Itália e Croácia fizeram jogo equilibrado no estádio Miejski, na
cidade polonesa de Poznan, e terminaram empatados no placar, mantendo o
grupo C na Eurocopa 2012 sem definições de equipes classificadas.
Apesar
de ter feito um bom primeiro tempo, de ter aberto o placar com o
primeiro gol de falta na Euro 2012 (cobrança certeira de Andrea Pirlo),
de ter tido mais a bola consigo (52%) e de ter chutado mais vezes
(15a10), a Itália por pouco não levou a virada no segundo tempo, tendo
sido pressionada pelo forte ataque croata - Mario Mandzukic, atuor do
gol de empate, igualou-se no topo da lista de goleadores com os mesmos
três gols que o russo Dzagoev e o alemão Mario Gómez.
Na última rodada, italianos e croatas buscarão a classificação diante de irlandeses e espanhóis, respectivamente.
O jogo
Impulsionada
pelas boas participações de Claudio Marchisio e Antonio Cassano, guiada
pelo maestro Pirlo e protegida por um sistema defensivo sólido, a
seleção italiana teve bom início de partida, se sobressaindo
territorialmente. Aos dois minutos, Mario Balotelli recebeu de Emanuele
Giaccherini, girou sendo vigiado por três adversários e chutou firme,
mandando perto da trave direita, na primeira finalização do jogo. Aos
seis minutos, Cassano cruzou da esquerda e a bola só não chegou até
Marchisio porque Ivan Perisic cortou antes. Aos dez minutos, Balotelli
recebeu e chutou em cima da marcação - na seqüência, Marchisio rematou
bonito e a bola passou rente ao travessão. Com quinze minutos, Cassano
recebeu pela direita e deu ótimo passe para Balotelli, que chutou da
meia-lua e, no centro do gol, Stipe Pletikosa rebateu.
A
Croácia tinha dificuldades de criar jogadas de ataque e a bola pouco
chegava em boas condições para a dupla formada por Nikica Jelavic e
Mandzukic, que muito haviam sido acionados na estréia diante da Irlanda. De
toda forma, aos dezoito minutos pintou um cruzamento vindo da direita,
Giorgio Chielini e Jelavic caíram na área em lance que muito me pareceu
pênalti, mas o árbitro inglês Howard Webb acabou apitando falta para a
Itália. No minuto seguinte, Darijo Srna cruzou da direita e Jelavic não
alcançou no primeiro pau, com a bola sendo pega por Ginaluigi Buffon -
um desvio ali provavelmente resultaria em gol.
Após
aquelas duas chegadas croatas, a Itália demorou nove minutos para voltar
a ter aproximação da meta adversária. Aos vinte e oito, Cassano fez
bela jogada individual ao passar entre dois adversários mas demorou para
decidir se chutava ou se passava a bola, sendo desarmado por Gordon
Schildenfeld, que recuperou-se no lance. Aos trinta e dois, Pirlo passou
para Marchisio e deste saiu passe espetacular, de primeira, acionando
Cassano dentro da área pelo lado direito - o atacante chutou cruzado e a
bola passou à direita. Aos trinta e três, Balotelli chutou de fora da
área e mandou à direita.
A pressão italiana só fazia
crescer, dando sinais de que a equipe se aproximava do gol inaugural.
Aos trinta e seis, Marchisio recebeu na área ótimo passe de Cassano,
chutou e Pletikosa rebateu - o rebote voltou em Marchisio, que fintou
Srna para a esquerda e chutou novamente, parando em sensacional nova
defesa de Pletikosa. Aos trinta e oito, saiu o gol. Tudo começou quando
Ivan Rakitic cometeu falta em Balotelli a alguns passos da área, pelo
lado esquerdo de ataque italiano. Terminou com uma cobrança certeira de
Pirlo, colocando a bola entre as cabeças de Rakitic e de Ognjen
Vukojevic, levando a bola até o canto direito do gol. 1a0 Itália, no
primeiro gol de falta na Euro 2012, com o selo Pirlo de qualidade.
Aos quarenta e dois minutos, Pirlo esbanjou precisão em outro
lance de bola parada, dessa vez cobrando escanteio pela direita sob
medida para Cassano, que, posicionado no primeiro pau, cabeceou perto
travessão. Em contra-ataque, a Croácia teve chance de alcançar o gol de
empate antes do intervalo: aos quarenta e cinco, Rakitic carregou a bola
em velocidade, deu para Mandzukic na direita e o chute do atacante foi
defendido por Buffon.
As equipes voltaram para o segundo tempo com os mesmos jogadores,
mas logo foi percebida uma mudança de atitude nos croatas, que rapidamente
estabeleceram uma marcação mais adiantada e pressionaram os italianos.
Com um minuto, Luka Modric passou por Daniele de Rossi e chutou rasteiro
no canto direito - Buffon fez a defesa. Aos três, Modric chutou com
força de fora da área e a bola passou por cima do travessão, levando
perigo. Dois minutos depois, foi a vez de Leonardo Bonucci tentar de
fora da área: o chute do defensor italiano desviou em Perisic e enganou
Pletikosa, saindo à esquerda.
Os alas italianos Christian Maggio e Giaccherini pouco apareciam,
e o volante Thiago Motta menos ainda, dando a entender que alguma coisa
não ia bem no sistema tático proposto por Cesare Prandelli, talvez
acomodado pelo fato de o resultado lhe satisfazer. Aos onze minutos,
Motta agarrou Jelavic na área instantes antes de cobrança de escanteio
para a Croácia e Webb deu cartão amarelo para o italiano - se o agarrão
fosse cometido após a cobrança ter sido efetuada, será que o árbitro
apitaria a infração? Aos catorze, Srna saltou distribuindo cotovelo na
nuca de Motta, em lance de expulsão onde não foi visto nenhum cartão.
Aos quinze, Balotelli chutou de fora da área com força e mandou por
cima. Aos dezessete minutos, Prandelli trocou Motta por Riccardo
Montolivo, naquela que era a primeira substituição no jogo e que dava
maior qualidade na saída de bola italiana.
Aos vinte minutos, Modric usou o braço direito para dominar a bola e foi advertido verbalmente por Webb, que disse algo como 'essa é a segunda vez, chega' (foi possível ver o árbitro inglês mostrar o número dois e dizer "stop"
ao jogador do Tottenham, lembrando Modric de que minutos atrás já
tivera tocado a bola com o braço). Aos vinte e dois, Slaven Bilic mexeu
pela primeira vez na Croácia, trocando Perisic por Danijel Pranjic.
Naquele mesmo minuto, um cruzamento da direta de ataque croata chegou na
pequena área italiana e Bonucci esbanjou frieza ao recuar de cabeça
para Buffon, mostrando confiança e entrosamento com o companheiro de
Juventus e de seleção.
Com cinco chutes no jogo (três deles para fora), Balotelli deixou
o campo aos vinte e quatro minutos, dando lugar ao também atacante
Antonio di Natale, autor do gol italiano na partida de estréia. E antes
que pudéssemos detectar qualquer efeito na alteração de jogadores, saiu o
gol de empate croata: aos vinte e seis, Ivan Strinic efetuou cruzamento
certeiro a partir do flanco esquerdo, Chielini acompanhou a trajetória
da bola sem conseguir alcançá-la na tentativa de cabeceio e a redonda
encontrou Mandzukic livre na área, com o atacante ajeitando e chutando
firme uma bola que ainda bateu na trave direita antes de estufar a rede,
sem dar possibilidade de defesa para Buffon. 1a1 no placar.
Sem conseguir penetrar na área oponente, a Itália tentou retomar a
vantagem no placar em chute de fora: aos trinta minutos, Montolivo
mandou pro gol e Pletikosa rebateu com as duas mãos. No minuto seguinte,
Pirlo tocou para Cassano, que deu enfiada de bola na corrida de Maggio,
sendo marcado impedimento em lance difícil de atestar a legalidade na
posição do ala-direito italiano - achei que o auxiliar acertou. Aos
trinta e quatro, Montolivo saltou colocando o cotovelo nas costas de
Mandzukic e recebeu cartão amarelo em agressão semelhante àquela de Srna
em Motta, que na ocasião passou impune.
Costumo relatar por aqui informações como os esquemas táticos, os
lances de ataque, jogadas violentas, decisões polêmicas da arbitragem,
jogadas de efeito. Mas esse parágrafo dedico especialmente a carrinho
sensacional, digno de marcar presença no texto que conta como foi a
partida entre Itália e Croácia. Aos trinta e seis minutos, a Itália
preparava saída em velocidade pelo lado esquerdo acionando Giaccherini
mas teve sua empreitada frustrada quando Rakitic deslizou na superfície
verde e desarmou o ala italiano, de forma limpa e na bola, mostrando um
tempo perfeito na leitura do lance. Depois, o mesmo Rakitic não foi tão
preciso no carrinho dado em Chielini e cometeu falta - Webb limitou-se a
apitar a falta e sorrir para Rakitic, como quem diz: 'tudo bem, não vou te dar cartão porque você tem crédito quando o assunto é carrinho'.
Aos trinta e oito, teve vez a segunda substituição de Bilic e a
terceira de Prandelli: na Croácia, Jelavic deu lugar ao carioca de
nascimento Eduardo da Silva; na Itália, Sebastian Giovinco entrou no
lugar de Cassano, que caiu de produção após fazer ótimo primeiro tempo.
Dois minutos depois, o hábil Giovinco já mostrava disposição pelo lado
direito, sendo parado com falta por Schindenfeld, que recebeu cartão
amarelo após o empurrão no peito do camisa vinte italiano. Aos quarenta e
dois, foi a vez de Eduardo aparecer: ele recebeu no comando de ataque,
fez o pivô abrindo na direita, Srna cruzou e Chielini afastou de cabeça.
No minuto posterior, o auxiliar, que tantas decisões corretas havia
tomado ao longo do jogo, equivocou-se ao acusar impedimento em lance
onde Di Natale receberia livre partindo em direção ao gol, com
Schildenfeld dando condição. Inegável a dificuldade no lance, mas no dia
que a FIFA fizer uso do recurso tecnológico, jogadas como essa terão o
desfecho justo - o que não aconteceu na enfiada de bola para Di Natale,
infelizmente.
A Croácia pareceu ter encontrado uma maneira
de jogar capaz de manter a Itália em dificuldades e a pressão se
intensificou. Aos quarenta e quatro, Eduardo abriu na esquerda e Strinic
chutou por cima. Aos quarenta e seis, Rakitic puxou contra-ataque em
velocidade, passou para Mandzukic e, no mano-a-mano com Chielini, o
defensor italiano acabou conseguindo levar a melhor, ganhando
tiro-de-meta na disputa de bola. Aos quarenta e sete, Mandzukic e
Montolivo disputaram a bola em velocidade e Webb deu falta para a
Itália. Aparentando esgotamento físico, Mandzukic deixou o campo aos
quarenta e nove minutos, dando lugar a Niko Kranjcar. Como o árbitro
havia prometido cinco minutos de acréscimo, pouca coisa podia ser feita a
partir daquele momento. Mas Buffon teve que trabalhar mais uma vez,
realizando defesa em dois tempos após chute de fora da área que tinha o
canto direito do gol como endereço.
Os croatas adotam uma
maneira de jogar rara no futebol de hoje em dia, fazendo uso de dois
centroavantes de presença marcante na área - mas nem por isso perdem em
mobilidade, notadamente pelos constantes deslocamentos de Mandzukic,
jogador muito interessante. O desafio diante da Espanha, na rodada
derradeira, será conseguir inibir as jogadas adversárias, o que me
parece que deverá ser feito através de um fortalecimento na proteção à
defesa - se jogadores como Srna, Modric, Perisic e Rakitic atuarem bem,
as chances de surpreender a melhor seleção do mundo crescem
significativamente, principalmente com a utlização de dois elementos de
ataque que já demonstraram capacidade de colocar a bola na rede.
Já a Itália, embora com jogadores de boa técnica em todos os
setores do campo, apresenta uma tendência em concentrar esforços na
solidificação de um sistema defensivo em detrimento de uma maior fluidez
ao ataque. Se jogar algo parecido com o visto na estréia e com o
apresentado no primeiro tempo desse jogo, os italianos têm totais
condições de passar pela Irlanda e avançar na competição, mas creio que
há muito a ser melhorado na seleção italiana, que não ficou muito longe
de sair derrotada nessas duas primeiras rodadas.
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