No primeiro tempo não houve um banho de bola com gols sucedendo gols como passes atrás de passes e finalizações pós finalizações. Houve, isto sim, um confronto muito pegado. Com cara de Libertadores. Infelizmente, aquela face que não gostamos de lembrar. Mas o jogo duro e por vezes hostil por parte da equipe visitante não era desleal: era apenas uma energia mal canalizada. Nervosismo, talvez. Rendeu três cartões amarelos em vinte minutos (Yecerotte, Callejón e Gutiérrez). E muitas faltas cometidas. Em duas delas, castigos: tanto aos cinco quanto aos vinte e sete, Romagnoli caprichou no levantamento. Tanto aos cinco quanto aos vinte e sete, a defesa do Bolívar não conseguiu acompanhar o lance como deveria. Resultado: Matos inaugurou e Más ampliou o placar para o San Lorenzo.
No intervalo, Azkargorta realizou duas substituições (Miranda e Rodas saíram, Chávez e Tenorio entraram), mas o maior acerto do técnico espanhol foi fundamentalmente na mentalidade da equipe. O Bolívar voltou equilibrado emocionalmente e tal equilíbrio proporcionou uma melhor aplicação tática do plano de jogo do time. Passou a freqüentar mais o campo de ataque. As infrações que outrora cometera, tornaram-se faltas a favor. E o time parecia gostar do jogo, com todos os motivos para isso - exceto o placar adverso. Dava sinais de que poderia descontar e dar um novo rumo para a partida. Só que pagou caro por um vacilo em sua defesa. Dessa vez, com a bola rolando. O volante Mercier se lançou ao ataque, acreditou no lance mesmo quando a jogada parecia sob controle da defesa adversária e foi premiado pela perseverança, conseguindo finalizar no canto direito para marcar três a zero, aos vinte e quatro.
Naquele momento, Bauza já havia lançado Cauteruccio e Barrientos nos lugares de Matos e Romagnoli. Talvez nem o treinador do San Lorenzo botasse fé que a vitória se transformaria em goleada. Mas quem tem o papa consigo, vai duvidar do quê? Quatro minutos depois do terceiro gol, Buffarini recolheu bola mal afastada, avançou sem ser incomodado e soltou um chute que terminou num golaço, o quarto dos donos da casa.
Azkargorta trocou Callejón (omisso na marcação no lance do gol de Buffarini) por Saavedra. Pouco depois, Bauza fez a última substituição: Villalba por Verón. Já parecia desenhada a satisfação do placar para quem vencia e a aceitação do resultado para quem perdia. Algo como "que seja o que Deus quiser no jogo de volta". Só que havia tempo para mais. E voltamos ao princípio. De novo, a bola parada. De novo, levantamento preciso (dessa vez de Barrientos, aquele mesmo que substituiu Romagnoli). De novo, desvio certeiro de cabeça. De novo, Más. 5a0 San Lorenzo.
E agora vamos à maior diferença entre este cinco a zero e aquele sete a um: a torcida presente no estádio. Deixei para falar dela somente no último parágrafo com a intenção de deixar a melhor parte para o final. O comportamento da torcida do San Lorenzo no Nuevo Gasómetro foi uma coisa de outro mundo. Aliás, de outro país: Argentina. A celebração começou antes de a bola rolar, continuou por todo o decorrer do jogo e se manteve até após o apito derradeiro. É possível que estejam festejando até agora. E o melhor de tudo é que não foi por causa dos 5a0. É a causa dos 5a0. É aquele espírito que habita a matéria. É aquela prece que fica mais forte quando a bola está parada. É aquele empurrão para acreditar em qualquer lance. É aquele entusiasmo que contagia quem está no gramado. É um orgulho e um amor que não precisam ser ditos dessa forma, pois eles são sentidos em cada cântico, em cada grito, em cada salto, em cada aplauso. Se o San Lorenzo é o time do papa, o Nuevo Gasómetro é um templo onde os anfitriões não se dão o direito de pecar. E olha que os pecados capitais são sete...
Próxima parada: La Paz. Amém.
No país do papa Francisco, que também torce pelo San Lorenzo, fazer festa no estádio já é um ritual tradicional.
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