Diante de um Soccer City com público de 84.455 espectadores, os comandados de Dunga viveram momentos de seleção brasileira - seja pelas jogadas bem tramadas a partir da aproximação de Robinho e Kaká, seja pelo "apito amigo" do francês Stephane Lannoy. O que não combina com a camisa amarela, nem com futebol e muito menos com Copa do Mundo é a confusão entre jogadores, que nasceu em jogadas duras de brasileiros e marfinenses e somente se acentuou devido ao acesso de "estrelinha" por parte de Kaká, que aplicou uma cotovelada desleal em Abdul Kader Keita.
O resultado de 3a1 faz do Brasil a terceira seleção a alcançar duas vitórias e a segunda a já garantir vaga para as oitavas-de-finais. A missão dos comandados de Sven-Göran Eriksson se complicou, pois não deverá depender apenas de seus esforços na última rodada para avançar de fase.
O jogo
Com uma formação em 4-2-3-1, dando liberdade para Elano Blumer e recuando Robinho para dialogar com Kaká, a seleção brasileira logo deu sinais de que o desenho tático era bastante apropriado para jogar no erro do adversário: com 40 segundos de bola rolando, Kaká puxou contra-ataque com uma arrancada que lhe é característica e Robinho tentou fazer por cobertura, chutando por cima do travessão.
A partir daí, o domínio africano era perceptível e o Brasil ficava muitas vezes na roda. Aos 14 minutos, o capitão Lucimar da Silva Ferreira cometeu falta no também capitão Didier Drogba próximo da linha lateral esquerda e conversou bastante com o árbitro. Emmanuel Eboué levantou fechado na área, muitos atletas subiram para a disputa mas aparentemente quem afastou o perigo foi o goleiro Júlio César Soares de Espíndola.
Com 17 minutos, Maicon Douglas Sisenando avançou na base da correria paralelamente à linha lateral e lucrou um escanteio. Após a cobrança, Gilberto chutou, a bola rebateu na defesa marfinense e Robinho isolou a sobra.
Aos 24 minutos, jogada com cara e espírito de seleção brasileira. Robinho passou para Luís Fabiano, que tocou de calcanhar para Kaká. O camisa 10 levou vantagem na dividida, se livrando da marcação e dando assistência para Luís Fabiano Clemente chutar forte e alto, sem defesa para Boubacar Barry. Estava dado o fim de um jejum pessoal de 6 jogos sem marcar gol.
Na marca de 30 minutos saiu o primeiro cartão amarelo da partida, dado para Siaka Tiéné por entrada em Elano.
Com 36', a Costa do Marfim chegou pelo flanco direito, mas o cruzamento fechado de Guy Roland Demel foi recolhido pelo goleiro Júlio César. No minuto seguinte, Júlio César trabalhou bem ao encaixar chute de longa distância, em lance dificultado pelo quique da bola à sua frente.
Aos 40', Eboué tentou de fora da área, a bola desviou em Juan Silveira dos Santos mas a arbitragem marcou tiro-de-meta. 2 minutos depois, Luís Fabiano subiu para disputar a bola pelo alto e deixou o cotovelo em Aruna Dindane, que precisou ser atendido fora de campo.
Teve início a segunda etapa, novamente com iniciativa marfinense. Aos 4 minutos, Demel colocou na área e Lúcio tirou o corpo, deixando para Júlio César agarrar e mostrando que os dois se entendem muito bem mesmo em lances que exigem resposta rápida. A resposta brasileira veio no mesmo minuto e terminou em uma obra-de-arte pintada de maneira irregular. Luís Fabiano disputou bola com a defesa marfinense tirando vantagem do uso do braço esquerdo para se livrar de Didier Zokora com um chapéu. Na seqüência, outra linda chapelada em outro marcador, novo uso do braço - dessa vez o esquerdo - e finalização de perna esquerda para superar Barry, num dos mais belos gols irregulares da história das Copas. Curiosamente, após o gol ter sido incorretamente validado, o árbitro Lannoy conversou com o camisa 9 e apontou para o braço, insinuando irregularidade, mas Luís Fabiano balançou a cabeça negativamente e apontou para o peito, arrancando um largo sorriso do homem do apito. O 2a0 já estava no placar.
Aos 7 minutos, Felipe Melo de Carvalho esticou a perna em disputa de bola e deixou a chuteira no peito de Dindane. No minuto seguinte, Dindane cruzou da direita e Drogba cabeceou cruzado, perto da trave esquerda. Eriksson trocou Dindane por Gervais Yao Kouassi, vulgo Gervinho. E a partir dessa mexida o Brasil cresceu no jogo.
Com 14 minutos, Elano tentou chute de fora da área, mandando a bola à direita. Aos 15', Robinho passou para Kaká que, de dentro da área, chutou em cima do goleiro Barry. No minuto seguinte não teve jeito: Michel Bastos passou para Kaká, que encarou a marcação de Kolo Habib Touré carregando a redonda até a linha final e rolou atrás no capricho para Elano, que chutou no canto esquerdo para fazer o terceiro gol brasileiro.
Aos 21 minutos, uma substituição para cada lado: Elano, machucado após levar pisão de Cheikh Ismael Tioté na canela direita, deu lugar a Daniel Alves da Silva; e Salomon Armand Magloire Kalou, pouco acionado, saiu para entrada de Keita.
Na marca de 24', Maicon deu caneta em Tioté e chutou na rede pelo lado de fora. No minuto seguinte, novo erro de arbitragem em lance importante: Lúcio puxou a camisa de Drogba dentro da área e depois cortou pela linha-de-fundo, com Lannoy marcando escanteio.
Aos 26', a última troca de jogadores na Costa do Marfim: saiu Eboué para entrada de Christian Koffi N'Dri, apelidado de Romaric. Nesse mesmo minuto, Romaric arriscou de fora da área e já pôs Júlio César para trabalhar, espalmando pro lado. 3 minutos depois, Daniel Alves chutou fraco de fora da área, facilitando a defesa de Barry. Ainda aos 29', Keita foi amarelado por entrada dura em Michel Bastos.
Aos 33 minutos, Gnégnéri Yaya Touré deu enfiada de bola certeira para Drogba que, em liberdade, cabeceou com precisão no canto esquerdo para fazer o gol marfinense, no que foi o primeiro gol africano em jogos diante da seleção brasileira na história das Copas.
Na marca de 39 minutos, Kaká empurrou marfinense com a bola fora de jogo e foi amarelado. Detalhe: pouco antes o camisa 10 havia dado empurrão em Yaya Touré também com a bola parada. Aos 40' quem levou cartão amarelo foi Tioté, por entrada em Luís Fabiano. No minuto seguinte, Kaká mostrou definitivamente estar nervoso e aplicou uma cotovelada desleal em Keita, mais uma vez fora do lance de bola. O senhor Stephane Lannoy deu apenas o cartão amarelo, mas como era o segundo recebido por Ricardo Izecson dos Santos Leite, o Brasil passou a jogar (ou bater?) com 10 homens.
A saída de Kaká amansou o jogo em termos de violência e a partida seguiu sem novos transtornos quanto ao aspecto disciplinar. Aos 43 minutos, Tiéné parece ter tentado lançamento longo, mas o que quer que tenha sido, a Jabulani acabou chegando ao gol brasileiro e Júlio César deu um tapinha para escanteio. 3 minutos depois, bela jogada da Costa do Marfim: lançamento para o setor direito de ataque, Keita escora pra trás na direção de Drogba mas Júlio César mergulha para afastar de soco, evitando que a bola encontrasse o artilheiro.
Talvez temendo um desfecho que o complicasse (ainda mais), o árbitro Lannoy apontou apenas 3 minutos de acréscimo ao tempo regulamentar, num segundo tempo que teve até então 3 gols, 4 substituições, atendimento médico dentro de campo e confusões entre jogadores.
Aos 47', Carlos Caetano Bledorn Verri promoveu a segunda alteração na seleção brasileira, trocando o camisa 11 Róbson de Souza por Ramires Santos do Nascimento. O último chute a gol foi brasileiro e aconteceu aos 48 minutos: Dani Alves cobrou falta à meia-altura para defesa segura de Barry.
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