Três meses atrás, quando o Manchester United era eliminado na Liga dos Campeões da Europa e, com o terceiro lugar no grupo, ingressava na Liga Europa, havia uma quase unanimidade de opiniões dando conta de que o time comandado por Alex Ferguson apareceria como favorito ao título no torneio. Afinal, estamos falando de um clube poderoso, com três finais de Champions League nas últimas quatro temporadas, atual campeão inglês e tão acostumado a decisões.
Sem tomar conhecimento de um adversário dessa grandeza, o Athletic Club, da cidade de Bilbao, dominou amplamente a partida de volta (já hava vencido na ida, em pleno estádio Old Trafford, por 3a2), colocou o Manchester na roda e venceu o jogo por 2a1, totalizando 5a3 no resultado somado. E digo para vocês com todas as letras: poderia ter sido uma diferença muito, mas muito mais elástica. Os amantes do futebol arte devem ficar de olho nessa equipe comandada por Marcelo "El Loco" Bielsa.
O jogo
Intenso. Vou tentar resumir nessa palavra trissílaba o que foi o desempenho do Athletic Bilbao nessa partida diante do Manchester United. Mas quero deixar claro que a adjetivação é meramente ilustrativa, uma vez que é sempre mais completo e esclarecedor ver um time jogar do que ler a respeito de um jogo.
Essa intensidade supracitada foi vista do primeiro ao último minuto de partida e era subsidiada por uma marcação forte e adiantada, por um time rápido e discipliando taticamente, por uma ocupação inteligente dos espaços e uma correta transição ao ataque. Combinações que deram ao Athletic Club um total domínio da partida, sem dar chance ao Manchester United de, em algum momento, se sobressair.
Aos doze minutos, o placar não foi inaugurado por detalhe. A jogada foi maravilhosa: Llorente recebeu a bola e, de primeira, serviu Muniain com um passe que desconcertou a defesa inglesa. Muniain chutou na trave direita e, no rebote, com De Gea completamente batido, De Marcos chutou para fora.
Onze minutos mais tarde, um lançamento espetacular de Amorebieta encontrou a fera Fernando Llorente. E, numa finalização talvez mais incrível que o lançamento que o serviu, o camisa 9 alvirrubro emendou um lindo chute, de primeira, cruzado, sem defesa para o goleiro De Gea. Foi com toda essa beleza que, aos vinte e dois minutos, Llorente se tornou o maior goleador da história do Athletic em competições européias, com 12 gols marcados.
Uma investida que terminou em cabeceio de Giggs foi o máximo de perigo oferecido pelo United no primeiro tempo. O domínio do Athletic era tamanho que os próprios jogadores de defesa do Manchester tinham dificuldades de tocar a bola, sofrendo com a marcação-pressão que parecia não dar sossego a ninguém que vestisse azul.
No início do segundo tempo, Iraola quase marcou um golaço: recebeu passe próximo da grande área, escapou de três adversários esbanjando um controle de bola formidável (a redonda parecia estar colada em suas chuteiras) e deu um toque categórico com a esquerda, mandando pertinho da trave esquerda.
A saída de Llorente ainda no primeiro tempo (aparentemente sentindo alguma contusão muscular) para a entrada de Toquero pode até ter diminuído a capacidade técnica do ataque basco, mas o esforçado camisa 2 que entrara em campo também dava trabalho aos defensores oponentes. Só que quem balançaria a rede seria De Marcos: aos dezenove minutos, Iraola cruzou da direita, Toquero dividiu com Smalling pelo alto e a bola chegou no camisa 10, que dominou e chutou para ampliar a vantagem dos donos da casa, da festa e do jogo.
No jogo coletivo, o Bilbao esmagava o Manchester. Restou a Wayne Rooney, em jogada individual, marcar o gol de honra dos visitantes - aos trinta e quatro minutos, Rooney acertou belo chute no canto esquerdo, diminuindo a diferença no placar mas não o abismo de nível de jogo entre os dois times.
Aplausos para Marcelo Bielsa, que ratificou com propriedade a beleza do seu estilo de lidar com o futebol. Aplausos para o time do Athletic, que desempenhou suas funções em todos os setores do campo (embora tivesse desperdiçado muitas chances de gol, algo a ser corrigido). Aplausos para a torcida que lotou o estádio San Mamés e fez muito barulho, atuando como um autêntico 12º jogador. Agradecimentos aos deuses do futebol, por me possibilitarem assistir um evento como esse. Vida longa ao Athletic de Bielsa!
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