quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Burkina Faz O Futebol Mais Feliz: Merecido Lugar Na Final

Senhoras e senhores, meninos e meninas de qualquer idade, pela primeira vez na história, a seleção de Burkina Faso disputará uma final na Copa Africana de Nações. E o que é melhor: jogando um futebol corajoso, sem temer um adversário mais forte tecnicamente e mais experiente. Gana, que tem oito finais continentais nas costas, acabou caindo para os burquinenses.

O jogo foi interessantíssimo. Duvido que qualquer amistoso internacional nessa data FIFA tenha proporcionado um duelo mais emocionante que esse. Logo com seis minutos, um lance exemplar de fair play, daqueles dignos de ilustrar campanhas publicitárias futebolísticas, esportivas e humanitárias em geral: Panandétiguiri foi lançado na esquerda e, perto da linha final, viu o adversário que o acompanhava cair no gramado. Era Pantsil, que se contorceu de dor sentindo lesão. O lateral-esquerdo burquinense, que poderia tranquilamente cruzar a bola pra área ou partir com ela dominada, fez o que se espera de um jogador, de um atleta, de um homem. O que se espera mas quase nunca se vê. Mandou a bola imediatamente pela lateral para que fosse feito atendimento ao adversário de jogo, ao companheiro de profissão, ao irmão por que não?

Pantsil não teve condições de voltar para a partida e, aborrecido, saiu na maca. Quem entrou em seu lugar foi Asante, que atuou como meio-campista - Afful foi deslocado para a lateral-direita pelo treinador James Appiah. Pouco depois, com Burkina Faso no ataque, Jonathan Pitroipa foi atingido por John Boye. Entendo como pênalti, mas o árbitro tunisiano Slim Jedidi, não. Só que, minutos depois, quando lance similar aconteceu na outra grande área, foi assinalada penalidade máxima para Gana, alegando-se que o toque de Panandétiguiri (aquele mesmo do jogo limpo) foi faltoso. Bem, se foi, então o que Boye havia feito também caracterizava pênalti. Faltou critério para Slim Jedidi.

Wakaso Mubarak colocou a bola no canto esquerdo e marcou seu quarto gol no torneio, igualando-se ao nigeriano Emenike no topo da lista de goleadores. Gana não se abdicou completamente de atacar, mas, em vantagem no placar, diminuiu sua objetividade quando com a posse de bola, o que tornou o jogo ligeiramente mais burocrático, embora jamais desinteressante. Até porque chances de gol pintavam para os dois lados, com Bancé e Gyan quase sempre bem posicionados entre os zagueiros adversários.

Veio o segundo tempo e a partida melhorou. Um cabeceio de Bancé após escanteio pela esquerda ficou tão perto de entrar que a rede balançou. Balançou porque o goleiro Dauda defendeu praticamente em cima da linha, prensando a bola no travessão e encostando a mão na rede. Em resposta, Gyan carimbou a trave esquerda em finalização de primeira após rápida jogada pelo lado esquerdo. E, de tanto tentar, Bancé conseguiu o que queria: após erro de saída de jogo ganês, Kaboré acionou Bancé e o centroavante chutou praticamente no meio do gol, com Dauda posicionado mais à direita e não conseguindo realizar a defesa. Tudo igual no placar.

Nakoulma, que entrou no decorrer do jogo com Togo e recebeu elogios por aqui, foi titular e, se errou bastante no primeiro tempo, subiu visivelmente de produção após o intervalo. Mesmo no horrendo gramado de Nelspruit, ele propunha tabelas em velocidade e jogadas de infiltração mantendo a bola pelo chão. Aliás, é essa a proposta de jogo do belga Paul Put: um jogo de toques rasteiros e objetivos. Bacana de se ver, principalmente numa equipe que não prima pela técnica, contando com jogadores de qualidade, sim, mas que se destacam principalmente pela força do conjunto. E olha que Burkina continua desfalcada do hábil Alain Traoré, possivelmente o jogador de maior talento no elenco.

Mas nem tudo são flores. Koulibaly, por exemplo, desferiu um pontapé em Gyan digno de cartão vermelho. Foi punido com um mísero cartão amarelo. Mais tarde, se fez reincidente, acertando novamente o mesmo Gyan numa disputa pelo alto. O jogo foi para a prorrogação, a terceira no torneio e a segunda envolvendo os burquinenses, que passaram por Togo com um gol aos 104'.

E, exatamente aos 104 minutos, Burkina Faso marcou um golaço através de Nakoulma, que encobriu o goleiro Dauda. Mas a arbitragem anulou, alegando falta num lance onde quem agarrou foi agarrado e vice-versa. Critérios dúbios, sempre favorecendo Gana. Mas a decisão mais estúpida do árbitro Slim Jedidi estava por vir. Aos 115' (isto é, aos dez do segundo tempo da prorrogação), um pênalti claro cometido em Pitroipa. Mais claro que qualquer um que não tenha sido dado e mais claro que o único que foi assinalado. Mas, Jedidi deu... simulação. E expulsou Pitroipa pelo segundo cartão amarelo. Lamentável.

Mas a prorrogação não teve apenas erros grosseiros da arbitragem. Houve belo chute de Koulibaly (dessa vez na bola, não no Gyan) defendido por Dauda. Houve uma finalização de Bancé que foi salva por Afful de maneira impressionante, praticamente em cima da linha final. Houve também um cabeceio de Gyan que passou perto da trave esquerda. A chance derradeira foi de Burkina e de Bancé: aos 120', o remate do camisa quinze desviou em Asamoah e passou perto do travessão.

Ou seja, um jogão. Um jogo que poderia - e até mesmo deveria - ter sido definido na prorrogação. Burkina Faso, flagrantemente superior, precisou definir sua situação nos pênaltis. Pênaltis que lhe foram negados nas duas horas de jogo. Mas nada escapa à justiça dos deuses do futebol. Logo na primeira cobrança, Vorsah mandou para fora. Na terceira série, Koulibaly - aquele mesmo das agressões a Gyan - desperdiçou sua cobrança, deixando tudo empatado em 2a2.

Veio a quarta série de cobranças. E veja só o capricho dos deuses. Clottey, que entrou no lugar de Wakaso (aquele que cobrou e converteu o único pênalti assinalado no tempo regulamentar), mandou para fora, a exemplo do que fizera Vorsah. Era a vez de Bancé colocar Burkina em vantagem. E assim se fez: de cavadinha.

E assim foi "narrada" a cobrança derradeira, de Badu para defesa de Diakité...


Burkina Faso e Nigéria, que estrearam na competição empatando em 1a1, vão fechar a Copa das Nações Africanas com chave-de-ouro. Tem tudo para ser um jogo bem melhor do que aquele pela fase de grupos. Espero que o Soccer City fique pequeno e que vença a seleção que apresentar um futebol mais interessante, mais ofensivo. O Brasil espera a campeã na Copa das Confederações 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário