O Maracanã recebeu na noite desse domingo seu primeiro jogo no Mundial. E foi um jogo com clima de clássico nas arquibancadas, com intensas manifestações de ambos os lados. De um lado, a paixão do torcedor argentino, que exaltava sua própria seleção e incentivava os comandados de Alejandro Sabella. De outro, o medo do torcedor brasileiro, que chegou a vaiar a seleção argentina numa total demonstração de "vocês são importantes para mim e eu não sei lidar com isso de maneira esportiva". Claro que entre argentinos e brasileiros anti-Argentina havia também um grupo de bósnios e de brasileiros pró-futebol. Todos eles devem ter se divertido com a partida: seja pelo bom nível do jogo, seja pela surpreendente atuação da Bósnia, que se mostrou um time sólido.
Foi um confronto que começou de maneira atípica, pois logo na primeira bola que a Argentina colocou na área bósnia, uma infelicidade do defensor Kolasinac abriu o placar em gol contra. Um baque grande para uma seleção que estreava em mundiais. Só que os europeus que se livraram de uma guerra sangrenta em nome da independência da nação são fortes o suficiente para administrar uma situação como essa. E o próprio Kolasinac mostrou-se elemento importante, com ótima atuação na linha de defesa. Ousada na proposta de pressionar a Argentina, a Bósnia & Herzegovina teve as maiores chances de gol no primeiro tempo, dando bastante trabalho para o argentino mais efetivo naquela altura do jogo - o goleiro Romero.
Na volta do intervalo, a Argentina veio com Gago e Higuaín nos lugares de Campagnaro e Máxi Rodríguez, conseguindo ganhar dinamismo no ataque e, o mais importante, dar relevo à atuação de Lionel Messi. Messi foi encontrando espaços em campo e gente com quem trabalhar a bola. Num dos seus momentos de genialidade, tabelou com Higuaín, limpou o lance e chutou sem qualquer chance de defesa para o bom goleiro Begovic: 2a0 no placar.
Foi então que os espaços apareceram ainda mais e as oportunidades, idem. Safet Susic mexeu três vezes na equipe européia e a tornou mais ofensiva do que nunca. O preço que isso cobra é um sistema defensivo exposto a um adversário que contra-atacava com jogadores da qualidade de Messi, Di María, Agüero e Higuaín. Só que a valente defesa da Bósnia & Herzegovina resistiu. Lá na frente, o camisa nove Ibisevic, que entrara no segundo tempo, aproveitou a oportunidade e descontou.
A partir dali, a Argentina viu sua vitória sendo colocada em risco a ponto de Sabella aumentar a marcação no meio-campo para garantir o resultado. Conseguiu garantir mais que isso: também estava assegurada a alegria de uma torcida apaixonada. Os modinhas ficaram aos gritos pseudo-patrióticos de que têm amor e orgulho de nascerem no país que nasceram, embora não estivessem se manifestando nas ruas - essa tarefa ficou com brasileiros que não precisam desse tipo de cântico para se auto-afirmarem cidadãos de uma nação. Talvez fosse bom aos brasileiros anti-Argentina que torceram pela Bósnia & Herzegovina conversar com argentinos e bósnios sobre o que é o patriotismo na opinião dessas pessoas. É possível que seja um passo na direção de começar a cantar alguma coisa diferente no interior de um estádio.
Imune a tudo isso, o talento de Messi foi exaltado de todos os lados. Em sua primeira aparição num dos estádios mais místicos do planeta, não houve quem não se rendesse à sua capacidade de encantar. Esse sim dá orgulho e amor de ver jogar. Que sua participação na Copa seja longa, gênio!
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