A última vitória dos ingleses sobre os alemães numa Copa do Mundo havia acontecido em 1966, na final disputada em Wembley. Se naquela oportunidade a Inglaterra teve um gol incorretamente validado, 44 anos depois, em Bloemfontein, foi a vez dos ingleses lamentarem um erro de arbitragem: o uruguaio Jorge Luis Larrionda, de 42 anos (ou seja, nem era nascido na ocasião do título inglês), ignorou solenemente um gol de Frank Lampard, que seria o de empate em 2a2, numa bola que passou 33 perceptíveis centímetros da linha final.
A Alemanha, que não tem nada com isso - ou tem? - tratou de voltar para o segundo tempo com a fictícia vantagem de 2a1 e definir a classificação em contra-ataques aniquiladores. Tão aniquiladores quanto o apito do sujeito escalado para a partida. Aliás, o que leva a comissão de arbitragem a chamar Jorge Larrionda para um jogo de oitavas-de-final após ele fazer o que fez com a Sérvia na última rodada da fase de grupos? São perguntas que clamam por uma resposta. Enquanto isso, a tecnologia não entra no futebol e vemos essa brecha para indivíduos como Larrionda decidirem a sorte daqueles que trabalham.
Primeiro tempo com 4 gols, mas somente 3 validados - um jogo que perdeu o sentido aos 37 minutos
Aos 4 minutos, a Inglaterra já dava sinais de que David James teria muito trabalho diante da defesa que deveria protegê-lo. Lançamento para Mesut Özil, que fica cara-a-cara com James, chuta rasteiro e vê o goleiro realizar grande defesa com o pé. Antes disso, porém, já houve tempo para o primeiro erro de arbitragem: Wayne Rooney estava em condições legais para avançar em direção ao gol, mas foi marcado impedimento.
Na marca de 9 minutos, Steven Gerrard - figura do English Team que mais aparecia para o jogo - lançou para Jermain Defoe, mas Manuel Neuer saiu para recolher. No minuto seguinte, o primeiro de muitos contra-ataques alemães: eram três contra três, mas o fominha Lukas Podolski chutou na defesa inglesa. Aos 14', Philipp Lahm cruzou da direita e James saltou para segurar. A Alemanha começava a dominar o jogo: dois minutos depois, Sami Khedira carrega a bola observado por Gareth Barry, chuta de fora da área e isola a Jabulani. No minuto seguinte, Bastian Schweinsteiger é desarmado no ataque e proporciona a chance para o contra-ataque inglês: Lampard dá uma caneta em Khedira e é derrubado por Schweinsteiger, que, se não conseguiu retomar a posse de bola, pelo menos interrompeu o avanço adversário. Na cobrança da falta, Lampard mandou a bola na barreira.
Com 19 minutos, Neuer tem tiro-de-meta para cobrar. E daí? Qual o perigo de um tiro-de-meta? Pois a bola viajou descrevendo uma parábola longitudinal (traduzindo: fez curva pra direita e depois pra esquerda), deu um quique depois da intermediária de ataque (não pergunte-me como) e chegou até o atacante Miroslav Klose, que escapou de Matthew Upson e esticou a perna direita para chutar antes que James impedisse: 1a0 Alemanha.
Wayne Rooney tentou dar uma resposta em jogada individual aos 23 minutos, mas após carregar a bola da esquerda para o centro, deu um chute que foi longe do gol. No minuto seguinte, Barry recebeu toque de lado e também decidiu chutar de fora da área - Neuer encaixou.
Aos 27 minutos, Larrionda fez a gentileza de armar o contra-ataque alemão, posicionando-se na trajetória da bola quando a Inglaterra tinha a posse. Posse essa, aliás, que era naquela altura 58% do tempo inglesa.
Na marca de 30 minutos, a Alemanha voltou a apresentar aquelas jogadas encantadoras que foram vistas nos seus dois primeiros jogos: Thomas Müller passou para Khedira, que devolveu de primeira com um toque de letra. Müller tratou de deixar Klose cara-a-cara com David James, que fez uma defesaça após a finalização do camisa 11.
No minuto seguinte, Glen Johnson dá um passe de cavada para Defoe, que cabeceia no travessão. A arbitragem assinalou impedimento, com correção. Ainda aos 31 minutos, a Alemanha chegou ao segundo gol. E foi linda a jogada: Müller tocou para Özil, que passou para Klose, próximo da linha lateral direita. O atacante polonês conseguiu dar boa bola para Müller, que deu um passe simplesmente magistral para Lukas Podolski - e o outro polonês do time não desperdiçou, dominando a bola e dando chute cruzado no canto esquerdo.
Com a desvantagem de 2a0, a Inglaterra se mandou ao ataque. Aos 34', James Milner cruza baixo da direita, Lampard desvia e Neuer salva com a mão direita, em bela intervenção - na seqüencia, a defesa alemã afastou. Aos 35', resposta da Alemanha: escanteio pela esquerda, Barry não corta, Klose dá uma puxadinha e num único toque se livra de Barry e de Upson, mas o chute é bloqueado.
Na marca de 36 minutos, Upson vai pra área, Gerrard faz o cruzamento pelo lado direito e o zagueirão sobe bem para amortecer com a testa, escorando para dentro do gol antes que Neuer pudesse evitar.
A Inglaterra entrou novamente no jogo e empataria já no minuto seguinte: da meia-lua, Lampard mostra grande visão e precisão no chute, encobrindo Neuer. A bola beija o travessão, quica dentro do gol, volta para o travessão e quica sobre a linha. Fabio Capello comemora o empate no banco de reservas mas muda subitamente de expressão ao observar que Jorge Larrionda mandava o jogo seguir, sem validar o golaço. Para facilitar o trabalho do árbitro e do assistente Mauricio Espinosa, a bola que quicara dentro retornou ao travessão para quicar na linha. Se ela vem de trás para quicar na linha, por uma questão de lógica, ela naturalmente saiu de dentro do gol. Parece que apenas o árbitro uruguaio e seu auxiliar compatriota - ou seria cúmplice? - não notaram isso. Ou será que notaram?
Aos 38 minutos, a Alemanha chegava ao ataque com Özil, que chutou rente à trave esquerda. Era a última chance de gol num primeiro tempo muito bem jogado mas muito mal apitado.
Alemanha não perdoa a lenta e escancarada defesa inglesa e chega à goleada
Se não houve qualquer cartão no primeiro tempo - até porque ninguém tem autoridade para expulsar o juíz -, com 1 minuto na etapa complementar o zagueiro Arne Friedrich foi ao tornozelo de Defoe e recebeu o amarelo.
Aos 3', Gerrard carregou a bola pela esquerda, fez um breve retorno para se afastar de Per Mertesacker e também de Lahm, chutou ao gol mas mandou à direita. Aos 6 minutos, Lampard cobrou falta a 34 metros de distância da linha final e acertou um foguete no travessão. Na marca de 9 minutos, John Terry saiu jogando errado, Klose pegou a bola e desceu pelo lado direito, mas o camisa 6 se recuperou cortando o lance com o peito. No minuto seguinte, Gerrard voltou a tentar um chute de fora da área pelo lado esquerdo e Neuer segurou.
As chances de gol aconteciam de minuto em minuto. Aos 11', Rooney deixou a bola passar para um companheiro melhor posicionado e Neuer conseguiu chegar na bola pouco antes de Defoe, afastando de carrinho. Aos 12', Gerrard arriscou novamente de fora da área e dessa vez a bola saiu pelo lado direito da meta. Na marca de 13 minutos, James se revoltou com o sistema defensivo de sua equipe. E com razão: Müller recebeu pelo centro do comando de ataque, viu um grande clarão à sua frente e chutou, mas a bola foi à esquerda do gol.
Com 15 minutos, seguia a busca pelo empate: Rooney abriu na direita com Milner, que cruzou de primeira para o miolo da área e Neuer recolheu. Aos 16', nova abertura de Rooney com Milner e dessa vez o camisa 16 decidiu chutar ao gol, mas a bola foi bloqueada nas costas de Jérôme Boateng. Se a moda era chutar de fora da área, Schweinsteiger resolveu experimentar também e mandou um chute perigoso que saiu perto da trave direita, aos 17'. No minuto seguinte, Özil tabelou com Khedira, passou atrás para Boateng e o camisa 20 isolou.
Fabio Capello finalmente mexeu e trocou Milner por Joe Cole.
Aos 20 minutos, Joe Cole passou para Rooney, que tentou o drible e foi obstruído por Friedrich. Na falta a 28 metros do gol, Lampard chutou à meia-altura e ficou na barreira. E estava armado o contra-ataque avassalador da Alemanha: Boateng entrega para Müller, que passa para Schweinsteiger e já parte em velocidade. Eram 3 contra 3 e Schweinsteiger deu boa abertura na direita com Müller, que chutou no contrapé de James para fazer 3a1.
Na marca de 23 minutos, a Alemanha já teve chance de ampliar: Boateng passou para Podolski, que desviou para Müller emendar de 3 dedos à esquerda do gol. No minuto seguinte não teve jeito e os alemães encaixaram mais um contra-ataque fulminante: Khedira fez o lançamento, Özil ganhou de Barry na corrida e serviu Müller com um passe entre as pernas de Ashley Cole. O camisa 13 correspondeu mais uma vez e completou para a rede - 4a1.
Não apenas pelo apito do Larrionda nem pelo placar elástico que foi construído, mas principalmente pela facilidade com que os comandados de Joachim Löw desenvolviam as jogadas, ficava claro que a Inglaterra não teria qualquer chance de reverter o placar.
Aos 25', Capello decidiu trocar de atacante e pôs Emile Heskey no lugar de Defoe. No minuto seguinte, Löw trocou Müller por Piotr Trochowski e Klose por Mario Gómez. Aplausos para o camisa 13, que teve atuação de gala.
Com 28 minutos, Özil driblou Johnson mas foi parado com falta. Na marca de 33', Gómez tentou sozinho pela direita e, marcado por Upson, chutou para fora. A Inglaterra teve um bom ataque aos 35': Lampard passou para Rooney, que deu de primeira para Gerrard. O capitão parou a corrida e chutou cruzado para linda defesa de Neuer com a mão esquerda. No minuto seguinte, Johnson puxou Özil pelo ombro e recebeu o amarelo - mas não teve que se preocupar com a suspensão automática, já que a Inglaterra se despediria da Copa ali mesmo.
Com 37 minutos, Özil saiu e Stefan Kiessling entrou em seu lugar, na 3ª substituição de Löw. 4 minutos depois, Capello também mexeu pela 3ª e última vez: Shaun Wright-Phillips no lugar de Johnson. Não que fosse haver grande transformação no cenário, mas era a típica troca que poderia ter sido feita antes (troca fundamental mesmo teria sido no trio de arbitragem).
Aos 42 minutos, Rooney cobrou escanteio no lado direito com passe curto para Gerrard, recebeu de volta, cruzou rasteiro, Barry chegou chutando mas a defesa alemã desviou em novo escanteio. Aos 43', Lampard deu chute com efeito de fora da área e Neuer defendeu em dois tempos no canto esquerdo. Aos 44', Wright-Phillips cruzou da direita e Neuer recolheu antes que Heskey pudesse tentar algo.
Na marca de 47 minutos, Larrionda cometeu o ato de apitar pela última vez. Felizmente, o Uruguai segue na Copa, impedindo a escalação desse sujeito. Embora seja inevitável colocar em evidência a atuação desastrosa da arbitragem, isso não deve(ria) ofuscar o fato de a Alemanha ter apresentado, novamente, um belíssimo futebol.
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