A seleção brasileira jogou para o gasto, conservou a liderança da chave, mas esteve longe de apresentar um futebol que caracteriza alguém pentacampeão mundial. Se o jogo tivesse que ter um vencedor, provavelmente a equipe que mais se candidatou ao feito foi a de Portugal.
O jogo
Com Elano Blumer recuperando-se de contusão, Ricardo Izecson dos Santos Leite suspenso e Róbson de Souza poupado, Carlos Caetano Bledorn Verri mandou o Brasil a campo com Daniel Alves da Silva, Júlio César Clement Baptista e Nilmar Honorato da Silva. E todos aqueles que assistiram aos acontecimentos no belo estádio Moses Mabhida puderam ver o quão descaracterizado - por muitas vezes irreconhecível - estava o futebol brasileiro. Já os portugueses, embalados pela goleada histórica de 7a0 sobre a Coréia do Norte, eram mais versáteis na distribuição de pancadas do que na criação de jogadas.
Primeiro tempo tenso e recheado de cartões amarelos
Ambas as seleções mostravam dificuldades para aproximação da área adversária. O recurso utilizado para se tentar levar perigo estava nos chutes de longa distância. Aos 5 minutos, Daniel Alves carregou e chutou à direita do gol. Fábio Alexandre da Silva Coentrão tentou algo de diferente aos 14', quando desceu pelo lado esquerdo, se livrou da marcação com uma meia-lua e cruzou na área, mas Júlio César Soares de Espíndola afastou antes da chegada de Sérgio Paulo Barbosa Valente, o Duda. Foi ainda no minuto 14 que o mexicano Benito Archundia iniciou a farta amostragem de cartões amarelos e o primeiro contemplado foi Luís Fabiano Clemente.
Aos 16 minutos, Daniel Alves voltou a tentar em chute de longe e o goleiro Eduardo dos Reis Carvalho foi chamado a trabalhar, encaixando. Portugal via mais facilidade através do lado esquerdo e acionava Fábio Coentrão mais uma vez aos 17 minutos: ele abriu com Raul José Trindade Meireles, que cruzou para Daniel Miguel Alves Gomes, o Danny, emendar de primeira, à esquerda da meta. A seleção brasileira simplesmente não criava nada. Com 22 minutos, o capitão Lucimar da Silva Ferreira tentou de antes da intermediária mas mesmo assim teve o chute bloqueado.
Na marca de 24 minutos, erro grave de Benito Archundia: lançamento ligando o contra-ataque para Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, mas o zagueiro Juan Silveira dos Santos, na condição de último homem, cortou com a mão. O cartão amarelo ficou gratuito para o camisa 4. Duda, que foi reivindicar a expulsão, acabou também recebendo o amarelo.
Com 29 minutos, um lampejo de Brasil na seleção brasileira: Luís Fabiano aciona Nilmar no lado esquerdo da área com passe pelo alto e o camisa 21 consegue chegar finalizando, mas Eduardo vai bem no lance e espalma para a trave direita.
Se o primeiro cartão amarelo foi por entrada dura, o segundo por mão na bola e o terceiro por reclamação, o quarto foi por simulação: Tiago Cardoso Mendes entrou na área, foi tocado levemente nas costas por Gilberto Aparecido da Silva e mergulhou no gramado de Durban, aos 30 minutos.
Na marca de 31 minutos, adivinhe como foi a finalização brasileira. Pois é, dessa vez quem chutou de fora foi Maicon Douglas Sisenando, por cima do travessão. Eram 62% da posse de bola para o Brasil, mas muito pouca produtividade. Aos 32', Maicon cruzou, Eduardo saltou e defendeu em dois tempos. 4 minutos depois, Nilmar fez bela jogada individual: Lúcio arrancou, passou para o 21, que aplicou um chapéu na marcação e chutou por cima. E a melhor chance brasileira veio dois minutos depois: Maicon é lançado na direita, domina mal, se recupera no lance e cruza na medida para Luís Fabiano, que cabeceia rente à trave direita.
Aos 39', o luso-brasileiro Kléper Laveran Lima Ferreira, vulgo Pepe, decidiu revidar uma entrada de Felipe Melo de Carvalho e deu um pisão na panturrilha do camisa 5. Na linguagem de Archundia, cartão amarelo.
Na marca de 40 minutos, Portugal tentou "do jeitinho brasileiro" e Cristiano Ronaldo chutou de fora - Júlio César encaixou.
Com 42', Felipe Melo decidiu cometer falta em Pepe e também recebeu o seu aguardado cartão amarelo. Gilberto Silva deu uma bronca no companheiro. Quem não quis saber de conversa e nem de aguardar o intervalo foi o treinador Dunga: trocou Felipe Melo por Josué Anunciado de Oliveira logo depois do lance - parece ter refletido depois da expulsão "evitável" de Kaká na partida anterior.
O 7º cartão amarelo da primeira etapa foi para Coentrão, aos 44', por entrada em Daniel Alves. Com trégua na violência e chance para a bola rolar, aos 45' os portugueses saíram em contra-ataque, mas Cristiano Ronaldo ignorou a apresentação de Danny e chutou à esquerda do gol.
Jogadores voltam mais calmos para um segundo tempo sem cartões e um jogo sem gols
Com 2 minutos da segunda etapa, Portugal teve boa chance: Cristiano foi lançado na esquerda, avançou e tentou centralizar com passe rasteiro - Lúcio surgiu para cortar, mostrando velocidade e tempo de bola impressionantes. Aos 6 minutos, Portugal teve falta de longa distância para cobrar: se Júlio César não pediu barreira, Pepe fez a gentileza de ele mesmo desviar o chute de Cristiano Ronaldo.
Aos 9 minutos, o técnico Carlos Queiróz decidiu reduzir o número de jogadores pendurados em campo e dar mais velocidade para Portugal, trocando Duda por Simão Pedro Fonseca Sabrosa.
Na marca de 10 minutos, Coentrão deu a bola de presente para Nilmar, que adiantou demais e acabou desarmado. Josué recolheu a bola perdida e rolou para Michel Fernandes Bastos chutar de longe, à direita. No minuto seguinte saiu a primeira jogada interessante da aproximação dos laterais direitos brasileiros: de Maicon para Daniel Alves, que ameaçou chutar e cruzou pra área - Luís Fabiano cabeceou e Eduardo defendeu.
Aos 12', era a vez de Portugal tentar de fora da área: Simão Sabrosa chutou e Júlio César fez a defesa em dois tempos. 2 minutos depois, a grande chance do jogo: Cristiano arranca, se livra de um e Lúcio faz o corte cruzando a bola por toda a extensão da área brasileira. Júlio César toma a iniciativa providencial de sair do gol e consegue defesa difícil na finalização de Raul Meireles. Após o lance, a partida ficou 3 minutos parada para que o goleiro brasileiro recebesse atendimento médico e trocasse a camisa, exibindo uma espécie de proteção para as costas.
Com 18 minutos, outro amarelado da primeira etapa deixa o gramado pelo lado português: Pepe substituído por Pedro Miguel da Silva Mendes. Carlos Queiróz repetia, naquele momento, o meio-campo que atuou dianta da Coréia do Norte (Tiago, Raul Meireles, Simão e Pedro Mendes).
Na marca de 21', novo erro de arbitragem prejudicando Portugal, quando um jogador recebia em condição legal e partia em direção ao gol em jogada parada sob alegação de impedimento - Juan dava condições de jogo.
Ganha um doce virtual quem adivinhar como foi a chegada brasileira aos 26 minutos. Daniel Alves, em chute de fora da área, mandou a bola à esquerda. 5 minutos depois, Simão desce pela esquerda, faz o cruzamento, a bola desvia em Lúcio e chega em Cristiano Ronaldo, que manda por cima.
Entre os minutos 37, 38 e 39, 3 substituições realizadas. Pela ordem: o inoperante - para não dizer imperceptível - Júlio Baptista deu lugar a Ramires Santos do Nascimento; Raul Meireles para a entrada de Miguel Luís Pinto Veloso; e Luís Fabiano para a estréia de Edinaldo Batista Libânio, também conhecido como Grafite.
Aos 42', o Brasil tentava alguma coisa sem ser em chute de fora da área: Daniel Alves cruzou do lado direto usando a perna esquerda e Lúcio cabeceou para defesa de Eduardo. 3 minutos depois, não teve jeito: tentativa de fora da área mesmo. Ramires chutou, a bola desviou na(s) nádega(s) de Bruno Eduardo Regufe Alves e Eduardo fez bonita defesa ao espalmar de mão trocada.
Na marca de 48', Juan - em atuação ruim - vacilou dentro da área e forçou Júlio César a deixar o gol para dividir com Danny. Talvez o jogo tivesse um desfecho diferente caso o camisa 10 não escorregasse na jogada que terminou em escanteio.
Após o segundo 0a0, a seleção portuguesa terminou a primeira fase sem levar gol, seguindo o exemplo dos uruguaios.
No outro jogo do grupo, Costa do Marfim se despediu goleando a Coréia do Norte por 3a0, com gols de Gnégnéri Yayá Touré, Christian Koffi N'Dri (o Romaric) e Salomon Armand Magloire Kalou. Para ter pego a segunda vaga com esse resultado, os marfinenses necessitariam de uma vitória brasileira sobre Portugal por 7 gols de diferença. Jogando como jogou hoje, 1a0 Brasil já seria goleada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário