sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Barcelona De Josep Guardiola: Um Exemplo A Se Espelhar

Final de ano, época de festas. A data natalina de vinte e cinco de dezembro nos lembra o nascimento do Mestre Jesus, o que vejo como um convite à reflexão sobre o que estamos fazendo em/de nossas vidas (embora o comércio procure colocar o foco exclusivamente no Papai Noel, propondo o consumismo generalizado).

Este tópico de antemão deseja a todos um Natal o mais feliz possível, de muita consciência para cada um de nós. Que tenhamos discernimento para cada escolha que fizermos no decorrer da vida, lembrando sempre que não estamos sozinhos no planeta e que a vida de muitos pode estar relacionada às nossas escolhas.


Vamos aqui debater brevemente algo que seria um misto de retrospectiva com possibilidade futura. A retrospectiva vai nos levar a este Barcelona de Josep Guardiola, um time que encanta todo e qualquer amante do futebol que encontre-se gozando de suas faculdades mentais sem maiores problemas. A possibilidade futura seria o ato de incorporar esse estilo de jogo na seleção brasileira de futebol masculino, atualmente comandada por Mano Menezes e dirigida por Ricardo Teixeira (não necessariamente nessa ordem). E creio que essa incorporação seja mais simples do que eventualmente possa parecer.

Em primeiro lugar precisamos lembrar que falar de seleção brasileira é falar de um celeiro de grandes jogadores. Logo, a tarefa de um treinador que conta com tantas opções para o elenco torna-se ligeiramente facilitada. Pep Guardiola, inspirador com o Barcelona que comanda desde 2008, chegou a dizer que o que a equipe catalã faz é algo baseado no que seus avós lhe contaram sobre a seleção brasileira de décadas atrás.

Peço a cada um de vocês que agora está lendo esse texto que faça a leitura do artigo "O dia em que Guardiola apontou para o nosso "elo perdido"", de Lúcio de Castro. Se já conhece o artigo, ótimo. Se não, corra pra lá o quanto antes (pode ser agora mesmo, eu espero sem pressa). Trata-se talvez do melhor artigo sobre futebol que li desde que fui alfabetizado, na já remota década de 1990.

Pois bem. A dinâmica de jogo deste Barça consiste na idéia de "a bola é minha", filosofia implementada nas categorias de base do clube há cerca de quarenta anos. De lá pra cá, tivemos por exemplo a brilhante "Geração 1987", com o argentino Lionel Messi e os espanhóis Francesc Fàbregas e Gerard Piqué. Goleadas atrás de goleadas, numa história que pode ser vista em vídeo.

Em 2008, Guardiola assumiu o comando do elenco profissional e, desde então, o Barcelona sempre teve maior posse de bola que o adversário. Repetindo: desde que Guardiola é técnico do Barça, o time sempre teve maior tempo de posse de bola que o adversário. E o que é isso, caro(a) leitor(a), se não a aplicação da filosofia "a bola é minha"?

Variações táticas são uma constante no time azul-grená da Catalunha. Alguns taxaram o esquema de jogo na final do Mundial de Clubes como sendo um 3-7-0, mas não foram raros os momentos em que metade do time barcelonista estava rondando a área santista, com Daniel Alves pelo flanco direito, Thiago Alcântara pelo esquerdo, Messi, Fàbregas, Xavi Hernández e Andrés Iniesta mais centralizados. Prefiro chamar isso de "carrossel", "rotação incessante", "dinamismo intenso" do que 3-7-0 ou qualquer outra combinação de algarismos que somem 10. Isso faz bater em mim uma saudade da Laranja Mecânica de Rinus Michels - saudades de um time que não vi jogar, mas que de alguma forma sinto pulsar em mim.

Mas e o que o Brasil de Mano Menezes poderia fazer para se aproximar desse Barcelona? A mãe natureza nos foi muito gentil, acho que precisamos não bloqueá-la com padrões defensivistas tão propagados por figuras como o treinador atual campeão da Libertadores da América, detonado pelo Barcelona em Yokohama. Se o Barça tem no gol o ótimo Victor Valdés, nós temos as não menos boas opções de Jéfferson e Júlio César. Daniel Alves e Adriano/Maxwell, todos utilizados por Guardiola, podem também jogar pela seleção nos mesmos setores onde atuam. A excelente dupla de zaga composta por Carles Puyol e Piqué tem uma concorrência à altura se pensarmos em Lúcio e Thiago Silva (talvez fiquemos devendo em velocidade, mas vejo a possibilidade de, dependendo da situação, improvisar Luiz Gustavo, Arouca ou Ramires por ali). Onde vemos Sergio Busquets no Barça, o Brasil pode escalar Ramires. A trinca Iniesta-Xavi-Messi, do mais alto nível, não tem como ser equiparada. Mas o que me diriam de usarmos Kaká-Ganso-Neymar? Creio que o maior desafio seria fazer Ganso ter uma disciplina tática que não se limite ao momento da posse de bola, porque com a redonda nos pés, ele sabe bem o que fazer. O brasileiro-espanhol Thiago Alcântara e a fera David Villa formam um senhor poder-de-fogo para o Barça, mas o Brasil também tem suas alternativas: Nilmar caindo pelos cantos e Fred como referência (não é nenhum Ronaldo, aposentado em 2011, mas não devemos desvalorizar alguém de sua técnica). O celeiro é tão farto que nem citei nomes como os dos jovens Lucas Rodrigues e Oscar!

Portanto, material humano não falta. O negócio é a filosofia, o trabalho, a busca. A busca que não pode e não deve se fundamentar no resultado do jogo, mas nos frutos colhidos pelo (re)encontro com a arte que encantou o mundo. E que, quase naturalmente, trará os resultados. Veja, novamente, o exemplo do Barcelona de Guardiola, com 13 títulos em 16 possíveis (como por exemplo o baile na final da última Liga dos Campeões da Europa, diante do Manchester United em Wembley)...

São lições da bola que aprendemos nesse ano de 2011 e que, se bem estudadas, poderemos usá-las a favor do futebol arte para os anos vindouros. Se não voltarmos a nos encontrar, um feliz 2012 para você.

Editando

Minutos depois de publicar este texto, acabou chegando até mim a "Foto Do Ano", prêmio concedido pela Unicef. Achei por bem compartilhar com vocês essa imagem, que mostra um menino num lixão tóxico de Acra, capital ganesa. Uma síntese da sociedade atual, apaixonada pelo futebol mas com tantos abismos sociais. Dias melhores virão, se Deus quiser.

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