A torcida polonesa se manifestou, o time começou o jogo no ataque e os esforços na busca pela classificação duraram até o apito final do árbitro escocês Craig Thomson. Mas aqueles que sorriram no estádio Miejski, em Wroclaw, foram os tchecos: com uma vitória por 1a0 (gol marcado por Petr Jiracek, aos vinte e seis minutos do segundo tempo), a seleção comandada por Michal Bílek alcançou não somente a classificação para a fase quartas-de-final na Eurocopa 2012 como também terminou na condição de líder no equilibrado grupo A. Quem imaginaria a República Tcheca avançando em primeiro lugar após estrear no torneio sendo goleada por 4a1 para os russos? E por falar na Rússia, a seleção comandada pelo holandês Dick Advocaat, que começou tão bem a competição, acabou recebendo um "presente de grego" na última rodada, sendo derrotada pela Grécia (1a0, gol de Giorgos Karagounis nos acréscimos do primeiro tempo) e dando adeus à Euro. A Polônia terminou na lanterna, com dois pontos ganhos. Os gregos mais supersticiosos devem estar eufóricos: em 2004, a Grécia se classificou como segunda colocada no grupo A, que também contava com a Rússia...
O jogo
A exemplo da partida entre a co-anfitriã Ucrânia diante da França (disputada ontem, em Donetsk), choveu no campo de jogo. Só que São Pedro foi menos intenso dessa vez e não houve necessidade de interromper a partida. Partida essa que começou sob um domínio polonês que durou cerca de vinte minutos.
Com um minuto, Ludovic Obraniak cobrou falta pela direita e a bola acabou sobrando para Dariusz Dudka, que pegou de bicicleta e mandou à esquerda, acertando a rede pelo lado externo. Aos três, a República Tcheca teve chance: Gebre Selassie tirou a bola de Sebastian Boenisch, cruzou da direita, a bola desviou na marcação e Vaclav Pilar não conseguiu acertar a tentativa de finalização. Aos cinco, Obraniak voltou a cobrar falta pela direita e dessa vez tratou de mandar direto, acertando a rede pelo lado de fora, com Petr Cech apenas olhando a bola à sua esquerda.
Obraniak não era somente o homem dos lances de bola parada pela direita: aos sete minutos, pelo lado esquerdo e com bola rolando, o camisa dez polonês acionou Jakub Blaszczykowski em liberdade, mas Cech fechou o ângulo e bloqueou o remate. Aos nove minutos foi a vez de Robert Lewandowski aparecer para finalizar: o camisa nove recebeu acompanhado pela marcação de Selassie, trouxe para a esquerda e chutou torto, à direita, após vacilo tcheco na saída de bola. Aos doze, Obraniak cobrou falta pela direita, Michal Kadlec rebateu e Boenisch mandou à esquerda. Com catorze, Eugen Polanski recebeu na direita e chutou forte da entrada da área, mandando por cima sem nem olhar para o gol antes de bater na bola. Na marca de vinte e um minutos, Boenisch mostrou qualidade no chute de fora da área, pegando na bola com força e mandando com efeito, no canto direito - mas qualidade é o que não falta ao goleiro Cech, que foi até lá e abafou.
A chuva apertava e o jogo tcheco finalmente encaixava. Não sei o quanto cada coisa influenciou no andamento da partida, mas o fato é que a Polônia já não mais se sobressaía em campo. Aos trinta e três minutos, Selassie avançou pela direita, cruzou rasteiro e a defesa polonesa afastou. Aos trinta e seis, Jaroslav Plasil lançou Milan Baros que, em posição legal (Boenisch dava condição), esticou a perna mas não alcançou a bola. A República Tcheca era melhor naquele momento e seguia pressionando: aos trinta e oito, Pilar avançou pela esquerda, tocou atrás, Plasil ajeitou pro chute e, no momento da finalização, escorregou o pé de apoio na grama molhada, com o remate desviando em Damien Perquis e sendo defendido por Przemyslaw Tyton. Aos quarenta, Tomás Hübschman passou para Pilar, que ajeitou e chutou uma bola que bateu em seu companheiro Petr Jiracek - a rebatida retornou em Pilar, que chutou novamente e dessa vez a bola chegou ao gol, sendo defendida por Tyton. No minuto seguinte, a Polônia respondeu em jogada onde Lewandowski avançou pela esquerda, tocou de lado, Rafal Murawski chutou da meia-lua e a bola desviou em Kadlec, saindo à esquerda.
O segundo tempo teve início e as duas equipes buscaram o ataque. Também pudera: com a vitória parcial da Grécia sobre a Rússia, o empate já não servia mais para os tchecos, que até então estariam se classificando com o 0a0. Portanto, o jogo estava naquela altura envolvendo duas seleções que necessitavam da vitória para avançar na Euro. Aos dez minutos, Franciszek Smuda realizou a primeira substituição na Polônia e na partida: saiu Polanski (que recebera cartão amarelo por carrinho em Pilar, no início da etapa complementar) e entrou Kamil Grosicki.
Os tchecos pareciam ter encontrado uma forma de jogar capaz de conciliar investidas ao ataque com proteção à defesa, fato que foi fazendo sumir do jogo elementos outrora muito participativos na Polônia, tais como Obraniak, Blaszczykowski e Lewandowski. Aos dezessete minutos, Plasil cobrou falta pela direita e Selassie cabeceou por cima. Dois minutos depois, Plasil voltou a cobrar falta (dessa vez pelo outro lado), Tomás Sivok cabeceou pro chão e Tyton teve a felicidade de estar posicionado no melhor lugar possível, conseguindo manter o corpo em frente à bola e, na seqüência, tendo o reflexo e a agilidade de afastar o rebote de soco. Aos vinte e dois, Baros recebeu de Jiracek pela esquerda em rápido contra-ataque, trouxe para dentro e chutou rasteiro de fora da área uma bola que foi defendida mais uma vez por Tyton. De tanto tentar e criar chances, a República Tcheca chegou ao gol. E em jogada que muito lembrou a anterior: aos vinte e seis minutos, Baros passou para Jiracek em rápido contra-ataque pela esquerda, e Jiracek trouxe para dentro, cortando Marcin Wasilewski e chutando rasteiro, cruzado, no canto esquerdo. Isto é, os mesmos atores tchecos do contra-ataque anterior, apenas com as funções alternadas. 1a0 República Tcheca.
Smuda tratou de imediatamente após o gol mexer em sua equipe: aos vinte e sete, saíram Murawski e Obraniak, entraram Adrian Mierzejevswi e Pavel Brozek. Mas a República Tcheca seguia melhor, com Baros conseguindo infiltrar na defesa polonesa seguidas vezes. Aos vinte e nove, o hábil atacante tcheco faria o segundo gol, mas foi marcado impedimento. Aos trinta e um, Cech fez ligação direta com o ataque e Baros estava prestes a chegar na bola de frente com o gol, mas Tyton foi astuto e ligeiro, abandonando a área para afastar o perigo.
Ia se aproximando o final do jogo e aí Bílek foi mexendo na equipe, em trocas para lá de esquisitas. Primeiro, aos trinta e oito minutos, o treinador trocou Jiracek por Frantisek Rajtoral. Depois, aos quarenta e dois, tirou Pilar para colocar Jan Rezek. A República Tcheca mal conseguia trocar passes no campo de ataque e, aos quarenta e cinco, Bílek colocou Toma Peckhart no lugar de Baros. Foram indicados quatro minutos como acréscimo e tudo que os tchecos queriam era fazer o cronômetro correr. Mas a ausência dos três jogadores substituídos reduziram a capacidade da equipe em manter a bola consigo. Aos quarenta e oito, um susto: após levantamento na área a partir do flanco direito, a bola parecia tomar o rumo do gol, sendo desviada por Kadlec quando Cech já estava fora do lance. Na seqüência, a defesa tcheca conseguiu afastar.
O apito derradeiro colocou um ponto final na participação polonesa nessa Euro 2012, que só não volta para casa pelo fato de já estar nela. Classificados em primeiro lugar, a República Tcheca mostrou que não é uma seleção dependente do talento de Tomás Rosický, que não jogou diante dos poloneses. Jogadores como Jiracek, Pilar e Baros, além do ótimo goleiro Cech, podem ajudar a conduzir a equipe novamente a uma semifinal de Eurocopa, seguindo o exemplo de 2004. E por falar em 2004, a outra seleção classificada no grupo A - a Grécia - sonha reviver aquele ano glorioso. E é bom não duvidar de um sonho que se sonha junto...
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