern de Munique lhe é proveitoso. Vimos no Rio Grande do Sul um Neuer mais líbero do que nunca, precisando abandonar a grande área diversas vezes para ser aquele jogador alemão a evitar o gol no contra-ataque adversário. E que contra-ataques! Já com dez minutos de jogo, a equipe comandada por Vahid Halihodzic deu duas mostras de que os lances de velocidade seriam um recurso interessante para entrar na defesa da Alemanha: Islam Slimani, sempre atento, conseguia deixar qualquer um para trás quando lançado. Mas Neuer, no melhor estilo goleiro-linha, fazia uma leitura perfeita do lance para realizar a interceptação.
Para criar ainda mais dificuldades a uma defesa vulnerável à velocidade de Slimani, a Argélia tinha também no talento de Sofiane Feghouli uma ótima opção para bagunçar o sistema defensivo alemão. Na marcação individual, não houve quem desse conta de neutralizá-lo. Foram cerca de dezoito minutos de domínio argelino, com direito a gol anulado para manter o placar zerado. E se Feghouli e Slimani apareciam bem no setor ofensivo, há que se destacar também as participações de jogadores como Ghoulam e Mandi, que fechavam os flancos e detinham jogadores como Schweinsteiger, Kroos, Götze e Özil, além de serem ágeis na hora de ligar os contra-ataques. E o goleiro M'Bolhi, que fez uma defesa espetacular no primeiro tempo, viria a aparecer mais tarde como grande nome no jogo.
Joachim Löw mexeu no intervalo: trocou Götze por Schürrle. Uma tentativa de ter maior presença na área e de aumentar a participação de Müller. Válida tentativa. Só que esse tipo de alteração não cria imunidade ao contra-ataque e a Argélia quase abriu o placar em rápida escapada de quatro contra quatro. Não estava nada fácil para Mustafi, Mertesacker, Boateng e Höwedes!
Com dificuldade para entrar numa zaga muito bem postada, a Alemanha tentou de fora da área: aos nove minutos, Lahm acertou lindo chute e somente não abriu o placar porque M'Bolhi fez o que considero ter sido a mais espetacular defesa na Copa do Mundo até o presente momento. Simplesmente sensacional o sutil desvio conseguido pelo goleiro argelino, que saltou em direção ao ângulo direito em lance de uma plasticidade cinematográfica.
Aos vinte e quatro minutos, uma contusão de Mustafi obrigou Löw a tirá-lo do jogo. Mustafi havia aparecido bem em lance pelo alto (defendido por M'Bolhi), mas fora isso, foi elemento pouco participativo quando a Alemanha tinha a posse de bola e facilmente envolvido quando a Argélia atacava. Ou seja, a sua saída acabou não sendo um mau negócio - uma pena, é claro, que por motivo de contusão. Khedira entrou em seu lugar, assumiu a posição de volante ao lado de Schweinsteiger e Lahm passou a ficar mais aberto pela direita.
A Alemanha cresceu. E, junto com ela, se agigantou a defesa da Argélia. Mostefa, Belkalem, Halliche e o incansável Ghoulam eram cada vez mais convidados (leia-se intimados) a agir para salvar a pátria. Importante não esquecer a contribuição de Lacen, uma barreira entre o meio-campo e a defesa. E para assegurar o placar zerado, M'Bolhi não permitia que bola nem pensamento passassem por ele. Halihodzic acrescentou habilidade no setor de meio-campo quando, aos trinta e dois, colocou Brahimi no lugar de Taider. Só que os últimos minutos foram, no geral, de predomínio alemão. E o 0a0 persistiu só para enganar os desavisados - um resultado que em nada refletia o que se tinha em campo.
Veio a prorrogação e, já no segundo minuto, o gol alemão: Müller cruzou da esquerda, Schürrle se antecipou à marcação e estufou a rede argelina, em bonita finalização. Era o vigésimo sexto gol na Copa de alguém vindo do banco de reservas, um recorde na história do torneio. Aos seis minutos, novo golpe na Argélia: o capitão Halliche, de precisão quase impecável no tempo de cada jogada que exigia sua participação, não tinha mais condição de continuar em campo e saiu para a entrada de Bougherra. Três minutos depois, o bósnio Halihodzic trocou Soudani, figura isolada no comando de ataque, por Djabou. E passou a ganhar território no meio-campo. Ainda antes do intervalo, Mostefa quase empatou a partida.
Veio o segundo (leia-se quarto) tempo do ótimo jogo. Se a Argélia tinha conseguido ganhar presença na meiuca quando da entrada de Djabou, a Alemanha sofria um revés: por cansaço, Schweinsteiger precisou ser substituído. Kramer foi o escolhido para entrar em seu lugar, aos 3' (ou 108'). No novo rearranjo de jogadores e nas novas disputas por posse de bola e espaço no gramado, a Alemanha conseguiu conter o ímpeto argelino e ainda levava perigo no ataque. Principalmente porque, naquela altura da partida, surgiam clarões na defesa da Argélia. Num deles, Schürrle e Özil entraram na área como quiseram, a defesa salvou praticamente em cima da linha a finalização de Schürrle mas, no rebote, Özil mandou firme para a rede. Um 2a0 para confirmar a classificação. Certo?
Errado. Era a Argélia, a valente Argélia do outro lado. Mesmo depois de sofrer o segundo gol aos catorze do segundo tempo da prorrogação, o time se lançou ao ataque na base da garra e da determinação. E, também do talento e da organização. Aos dezesseis, Feghouli cruzou da direita e Djabou completou de primeira, descontando e mostrando que nada estava definido. Os alemães queriam o apito final. Os argelinos, movidos pela esperança, ainda tiveram oportunidade em uma bola alçada na área. Slimani cabeceou. E Neuer ficou com ela: a bola. Para a Alemanha ficar com ela: a classificação. E nós, amantes do futebol, ficarmos com ela: a sensação de ter assistido um grande jogo.
Argelinos relembram vitória sobre os alemães no Mundial de 1982: equipe africana mostrou força e por pouco não conseguiu novo triunfo diante dos europeus numa Copa do Mundo. Fica a lembrança de uma grande partida.
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