A ótima Eurocopa 2020 chegou ao final. Infelizmente, a partida derradeira passou longe dos melhores momentos proporcionados pela competição. Resultado clássico de um confronto onde ambas as seleções que chegaram à decisão trilharam seus caminhos a partir, prioritariamente, da solidez defensiva. Enquanto a Itália só foi ser finalmente vazada pela primeira vez no torneio durante a prorrogação na fase de oitavas de final, a Inglaterra resistiu ainda mais tempo, tendo sofrido seu primeiro gol somente na fase semifinal.
E, na grande decisão em Wembley, um gol de Luke Shaw logo no segundo minuto de jogo até poderia "abrir" a partida. Só que não. Nem a Inglaterra apresentava um sede de atacar como tampouco a Itália criava o suficiente para ameaçar a vitória parcial inglesa.
Ao falarmos dessa Eurocopa como um todo e dessa final em particular, precisamos lembrar de muitos nomes que realizaram excelentes participações defensivamente. A começar pelo capitão italiano Giorgio Chellini, um gigante que se tornou ainda maior: caso se confirme a aposentadoria da seleção italiana, Chiellini terá terminado de forma memorável, se eternizando com a camisa azul. Outro defensor da Itália que foi fundamental nessa solidez defensiva? Leonardo Bonucci. Em alguns momentos, chega a ser difícil separar Bonucci de Chiellini. Os dois, que esbanjam na seleção o mesmo entrosamento visto na Juventus, formam um verdadeira fortaleza no miolo de zaga. Pelo lado inglês, Harry Maguire foi imenso. Firme em toda e qualquer dividida e quase sempre soberano no jogo aéreo, foi uma figura de suma importância na última linha. Kyle Walker, ora atuando como lateral, ora mais fixo na zaga, foi outro que teve uma regularidade digna de admiração. E o que dizer dos volantes Declan Rice e, principalmente, Kalvin Phillips? Baita Euro de ambos. Phillips é daqueles caras que circulam pelo gramado dando aula silenciosa de posicionamento. É muito provável que haja aí o dedo do mestre Marcelo Bielsa, seu técnico no Leeds United.
Então, com todos esses elementos, não foi surpresa que a final seria econômica na quantidade de gols. Mas aquilo que realmente me causa decepção não é a falta de bola na rede - é pensar que jogadores como o italiano Manuel Locatelli e os ingleses Jack Grealish, Bukayo Saka, Jadon Sancho, Marcus Rashford e Phil Foden (esse nem entrou em campo na final!) tenham sido sub-utilizados de tal forma por seus treinadores. Locatelli fez uma ótima Euro na fase de grupos e estranhamente virou reserva nos confrontos eliminatórios. Na decisão em Wembley, Roberto Mancini só foi colocá-lo no jogo durante a prorrogação. Mesmo caso de Grealish, que entrou três minutos mais tarde. E o que dizer de Rashford e Sancho, lançados ao gramado no décimo quinto minuto do segundo tempo da prorrogação? Um deboche de Gareth Southgate, só pode.
A partida teve um gol para cada lado, ambos após cruzamentos para a área. Pela Inglaterra, logo no início, Luke Shaw completou de primeira a bola levantada por Kieran Trippier, numa bela finalização para abrir a contagem em Londres. Os italianos, por sua vez, só foram empatar aos vinte e um minutos no segundo tempo, quando um bate-rebate após cobrança de escanteio terminou com Bonucci empurrando para a rede.
De grandes jogadas tramadas, com tabelas e ultrapassagens, há muito pouco digno de nota. Raheem Sterling fez possivelmente sua pior atuação na competição. Harry Kane, bastante participativo na criação de jogadas, raras vezes foi visto em condição de finalizar. Mason Mount pouco foi capaz de produzir. E, mesmo com tudo isso, Southgate se recusava a colocar seus jogadores com maior capacidade de construção ofensiva. Lamentável essa postura de um treinador que mostra grande aptidão em dar consistência à sua seleção mas que apresenta um medo danado de soltar o freio de mão de um carro com motor possante.
No lado da Itália, uma atuação bastante interessante de Federico Chiesa, seguramente um dos melhores homens de frente nessa Euro 2020. Jogador que tem uma objetividade admirável, sempre pegando na bola de forma a encaminhar o time mais adiante, aproximando do gol. Às vezes comete erros na execução de passes, cruzamentos e chutes, mas é de fundamental importância para verticalizar as ações e colocar pressão na defesa oponente.
O confronto acabou indo para os pênaltis. Após Domenico Berardi e Harry Kane converterem, Jordan Pickford teve a felicidade de defender a cobrança de Andrea Belotti. Harry Maguire, na sequência, cobrou com força e tirou do ar a câmera localizada no ângulo esquerdo, estufando a rede com gosto.
Mas a vantagem inglesa durou pouco. Durou praticamente nada. Após Bonucci converter sua cobrança, Rashford mandou caprichosamente no pé da trave direita. Lembrou bastante a cobrança de Sergio Busquets na semifinal da Espanha com a própria Itália - tanto pelo chute na trave direita quanto pelo fato de Gianluigi Donnarumma saltar para o lado oposto.
Logo depois, Federico Bernardeschi converteu para a Itália. E o castigo de Southgate teve outro capítulo: Sancho, que entrara junto com Rashford no finalzinho da prorrogação, também desperdiçou a cobrança.
Coube ao ítalo-brasileiro Jorginho, cobrador oficial de pênaltis na Azzurra, se encarregar do que seria a cobrança do título. Seria. Porque Pickford, heroico, foi buscar o chute rasteiro no canto direito. E por falar em heroi, o rótulo definitivo coube a Donnarumma, que defendeu a cobrança de Saka no canto esquerdo e garantiu o troféu à Itália.
Italianos correm para saudar Gianluigi Donnarumma após defesa do pênalti cobrado por Bukayo Saka. Em contraste, Jordan Pickford, que também pegou duas cobranças, observa desolado. Imagem extraída de Notícias de Coimbra. |
Foi uma final onde nenhum dos treinadores merecia ganhar. Seja pela covardia do Southgate, seja pela escassez de variações do Mancini. Mas, olhando para dentro de campo e vendo personagens como Chiellini e Bonucci, não há como negar que a taça ficou em boas mãos.
Seleção da Eurocopa 2020
Eis os titulares e reservas na concepção de alguém que assistiu todos os jogos na primeira rodada, todos os jogos na segunda rodada, metade das partidas na terceira rodada e todos os confrontos das oitavas de final em diante.
Titulares
Goleiro: Yann Sommer (Suíça)
Lateral direito: Denzel Dumfries (Holanda)
Zagueiro: Leonardo Bonucci (Itália)
Zagueiro: Giorgio Chiellini (Itália)
Lateral esquerdo: Luke Shaw (Inglaterra)
Volante: Kalvin Phillips (Inglaterra)
Meio-campista: Paul Pogba (França)
Meio-campista: Daniel Olmo (Espanha)
Meio-campista: Raheem Sterling (Inglaterra)
Atacante: Federico Chiesa (Itália)
Atacante: Patrik Schick (República Tcheca)
Técnico: Kasper Hjulmand (Dinamarca)
Reservas
Goleiro: Gianluigi Donnarumma (Itália)
Lateral direito: Kyle Walker (Inglaterra)
Zagueiro: Harry Maguire (Inglaterra)
Zagueiro: Simon Kjær (Dinamarca)
Lateral esquerdo: Leonardo Spinazzola (Itália)
Volante: Sergio Busquets (Espanha)
Meio-campista: Georginio Wijnaldum (Holanda)
Meio-campista: Kevin De Bruyne (Bélgica)
Meio-campista: Pedri (Espanha)
Atacante: Harry Kane (Inglaterra)
Atacante: Romelu Lukaku (Bélgica)
Técnico: Franco Foda (Áustria)
Menção honrosa
Goleiro: Kasper Schmeichel (Dinamarca) e Jordan Pickford (Inglaterra)
Lateral direito: Joshua Kimmich (Alemanha) e César Azpilicueta (Espanha)
Zagueiro: John Stones (Inglaterra) e Mats Hummels (Alemanha)
Zagueiro: Andreas Christensen (Dinamarca) e Thomas Vermaelen (Bélgica)
Lateral esquerdo: Joakim Mæhle (Dinamarca) e Robin Gosens (Alemanha)
Volante: Marco Verratti (Itália) e N`Golo Kanté (França)
Meio-campista: Luka Modric (Croácia) e Thomas Delaney (Dinamarca)
Meio-campista: Axel Witsel (Bélgica) e Jorginho (Itália)
Meio-campista: Granit Xhaka (Suíça) e Frenkie De Jong (Holanda)
Atacante: Haris Seferović (Suíça) e Cristiano Ronaldo (Portugal)
Atacante: Kylian Mbappé (França) e Kasper Dolberg (Dinamarca)
Técnico: Luis Enrique (Espanha) e Vladimir Petković (Suíça)