A capital do Amazonas recebeu em seu estádio um antigo e um recente colonizador. Se Portugal atravessou o Atlântico séculos atrás e deu início a uma exploração sem precedentes em solo brasileiro, os Estados Unidos fazem hoje o imperialismo que chega inclusive ao cúmulo de sugerir a internacionalização da Amazônia. O futebol, como fenômeno social que perpassa culturas, recebeu essas duas nações para um jogo de Copa do Mundo. Não pode arrancar pau-brasil, não pode abrir multinacional. Deve-se é jogar bola. Felizmente, portugueses e estadunidenses jogaram bola. Não tenho dúvidas de que o público presente no estádio se deliciou com diversos momentos da partida, que acabou tendo um desfecho amargo para um e de alívio para outros. Outros, sim, no plural. É que o gol lusitano no último badalar do sino decretou um empate que evitou a classificação dos EUA e deu sobrevida tanto para Portugal quanto para Gana, além de manter a Alemanha na liderança. Promessa de uma última rodada eletrizante nesse ótimo grupo G.
Logo nos primeiros minutos, uma linda jogada individual de Cristiano Ronaldo pelo flanco esquerdo levantou a galera no estádio em Manaus e na praia no Rio de Janeiro. O lance não deu em nada de especial, mas teve uma conotação artística que embeleza a Copa - a habilidade faz bem para os olhos de quem vê. Quando aplicada pelo coletivo, então... Se bem que aí fugimos um pouco do perfil de Cristiano... Aos quatro minutos, pintou o primeiro gol português: após escanteio pela esquerda, a defesa dos Estados Unidos não conseguiu afastar o perigo da área e Nani ficou de frente com Howard, abrindo o placar.
Para quem estreou levando quatro dos alemães, um gol com quatro minutos era uma boa esperança de gerar uma reviravolta no destino. Só que a equipe estadunidense mostrou-se superior em organização e, quase naturalmente, foi dominando as ações entre as intermediárias. Não conseguiu traduzir a superioridade em gols, mas conseguiu algo mais importante: voltar ainda melhor para o segundo tempo. Beckerman, Jones e Bradley formavam uma montanha rochosa em frente à zaga, com Dempsey sendo o grande articulador e referência nas jogadas ofensivas. Aliás, que Copa sensacional faz Clint Dempsey! Mesmo com uma fratura no nariz, o camisa oito esbanja raça e participa do jogo com uma qualidade de inspirar qualquer um que o assista. Aos dezoito, Jones, outro com atuação maiúscula, acertou lindo chute de fora da área e colocou a bola na gaveta de Beto, que teve a visão ingrata porém privilegiada de assistir à linda finalização na condição de goleiro. Não havia nada a fazer a não ser ver a bola entrar. Eu, que não sou goleiro de Portugal, pude fazer algo mais: bater palmas para Jones.
A solidez do time montado por Klinsmann foi fazendo desmoronar qualquer intenção da equipe de Paulo Bento somar três pontos na partida. O clima nas arquibancadas era de grande confiança por parte das dezenas de milhares de estadunidenses presentes. E a festa foi às alturas quando os EUA viraram o jogo. E viraram por intermédio de seu maestro: Dempsey. Em jogada intensa na área lusitana, Zusi pegou a sobra de bola de Bradley e serviu o camisa oito, que com a barriga completou para a rede. Assistência de quem tem visão e frieza. Conclusão de quem tem presença e oportunismo. Virada de quem merece a vitória.
Por alguma razão que prefiro nem tentar entender, Klinsmann trocou Dempsey, o autor do gol da virada e um dos melhores em campo, por Wondolowski. E ainda trocou Zusi, o autor da assistência para o gol da virada, por Gonzalez. E a bola puniu. Portugal, no quinto minuto dos acréscimos, contou com um cruzamento de Cristiano e um cabeceio de Silvestre Varela (que veio do banco, substituindo Raúl Meireles) para empatar o jogo.
Quando Dempsey deixou o campo, os EUA estavam classificados e a um empate de garantir o primeiro lugar no grupo. Na próxima semana, Dempsey deverá estar em campo para buscar a classificação, que só será em primeiro lugar caso sua equipe consiga vencer a Alemanha de Löw. Löw, auiliar-técnico de Klinsmann em 2002. O empate entre eles classificaria ambos. Gana e Portugal estarão de olho, pois jogam a sobrevivência no mesmo horário na busca pela segunda colocação e a conseqüente classificação.
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