Matematicamente falando, a Argentina não entrou no estádio Peter Mokaba com a classificação assegurada. Porém, nem a matemática nem nenhuma outra ciência seria capaz de provar o contrário da seguinte premissa: o grupo convocado por Diego Armando Maradona é um dos mais fortes e talentosos da Copa do Mundo 2010. Colocando 7 jogadores que não haviam atuado como titulares nos dois jogos anteriores, Maradona manteve a mesma filosofia de jogo: toque de bola, busca pelo gol e, de preferência, com as jogadas passando pelos pés do genial camisa 10 - hoje com a braçadeira de capitão - Lionel Andrés Messi.
A Grécia, que mantinha um olho no forte adversário e outro no resultado de Coréia do Sul e Nigéria - que se enfrentavam simultaneamente no estádio Moses Mabhida -, não foi páreo para o envolvente futebol argentino. Detalhe: Juan Sebastián Verón e companhia desenvolviam as jogadas bem à vontade, como se estivessem fazendo mais um coletivo de treinamento visando a próxima partida.
O jogo
A partida começou morna, com a Argentina cadenciando e ditando o ritmo que queria. A Grécia aceitava a proposta de jogo sul-americana e ficava encolhida, minimizando os espaços para criação de jogadas a partir da intermediária defensiva. E o negócio ficou mais interessante para os gregos a partir do momento em que, aos 12 minutos da partida entre sul-coreanos e nigerianos, em Durban, Uche abriu o placar para a equipe africana - aquele resultado de 1a0 combinado ao 0a0 diante dos argentinos dava a segunda vaga para a Grécia.
Aos 17 minutos, a Argentina ofereceu o primeiro lance de perigo: Sergio Leonel Agüero del Castillo partiu em jogada individual carregando a bola do centro para a esquerda, em diagonal, e, mesmo acompanhado por Avram Papadopoulos, conseguiu um ótimo chute, que parou em boa defesa de Alexandros Tzorvas. Após a cobrança de escanteio originada naquele lance, Verón recolheu a sobra na intermediária e chutou forte, para difícil defesa de Tzorvas.
Na marca de 22', Verón recebeu pela direita e colocou na área com chute rasteiro cruzado - a bola passou perto de três argentinos e saiu pela linha-de-fundo. A Argentina dominava amplamente as ações, com 69% da posse de bola. Aos 31', Mario Áriel Bolatti passou para Messi, que cruzou rasteiro - Tzorvas não afastou e Sergio Agüero chutou, mas a defesa grega conseguiu impedir que a bola chegasse no gol. 3 minutos depois, Clemente Juan Rodríguez faz "um-dois" com Verón, cruza, a bola passa por Tzorvas e Vassilis Torosidis corta.
Enquanto isso, em Durban, a Coréia do Sul chegava ao empate aos 37', quando Lee Jung-Soo, tentando cabecear, acabou acertando a canela na bola para fazer 1a1 - aquele resultado combinado ao 0a0 entre gregos e argentinos classificava os asiáticos. Detalhe: dois minutos antes, Uche chutou uma bola na trave esquerda de Jung Sung-Ryong, podendo ter ampliado a diferença a favor da Nigéria.
A última chance de gol na primeira etapa em Polokwane foi argentina: Clemente Rodríguez cruzou da esquerda, Maximiliano Rubén Rodríguez dominou no peito e chutou - Tzorvas espalmou. Na seqüência, Messi se livra da marcação com um drible e chuta de fora da área, para outra difícil defesa do goleiro Tzorvas.
A primeira etapa teve fim com a Argentina tendo o controle da bola por mais que o dobro do tempo que a Grécia (cerca de 20 minutos contra 10, ou 67% a 33%).
No intervalo, a braçadeira de capitão dos gregos saiu do braço de Giorgos Karagounis e foi para o de Kostas Katsouranis, pois o camisa 10 deu lugar ao defensor Nokolaos Spiropoulos.
Aos 2 minutos, Georgios Samaras recebeu lançamento, se livrou de Martín Gastón Demichelis, chutou e foi bloqueado. A bola voltou nele, que chutou cruzado perto da trave esquerda.
Se a Grécia desperdiçava uma chance, a Coréia do Sul aproveitava no outro jogo: em cobrança de falta fugindo da barreira, Park Chu-Young superou Vincent Enyeama para fazer 2a1 e melhorar a situação sul-coreana.
Aos 9', ciente do que acontecia na outra partida, Otto Rehhagel fez suas duas últimas substituições ao mesmo tempo, e nem por isso optou por dar maior ofensividade a um time acostumado a se defender: saíram Katsouranis e Torosidis para as entradas de Sotiris Ninis e Christos Patsatzoglou. Isto é, um meia pendurado com um cartão amarelo e um defensor por dois jogadores de meio-campo - tímido demais para quem o 0a0 não mais interessava.
Na marca de 11 minutos, Clemente Rodríguez coloca na área e por pouco Diego Alberto Milito não conseguiu desviar de cabeça, no que seria sua primeira finalização na partida - Tzorvas segura. Aos 12', Messi toca para a esquerda, Verón deixa passar e Clemente Rodríguez chuta à direita. Com 14 minutos, a Grécia chegou em jogada que lhe é característica: lançamento longo, escorada de cabeça e finalização. Mas, após fintar Demichelis, o chute de Samaras foi para fora.
Maradona mexeu pela primeira vez aos 17 minutos, colocando Ángel Di María no lugar de Maxi Rodríguez. Em Durban, Chu-Young ficava cara-a-cara com Enyeama, mas o goleiro nigeriano defendia esticando o braço direito.
Aos 19', Sotirios Kyrgiakos - 3º capitão grego no jogo -, puxou a camisa de Diego Milito dentro da área, mas o uzbeque Ravshan Irmatov inverteu a falta.
Voltando para Durban, o jogo entre Coréia do Sul e Nigéria pegava fogo. Aos 20', Uche passou para Etuhu, que cruzou rasteiro para Yakubu, livre e sem goleiro, pegar de primeira e mandar incrivelmente à direita da trave. 2 minutos depois, Kim Nam-Il cometeu pênalti ao entrar de carrinho em Obasi. Yakubu mandou rasteiro, no canto direito, enquanto Sung-Ryong pulou pra esquerda: 2a2 no placar, resultado que combinado ao persistente 0a0 classificava a Coréia do Sul. Naquele momento, Nigéria e Grécia estavam a um gol de avançar para as oitavas-de-finais.
Aos 24', Bolatti pegou sobra pelo lado esquerdo da área, chutou forte e Tzorvas conseguiu defender sem dar rebote. A Argentina detinha 66% do tempo de posse de bola, e dava sinais de que a qualquer momento chegaria, naturalmente, ao primeiro gol. Aos 28', enfiada de bola para Milito, que acaba desistindo do lance - mas a falta de comunicação entre Evangelos Moras e Tzorvas, que dividiram de forma meio atrapalhada, quase fez o dever do atacante.
Aos 31 minutos, a segunda substituição na Argentina: Agüero deu lugar a Javier Matías Pastore. No mesmo minuto, veio o gol. Escanteio cobrado pelo lado esquerdo, Milito acabou bloqueando o cabeceio de Demichelis e, na seqüência, o mesmo Demichelis chutou forte para estufar a rede e abrir o placar.
3 minutos depois, a 3ª troca: Martín Palermo em campo no lugar de Milito, que recebeu um caloroso cumprimento de Maradona.
Não esqueçamos da partida em Durban! Aos 35 minutos no cronômetro de lá - praticamente idêntico ao de Polokwane -, Obasi passou açucarado para "Oba-oba" Martins, que deu de cavadinha e mandou à esquerda do gol. Era a bola da classificação nigeriana, para desespero de Lars Lagerbäck.
Com 38 minutos, Messi carregou, foi desarmado e a bola foi ao encontro de Palermo, que girou e chutou à direita. 2 minutos depois, Pastore passou para Di María, que deu de primeira para Messi. O camisa 10 arrancou e mandou a Jabulani na trave direita.
Na marca de 43', brilhou a estrela de Palermo. Messi fez linda jogada individual, tabelou com Di María, recebeu de volta, chutou e Tzorvas rebateu. Palermo estava lá para conferir, chutando cruzado no canto esquerdo e fazendo 2a0.
A Grécia resolveu reagir e colocou Sergio Germán Romero para trabalhar, espalmando chute aos 44'. Aos 46', Samaras tentou de fora e Romero defendeu novamente.
Fim de papo. Argentina, 100% de aproveitamento, passa em primeiro lugar e reedita o encontro de oitavas-de-finais da Copa 2006, quando venceu os mexicanos na prorrogação. A Coréia do Sul, em segundo lugar, terá pela frente os uruguaios. A Grécia se despede em 3º, com 3 pontos, e a Nigéria completa o grupo pontuando apenas nesse empate por 2a2 com os sul-coreanos.
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