Holanda e Alemanha é aquele jogo que faltou na Copa do Mundo 2010. Duas seleções que, de alguns anos para cá, conseguem apresentar uma maneira de jogar que une eficiência e beleza, mas que não cruzaram na África do Sul porque havia uma Espanha no meio do caminho.
Dessa vez, na fase de grupos pela Eurocopa 2012, quis o sorteio colocar essas duas potências mundiais em duelo na segunda rodada. E quem levou a melhor foram os alemães, que venceram o jogo por 2a1, se aproximaram da classificação e complicaram a situação dos holandeses, que precisão vencer Portugal por diferença superior a um gol e torcer por vitória alemã diante da Dinamarca. Para a Alemanha, basta um empate no duelo com os dinamarqueses para garantir a classificação e também a 1ª posição no grupo. Se a Holanda vencer, a Alemanha passa de fase independentemente do que aconteça em seu próprio jogo.
O jogo
1 minuto e 15 segundos de troca de passes. Foi assim que começou o jogo holandês, que passava a bola de pé em pé e por muito pouco não terminou a jogada coletiva abrindo o placar em Kharkiv, com o último passe - de Wesley Sneijder para Robin van Persie - sendo recolhido pelo goleiro Manuel Neuer, após o centroavante dar uma leve escorregada no lance.
Se naquele momento van Persie escorregou, aos seis minutos ele acertou a bola de primeira após ser lançado por Mark van Bommel, mas o remate foi seguro por Neuer. Aos sete, a Alemanha chegou pela primeira vez: Mesut Özil pegou a sobra de bola afastada por Van Bommel e mandou de primeira para gol - a bola bateu na trave esquerda e foi defendida por Maarten Stekelenburg. O jogo era dinâmico: aos oito, Sneijder passou para Ibrahim Afellay pela esquerda, o jovem camisa vinte cruzou rasteiro e Neuer defendeu. Aos dez, Arjen Robben recuperou a bola na altura do meio do campo pelo lado direito, trouxe para dentro e enfiou para Van Persie, que chutou à direita.
A Holanda era melhor e conseguia marcar presença no ataque a quase todo momento. Aos quinze minutos, um lançamento longo para Van Persie na esquerda foi dominado no peito, o camisa dezesseis avançou e a defesa alemã cortou pela linha-de-fundo. Aos dezessete minutos, Robben recebeu centralizado em jogada de contra-ataque e acionou Afellay, que cruzou rasteiro buscando Van Persie mas Mats Hummels cortou em escanteio. Com dezenove, Holger Badstuber subiu na jogada áerea e acabou cabeceando a bola mas também a cabeça de Robben, fazendo sangrar o companheiro de clube - os dois atuam juntos no Bayern de Munique.
No futebol, ser a equipe que chega mais vezes perto do gol não significa que a vitória esteja próxima. No caso da Holanda, que perdeu na estréia para a Dinamarca sendo amplamente superior ao adversário, isso parece ainda mais evidente: aos vinte e três minutos, Thomas Müller passou para Bastian Schweinsteiger e este alemão bisneto de holandeses descolou enfiada de bola para Mario Gómez, que dominou girando o corpo sobre o próprio eixo e concluiu rasteiro. 1a0 Alemanha, segundo gol do "Super Mario" na Eurocopa 2012.
A Alemanha passaria a se sobressair no jogo, mas não sem antes levar um susto: aos vinte e cinco minutos, Robben fintou Philipp Lahm na direita trazendo para dentro, chutou e Neuer foi pegar no canto esquerdo. Aos trinta e um, Müller recebeu na paralela pela direita, cruzou rasteiro e Gómez, acompanhado por Joris Mathijsen, não conseguiu chegar para completar. Aos trinta e cinco, Willems cedeu lateral e o arremesso foi cobrado às suas costas - o jovem holandês calçou Müller por trás, cometendo falta. Na cobrança, Özil colocou na cabeça de Badstuber, que estava livre de marcação e só não mandou na rede porque Stekelenburg interviu de forma salvadora.
A posse de bola era 61% do tempo pertencente aos holandeses, mas quem chegaria ao gol seriam novamente os alemães: aos trinta e sete, Schweinsteiger voltou a servir Gómez e o atacante voltou a aproveitar a chance, chutando cruzado e marcando belo gol no canto direito. A jogada teve início com um lançamento de Neuer, tendo sido bem trabalhada no campo de ataque. Principalmente quando passou pelos pés de Schweinsteiger e chegou no goleador Gómez, autor de todos os três gols alemães na competição.
Aos quarenta, um escanteio mal cobrado por Sneijder iniciou o contra-ataque alemão: Özil avançou, deu na esquerda para Jérôme Boateng e o chute do lateral saiu por cima. Aos quarenta e seis, Lukas Podolski, figura sumida dos lances de bola, cobrou uma falta pela esquerda de maneira surpreendente, mandando direto para o gol quando dava pinta de que sairia um cruzamento - Stekelenburg, atento e elástico, espalmou. Era o último ato na etapa inicial.
No intervalo, Bert van Marwijk trocou Van Bommel por Rafael van der Vaart e Afellay por Klaas-Jan Huntelaar. A dupla alteração naquele momento mostrava a disposição holandesa em atacar a Alemanha e aumentar sua presença de área, de maneira semelhante àquilo que foi visto na estréia da Laranja na Euro. A sólida atuação de Nigel de Jong deve ter servido para encorajar tais modificações, até porque não é qualquer equipe que ousaria atuar diante de um adversário tão qualificado de uma maneira tão ofensiva.
Com seis minutos, Hummels apareceu no ataque alemão como elemento surpresa, carregou, chutou da meia-lua, parou em defesa parcial de Stekelenburg, pegou o próprio rebote e chutou novamente, para nova intervenção do ótimo goleiro holandês, que defendeu no canto direito. Aos doze minutos, Robben avançou pela esquerda, cruzou atrás e Van Persie pegou de primeira, com estilo, parando em defesaça de Neuer, que foi buscar no canto direito.
A diferença no percentual de posse de bola diminuiu, mas a Holanda seguia preponderando, com 54%. Aos dezesseis, Sneijder trouxe a bola da esquerda para dentro fugindo da marcação de Boateng e chutou, mandando perto da trave esquerda. Aos vinte e três, Sneijder apareceu novamente: o camisa dez passou para Robben, que dominou no peito e chutou à esquerda. No minuto seguinte, Mario Gómez recebeu pela esquerda e chutou à esquerda. Mais um minuto corrido, mais uma chance de gol: aos vinte e cinco, Robben apareceu bem - dessa vez pelo lado direito -, rolou para a esquerda, Sneijder pegou de primeira e Boateng conseguiu bloquear. Após o escanteio, a Alemanha saiu em contra-ataque e quem estava ajudando a defesa para recuperar a posse de bola era Robben, incansável.
Com vinte e seis minutos, Gómez deixou o campo e deu lugar para Miroslav Klose, em alteração que também ocorreu na estréia alemã na competição. E, no minuto seguinte, a Holanda finalmente chegou ao seu primeiro gol no jogo e também no torneio: Van Persie recebeu de Sneijder, avançou e, na entrada da meia-lua, chutou cruzado no canto esquerdo para diminuir a desvantagem no placar.
O gol deu novo ânimo aos comandados de Van Marwijk e, já no minuto posterior, chegou novamente com perigo: Van Persie foi lançado na esquerda mas Hummels cortou o barato ao fazer o corte. Aos trinta, a Alemanha respondeu: Özil recebeu, ficou de frente pro gol, trouxe para a perna direita e acabou desarmado numa bela intervenção de De Jong. Aos trinta e dois, Sneijder passou para Van Persie em jogada de penetração mas o jogador estava cercado de alemães na área, caindo junto de Schweinsteiger em lance interpretado como normal pelo árbitro sueco Jonas Eriksson.
Com trinta e cinco, Joachim Löw trocou Özil por Toni Kroos. Dois minutos depois, Van Marwijk mexeu pela última vez: saiu Robben e entrou Dirk Kuyt. A entrada de Kuyt era uma opção interessante para explorar os cantos do gramado, a exemplo do que foi proposto diante da Dinamarca (naquela oportunidade quem saiu foi Gregory van der Wiel). Mas daí a tirar Robben, uma das figuras mais participativas, insinuantes e efetivas na equipe, foi difícil de entender.
Aos trinta e oito minutos do segundo tempo, uma jogada de efeito de Sneijder pra cima de Boateng merece um parágrafo à parte: o meia recebeu a bola e fez um lindo giro por cima da redonda, atravessando a linha que divide o campo e deixando o marcador para trás esbanjando habilidade e categoria.
Aos trinta e nove, Van der Vaart tentou de fora e mandou à esquerda. Aos quarenta e um, Boateng retardou cobrança de arremesso de lateral e foi punido com cartão amarelo - por ser o segundo no torneio, o lateral desfalcará a Alemanha na próxima partida, diante da Dinamarca. Aos quarenta e quatro, uma bola recuada para Stekelenburg quase terminou em gol de Klose, que dividiu com o goleiro e a redonda passou perto da trave esquerda. Aos quarenta e seis, Müller deu lugar a Lars Bender e, naquele momento a Holanda não incomodava a defesa alemã.
Agora o desafio holandês é resgatar a motivação. Não será nada fácil para um atual vice-campeão mundial entrar em campo dependendo de resultado alheio para ter chance de classificação. Mas, na pior das hipóteses, a equipe precisa jogar a última rodada pela fase de grupos buscando uma vitória que honre a campanha da seleção. O adversário não poderia ser mais apropriado: é Portugal, maior rival da Holanda nos últimos dez anos. Os alemães ainda não exibiram aquele futebol vistoso e empolgante visto na Copa do Mundo, mas a organização tática e a capacidade da equipe de ser consistente com e sem a bola a colocam entre as maiores favoritas ao título europeu esse ano. Mas a torcida que fica é para que aquele futebol reapareça o quanto antes - quem sabe diante da Dinamarca?
Outro resultado
Quarta-feira (Grupo B)
Dinamarca 2a3 Portugal
Situação no grupo
Na última rodada, a Holanda (0 ponto) enfrenta Portugal (3) precisando vencer por mais que um gol de diferença e ainda dependendo de uma vitória da Alemanha (6) diante da Dinamarca (3) para se classificar em segundo lugar no grupo. Com um empate, os alemães garantem o primeiro lugar - caso percam, só não se classificam se os portugueses vencerem os holandeses, tirando diferença no saldo. Para Portugal e Dinamarca, qualquer vitória serve para passar de fase (no caso dos portugueses, há que se observar a disputa no saldo de gols e no número de gols pró em relação aos alemães).
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