O time que encanta em qualquer território por onde passa desembarcou em Wembley e proporcionou aos amantes do futebol bem jogado mais um espetáculo. O adversário não era um time qualquer, mas o Manchester United, invicto na competição continental e, a exemplo dos barcelonistas, buscando o tetracampeonato europeu. E foi bacana a exibição dos comandados de Alex Ferguson: partindo para o ataque, o time impunha um ritmo veloz na tentativa de superar o bloqueio catalão, muito bem postado mesmo com o desfalque de Carles Puyol (o francês Eric Abidal, figura heróica e emblemática na decisão e na temporada, atuou como titular).
O entrosamento de Wayne Rooney com o mexicano Javier "Chicharito" Hernández causava dificuldades à dupla de zaga composta por Gerard Piqué Bernabéu e pelo argentino Javier Alejandro Mascherano, que mesmo assim raramente se deixavam ser envolvidos. Quando eventualmente ocorresse um vacilo qualquer dos defensores, o goleiro Victor Valdés mostrava prontidão para intervir e afastar o perigo.
Crescendo na partida e começando a mostrar quem é que manda quando o assunto é posse de bola (aliás, Barcelona e Manchester foram os times que mais tiveram a bola consigo ao longo da competição), os comandados de Josep "Pep" Guardiola foram chegando ao ataque através de um toque de bola altamente característico dessa fantástica equipe. Aos 15 minutos, David Villa abriu para Xavi Hernández na direita e o capitão cruzou rasteiro acionando Pedro Rodríguez, que se antecipou à marcação e finalizou à esquerda. Aos 19 quem deu o remate foi Villa, que pouco antes da meia-lua mandou a bola perto da trave esquerda. No minuto seguinte Villa acertou a pontaria, mas não colocou a força necessária para superar o goleiro holandês Edwin van der Sar, em sua partida de despedida no futebol profissional (já deixa saudades, que beleza de arqueiro!).
A arte já estava reinando pelo gramado de Wembley, ritmo da partida era agradável mas faltava o gol. Faltava. Aos 27 minutos, Xavi deu belo passe de trivela encontrando Pedro e o atacante foi certeiro na seqüência do lance, chutando rasteiro e abrindo o placar na Inglaterra, para delírio de uma torcida que fazia parecer que o jogo ocorria na Catalunha.
Mas o Manchester também tinha os seus recursos, e contou com suas duas figuras mais determinantes para empatar a partida: após tabelinha ligeira entre Rooney e Giggs, o "Shrek" finalizou o lance com um chute muito bem colocado no canto direito. Cabe dizer que havia impedimento no lance, não flagrado pela arbitragem.
O jogo rumou para o intervalo com o Barcelona tendo mais a bola mas somente conseguindo por mais uma vez chegar perto do desempate: aos 43 minutos, o genial argentino Lionel Messi escapou do sérvio Nemanja Vidic com uma caneta arrebatadora, abriu com Villa na direita e quase conseguiu completar quando o atacante camisa 7 buscou a devolução.
Ambos os times voltaram idênticos para o segundo tempo, tanto na formação quanto na busca pelo gol. Diz um ditado que "quem procura, acha". E quem tem Messi, acha mais ainda: aos oito minutos, o melhor jogador da atualidade recebeu passe de Andrés Iniesta e, de fora da área, chutou com firmeza. Não foi um chute no canto, mas direcionado da maneira exata para que a bola não batesse em Vidic e não fosse alcançada por van der Sar. 2a1 no placar, o primeiro gol de Messi em solo inglês.
Os espaços apareciam cada vez mais, proporcionando ao Barcelona melhores condições de trabalhar a bola e a Lionel Messi melhores condições de mostrar o seu talento aparentemente sem fim. Aos 16, Messi parou em defesa de van der Sar. Aos 19, quase marcou de calcanhar. E aos 23, após atrair a marcação fazendo fila em quem quisesse tirar a bola do craque, um bate-rebate sobrou para David Villa. E dali mesmo, da meia-lua, a bola chutada por Villa foi para a gaveta esquerda. Golaço. Isso tudo pouco depois de Ferguson trocar o brasileiro Fábio (lesionado) pelo português Nani, numa espécie de "não digam que não tentei".
Tentou novamente aos 31 minutos colocando o experiente Paul Scholes no lugar de Michael Carrick. Porém, sem efeito. Também pudera: o Barça seguia desfilando todo o seu talento e fazendo parecer que o United era uma "equipe comum", facilmente colocada na roda. E no carrossel de Guardiola cabia mais gente pra participar do baile: entraram o malinês Seydou Keita, além de Puyol e do holandês Ibrahim Afellay. De resto, foi esperar o apito final do árbitro húngaro Viktor Kassai, que veio logo após um chute longo de van der Sar. Atrevo-me a dizer que nesse sábado, 28 de maio de 2011, o futebol dormiu feliz. E acordará melhor ainda: o título da mais cobiçada competição clubística européia não poderia ter parado em melhores mãos. Literalmente, pois quem levantou a taça de campeão com a braçadeira de capitão foi ele, Eric Abidal. O desfecho perfeito para um time perfeito. E, se o Barcelona é mais que um clube, essa conquista foi mais que um título. Foi um marco para o futebol mundial: o de que arte e resultado andam juntos, em plena harmonia. E dessa união só pode surgir alegria.
São muitas imagens para se recordar. Nessas duas que encerram a postagem, Josep Guardiola é saudado pelo elenco e Eric Abidal ergue o caneco da Liga dos Campeões. Personagens que por talento e superação estão eternizados na história do futebol mundial.
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