É difícil saber por onde começar. Na verdade, nem sei. O fato é que a Espanha, jogo após jogo, confirma e aumenta a certeza de que se trata da seleção que melhor representa o bom futebol na atualidade. Nessa quinta-feira, diante de uma aplicada Irlanda, a equipe comandada por Vicente del Bosque voltou a encantar e, por esbarrar em diversas defesas do goleiro Shay Given, teve de se contentar com... uma goleada por 4a0.
O jogo
Mais uma vez, a cidade de Gdansk teve o privilégio de sediar um jogo da melhor seleção de futebol das últimas décadas. Uma seleção que começa com um bom goleiro, Iker Casillas, que com um minuto espalmou chute de Simon Cox no canto direito. Casillas trabalharia naquele momento para praticamente não mais ser visto em ação, tamanho o domínio que se estabeleceria.
Aos três minutos e vinte e dois segundos, o atacante Fernando Torres, um dos melhores do mundo na posição, marcou o gol mais rápido da Espanha na história das Eurocopas. Andrés Iniesta - que dispensa comentários, que jogador! - tocou para David Silva, que foi desarmado parcialmente pela parede irlandesa postada na grande área. Só que Torres estava presente e não titubeou: recuperou a bola tomando-a de Richard Dunne, passou por Stephen Ward e finalizou com firmeza, no alto, estufando a rede.
A contagem estava aberta, o que de certa maneira tira um peso diante de um adversário com preferência por se retrancar. Se isso facilitou ou não o jeito de jogar espanhol não saberei precisar, mas posso garantir que a Espanha seguiu focada em conservar seu estilo de jogo e a continuar criando ocasiões de gol. Aos seis minutos, Xabi Alonso perdeu a bola, recuperou e deu para Silva, que ajeitou pra perna esquerda e chutou - Given encaixou.
Se no lance anterior a jogada deu-se num perde-ganha de posse de bola protagonizado por Alonso, no minuto posterior a chegada foi de um jeito diferente: Xavi Hernández lançou com aquela precisão que o caracteriza, Álvaro Arbeloa escorou de cabeça próximo à linha final e Torres mandou à esquerda, quase marcando o segundo gol. Aos oito, Keith Andrews pegou sobra de bola afastada parcialmente por Gerard Piqué, dominou, chutou e a bola saiu à direita após desvio em Piqué.
E se Piqué naquele momento protegia a meta espanhola - tarefa que se espera de um zagueiro -, aos quinze minutos o defensor se apresentou no ataque, ganhou a disputa pela bola, chutou de fora e Given segurou. Aos vinte e dois minutos, Iniesta recebeu, avançou e chutou forte - Given espalmou.
Entre tantas trocas de passes, tantas aproximações do gol, tanto encantamento de uma seleção de técnica bem apurada, tática bem trabalhada e filosofia de jogo bem implementada, houve espaço também para o bizarro. Com vocês, o árbitro português Pedro Proença (o mesmo da final da Liga dos Campeões da Europa): aos trinta e quatro minutos, o cidadão do apito esteve posicionado em local impróprio e acabou derrubando Andrews, em lance onde a bola voltou à Espanha. Fosse Pedro Proença um jogador, era falta para cartão. No minuto seguinte, Robbie Keane derrubou Iniesta e recebeu cartão amarelo do outrora infrator árbitro do jogo.
A Irlanda teve mais uma jogada de ataque aos quarenta e quatro, quando Keane recebeu de Cox e teve o chute bloqueado em Piqué. Mas o irlandês que mais apareceria até o final do primeiro tempo seria aquele que veste luvas. Aos quarenta e um, Silva recebeu na meia-lua e entregou para Xavi, que ajeitou e buscou o canto esquerdo - Given defendeu. Dois minutos depois, a bola rolada na direita chegou até Arbeloa, que teve o chute desviado na marcação e rebatido por Given. Na seqüência, Xavi chutou e Dunne bloqueou. Aos quarenta e seis, no último ato pré-intervalo, Xavi cobrou uma falta sofrida por Silva (no lance, Glenn Whelan recebeu cartão amarelo) colocando a bola na área, Iniesta pegou a sobra e chutou bem, com Given espalmando por cima e salvando a pátria irlandesa mais uma vez.
No intervalo, Giovanni Trapattoni, o treinador italiano que comanda a Irlanda (mais velho treinador da história da Eurocopa), trocou Cox por Jonathan Walters. E se Given terminou o primeiro tempo tendo que mostrar serviço para evitar gols espanhóis, começou a etapa complementar da mesma forma. Aos dois minutos, a abertura na direita chegou até Arbeloa, que chutou à meia-altura e Given espalmou. Como não é toda hora que dá para realizar a defesa, aos três minutos saiu o segundo gol espanhol: Torres chutou da esquerda, Given rebateu pra frente, Silva recolheu a sobra, fintou Ward - que ficou estatelado na grama - e concluiu a jogada colocando a bola entre as pernas de Dunne, no rumo do canto direito. 2a0.
Aos oito minutos, Alonso recebeu cartão amarelo pela falta cometida em Walters, que fintara o volante. No minuto posterior, Xavi pegou bonito na bola e Given conseguiu dar ainda mais beleza ao lance ao levar os dedos da mão direta até o objeto esférico, impedindo o terceiro gol com uma linda intervenção. Aos doze, erro da arbitragem ao marcar impedimento de Torres em enfiada de bola onde Dunne dava condição ao atacante - de toda forma, Given realizaria a defesa (não que eu seja um vidente, até porque apostaria em gol de Torres, é que os dois deram continuidade ao lance mesmo).
É bom demais ver um atacante do nível de Fernando Torres esbanjando boa forma física. As jogadas acontecem com ainda mais naturalidade e o espetáculo fica mais bonito. Aos dezesseis, o camisa nove espanhol estava de costas para o gol e deu de calcanhar - a bola bateu em Sean St. Ledger e voltou em Torres, que rolou atrás e Sergio Busquets mandou perto da trave direita.
Pendurado com o cartão amarelo recebido aos oito minutos, Alonso saiu para a entrada de Javi Martínez, aos dezenove. Aos vinte e um, uma jogada de Aiden McGeady pela esquerda quase contou com a colaboração de dois companheiros de clube: é que Casillas e Sergio Ramos foram para a mesma bola no cruzamento pelo alto, com Casillas acertando a cabeça de Ramos e Ramos acertando a bola. No fim, todos a salvo. Aos vinte e quatro minutos, o terceiro gol da Espanha: Iniesta disputou a bola no meio, ela foi recolhida por Silva e de seus pés saiu ótima enfiada de bola para acionar Torres, que avançou e pôs no canto esquerdo de maneira arrebatadora e fulminante. 3a0, com a marca de El Niño.
Com uma atuação maiúscula, fazendo lembrar o auge na carreira - sabe-se lá quando foi, é ou será o auge na carreira de um atleta que parece sempre capaz de evoluir e surpreender -, Torres deixou o campo aos vinte e oito minutos, dando lugar ao camisa dez Francesc Fàbregas.
Aos vinte e nove, Casillas voltaria a entrar em contato com a bola e a aparecer na transmissão do jogo, espalmando chute cruzado de Keane à esquerda. No minuto seguinte, Martínez deu carrinho em direção à bola que estava sob controle de Whelan, recebendo o segundo cartão amarelo espanhol. Naquele mesmo minuto, Damien Duff saiu para a entrada de James McClean. Duff é um dos jogadores mais conhecidos internacionalmente entre os convocados irlandeses, mas praticamente não foi visto em campo. Dado o grande nível de exibição visto na seleção espanhola, prefiro não cravar aqui que Duff pouco apareceu por estar numa noite infeliz. Talvez tenha feito o possível.
O ritmo espanhol diminuiu, com as chances aparecendo com menor freqüência. Aos trinta e dois, Xavi cobrou falta por cima. Aos trinta e quatro, Iniesta deu lugar a Santiago Cazorla. Trapattoni também mexeu: tirou Whelan, colocou Paul Green. Talvez impulsionada pelo ânimo renovado pela entrada de um novo jogador, a Espanha chegou ao quarto gol. Cazorla recebeu, chutou no canto esquerdo e Given espalmou. Na cobrança de escanteio pela direita, Silva passou para Fàbregas, que fez o resto: dominou, ajeitou pro chute e soltou um remate forte e cruzado, que bateu na trave direita com extrema força e foi parar na rede.
Com 4a0 no placar e um baile de bola, a Espanha teve uma performance formidável em Gdansk. A última anotação feita por esse entusiasta do futebol arte foi uma entrada de carrinho de St. Ledger em Silva, que rendeu cartão amarelo ao irlandês. Mas poderia adicionar uma outra frase: hoje, tive o prazer de ver mais uma vez essa Espanha jogar.
Outro resultado
Quinta-feira (Grupo C)
Itália 1a1 Croácia
Situação no grupo
Espanha (4 pontos, saldo 4) e Croácia (4 pontos, saldo 2) fazem confronto direto pelo primeiro lugar no grupo, onde o empate dá a liderança aos espanhóis. Itália (2 pontos) precisa necessariamente vencer a já eliminada Irlanda (0) para ter chance de chegar ao segundo lugar. Como o primeiro critério de desempate é o confronto direto, um empate a partir de 2a2 classifica Espanha e Croácia, independentemente do que a Itália venha a fazer diante da Irlanda. O curioso é imaginar vitória italiana e empate por 1a1 entre espanhóis e croatas: haveria um tríplice empate nesse caso.
Por um momento, achei que a Espanha ia se atrapalhar com a demora em concluir a gol. Uma bola vadia podia complicar o jogo. Mas a Irlanda é coadjuvante dos piores e a Fúria deitou e rolou no seu estilo.
ResponderExcluirSaudações!!!
Você pode postar este post, e também do jogo da Croácia e Itália, no FC Gols?
ResponderExcluirFC Gols